Beatriz de Abreu e Lima: Qual o paralelo existente entre a arquitetura que o senhor pratica e a arquitetura que o senhor ensina?
PS: Há uma conexão muito próxima, mas não há intercâmbio. (...) A diferença principal, é que nas pesquisas dos estudantes, existe uma liberdade maior para estabelecer diretrizes, existe mais tempo para desenvolver alternativas, para atuar com rigor em termos de debater certas soluções e avaliar alternativas. O trabalho no escritório é, de certa forma, uma aplicação abreviada e condescendente dos mesmos vocabulários e repertórios formais/espaciais.
Os tipos de projetos com os quais estamos trabalhando no escritório permitem muita experimentação: centros culturais, centros de arte, centros de ciência; os tipos de prédios que envolvem especificamente arquitetos experimentais e que possibilitam um intercâmbio direto com a pesquisa acadêmica. Isso acontece quando eu, ocasionalmente, dou aulas de projeto com Zaha Hadid. A diferença consiste ainda no fato de que o trabalho no escritório tem mais amarras programáticas, porque no fim das contas, existe um terreno real, uma estrutura que funciona de verdade e um orçamento a ser cumprido. Além do mais, no escritório as diretrizes são parcialmente estabelecidas pelo cliente, enquanto que no DRL (1), o tema específico da pesquisa acadêmica sobre organização empresarial foi cuidadosamente selecionado e aprofundado a cada ano, por muitos projetos. O que o DRL e o escritório de Zaha compartilham é um novo vocabulário arquitetônico. Existe um esforço único que se manifesta, inclusive, no fato de que muitos alunos do DRL vão trabalhar no escritório depois do curso. (...) De fato, o intercâmbio ocorre nas duas direções. O meu próprio trabalho no escritório me dá confiança para ensinar aos alunos, e por outro lado, o envolvimento com os trabalhos dos estudantes enriquece meu repertório e alimenta minha criatividade.
BAL: Qual a sua principal inquietação arquitetônica hoje?
PS: Estou ansioso para ver concretizados os espaços empresariais que temos investigado no DRL, particularmente no que se refere a transformação radical daquilo que tradicionalmente chamamos de mobiliário neste espaço. Eu quero ver isto construído, quero ver este tipo de espaço ganhar vida para facilitar um novo processo colaborativo. Isto é uma pequena utopia social instigada pela arquitetura. Este é o meu maior desejo.
nota
1
DRL Design Research Lab (Laboratório de Pesquisa em Projetos).