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drops ISSN 2175-6716

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Carlos Martins, professor do IAU USP São Carlos, comenta os desdobramentos das invasões aos palácios dos três poderes em Brasília, ocorridas em 8 de janeiro de 2023.

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MARTINS, Carlos A. Ferreira. O golpe em fase de metástase. Drops, São Paulo, ano 23, n. 184.02, Vitruvius, jan. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/23.184/8690>.



Depois dos acontecimentos de 8 de janeiro não há mais discussão possível sobre a natureza golpista e fascista do movimento de contestação ao resultado das eleições.

Se não há mais como negar que se tratou de uma tentativa de golpe de estado, com todas as letras, não há nada que nos permita supor que ela esteja definitivamente afastada.

Nem há como esquecer que ele é a culminância de um processo de subversão das instituições e de aparelhamento do Estado brasileiro iniciado há vários anos, de que a eleição de Bolsonaro foi um resultado mais do que uma causa.

Sem a prisão de Lula, hoje reconhecida até pela ONU como ilegal, Bolsonaro não teria caminho aberto para derrotar Haddad. Sem o tuite de Villas Boas ao Supremo, elaborado com o conhecimento do alto comando, como ele mesmo explica em suas memórias, Lula teria obtido o Habeas corpus que o habilitaria a concorrer à eleição.

Mesmo na reserva e com mobilidade reduzida por uma doença degenerativa, Villas Boas não deixou de ser a grande referência (muito mais do que Mourão ou Heleno) para os setores militares inconformados com a vitória de Lula.

As passagens de sua esposa, paramentada com camiseta da seleção brasileira pelo acampamento pré-golpe no quartel general de Brasília levaram a mensagem que todos os golpistas esperavam.

A presença do ex-comandante, em cadeira de rodas, mas com lugar de destaque, na transmissão de mando dos chefes das Forças Armadas, em que apenas o novo comandante da Marinha citou o presidente Lula, foi outro sinal inequívoco de unidade da parcela dominante do alto comando das forças militares.

Sinal reforçado pela obstrução militar às várias tentativas de desmontar o acampamento frente ao QG de Brasília, que se revelou afinal, contra a caracterização do quase ex-Ministro da Defesa, José Mucio, a base operacional dos atos terroristas de 8 de janeiro.

Ou pelo fato de que a guarnição do Exército encarregada de proteger a Presidência da República fica aquartelada atrás do Palácio do Planalto e demorou mais de uma hora para entrar em ação.

A grande imprensa tem dado o devido destaque para as evidências, às quais nem a velhinha de Taubaté conseguiria fechar os olhos, da criminosa conivência e cumplicidade do governador do DF, Ibaneis Rocha e do ex ministro bolsonarista Anderson Torres, reconvertido em Secretário de Segurança do DF, que desmontou toda a estrutura de comando das forças policiais do DF que haviam garantido a posse de 1 de janeiro e partiu de férias para Orlando.

Alexandre de Morais subiu para a rede, como diriam os adeptos do tênis, e afastou o governador assim como determinou a prisão de Torres, do comandante da PM do DF e de centenas de bagres e bagrinhos que materializaram os atos de vandalização.

Pouco provável que o fizesse sem segurança de que a maioria do STF respaldará suas decisões monocráticas.

Mas sua capacidade de atuação em relação às Forças Armadas é, obviamente, mais limitada. Nessa frente, obviamente hostil, a bola está com Lula.

Do ponto de vista institucional o espantoso vandalismo do dia 8 de janeiro enfraqueceu, ao menos momentaneamente, o apoio ao golpismo e as ações do dia seguinte mostraram mais uma vez a extraordinária capacidade de Lula criar símbolos.

A subida da rampa do dia 1 de janeiro, com a representação identitária do povo brasileiro a lhe passar a faixa presidencial, um presente de Bolsonaro em função de sua ausência, já havia sido uma imagem marcante em toda a imprensa nacional e internacional.

A descida da rampa, acompanhado dos 27 governadores, de representantes de prefeitos e das presidências da Câmara e do Senado, para atravessar a Praça e levar a solidariedade aos ministros do Supremo pela verificação in loco do nível de barbárie dos que já ninguém mais se atreve a chamar de “manifestantes” foi um repique extraordinário da capacidade de criar imagens de um país unido.

Mas Lula sabe que era apenas uma imagem. Necessária, mas longe de suficiente. A farsa que replicou a invasão do Capitólio em 06 de janeiro de 2020 lhe abriu uma janela de legitimidade suprapartidária. Mas ele deve saber, melhor do que ninguém, o quanto essa janela é curta. E o quanto as tarefas são imensas.

A trégua parlamentar deverá durar até as reeleições, no momento praticamente definidas, de Lira e Pacheco. A partir daí não se sabe para onde penderá o centrão num Congresso que ampliou a maioria conservadora.

É preciso expurgar o golpismo das Forças Armadas e das Polícias Militares. E é preciso dar respostas minimamente convincentes às questões que levaram Lula ao governo (a economia, a fome, o desmatamento, o racismo, a violência).

Certamente não há no Brasil alguém com mais preparo e liderança para isso do que Lula. Mas nada garante que essa não seja uma tarefa superior às suas forças e ao seu talento.

Como será Lula fora do figurino conciliador que, obviamente, não cabe neste momento, é uma incógnita. Mas num corpo em metástase não é prudente apostar em homeopatia.

A única coisa certa é que nunca na história deste país (para usar o bordão preferido de Lula) foi tão imprescindível a mobilização massiva e permanente daquela parcela da população que não sucumbiu ao viés de confirmação da teoria terraplanista da eleição fraudada.

Nenhuma garantia de que seja suficiente. Mas sem ela não haverá saída para a democracia.

sobre o autor

Carlos Ferreira Martins é Professor Titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos.

 

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