Este ensaio teve como ponto de partida o estudo da habitação de interesse social no Brasil, focando nas habitações construídas no âmbito do programa "Minha Casa, Minha Vida (MCMV)", mas voltando atenção à seus predecessores de os meados do século XX.
No livro Habitar São Paulo: Reflexões sobre a gestão urbana, o eminente urbanista Nabil Bonduki, falando sobre projetos de habitação social afirma que estes "caracteriza-se, em geral, pela monotonia de sua arquitetura; pela ausência de relação com o entorno; por sua localização periférica, estendendo horizontalmente as cidades; pela despreocupação com a qualidade dos projetos e com o meio físico, resultando na depredação ambiental".
Nabil Bonduki referia-se em seu texto aos projetos desenvolvidos pelo Banco Nacional de Habitação (BNH). Passados 30 anos no âmbito do programa Minha Casa Minha Vida, parece que pouco se aprendeu. Lamentando a falta de zelo no desenvolvimento destes projetos, mas considerando que simplesmente existem, surge a pergunta que norteia este trabalho: o que é possível fazer do ponto de vista arquitetônico e urbanístico para que estes adquiram uma tessitura socialmente mais saudável?
Numa primeira etapa do projeto, tentou-se abordar esta questão focando o condomínio típico do Programa MCMV, obtendo-se resultados, em termos de propostas de intervenção, que são considerados frustrantes: em um espaço com seríssimos problemas urbanísticos e arquitetônicos qualquer intervenção arquitetônica deteriora ainda mais o espaço público e intervenções urbanísticas no espaço público impedem qualquer intervenção nos espaços privados.
Para tentar dar materialidade a esta pergunta em um contexto com maiores possibilidades de intervenção, foi escolhido, para estudo de caso, o Morar Carioca, localizado no Bairro de Triagem, um dos poucos conjuntos habitacionais do MCMV localizados na área central do Rio de Janeiro. TRata-se de um espaço envolvido por programas monofuncionais (conjuntos habitacionais, exército, indústrias de grande porte) entrecortado por muros que, junto com as linhas de trem e viaduto de metrô , quebram a continuidade territorial em componentes desconectados entre si. Em uma destas ilhas encontra-se o recém construído Bairro Carioca (MCMV 2012) e em outra o Conjunto do PACC (2010), novos guetos ressaltando antigos muros.
Em meio à segregação, em seus diversos níveis e metodologias, anunciada no processo de desenvolvimento e na questão da habitação, a indignação deu espaço à inclusão de um processo de projetar uma utopia, um desejo de refletir além dos muros já impostos. Com isso, foi possível imaginar um outro cenário, contraposto às novas intervenções em Triagem, isto é, voltar 5 anos, se utilizando do território ocupado pelo MCMV e PACC.
Este projeto procurou detectar, interpretar e adaptar o que há de saudável no encontro entre Rocha, Benfica, Triagem e Jacarézinho, bairros que não coincidentemente se encontraram por volta de 1920, um período de crescimento mais lento, natural e multifuncional da cidade.
Este ensaio, através de uma contra proposta ao que foi construído, busca transpor a política urbana/habitacional para além de seus muros, conectar seus lados e, acima de tudo, sonhar com cidade!
ficha técnica
classificação
menção honrosa
projeto
Extra-muros: ensaio sobre monofunção, guetos e cidade
aluno
Tamar Firer
escola
FAU UFRJ
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade Federal do Rio de Janeiro