Memorial
Localizada no distrito de Itaipuaçu, município de Marica, há uma quadra de 8.100m², de frente para o mar. Trata-se de uma belíssima e extensa praia, com uma sobrevivente restinga, berço de vegetação rude e peculiar. Poucas construções são encontradas em seu entorno, em geral residências e pequenos e esparsos estabelecimentos comercias.
Apesar da notável expansão, a infra-estrutura urbana ainda permanece precária. O esgotamento é realizado pelo sistema fossa /sumidouro, contaminando o solo e o lençol freático. Com isso, a obtenção de água provida de poços artesianos é prejudicada, já que não recebe tratamento de descontaminação antes do consumo.
As condições naturais do terreno são pontos favoráveis. O norte geográfico aponta para o continente e os ventos sopram na direção norte-sul, garantindo o privilégio da abertura de grandes vãos que permitem avistar o mar e receber o vento e a luminosidade.
Partindo das direções eólicas e solares e levando-se em conta a bela paisagem à frente do lote, propomos uma implantação que satisfaça às nossas exigências: boa ventilação e iluminação natural em todos os espaços com o fim de reduzir o consumo energético, áreas molhadas voltadas para o norte e a garantia do melhor aproveitamento visual ao longo de toda vila.
Estudos com a maquete garantiram o cumprimento de tais exigências e geraram a implantação definitiva das casas e da área de lazer — e, como conseqüência, o desenho da via pavimentada organizada pelas condições naturais do terreno. Organicidade foi a palavra-chave.
A tipologia estrutural adota toras de eucalipto autoclavado com selo de controle ambiental. A escolha se deve à presença da espécie na região, e, por conseqüência, de construções que se utilizam da técnica. A vedação foi feita com tijolo baiano, determinado pela escolha do uso da mão-de-obra local. A cobertura, com telha de cimento na cor terracota, por tratar-se de um material que, por não empregar queima, não emite gases em sua produção.
O projeto utiliza energia elétrica da rede já disponível, complementada com placas de energia solar para aquecimento da água. A água é obtida com a perfuração de um poço e o esgoto, tratado in loco, permite o reuso de água para irrigação. Toda a tubulação será realizada em PVC soldável, por se tratar de um produto vedável, durável e de baixo custo. Verificou-se que o aproveitamento das águas pluviais é inviável, devido ao baixo índice pluviométrico da região.
O projeto se forma em espaços híbridos, flexíveis e articulados, buscando aliviar tensões e desconforto, trabalhando — por meio da composição, da climatização, da iluminação e dos materiais — na criação de espaços serenos, fluidos e entremeados de luz, sombra, ventilação e massa verde, que estimulem os sentidos. Espaços lúdicos, que propiciem a interatividade.
Os elementos edificantes não tocam no chão: pousam e se adaptam às condições do meio físico, interagindo com o ambiente. Para preservar a madeira dos pilares, propomos um afastamento deste com o solo através de bloco em concreto.
Para atender a diferentes demandas, três tipos de casa são propostos, com um, dois e três quartos. Dispostas de forma orgânica, elas propiciam ao caminhar do observador diversidade e referenciais.
Nesta área de grandes proporções, interação foi a palavra-chave na obtenção de espaços amplos para o lazer e o relaxamento, o convívio e a descontração. As quedas d’água e espelhos rodeando as edificações, ligadas por passarelas, são propostas para quebrar a aridez. Estes espelhos d’água e as piscinas usam a manta de PVC para impermeabilizar e dar acabamento, já que esta, além de reduzir o custo e o tempo de execução da obra, evita infiltrações e perdas do volume de água.
ficha do projeto
Nome do Projeto
Vila Naturaleza
Autores
Ana Paula Nascimento, Fernando Miguel
Instituição de Ensino
Universidade Federal Fluminense / UFF
Cidade
Niterói RJ
Professor Orientador
Eduardo Vasconcelos
Co-orientador
Dario de Andrade Prata Filho