Memorial
A Zona Leste foi uma das últimas vertentes de expansão da cidade de São Paulo. A partir de 1940, a região, que era composta por fazendas e chácaras, passou a receber grande parte da população que fora “expulsa” do centro da cidade pela especulação imobiliária. Como essa ocupação se deu de forma desordenada, a região rapidamente adquiriu características típicas de subúrbio-dormitório, com péssima infra-estrutura e graves problemas sócio-ambientais. Ao longo dos últimos 60 anos, 80% da cobertura vegetal da Região Leste foi dizimada. Uma das poucas áreas remanescentes é a Área de Proteção Ambiental do Carmo — APA, instituída em 1989. Porém, a imagem de satélite mostra que, mesmo após a criação da APA, a área ainda é ameaçada por constantes desmatamentos, causados principalmente por moradores do entorno próximo que promovem queimadas com o intuito de construir moradias clandestinas. A implantação do Centro de Educação Ambiental — CEA dentro da APA do Carmo visa justamente a devolver à população a auto-estima perdida após anos de descaso do poder público, estimulando-a a exercer plenamente seus direitos e deveres de cidadãos.
A proposta do CEA é que o projeto seja por si só pedagógico, mostrando aos visitantes que a natureza não deve ser vista como algo intocável, e sim como um meio com o qual devemos interagir com responsabilidade. Foi considerado que a edificação tem um ciclo de vida que engloba construção, uso e demolição e, portanto, os materiais selecionados deveriam ser ecologicamente corretos, optando-se principalmente pela madeira certificada pela Imaflora-FSC, pelo PVC e pelo aço, os quais, além de serem reaproveitáveis, são industrializados, diminuindo o impacto do canteiro de obras e tornando a construção mais rápida.
A implantação do CEA foi determinada pelo estudo da infra-estrutura existente, visando ao mínimo de impacto no Parque. Foi escolhida uma área em frente ao lago, adjacente ao Viveiro de Mudas existente (que será incorporado ao CEA) e próximo ao atualmente subutilizado estacionamento de veículos. Um estudo dos fluxos de pedestres apontou os principais percursos percorridos pelos visitantes e permitiu que, além de ser implantado na convergência de dois dos principais fluxos, o CEA fosse “atravessado” por uma via que os liga ao terceiro principal fluxo, integrando totalmente a escola com seu entorno.
A concepção do projeto partiu de um diagnóstico climático da área de intervenção para que, através da identificação das zonas bioclimáticas, fossem estabelecidas estratégias de condicionamento ambiental. Embora não seja a mais recomendada para regiões tropicais úmidas, a orientação do edifício (cuja principal fachada é voltada para o oeste) foi definida visando à contemplação do lago. A solução foi uma edificação “incrustada” no morro e o uso de vegetação na cobertura, além de uma parede de pedra protegendo a fachada norte. A fachada oeste é protegida por brises e treliças de madeira que evitam a incidência de luz solar direta. As árvores do entorno e os arbustos das jardineiras têm folhas caducas, respeitando a necessidade de captação de energia solar para aquecimento passivo durante uma parcela reduzida de 10% do período diurno de ocupação, durante o inverno. Um aspecto positivo da orientação escolhida é permitir que a brisa do lago permeie todo o edifício, resfriando os ambientes através da ventilação cruzada. Além das técnicas passivas também foram incorporadas técnicas ativas, como a captação de energia solar por meio de placas fotovoltaicas, para a produção de energia, e de coletores solares de PVC, para aquecimento de água.
ficha de projeto
Nome do Projeto
Centro de Educação Ambiental
Autora
Camila Ramondini do Val Teixeira
Instituição de Ensino
Universidade Presbiteriana Mackenzie - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Cidade
São Paulo SP
Professor Orientador
Ricardo L. Vasconcelos