Uso do conceito de projeto de habitação evolutiva para reabilitação do edifício Hotel Central, av. São João, 288, centro de São Paulo
O esvaziamento do centro de São Paulo a partir da década de 60 e 70, devido ao surgimento de novas centralidades e deslocamento de interesses do capital, acarretou na subutilização de sua infraestrutura consolidada e na desocupação de edifícios, que há anos não cumprem sua função social como estabelecido no Estatuto da Cidade. Diante do abandono dos edifícios e do elevado déficit habitacional, os movimentos populares têm agido como força de pressão pela democratização da produção do espaço com ocupações e manifestações. Tal atuação é necessária face à ineficiência da aplicação dos instrumentos pelo poder público, bem como a ausência de diálogo e consulta à população. Fatores que permitem que o espaço urbano sofra com a especulação imobiliária e os interesses do mercado.
Reabilitação de edifício para habitação popular, mapeamento dos edifícios vazios. Debora Portugheis, Gabriela Xavier, Gustavo Ramos e Mariana Souto, FAU USP
3º lugar
Assim, a participação dos movimentos populares significa a luta pela transformação das relações de poder na cidade e pela democratização do espaço urbano embasado em seu valor social, dado que é nele e através dele que se desenvolvem as transformações sociais. Garantir a permanência das ocupações no centro é garantir o direito à cidade e à urbanidade; logo, a reabilitação de edifícios é uma das respostas a esse problema, bem como à produção habitacional como um todo. Suprir o déficit habitacional não significa apenas construir unidades habitacionais – a exemplo de programas como o Minha Casa Minha Vida. É preciso também garantir outras instâncias que envolvem o morar: o acesso à infraestrutura urbana, à cultura, oferta de empregos, serviços, entre outros. Construir habitação é construir cidade.
Reabilitação de edifício para habitação popular, isométrica da montagem dos mezaninos. Debora Portugheis, Gabriela Xavier, Gustavo Ramos e Mariana Souto, FAU USP
3º lugar
Em resposta a isso se apresenta, então, o projeto de reabilitação do Hotel Central de Ramos de Azevedo, localizado na Avenida São João, 288, centro de São Paulo. Ocupado há dois anos e meio por 66 famílias integrantes do movimento Frente de Luta por Moradia (FLM), o edifício encontrava-se desocupado há noves anos. Com quatro andares mais térreo, os quartos do antigo hotel, que variam de 9 a 33 m², abrigam as mais diversas configurações familiares, em sua maioria compostas por mães solteiras com dois a quatro filhos. O projeto se propôs a manter ao máximo o número de famílias que ocupa o edifício atualmente, ficando no final com 64 famílias em habitações de 30 a 45 m2, a fim de encontrar uma solução financeiramente viável a programas de financiamento e ao poder público. Enfrentaram-se, então, os entraves envolvidos na problemática da habitação, de modo a sugerir um desenho que pudesse ser realizado. O projeto final foi resultado de um processo de leitura das possibilidades que o edifício proporcionava, resultando, assim, no conceito de habitação evolutiva: uma possibilidade de proporcionar a personalização, expansão e alterações da habitação, considerando a heterogeneidade dos perfis familiares e as mudanças ao longo do tempo.
ficha técnica
classificação
3º lugar
projeto
Reabilitação de edifício para habitação popular
aluno
Debora Jun Portugheis, Gabriela de Souza Xavier, Gustavo Raposo Ramos e Mariana Caires Souto
escola
FAU USP
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade de São Paulo
source
FAU USP
São Paulo SP Brasil