A proposta está inserida numa zona onde o espaço urbano e rural não estão bem definidos. A área de estudos com aproximadamente 900ha fica a sudoeste do município de Campinas (100km da capital paulista), na periferia, marcada por uma urbanização dispersa e uma situação habitacional e ambiental precária, tendo como forte barreira física uma linha férrea de transporte de cargas de um lado e uma rodovia estadual do outro. Boa parte da população veio de cidades do interior de vários estados brasileiros, geralmente de cultura agrícola, e ali se instalaram em busca de novas oportunidades de emprego. Um grande atrativo foi a construção da indústria de pneus Dunlop, hoje atual Pirelli, inaugurada na década de 50 na região.

Após realizar a análise do território foi possível destacar os principais problemas

• Ocupações irregulares, muitas em áreas de risco

• Solo contaminado pelo aterro da Pirelli

• Segregação espacial através de barreiras como a ferrovia e a rodovia

• Bairros dormitórios, monofuncionais e com poucas oportunidades de emprego

• Falta de infraestrutura urbana e equipamentos públicos

• Falta de espaços livres qualificados

• Falta de identidade da área

Nessa primeira análise surgiram as demandas projetuais e entre elas o tema habitação, principal assunto abordado nesse trabalho.

Ao notar que havia ali um bairro confuso e sem identidade, com espaços sem uso, com habitações que eram, muitas vezes, reproduções de casas da zona rural (via-se criações de patos, galinhas e até cavalos nos quintais), surge então a questão: Até onde vão os limites entre espaço urbano e rural?

Percebe-se que há uma área dentro do perímetro urbano com agricultura em plena atividade. Afinal, temos que parcelar esse solo de maneira convencional e adensá-lo? Porque então não mesclar o uso urbano e rural de uma maneira mais igual e equilibrada?

A proposta para o bairro é a mescla desses usos, principalmente trabalho e habitação, onde o cidadão possa ter novas possibilidades de ofício, onde ele não precise vestir sua melhor camisa, cortar as unhas e sair de porta em porta implorando um emprego, com cargas horárias desumanas e mal remunerado.

A produção agrícola aqui proposta não é de sub-existência, mas uma produção para venda em maior escala. Não é só passatempo ou terapia, mas sim um ofício. É para estufar o peito e dizer com orgulho “sou agricultor”!

Em suma, a proposta é a mescla de um bairro em que o uso habitacional (construído através de mutirões auto-geridos) e a produção agrícola supervisionada por uma cooperativa que funcionará como articuladora do sistema de plantio, sejam concomitantes.

Essa é uma tentativa de democratizar a produção e a apropriação do espaço urbano, é mais direito à cidade!

O conjunto possui três tipologias de apartamentos: 01 e 02 dormitórios e duplex com 02 dormitórios. No térreo, aproveitando o desnível do terreno foram criadas salas para pequenos comércios locais. Conforme a implantação criam-se pátios internos. São pequenas praças de uso público dentro do espaço privado. Áreas que permitem o convívio entre moradores e não moradores e criam condições de desenvolvimento pessoal, familiar e coletivo.

Para promover a participação popular e criar o sentimento de pertencimento ao local, a construção de todo o conjunto ocorrerá por meio de multirões autogeridos, com parte da mão de obra da própria população.

De modo a promover a participação popular as casas serão construídas através de mutirões autogeridos. O sistema construtivo adotado é o Monoforte. São Painéis monolíticos de poliestireno expandidoEPS) com uma malha de aço em cada face, que após rebocados trabalham como argamassa armada podendo ser autoportantes ou não.

A escolha dessa técnica vem do entendimento que não é necessária uma mão de obra especializada – pois é bem semelhante às técnicas convencionais – e que a maioria das pessoas que trabalham nos mutirões são mulheres e crianças, avaliando que carregar tijolos não é um trabalho leve, diferentemente do simples transporte de painéis relativamente leves de EPS.

O governo oferece formas de subsídios para a construção de moradias. Uma deslas é o Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR)e integra o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), buscando garantir subsídio financeiro para a produção de moradia atendendo aos agricultores familiares e trabalhadores rurais com renda familiar bruta anual máxima de R$ 15 mil (1).

A tipologia do edifício e a disposição dos apartamentos nasce a partir do conceito de otimizar a circulação tanto horizontal quanto vertical do conjunto.

Um única caixa de escadas serve oito apartamentos além de abrir visuais para a paisagem em diversas perspectivas.

Diferentemente do edicício lâmina que possui grandes corredores longitudinais que muitas vezes tiram a privacidade dos moradores, aqui a circulação é mais rápida e direta, não necessitando transitar por todo corredor.