Boa notícia: Moema Cavalcanti lançou no sábado, dia 26 de outubro de 2019, no Instituto Tomie Ohtake seu livro, acompanhado de exposição dos seus trabalhos.
Conhecida como a designer que mais capas de livros realizou (mais de 1200, para várias editoras), Moema fez seu grande aprendizado na Editora Abril, onde começou a trabalhar nos anos 1960.
Embora utilizasse o grid e fosse bem atenta à hierarquia das informações, Moema trilhou caminho muito aberto, dialogando com domínios amplos das artes gráficas. Abriu seu escritório próprio em 1975 em que desenvolveu logos, programas de identidade visual, cartazes e publicações, tornando-se referência no design editorial brasileiro.
Suas capas para os célebres volumes da Funarte, que publicavam seminários organizados por Adauto Novaes, tornaram-se marcos da renovação editorial brasileira. Neles Moema realizou rasgos controlados nas capas, que funcionam de várias maneiras, como no livro O olhar, em que brinca com a noção de voyeurismo, na janela que se entreabre.
Em Os sentidos da paixão faz dois cortes que deixam entrever cor vermelha sobre capa cinza, linda representação desse estado do corpo e da alma em que nos perdemos de nós mesmxs e pensamos que nos achamos no(a) outro(a). São rasgos de sangue/morte e fertilidade/vida, tarefas do vermelho, cortantes, mas irregulares. Paixão.
Tive curiosa conversa com ela anos depois da saída desta coleção. Lembro de comentar que ela devia admirar muito o trabalho de Lucio Fontana. Ela me encarou surpresa, dizendo que nunca ouvira falar dele. Até hoje não sei se foi uma boutade. Mesmo porque os rasgos dos livros têm sentido bem diferente daqueles operados pelo artista.
Outra das táticas de projeto de Moema são citações de saberes femininos ancestrais que ela tanto admirava e que aprendeu com sua mãe, em Pernambuco.
nota
NE – terceiro texto da série “Terça-feira das mulheres”, publicado pela autora em sua página Facebook.
sobre a autora
Ethel Leon é jornalista, pesquisadora, professora na área de história do design brasileiro e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – Primeira Escola de Design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.