Helio Herbst: Havia duas equipes de projeto. Uma voltada para o pavilhão, liderada por Luís Saia e Eduardo Kneese de Mello. A outra para os interiores, liderada por Jacob Ruchti. Como era o relacionamento entre estas duas equipes? Havia reuniões de acompanhamento? Os projetos foram realizados simultaneamente?
Guimar Morelo: O Ciccillo convidou o Eduardo Kneese de Mello, o Luís Saia e o Jacob Ruchti. Tinha um outro, o Miguel Forte, que não está escrito no seu roteiro. Você [me] pergunta como era o convívio, não havia nenhum convívio. O Eduardo Kneese de Mello e o Luís Saia bolaram este caixotão. A prefeitura cedeu [o uso do espaço] para a Bienal na condição de que [o Trianon] seria recomposto, que não seria demolido nada, eles não queriam demolir absolutamente nada. Tanto que depois que encerrou a Bienal eles tiraram o caixotão e [a esplanada] ficou exatamente [igual]. Depois [o Trianon] foi demolido quando a prefeitura resolveu doar e a Lina Bo Bardi fez o Masp. Então, o Jacob Ruchti e o Miguel Forte cuidaram da parte interna da Bienal, da distribuição dos painéis, de fazer as salas. O Eduardo Kneese de Mello e o Luís Saia fizeram a parte externa.
HH: Quer dizer, quando fizeram o projeto eles não sabiam ainda exatamente quantas obram iam ser expostas.
GM: Ninguém sabia, eles não tinham absolutamente [nenhuma informação] na época. Acho que eles contrataram alguns profissionais e contrataram Deus, porque deu tudo certo, tão certo que é até... Você fala com o Aldemir Martins, que [também] participou, ninguém sabia. O Museu de Arte Moderna era frequentado pelo Aldemir Martins, Marcelo Grassmann, Carmélio Cruz, Krajcberg, e eu era funcionário. Ele fez uma reunião e convidou esse pessoal, eu como funcionário estava participando. Ele queria saber quem topava fazer a Bienal. Então um olhava pro outro e falava: o que é uma Bienal? Como vai ser a Bienal? Nos moldes da Bienal de Veneza? Quando e como vai ser? Ninguém sabia nada, absolutamente nada, não existiam dados. Ele só chamou o Luís Saia e o Eduardo Kneese de Mello e mandou fazer um espaço. Até hoje é meio complicado [fazer] a Bienal, você deve saber...
HH: Eu já fui monitor [XX Bienal, 1989]... [risos]
GM: Você é formado em Arquitetura, você já foi monitor... Na última hora, tem casos em que você fica pensando: tem que ser gente louca para fazer uma Bienal!
HH: O arquiteto Eduardo Kneese de Mello viajou para o exterior durante a montagem do Pavilhão. Luís Saia se encarregou do acompanhamento?
GM: Eu não sabia que o Eduardo Kneese de Mello havia viajado na época. Ele já tinha feito o projeto; consta no catálogo da primeira Bienal que o projeto é dele e do Luís Saia, mas quem acompanhou a construção foi o Luís Saia.
HH: Foram feitas modificações de última hora nos projetos? Surgiram imprevistos inesperados?
GM: Modificações de última hora você diz no edifício ou na montagem?
HH: Em ambos.
GM: No edifício não houve modificações, estava previsto que as divisórias das salas seriam feitas após a construção do pavilhão, deste barracão, deste caixotão...
HH: Como era o relacionamento entre as duas equipes? Havia reuniões de acompanhamento? Os projetos de arquitetura e expografia foram realizados simultaneamente?
GM: Bom, não existia relacionamento entre as duas equipes. Não havia choque, mas também não havia uma grande união. Cada uma trabalhava independentemente. Reuniões de acompanhamento não existiam. O encarregado da montagem geral, que tinha tudo na cabeça, era o Arturo Profili. O diretor artístico da primeira Bienal foi o Lourival Gomes Machado, mas o diretor executivo, responsável pela montagem, era o Profili. O Profili coordenou esses cinco auxiliares diretos. Cada um deles tinha seis, sete funcionários para trabalhar na montagem, que foi na base do vapt-vupt. Quer dizer, martelo, prego, arame, nada de especial.