Desde a última coluna (1), infelizmente, foi superada qualquer dúvida sobre excesso de rigor ou partidarismo na análise de que está em marcha um processo acelerado de destruição das universidades públicas.
Após a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa de São Paulo, no último dia 24, tanto a irregularidade de sua proposição como suas reais intenções ficaram claras.
Legalmente uma CPI deve ser criada para averiguar fatos determinados, o que não foi respeitado. Os proponentes afirmam querer apurar “eventuais irregularidades” no repasse de verbas públicas, o que, como se sabe, é a função do Tribunal de Contas do Estado.
O presidente da CPI é vice-líder do governo Dória na Assembleia e afirmou à imprensa que entre os focos da Comissão poderiam estar a “doutrinação ideológica”, a possibilidade de “implantação do ensino pago” e a forma de escolha dos reitores.
O governador evidentemente aprovou a manobra, que também serviu para impedir a investigação sobre a corrupção tucana na Dersa, mas tem se mantido longe dos holofotes.
Tudo isso é suave diante da grotesca escalada da presidência da república e seu novo ministro na sua cruzada contra o ensino público.
Ambos começaram a semana defendendo que estudantes filmem e denunciem os professores que fizerem “doutrinação”, usando um caso de uma suposta aluna de Santa Catarina.
A imprensa já descobriu que a aluna é uma militante que se apresenta nas redes sociais como secretária do PSL de sua cidade. Os juristas já vieram a público para lembrar que é ilegal filmar qualquer pessoa sem sua autorização prévia e expressa.
Para completar, o novo ministro da destruição da educação trouxe uma inovação que marcará época na história de nosso obscurantismo ao cortar 30% das verbas de três universidades de que ele não gosta.
Continua a pergunta: quem vai ganhar com tudo isso?
nota
1
MARTINS, Carlos A. Ferreira. Por que destruir as universidades públicas? Drops, São Paulo, ano 19, n. 139.06, Vitruvius, abr. 2019 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/19.139/7335>.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos.