O projeto do escritório Atelier Ichiku, do arquiteto japonês Yusuke Omuro (1981) é um vai além de um simples projeto de experimentação: o fato de ter sido realizado e encomendado, reafirma uma continuidade na cultura arquitetônica nipônica e a capacidade de trabalhar/conviver em espaços exíguos e com uma relação muito estreita – quase doente - entre espaço fechado/espaço aberto.

Terreno em Tóquio
Photo Yusuke Omuro [Atelier Ichiku]
Esquecendo por um momento o surrealismo desse projeto, que tange o absurdo no que diz respeito à exiguidade (os seus espaços são ridiculamente estreitos, quase anti-antropométricos), podemos numerar uma série de tentativas de desafiar o modo de viver na tradição arquitetônica japonesa.
Desde as casas e unidades plurifamiliares construídas com cápsula e módulos pré-fabricados desenvolvidas pelos arquitetos metabolistas até os apartamentos Kitagata do escritório Sejima & Nishizawa, o Japão é o berço de realizações radicais que muitas vezes só ficaram no papel no mundo ocidental.
A última relação direta que se pode estabelecer com esta casa do Atelier Ichiku é a casa Moriyama, em Tóquio, projetada por Ruye Nishizawa. Ali, uma das famílias que habita em uma das unidades de habitação, tem em quatro volumes completamente independentes a cozinha, o banheiro, a sala de televisão, e os quartos + sala. O usuário deve sair ao ar livre para ir ao banheiro, “dentro” de sua própria casa – na verdade aquele espaço é aberto, público, dentro do labirinto de vazios em meio aos cubos brancos dos pequenos blocos espalhados pelo terreno.
Volumes distintos na casa Moriyama, de Ryue Nishizawa, Tóquio, 2007
Foto Flavio Coddou
Yusuke Omuro leva o experimento mais longe, de mãos dadas com o proprietário da iniciativa: um escritor que deseja organizar os volumes de uma casa de fim-de-semana em meio ao campo ou terreno urbano, dependendo da sua vontade. A falta de infraestruturas como tubos de água e esgoto e eletricidade lhe permite mover-se pelo terreno. Ele transforma o espaço do in-between, aberto, em alma da casa, uma relação quase esquizofrênica com os usos de seus espaços, extremamente definidos pelas arestas de seu volume, mas com uma repetição da forma que substrai a relevância individual dos volumes.
ficha técnica
descrição
São quatro cabines encomendadas por um escritor, para passar o fim de semana. As quatro cabines são: escritório e quarto (1,62 m2), banheiro (0,81 m2), closet (0,54 m2), e local da oração (0,27 m2). Todo o restante do terreno, exceto as quatro cabines, convertem-se em sala de estar. A área da sala de estar coincide com a área do terreno. As quatro cabines podem ser facilmente movidas, e por isso é possível levá-las para qualquer lugar. O sentimento de pertinência pode ser movido para outras terras
localização
Saitama, Osaka, Tóquio
projeto
arquiteto Yusuke Omuro / Atelier Ichiku
construtor
Yusuke Omuro
área terreno
∞ m2
área de construção
3,3 m2 (1,62 m2 + 0,81 m2 + 0,54 m2 + 0,27 m2)
estrutura
Madeira
sobre o autorFlavio Coddou é arquiteto (1998) e editor do Vitruvius Espanha