O capitão-presidente continua a pautar o debate nacional, numa aparente adesão ao princípio do “falem mal, mas falem de mim”. Verdade que também há os que falam bem, mas, se as pesquisas não estiverem mentindo, seu número está diminuindo rapidamente.
Depois da pornografia na rede, da subserviência explícita ao mandatário da maior potência mundial e do bate-boca com o presidente da Câmara que deveria conduzir a votação de suas propostas, agora veio a ordem de comemorar o golpe civil e militar de 1964.
Como sempre, no início a proposta é clara, depois vem o não é bem assim. Agora, já não é “comemorar”, mas apenas “rememorar”.
É preciso admitir que há coerência no discurso bolsonariano. Elogiou Stroessner, o assassino e pedófilo ditador do Paraguai, causando constrangimento na cerimônia de posse da nova diretoria de Itaipu.
Repetiu a dose elogiando Pinochet no Chile, onde o ditador já foi condenado por assassinato e corrupção. O presidente chileno Piñera, de direita neoliberal assumida, repudiou as declarações.
Agora, a saudade dos torturadores causou, ao que se informa, constrangimento até nas Forças Armadas. Com mais de uma centena de altos oficiais nos governos federal e estaduais, com os gordos jetons dos conselhos de administração, com a expectativa de aprovar uma reorganização da carreira que dará aumentos maiores que os do judiciário e ficando fora do desmonte da previdência, o que os militares podem querer é comemorar o presente sem rememorar 1964.
Depoimentos chocantes, como o de Paulo Coelho, o escritor brasileiro mais lido no exterior em todos os tempos, brutalmente torturado pela ditadura, pululam na rede e nos jornais de circulação internacional.
Tudo isso é ruim para os militares, mas é ótimo para o pessoal que está ganhando montanhas de dinheiro especulando na bolsa e no dólar e, graças ao talento do capitão, fica fora do noticiário.
Paulo Guedes e sua turma sabem o que fazem.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos.