Premissas projetuais
A concepção do Centro Judiciário de Curitiba partiu dos seguintes pressupostos: requalificação da paisagem urbana da região; respeito pelo patrimônio cultural e ambiental, e acessibilidade e funcionalidade.
Além da preocupação com a paisagem cultural do entorno, o projeto também considerou seu patrimônio ambiental, respeitando as vegetações importantes existentes no lote, a manutenção do canal do Rio Juvevê, da faixa de drenagem, do poço e da nascente d’água.
A presença por mais de um século, de uma penitenciaria localizada neste terreno, estigmatizou esta região da cidade, impedindo seu desenvolvimento mais intenso. A execução de um Centro Judiciário neste local deverá romper este “obstáculo” e se tornar paradigma de transformação para a região.
Os altos muros de isolamento do presídio criaram barreiras visuais que também impediram o desenvolvimento deste setor urbano. A execução do novo conjunto irá permitir uma relação mais intensa entre as edificações e as ruas. Dentro deste enfoque o complexo foi projetado com edifícios de arquitetura despojada, com aberturas para todas as ruas.
O projeto re-interpreta a clássica tipologia do edifício lâmina, característico da arquitetura brasileira, oriunda da sede do MES no Rio de Janeiro, sem utilizar as faces laterais cegas.
A disposição de diversas lâminas implantadas de acordo com os alinhamentos das ruas cria novas perspectivas e espaços de convívio para o conjunto arquitetônico. O espaço formado pelos Edifícios I, II e III compõe um Grande Átrio, que integra todos os espaços do conjunto arquitetônico.
Novas visuais para a paisagem urbana
O contraste da arquitetura eclética do Pavilhão, com a pele de vidro do Edifício I transversal ao conjunto, é o principal elemento compositivo do novo complexo arquitetônico. Os quatro edifícios em lâmina emolduram e valorizam o Pavilhão Ahú.
A visual da Avenida Anita Garibaldi, ganha ênfase com a rigorosa configuração de uma “praça seca”, tendo como ponto focal a perspectiva do Pavilhão Ahú, que tem sua simetria valorizada pela supressão de anexo na fachada esquerda. Em contrapartida, a fachada de vidro neutra do Edifício IV contrasta com a fachada eclética do Pavilhão, cujo portal faz acesso para o Museu Judiciário.
A Praça dos Pinheiros preserva a vegetação de porte existente, cria outra visual de destaque, e tem como ponto focal o eixo do prolongamento da Rua Vitória.
Em sua perspectiva urbana, o Pavilhão fica implantado sobre um grande piano nobile, que une o antigo e o novo. A disposição do Pavilhão Ahú neste piano nobile, valoriza sua arquitetura, como se fosse um palácio disposto em uma acrópole visto a distancia.
Pavilhão Ahú e Museu Judiciário
O Pavilhão Ahú, como é conhecida a antiga Prisão Provisória de Curitiba, foi construído em 1903, inicialmente para abrigar o Hospital Nossa Senhora da Luz, destinado à pacientes alienados. Em 1905 o governo do Estado firmou acordo para transferir o hospital para o bairro do Prado Velho, transformando a edificação em Prisão Provisória.
O volume da edificação do Pavilhão recompõe os elementos de sua arquitetura eclética original, cuja execução será possível através do estudo dos registros fotográficos de época e com criteriosa prospecção local no edifício. Em sua fisionomia externa o Pavilhão deverá retomar os vãos das esquadrias originais mantendo, porém, o aspecto visual de dois pavimentos.
Internamente a edificação terá três pavimentos, mas executados com novas lajes de pés-direitos mais altos, de modo a permitir sua utilização para novos espaços administrativos. Os pilares metálicos terão a dupla função de estruturar as novas lajes e manter consolidadas as paredes originais do Pavilhão.
O claustro será mantido com as atuais aberturas, mas receberá uma cobertura de vidro, cuja altura não concorre com o telhado de barro do Pavilhão Ahú. A execução de passarelas, escadas e elevadores no claustro, valorizam seu espaço interno e permitem mais flexibilidade de uso para as áreas de trabalho do Pavilhão.
O Museu Judiciário tem acesso independente que permite sua utilização em horários e dias diferentes do Centro Judiciário, transformando-se em novo ponto de lazer para a cidade.
Uma pequena seção do edifício ficará mantido em seu aspecto atual como presídio, transformado em objeto de interesse de visitas, preservando sua ocupação de um século e mantendo desta forma sua memória para gerações futuras.
A preservação destas celas do antigo presídio inclui também a manutenção das aberturas de esquadrias. Em seu aspecto externo a diferença de tratamento é sutil, de modo que o testemunho do uso como presídio não interfira na percepção geral do pavilhão.
Acessibilidade e segurança
O piano nobile composto pela Esplanada do Centro Judiciário, principal espaço de circulação e uso de pedestres, encontra-se propositadamente em nível elevado e independente da circulação de veículos.
Para os usuários do transporte coletivo, o acesso se dá pela Rua Chichorro Junior, no mesmo nível do estacionamento de veículos. A Praça das Bandeiras organiza e separa os fluxos de pedestres e veículos, enquanto que a Loggia do Tribunal de Pequenas Causas permite acesso coberto para desembarque dos usuários que utilizam veículos particulares ou de táxi.
O Centro Judiciário está inserido no Sistema Viário do Eixo Estrutural Norte e nos novos binários propostos pelo IPPUC. Foi criada uma Rua Interna de veículos que faz a ligação entre a Rua Chichorro Junior e o prolongamento da Rua Benjamim Zilli.
O maior fluxo de pedestres acontece pelo Terminal do Cabral, que utiliza os ônibus da Rede Integrada de Transporte, e o sistema de tarifa única para a Região Metropolitana de Curitiba.
As três mil vagas previstas pelo edital estão distribuídas em quatro níveis de estacionamento, de acordo com a legislação municipal. O acesso principal acontece pela Rua Benjamim Zilli. Na mesma rua existe outro acesso restrito para funcionários e detentos.
O conjunto arquitetônico do Centro Judiciário foi projetado para atender os mais atualizados quesitos de acessibilidade universal.
Todos os espaços do Centro Judiciário contam com sprinklers que além dos sistemas tradicionais de prevenção de incêndio, como hidrantes e extintores, aumentam a segurança do complexo, permitindo um maior distanciamento das circulações verticais, para o espaço máximo percorrido entre as mesmas.
O projeto prevê um sistema de segurança, desenvolvido de modo a permitir controle de acesso e de fluxos de usuários e de veículos, para o público externo e interno, composto por juizes, advogados, funcionários e detentos.
Funcionalidade e construtividade
Os edifícios do Centro Judiciário foram projetados para se obter o máximo de funcionalidade e maneabilidade na utilização dos seus espaços internos, com a disposição de plantas livres e uso de paredes divisórias tipo dry wall.
Todos os edifícios, incluindo o Pavilhão Ahú, podem dispor de instalações sanitárias, com dutos de ventilação forçada, em múltiplos lugares, utilizando sistema pressurizado de água e esgoto, que possibilita dimensionamento reduzido de encanamento.
Os edifícios foram planejados para serem executados em prazo reduzido, com materiais facilmente encontrados no mercado. As soluções de estrutura e de esquadrias foram racionalizadas, por serem os principais elementos construtivos das edificações, e os materiais empregados também foram pensados em proporcionar fácil manutenção e durabilidade.
Optou-se por um sistema eficiente e econômico para grandes vãos, que melhor se compatibilizam com as exigências da arquitetura. Utilizaram-se lajes nervuradas com duas linhas de pilares com vãos de 8 e 16 m, e balanços laterais de 4.5 m. O contraventamento foi obtido através de núcleos rígidos centralizados, que correspondem às circulações verticais.
Para garantir conforto ambiental para os usuários do Centro Judiciário, foram previstos sistemas de proteção solar junto às esquadrias de vidro. O sistema de ar condicionado, inevitável para este tipo de construção, está otimizado pela disposição dos edifícios e pelas características das esquadrias. Completando as propostas de construtividade, adequadas aos exigentes padrões de uma edificação sustentável, também foi prevista a reutilização de águas pluviais e servidas.
ficha técnica
Autores
Arq. Bráulio Carollo
Arq. Luís Salvador Gnoato
Arq. Orlando Ribeiro
Colaboradores
Arq. Carlos Eduardo Botelho
Arq. Carina Zamberlan Flores
Arq. Rosana Paciornik Nathan
Consultores
Arq. Carlos Garmatter Neto – acessibilidade e segurança
Eng. Ricardo Henrique Dias – cálculo de estrutura de concreto armado
Eng. Rosângela Zamberlan – orçamento de obra e tecnologia
Estagiários de arquitetura
Anna Cristina Zim
Daniel ArantesRafael Mulinari