Paula Izurieta: Sim. A coisa mais importante sobre esse relacionamento é entender quais são os líderes, porque você não pode falar com cem pessoas, você precisa analisar quem é o líder ou quais são os líderes e ser capaz de se comunicar com eles e fazê-los confiar, uma vez que que você tem confiança do líder, você tem confiança do resto da comunidade.
Oscar Eduardo Preciado Velásquez: Como vocês obtiveram essa confiança?
PI: Com humildade, acho que é a coisa mais importante. Quero dizer, chegar lá confiante porque, também, quando alguém se mostra com medo perde a confiança, é preciso chegar confiante, dizer... “eu venho aqui por essas e outras razões”, mas também ser humilde e sair fora do pedestal do arquiteto que sabe tudo, que na realidade não é assim. Então, o que você aprende na faculdade não é nada comparado à realidade; portanto, seja humilde e escute. Para mim, a parte mais importante deste trabalho é analisar e escutar, para ver como eles se comportam, porque às vezes há coisas que não te dizem e você só se dá conta analisando o comportamento deles e aí você vai perguntando... porque eles aí vão te contando tudo, e as vezes, nem sabem o que te contar. Eu me fiz entender?
OEPV: Então o seu trabalho, segundo entendo, primeiramente tem uma forte base de pesquisa, né?
PI: Sim. Antes de ir para o território, analisamos completamente o local, que tipo de (local), se for um parque nacional, quais são as restrições, que tipo de vegetação é, que fauna e flora possui, se possui rios, se não possui, como chegar lá, que tipo de comunidade é, que tipo de cultura é, investigamos um pouco a cultura, conversamos com as pessoas, por exemplo, com algum pesquisador ou com um sociólogo, sobre a cultura e, depois disso, vamos ali.
OEPV: Primeiro, existe essa base...
PI: Isso é muito importante, porque, por exemplo, nesses palenques culturais, conhecimos primeiramente à líder da Fundação Oshun, Rosa Mosquera.
OEPV: Isso é em Esmeraldas, certo? Na cidade de San Lorenzo.
PI: Em San Lorenzo. Então Rosa nos explicou primeiro qual era riqueza toda da cultura afro-equatoriana. Tudo o que significava a marimba, a música, a dança, a cultura em geral. Então pudemos ver com ela se comporta, primeiro estar com ela aqui em Quito e com as outras pessoas que ela lidera e depois irmos com ela às viagens e pudermos liderar esse projeto que é o Palenque Cultural Tambillo que fica na Ilha de Tambillo. Conseguimos nos encontrar com a presidenta de Tambillo, que era a Marena Solista e ainda ela é, e com ela pudemos entrar na comunidade. Porque isso também é importante, que não seja apenas uma coisa comunitária, mas também dos líderes do governo. Porque se você não tiver esse passo, não terá abertura. Pelo menos eu não digo no nível econômico, mas de aceitação.
OEPV: Acredito que vocês tiveram que aprender dos materiais que essas comunidades afro-equatorianas usam para construir, vejo que ali está a força de seu trabalho em geral.
PI: Não apenas tivemos que investigar a parte afro-equatoriana, mas tivemos também que investigar a parte africana, porque percebemos que na hora de trabalhar na Amazônia, os Kichwas já tinham sua história, eles sabem de onde vêm. Por outro lado, os afro-equatorianos ou afro em geral na América não sabem de onde vêm. Eles vieram para cá há muitos anos, mas não sabem qual é a sua cultura.
OEPV: De onde eles vêm, qual é a origem...
PI: É por isso que, em algumas partes essa pesquisa está um pouco mais desenvolvida, como no Brasil, como em Cuba, na parte religiosa, mas aqui não tanto. No Brasil com o santerismo e todas essas coisas. Portanto, se existe esse vínculo entre os iorubás e a religião católica, é uma transformação da…
OEPV: Comunidades quilombolas são chamadas lá no Brasil.
PI: Aqui não muito, eles têm algumas coisas na sua cabeça, mas não sabem de onde vêm; portanto, para este projeto, fizemos uma pequena pesquisa sobre a cultura na África, mais ou menos porque se supõe que os afro-equatorianos devem vir da cultura iorubá. Depois, também pesquisamos sua arquitetura, roupas, cores, também vimos esse tema. Não folclórica, mas de atmosferas, como um lugar místico. Reconstruir a idéia dos palenques, que era um lugar de refúgio para os escravos onde eles se escondiam, então aquele espaço seria esse tipo de abrigo, um refúgio para eles, para que eles pudessem expressar sua cultura.
OEPV: O que eu queria comentar também, como uma reflexão que tal vez possa deixá-la para o final, é como essa prática de alguma forma convida ou, eu tenho essa ideia, que pode servir para convidar as novas gerações de arquitetos a se aventurar para esses novos nichos. Quero dizer, existe todo um campo de atuação que talvez não tenha sido considerado pela prática profissional por causa do exercício que se aprende na universidade e, talvez, por aí as começam a surgirem as respostas. Quando fizemos a entrevista há um ano, saíram algumas reflexões interessantes sobre o conceito de Bem Viver, aplicado aqui, o Sumak Kawsay. Mas até que ponto foi aplicado de forma hierárquica e institucionalizada? Sempre vindo desde o Estado, não desde a comunidade. Existem alguns sociólogos, há uma boliviana (Silvia Cusicanqui) que chama isso de ... se tornar um fetiche, então agora tudo o que fazemos, até a mineração é para o Bem Viver, então há uma contradição na aplicação desses conceitos. Além do assunto, vou fazer as perguntas que tenho escritas aqui.