Uma das mais cultas designers que conheci. Flanava por várias áreas do conhecimento com muita coloquialidade. Assim como várixs designers que começaram carreira nos anos 1950 em São Paulo, Emilie foi aluna do Instituto de Arte Contemporânea do Masp.
Era uma das alunxs preferidas de Bardi, que via nela grande talento. Autora de peças importantes, algumas presentes na cidade, como a marca do Centro Cultural São Paulo, o TBC, fez inúmeros livros importantes e a marca de um simples cabeleireiro, Zamô, que fica na Melo Alves e mantém a mesma identidade visual até hoje!
Dirigiu balés e via nisso uma continuidade com relação a seu trabalho gráfico. Uma das coisas que mais me encantou nela foi seu portfólio autoportante. Ela o carregava em viagens e, quando se sentia só, punha-o de pé, na cabeceira ou na mesa do hotel.
O cartaz abaixo, projetado para a Bienal e que não emplacou, apresentava essa faca (o branco da imagem). Emilie queria que ele não apagasse os muros da cidade, mas se relacionasse com eles.
Como tantxs pessoas que admiro, não fazia distinção entre trabalho, prazer e diversão. Gostava de poesia, muito, namorou o poeta argentino Mario Trejo, que frequentou o curso do IAC.
Em seguida, relacionou-se com Mario Chamie, com quem veio a se casar. Desenhou as publicações da editora Práxis.
Brincalhona, gostava do trabalho de seu colega Alexandre Wollner, mas chamava-o, brincando, de “freirinha de Ulm”.
Conheci-a quando usava bengala, como na capa de seu livro. Portava-a com charme e tanto. Inesquecível.
nota
NE – quarto texto da série “Terça-feira das mulheres”, publicado pela autora em sua página Facebook.
sobre a autora
Ethel Leon é jornalista, pesquisadora, professora na área de história do design brasileiro e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – Primeira Escola de Design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.