O projeto do escritório Atelier Ichiku, do arquiteto japonês Yusuke Omuro (1981) é um vai além de um simples projeto de experimentação: o fato de ter sido realizado e encomendado, reafirma uma continuidade na cultura arquitetônica nipônica e a capacidade de trabalhar/conviver em espaços exíguos e com uma relação muito estreita – quase doente - entre espaço fechado/espaço aberto.
Esquecendo por um momento o surrealismo desse projeto, que tange o absurdo no que diz respeito à exiguidade (os seus espaços são ridiculamente estreitos, quase anti-antropométricos), podemos numerar uma série de tentativas de desafiar o modo de viver na tradição arquitetônica japonesa.
Desde as casas e unidades plurifamiliares construídas com cápsula e módulos pré-fabricados desenvolvidas pelos arquitetos metabolistas até os apartamentos Kitagata do escritório Sejima & Nishizawa, o Japão é o berço de realizações radicais que muitas vezes só ficaram no papel no mundo ocidental.
A última relação direta que se pode estabelecer com esta casa do Atelier Ichiku é a casa Moriyama, em Tóquio, projetada por Ruye Nishizawa. Ali, uma das famílias que habita em uma das unidades de habitação, tem em quatro volumes completamente independentes a cozinha, o banheiro, a sala de televisão, e os quartos + sala. O usuário deve sair ao ar livre para ir ao banheiro, “dentro” de sua própria casa – na verdade aquele espaço é aberto, público, dentro do labirinto de vazios em meio aos cubos brancos dos pequenos blocos espalhados pelo terreno.
Yusuke Omuro leva o experimento mais longe, de mãos dadas com o proprietário da iniciativa: um escritor que deseja organizar os volumes de uma casa de fim-de-semana em meio ao campo ou terreno urbano, dependendo da sua vontade. A falta de infraestruturas como tubos de água e esgoto e eletricidade lhe permite mover-se pelo terreno. Ele transforma o espaço do in-between, aberto, em alma da casa, uma relação quase esquizofrênica com os usos de seus espaços, extremamente definidos pelas arestas de seu volume, mas com uma repetição da forma que substrai a relevância individual dos volumes.
ficha técnica
descrição
São quatro cabines encomendadas por um escritor, para passar o fim de semana. As quatro cabines são: escritório e quarto (1,62 m2), banheiro (0,81 m2), closet (0,54 m2), e local da oração (0,27 m2). Todo o restante do terreno, exceto as quatro cabines, convertem-se em sala de estar. A área da sala de estar coincide com a área do terreno. As quatro cabines podem ser facilmente movidas, e por isso é possível levá-las para qualquer lugar. O sentimento de pertinência pode ser movido para outras terras
localização
Saitama, Osaka, Tóquio
projeto
arquiteto Yusuke Omuro / Atelier Ichiku
construtor
Yusuke Omuro
área terreno
∞ m2
área de construção
3,3 m2 (1,62 m2 + 0,81 m2 + 0,54 m2 + 0,27 m2)
estrutura
Madeira
sobre o autorFlavio Coddou é arquiteto (1998) e editor do Vitruvius Espanha