Na cidade atual, o reconhecimento do lugar da Justiça torna-se uma questão fundamental no que diz respeito à cidadania. Desde os tempos da Roma antiga, ocupava no contexto urbano – o lugar de destaque.
Argan em “História da Arte como História da Cidade” nos coloca que as obras de significado pertencentes à cidade, “... não apenas lembravam e celebravam o resgestae do passado, mas magnificavam os atos da vida cotidiana da comunidade urbana, assim como o cenário engrandece e magnifica os gestos do ator”.
Partindo desta premissa, tornou-se fato de relevância conciliar a revitalização do “Edifício Histórico” (antigo) com o cumprimento das necessidades de um programa que exige edificações, tecnologias e usos (novos); o passado no presente, preservando a lições e a memória da cidade.
Edifício Histórico (antigo)
A possibilidade de remoção das edificações junto a Av. Anita Garibaldi provocou a reconstituição da “Praça”, proporcionando desta forma perspectivas de destaque ao “Pavilhão” – Edifício Histórico.
À “Praça”, agregou-se um parlatório ampliando o caráter cívico reclamado pelo tema, preservando-se assim as qualidades visuais obrigatórias.
Para acentuar a dignidade pretendida a este edifício histórico, propõe-se recuperar o seu melhor momento arquitetônico (1903/1960), removendo os acréscimos da ala de seu canto poente (Rua Projetada) e recuperando suas fachadas mais significativas, tanto do ponto de vista histórico e documental quanto das perspectivas arquitetônicas.
Para alas remanescentes, prevemos a manutenção dos três pavimentos como testemunho das intervenções anteriores, porém com uma remodelação arquitetônica e estrutural. As aberturas propostas no pavimento térreo trocam o enclausuramento do antigo espaço prisional pela fluidez necessária aos novos usos e o panorama propiciado pela preservação das áreas verdes e nascente – Parque.
O Edifício Histórico como “Porta de Entrada” recepciona o público com sua fachada tão significativa à memória da cidade de Curitiba. É para este edifício que estão previstas a administração geral, o museu judiciário, agência bancária, livraria, restaurante e café – terraço.
A intercomunicação destes espaços e usos no Edifício Histórico é reforçada por uma cobertura translúcida no saguão principal ampliando o caráter público e funcional.
A Praça das Bandeiras (Praça Seca) reproduz no seu piso em mosaico português os desenhos tradicionais que orientavam os caminhos das praças do século XIX da qual a arquitetura do Edifício Histórico se insere.
O fluxo de pedestres será nivelado predominantemente na cota 24 (Edifício Histórico) facilitando a circulação entre as diversas dependências do complexo do Fórum. Esta uniformidade é mantida na travessia (ponte móvel se necessária) sobre o córrego Juvevê, fazendo a passagem de integração do Edifício Histórico com o Edifício Funcional. Esta mesma cota realiza a comunicação da Praça das Bandeiras com a entrada pública localizada na Rua dos Funcionários – acesso ao Terminal de Integração do Cabral do Eixo de Norte-Sul (Rede de Transporte Integrado da Cidade).
Edifícios Funcionais (novos)
O novo complexo foi ordenado em três edifícios que circundam um átrio triangular, formando um bloco prismático, cujo ângulo reto assinala o encontro da Rua Projetada com a Rua dos Funcionários, apontado na direção norte. A idéia remonta da antiga construção do “Fórum Romano” cuja implantação baseava-se no cruzamento do cardo e decumano definidos pelos pontos cardeais.
O prisma formado pelo complexo dos edifícios é assim definido pela própria conformidade do terreno e pela razão de resolver de forma prática, em um único espaço protegido, a interfuncionalidade das inúmeras atividades que um Centro Judiciário exige; assim como a necessidade de agilidade de seus serviços.
Cabe lembrar que a forma do triângulo desde a antiguidade é considerada por sua natureza, sagrada.
A dimensão do pátio interno (átrio), provocada pelo acolhimento dos três edifícios, proporciona aos visitantes, profissionais e servidores, o sentimento de domínio do espaço, assimilação e clareza das funções reclamadas pelo programa. A cobertura deste espaço sugere a mesma intenção ambiental da cobertura do saguão do Edifício Histórico, porém deixando explícita a leitura da temporalidade das construções.
Este grande vazio coberto e iluminado além propiciar um bom condicionamento ambiental ao pátio central, cria a monumentalidade indispensável às pretensões de um Centro Judiciário deste porte.
Os edifícios terão sua estrutura em concreto armado e lajes nervuradas (protendidas) em todos os pavimentos. A vedação em caixilharia de alumínio e vidro fixada na face externa dos edifícios terá sua proteção térmica luminosa protegida por telas metálicas perfuradas de acordo com os índices de insolação apropriados. Esta solução caracteriza a peculiaridade material e formal de cada fachada, propiciando a individualidade necessária a cada edifício e indicado ao usuário, a percepção da natureza arquitetônica.
A estrutura da cobertura será metálica e vedada com telhas termo-acústicas sobre os edifícios. A estrutura metálica da cobertura do pátio central terá sua vedação em vidro laminado, com as áreas de insolação devidamente controladas pelo índice de penetração de calor e luminosidade.
O edifício que abriga as varas criminais será o único voltado para o pátio que terá seu fechamento interno em vidro e receberá em sua superfície uma imagem serigrafada do artista que representa de forma inigualável a cultura do Paraná – Poty.
Áreas Verdes
A preservação da maior área possível de território permeável e as relações desta área com entorno urbano foram tratadas de maneira a orientar tanto as visuais da edificação histórica quanto as perspectivas proporcionadas pelo edifício novo. A amplitude gerada pela paisagem natural circunscrita pela arquitetura proposta valoriza e dignifica o território urbano com mais uma possibilidade de um Parque na cidade.
ficha técnica
Autores
Guilherme Motta
Gustavo Jacob
Felipe Annunziato
Rafael Assiz
Victor Paixão
Colaborador
Pedro França
Consultoria Jurídica
Telma Villas Boas
Larissa Machado
Mariana Pântano
Marcos Videira
Consultoria Ambiental
Ana Maria Lindenberg
Consultoria de Patrimônio
Roberto Leme Ferreira