Apresentação
Espaços Palitantes trata-se de uma forma alternativa de pensar habitação popular, espaço público e equipamentos urbanos. Dá lugar e direito de morar à população que habita áreas de risco. É uma proposta que faz pensar algumas bandeiras da Reforma Urbana (que não fizemos até hoje?!), e suscita questionamentos sobre a ordem vigente (produção e consumo capitalista do espaço).
É desdobramento do TFGI, “Construção do Risco, Construção em Risco, um ensaio sobre desastres naturais e a ocupação urbana” e TFGII, “Espaços Palitantes. Otimização de Estruturas Parciais”.
A problemática
Vem do retrato recorrente do que vemos nos jornais todos os anos quando a época de chuvas chega: desastres “naturais” (deslizamentos de terra, enchentes, famílias desabrigadas, etc.). Apesar disso, o problema não é exatamente a chuva, que é apenas um evento hidrológico, o problema é sistema físico e humano vulnerável que consiste a ocupação urbana em determinadas áreas, e, quando este é atingido pelas chuvas. Aquilo que se chama desastre natural é entendido aqui como desastre socioambiental.
Trata-se, da construção (urbanização) desigual do espaço, produzido e consumido sobre a óptica capitalista, na qual não existe espaço para aqueles que não possuem posses, restando-lhes segregação social e exclusão territorial. Essa parcela da população vai resolver seu problema habitacional procurando terras desinteressantes ao mercado formal, sobrando-lhes encostas, mangues, várzeas, etc.
Este cenário recorrente às cidades brasileiras também é comum à Juiz de Fora, MG, onde se afigura este projeto. O bairro Santa Luzia, localizado na zona sul do município, é uma área de grande suscetibilidade a deslizamentos, já que, assim como toda cidade, nasceu em um vale, cresceu e se expandiu pelos morros, com pouca profundidade de solo. E, quem ocupa essas encostas é a população de baixa renda constantemente assolada pelos desastres socioambientais.
Justificativa da solução adotada
Está construída sobre a necessidade de se reinventar novas formas de morar e estar na cidade, de democratizar o espaço, de dar acesso e voz à população segregada.
São habitações (três tipologias), espaços públicos (praças, área de convívio, horta) e equipamentos (comércio, creche, oficina escola, escritório de assistência técnica e posto de assistência social) construídos em “paliteiros” (estruturas de edifícios sobre um solo subutilizado, com potencial para ocupação).
Promover edifícios socialmente híbridos, através da utilização de instrumentos urbanísticos, dando incentivos e isenções à classe média (condôminos) para conciliar o uso do terreno e estruturas para abrigar o conjunto que recebe a população vítima de desastres socioambientais do próprio bairro.
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Espaços palitantes,localização da intervenção. Raquel Hellich, FAU UFJF
Menção honrosa
O conjunto
O conjunto é de pequeno porte, este contendo 43 unidades habitacionais, facilitando a gestão e o sucesso do empreendimento. Oferece aos moradores a oportunidade de se manterem no mesmo bairro ou mesmo nas proximidades de suas antigas residências que por sua vez possuem facilidades de equipamentos e serviços urbanos
A gestão do conjunto propõe novas formas de pensar a moradia pois não pactua com aideologia da casa própria, podendo funcionar como concessão de uso, cooperativismo habitacional, com aluguel social, dentre outros.
A técnica
Promove o aproveito de estruturas pré-existentes e a otimização de infra estrutura subutilizada: construções em steelframe em determinados pontos onde a ocupação avança a estrutura promovendo balanços, pois são mais leves e geram pouco resíduo na obra. Cada projeto de conjunto palitante deve receber atenção específica para feitura do dimensionamento de carga possível de se suportar e, além disso, estipular a forma de ocupação dentro do paliteiro.
Serviços
O conjunto incentiva o pequeno comércio para residentes e população em geral, no qualalguns pontos são disponibilidados. Possui instituições de educação para criança, em creche, e para jovens e adultos em oficina escola com a possibilidade de cursos profissionalizantes que podem ser realizados em parcerias diversas; espaço para pequeno cultivo em horta, espaços para o mercado informal e com construções efêmeras, escritório de assistência técnica com parceria entre Universidade e prefeitura, posto avançado de trabalho para assistência social do município. Todas as atividadese espaços de socialização a fim de incentivar a circulação de pessoas, a apropriação do espaço e a manutenção do condomínio.
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Espaços palitantes, plantas dos apartamentos tipo. Raquel Hellich, FAU UFJF
Menção honrosa
Tipologias
Três tipologias distintas para habitação, sendo a primeira com 36m² (com 1 quarto), a segunda 48m² (com 2 quartos) e 60m² (com 3 quartos) adaptáveis às diferentes famílias e necessidades. O conjunto conta com apoio do escriório de assistência técnica realizado pela universidade e pela prefeitura no próprio espaço do conjunto, em sala exclusiva.
ficha técnica
classificação
menção honrosa
projeto
Espaços palitantes
aluno
Raquel Filippo Fernandes Hellich
escola
FAU UFJF
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade Federal de Juiz de Fora