Chegando tarde para escrever sobre o artigo “os vulneráveis edifícios envidraçados de Brasília” de Roberto Macedo no Estadão (1) não preciso discorrer sobre o que significam. Sobre seu valor como arquitetura, do discurso de pais, da ideia democrática que esta eloquentemente colocada na capital do país.
O economista diz que não entende de arquitetura – nem precisava. Mas, se não me falha a memória, Macedo tem uma filha formada na FAU USP nos anos 1990. Podia ter consultado a filha antes de publicar o que escreveu.
A proposta do economista se aproxima da ideia de um bunker. O espaço mais protegido possível, que prescinde, inclusive, de arquitetura. Desnecessário listar aqueles que escolheram bunkers como lugar de refúgio.
Também não entrarei na discussão dos quatro pontos levantados pelo autor, prefiro os três vitruvianos: venustas, firmitas e utilitas.
O que me parece a questão central do artigo não é a proposta de emparedar os edifícios de Brasília. A isso é fácil responder e fazer um “cancelamento” do autor. Ainda podemos criticar o Estadão pela publicação – mas não é o caso de se surpreender com esse tipo de artigo.
Para o autor a culpa dos atos de vandalismo no dia 8 não é do ex-presidente que fugiu para os Estados Unidos dois dias antes do fim do seu mandato. A culpa não é das tentativas de destruição das instituições. A culpa não é dos apoiadores de discursos golpistas. A culpa não é de uma horda que decidiu quebrar tudo. A culpa não é dos financiadores dos acampamentos na frente dos quarteis. A culpa não é do ministro da fazenda e suas propostas que levaram o Brasil ao mapa da fome. A culpa não é do exército apoiando um projeto de demolição da democracia. A culpa não é das politicas de descontrole ambiental. A culpa não é das políticas de armamento da população. A culpa não é do descaso com a Covid-19. A culpa não é do negacionismo das questões climáticas. A culpa não é de um governo que prefere se alinhar com Hungria e Rússia, e fecha os olhos para os países democráticos do mundo.
A culpa é do Oscar.
nota
1
MACEDO, Roberto. Os vulneráveis edifícios envidraçados de Brasília. Estadão, São Paulo, 19 jan. 2023 <https://bit.ly/3D3HlN1>.
sobre o autor
Silvio Oksman é sócio do escritório Metrópole Arquitetos e pós doutorando na FAU USP.