No final da tarde de nosso primeiro dia na Bienal, em abril de 2022, numa das primeiras salas das Corderie do Arsenal, aonde estavam alinhadas algumas lindas obras do artista, alguém nos entregou o cartão da galeria de Jaider Esbell em Boa Vista.
Passamos a noite na web imaginando uma viagem para Roraima, com visita obrigatória à galeria da qual líamos comentários entusiasmados, e procurando páginas sobre Jaider. Até descobrirmos que ele havia morrido, há cinco meses, em 2 de novembro de 2021, numa pousada do litoral norte de São Paulo. Muitos sites e vídeos falavam do desaparecimento dele, nenhum contava como e por quê.
Decidimos então que ele tinha sido assassinado. Para nossas mentes europeias, era a coisa mais fácil. Duro e difícil demais pensar que ele havia tirado a própria vida quando estava – segundo nossos parâmetros rasteiros – no (assim dito) auge do (assim dito) sucesso, protagonista da 34ª Bienal de São Paulo, duas cobras gigantes nos jardins do Ibirapuera, duas obras (Carta ao Velho Mundo e Na Terra Sem Males) adquiridas pelo Centre Pompidou e enfim artista convidado na Triennale de Milano e na Bienal de Arte de Veneza. Tudo isso no mesmo ano 2021.
Mas talvez seja exatamente o que aconteceu e que “tinha que ser feito”. Cansado de “servir mais e mais este povo quase sem alma” dos “comedores de arte”, Jaider resistiu. E protegeu o mistério.
nota
NE – ver também: ROSSO DEL BRENNA, Giovanna. Bienal de Veneza. Lembranças atrasadas e na contramão da 59a Biennale d’Arte de Veneza. Resenhas Online, São Paulo, ano 22, n. 253.01, Vitruvius, jan. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/22.253/8708>.
sobre a autora
Giovanna Rosso del Brenna, italiana, é historiadora da arte. É docente da Università Cattolica del Sacro Cuore, em Milão, desde 2001, e da Università degli Studi di Genova, desde 2000. Foi professora adjunta da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) entre 1978 e 1990.