Guimar Morelo: Eles trabalharam, o Luís Saia e o Eduardo Kneese de Mello, para fazer o projeto do barracão. Já em 1951 falavam barracão, as pessoas diziam: isso é um barracão!
Helio Herbst: O senhor quis dizer que o edifício era bem simples, certo?
GM: O edifício era muito simples. Mas alguns críticos taxaram de caixote de uma forma pejorativa.
HH: Qual era o aspecto do pavilhão? Por que era chamado de "barracão"?
GM: Chamavam de barracão pela parte externa.
HH: Ou era carinhoso?
GM: Era mais carinhoso. Porque externamente o que você via era um caixote, uma caixa, não tinha nada requintado. Essa entrada que tem aí nesses papéis [fotografias] era uma coisa muito simples...
HH: Essa aqui era a entrada.
GM: E esse aqui é o fundo. Essa parte aqui permaneceu [referindo-se ao salão inferior do Trianon]. E aqui é a entrada. Daqui para a frente continua o barracão, com paredes, só que aqui, deste lado, tinha uma subidinha e aqui era a entrada. Em baixo, [tudo] continuou do mesmo jeito, eles só fizeram [painéis] cobrindo as paredes que existiam, porque não se podia sequer colocar pregos, então foram feitos painéis. Existem mais fotos, se eu soubesse eu até teria te arrumado. No meu arquivo tem umas fotos mais…. Inclusive essa foto aqui é da primeira Bienal. Nessa aqui eu estou.... Está vendo esse painel aqui? Ele está sobre a parede, que não podia, não sei por que, colocar pregos...
HH: Então quer dizer que essa parte do edifício do Trianon, que ficava ao nível da Avenida Paulista, foi recoberta por fora?
GM: Exatamente. Foi recoberta por fora e por dentro.
HH: Então não se tinha ideia do que existia lá dentro. Não havia esse conflito entre o novo e o velho.
GM: Não porque dentro era tudo assim [recoberto], está vendo. Aqui também, essa [imagem] aqui é de quando começamos a colocar as placas na primeira Bienal.
HH: Esse detalhe não está escrito em lugar nenhum... que as paredes do antigo Belvedere Trianon foram recobertas por cima.
GM: Foram recobertas por dentro, por fora e por cima, pra fazer a caixa. Foi feito um tipo de uma caixa embalando o Trianon.
HH: Eu tenho estas plantas e este croqui do Luís Saia, assinado, que eu coletei aqui no arquivo da Bienal. Acho bonito este desenho, que mostra a parte dos fundos com os túneis...
GM: Pena que ele não colocou a data.
HH: E têm alguns esquemas esboçando como iam ser feitas as divisórias e os painéis. Mas pelo que o senhor me falou eram boxes.
GM: Não necessariamente.
HH: Era então um esquema labiríntico?
GM: Era um labirinto. Tinha uma circulação. Essa aqui é a escada que desce para o salão inferior, que foi recoberto e recebeu a mostra brasileira. Este salão superior era para a mostra internacional.
HH: A parte inferior era alta também?
GM: Tinha mais de 4,50 metros de pé direito. O pavimento superior tinha 4,40 metros.
HH: A iluminação era toda feita artificialmente?
GM: Tinha uma madeirinha que sustentava as lâmpadas fluorescentes em toda a mostra. Esta escadinha aqui era a entrada de serviço, aqui era a bilheteria e chapelaria... e esse era o caixote.
HH: Apenas pela parte traseira era possível notar que havia uma mistura entre o novo e o antigo?
GM: Claro. Aqui em cima só fizeram o caixote, a construção antiga ficou toda preservada, a parte do mirante. Antes da Bienal fizeram o Baile do Ano 2000, que a Yolanda Matarazzo organizou para arrecadar fundos para construir o barracão. Aqui em baixo era muito bonito...
HH: É interessante perceber que estas imagens só mostram os acréscimos.
GM: É curioso, mas a primeira Bienal aconteceu em cima e em baixo.
HH: Eu só tenho fotos desta parte da exposição, que abrigava os artistas estrangeiros. Aqui na legenda o número 11 indica a sala de descanso, que em texto do próprio Luís Saia é descrita como local para de contemplação da exposição.
GM: Aqui tinha outra escada de acesso ao pátio.
HH: Aquele com a forma curva?
GM: Sim. Muito bom, muito bem.