1. Introdução
Nos centros industriais europeus a mecanização fez dos fins do século XVIII e do século XIX, o momento de criação do meio técnico. A sociedade moderna se confrontava com as possibilidades que se abriam diante do que pensavam ser a base de uma nova prosperidade. Como denota a apologia comteana do industrialismo, se tudo é feito pela indústria, tudo deveria ser feito para ela(3).
A era industrial elabora um projeto que é constitutivo de uma nova estética. Os avanços tecnológicos conquistados compunham uma lógica mecanicista que inevitavelmente se refletiu na construção dos edifícios e cidades. Nos edifícios fabris faziam-se uso do ferro, material que, com a revolução industrial, passou a ser produzido em larga escala. Com o uso do metal em substituição à pedra e à madeira ganhava-se em espaço, economia e funcionalidade. Os vãos aumentavam e os andares somavam-se uns sobre os outros. Grandes volumes, grandes espaços. Na fábrica, onde idealmente reina a funcionalidade, a economia e a limpeza de formas, o componente estético está em detrimento do técnico.
Como cada indústria, a cidade funcional moderna divide-se em partes. Bem posicionada, cada parte liga-se ao todo, em avenidas ou trilhos retilíneos, bem iluminados, ‘embelezados’, próprios ao bom fluir de passageiros e cargas e de acordo com as idéias sanitaristas vigentes.
Tratando do fenômeno de industrialização da Península de Itapagipe, ocorrido entre fins do século XIX e meados do XX, não teremos esta funcionalidade como algo reducionista ou fechada em si, mas como uma maneira de pensar a cidade que acrescenta complexidade à história urbana.
2. As fábricas em salvador e na península
Em fins do século XIX, na decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano, reorganizavam-se as estruturas familiares, econômicas e culturais de Salvador. Com a abertura dos portos, quando da chegada da família real ao Brasil, o governo português cede em permitir se instalarem na colônia indústrias em geral. Salvador se metamorfoseou. Surgiram indústrias e o comércio cresceu largamente.
Na Península Itapagipana foi implantado grande número de indústrias de natureza e dimensões variadas, consolidando o que se poderia chamar de um primeiro Centro Industrial Baiano, assim posteriormente reconhecido pelo Escritório de Planejamento Urbano da Cidade de Salvador(4). Na Cidade Baixa, de sítio plano e de águas calmas, o aprazível bairro de veraneio refletiu sinais de grandes mudanças. Alguns fatores físicos indicavam esta como uma tendência natural, a exemplos da necessária relação de distância e proximidade que a Península de Itapagipe guarda do centro da cidade e das suas terras planas de fácil acesso tanto por terra, quanto por mar.
3. As transformações e concomitâncias na península
No decorrer do século XIX a ocupação rarefeita dos arrabaldes da península itapagipana tornou-se adensada e, ao caráter de lugar das atividades ligadas à pesca, das vilegiaturas, sede de igrejas e casas de campo, somou-se e misturou-se a idéia de subúrbio moderno industrializado. Os espaços revelavam-se numa intenção de claridade, regularidade e repetição.
Com o surgimento das indústrias deu-se uma ruptura brusca com a escala e a dinâmica das pré-existências da península. O aparecimento de enormes chaminés e galpões no miolo e à beira mar transformam a sua paisagem. Às torres da Igreja do Senhor do Bonfim, da Igreja do Bom Jesus dos Navegantes, de Nossa Senhora da Penha, ao farol e à Igreja da Ponta de Humaitá, aos baluartes do Forte de Mont Serrat fundiam-se as imagens das chaminés e os grandes volumes das indústrias, o relógio da Estação Ferroviária da Calçada, o ritmo repetitivo das residências operárias, os trilhos e a velocidade dos novos sistemas de transporte.
Na Penha existiam estaleiros para a construção de grandes embarcações ou de fragatas. No sítio do Papagaio encontravam-se os alambiques para destilar a cachaça, e numerosos lugares onde se encontrava o pescado. No Porto do Bonfim havia uma fábrica de vidros e nesta freguesia, durante o século XIX, instalaram-se algumas das primeiras fábricas de tecidos. Na Ribeira de Itapagipe o povo podia atravessar, em barca, de um lado para o outro, procurando a terra firme do subúrbio, sendo animais também aceitos neste precário meio de transporte. À Penha dirigiam-se os romeiros em busca da capela do Bonfim, demonstrando sua devoção nas esmolas generosas, cera e azeite, contribuindo para o patrimônio da igreja. Junto a esta surgiram as casas dos romeiros, todas iguais, que lhes serviam de agasalho, no tempo que passavam em local tão longínquo da cidade (5).
A citação acima nos ajuda a esboçar uma imagem da concomitância de ambiências que se deu na península ao longo do século XIX: a fábrica, a barca, a igreja, os animais que dividiam com os transeuntes o “precário meio de transporte”. A coexistência do mundo de hábitos litorâneos, do mundo do trabalho e do mundo das práticas religiosas evidencia-se nesta passagem. A transfiguração desta área acontece na sucessão de sobreposições de um mundo ao outro, sem que quaisquer dos anteriores fossem anulados; a riqueza espacial que nela há advém desta simultaneidade. Os processos históricos por que passa a cidade aí se refletem e materializam. A península pode ser entendida como uma das imagens de Salvador, como o outro da cidade que a revela nas suas diferenças, diferenças estas que se complementam, se constroem no tempo.
3.1. Os transportes e a segregação espacial
As estradas de ferro brasileiras se estenderam sobre o traçado das antigas “estradas reais” ou “estradas geraes”(6), entradas pelo território adentro feitas pelos bandeirantes com o intuito de conhecer e povoar os interiores da colônia. Sobre a antiga Estrada das Boiadas, caminho que conduzia os rebanhos do interior para a capital, foi implantada a Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco, em Salvador. Por indicação do sítio foi escolhida a planície da península como ponto de chegada. A Estação Ferroviária da Calçada, inaugurada em 1860, fica na linha limite que separa a Península de Itapagipe do conjunto alto/baixo do centro da cidade, logo mais adiante. A estação está no istmo, na justa e breve transposição cidade/arrabalde.
Em seguida aos transportes interurbanos, os transportes urbanos também se estendiam até aí, com linhas regulares ligando a área ao centro da cidade. Com os veículos de transporte urbano trafegando pela cidade-baixa, chegando até o Bonfim, a península ganha nova trama, velocidade e ritmo. Vencidas as dificuldades de acesso, o lugar ocupou-se mais densamente, industrializou-se e proletarizou-se, o que podemos observar nesta citação de MATTOSO:
Assim, duas outras freguesias, a da Penha e de Brotas, geralmente englobadas entre as freguesias urbanas de Salvador, ficam fora de seu perímetro. Freguesias que se caracterizam ou por atividades de caráter nitidamente rural e por uma população rara, como é o caso de Brotas, ou pelo contrário, por uma atividade econômica industrial, portanto moderna, pois afora os tradicionais estaleiros da Ribeira, e de vários engenhos de açúcar, e na freguesia da Penha que elegem sede às fábricas têxteis e outras manufaturas de produtos alimentícios, de espirituosos e outros. Criação de novas atividades que permitem a fixação naquelas paragens de uma mão-de-obra artesanal que pouco a pouco foi expulsando os antigos residentes, ricos comerciantes que ali possuíam suas casas de veraneio. Enquanto o bairro da Vitória se aristocratizava, o bairro de Itapagipe se proletarizava (7).
A freguesia da Penha, que até então englobava a totalidade da Península de Itapagipe, passa a caracterizar-se por uma atividade econômica industrial. Em decorrência da força da indústria na península, principalmente a têxtil, há uma rearticulação de atividades e características dos novos bairros em toda a cidade de Salvador. A aristocracia baiana concentrava-se no bairro da Vitória, mais ao Sul do perímetro urbano, e os bairros de veraneio tornam-se a Barra e Ondina.
Uma parcela dos antigos moradores da Península de Itapagipe, os abastados da sociedade baiana, é substituída por um número crescente de operários que levantam suas casinhas ou ocupam conjuntos edificados por senhorios ou industriais. O bairro da Vitória tornou-se o lugar para onde se dirigiam os ditos expulsos, em boa parte proprietários das indústrias que implantavam na península. Distinguiam-se o bairro operário e o bairro nobre da cidade.
A Península de Itapagipe se estabeleceu, ao longo do século XIX e início do XX, como sede das indústrias baianas, acumulando, principalmente às margens da via férrea e à beira mar, grande número de fábricas. As linhas de bonde facilitavam as ligações e a integração da península ao resto da cidade, toda a área é plana, facilmente acessível por terra ou mar, além dos seus terrenos serem de baixo custo se comparados aos das demais áreas da cidade. Com a introdução dos transportes coletivos, alcançava-se a península mais facilmente. Mais do que ligar-se à cidade de Salvador, neste momento ela passa a ser organicamente parte dela, guarda-se como porção diversa das demais, configura-se como o lugar onde se constituía o Sítio Industrial da capital baiana. A península, parte da cidade impregnada de história, tornou-se moderna, mecânica, maquínica.
Detenhamo-nos em avaliar a dimensão da interferência espacial deste fenômeno que não se restringe ao erigir das fábricas, mas se estende ao traçado das ruas, às reformas, às casas e às suas fachadas, aos banheiros que surgem nos quintais, em fim, à idéia de modernização vigente que, partindo dos incentivos do poder público e do capital industrial, torna-se contagiante.
3.2. Os arruamentos - Com o Projeto de Melhoramentos Urbanos do governo de José Joaquim Seabra(8) o porto de Salvador havia sido modernizado, a cidade-baixa foi alargada com os aterros e os transportes urbanos cobriam grande extensão da cidade. As intervenções na forma física da cidade, que ganhariam maior dimensão neste governo, estavam propostas e presentes nos discursos que pensavam a cidade, desde os pronunciamentos do Conselho de 1895. Além da extensão dos serviços de transporte e iluminação públicos, foram feitos aterros em áreas do comércio e Pilar, além de dessecamentos e drenagens na península itapagipana.
Como exemplo dos dessecamentos e drenagens realizados neste período, foram feitos serviços no Largo da Madragoa, hoje Largo Dois de Julho, responsáveis por transformar o antigo pântano em uma praça com calçamento e coreto (9).
Também na Península de Itapagipe, na década de 1920, é planejado e construído o bairro de Mont Serrat, são alargadas e pavimentadas as Avenidas Bonfim e Mém de Sá, além de redesenhada a Praça General Osório e a balaustrada de todo o percurso à beira-mar na Avenida Porto dos Mastros e Ribeira.
Ao tempo em que tudo isto se realizava foram abertas novas ruas, a mancha urbana espalhou-se e adensou-se. Os antigos meios-fios em desalinho, que fugiam à regularidade imposta pelas novas leis municipais, seriam regularizados. Os novos arruamentos, de traçado retilíneo, eram planejados para facilitar a movimentação dos veículos automotores e a maior regularidade de acesso e abastecimento às fábricas.
As reformas regulamentadas pela Prefeitura voltam-se aos ideais de salubridade e as regras para aceitação das licenças de construção que se atualizam. Eram exigidos recuos que proporcionariam melhores ensolejamento e ventilação a todos os cômodos dos edifícios construídos, além de pés-direitos mais altos e instalações sanitárias adequadas ao mais higiênico uso moderno.
3.3. As fábricas - As fábricas implantadas na Península de Itapagipe de fins do século XIX a meados do XX somam 112 unidades. Com caráter moderno, já no século XIX, são instaladas indústrias que se somam às arcaicas ou as substituem. Foram encontrados vestígios de que estavam em atividade na Península de Itapagipe, no recorte temporal demarcado, indústrias têxteis, de fumo (charutos e cigarros), de ceras (sabão e velas), calçados, algodões medicinais, fábrica de cal, fósforos, fábricas de caixas de papelão, pregos, móveis, vidros, ladrilhos, beneficiamento de fumo, cacau e de borrachas, produtos alimentícios (pão, café, chocolates e bombons, bebidas, conservas e doces), além dos moinhos, serrarias, curtumes, das fundições e dos estaleiros(10).
Juntamente à inserção da indústria e da rotina ferroviária, da rotina do trabalho operário e das atividades produtivas modernas, é inserida na Península de Itapagipe a noção do decorrer linear do tempo. O relógio da Estação da Calçada, o ruído do correr sobre os trilho, os apitos do trem e as sirenes das fábricas entrecortam o tempo livre anulando qualquer possibilidade de que fossem esquecidos a nova ordem e o novo ritmo estabelecidos.
3.4. As habitações proletárias - José Joaquim Seabra, quando assumido o governo do Estado da Bahia, a partir de 1912, assina decretos que favoreciam aos empreendedores da habitação proletária em Salvador: ficavam isentos dos impostos de transferência dos imóveis e seria, pelo governo estadual, solicitada a liberação dos impostos sobre os materiais importados para as suas construções.
Além da preocupação com a forma e disposição das moradias proletárias, havia o interesse em regulamentar a área onde tais edifícios seriam construídos. O processo de segregação espacial por que passava a cidade desde meados do século XIX, seria então institucionalizado no Código de Obras de 1926.
Em Salvador, como em outras cidades brasileiras, observou-se a tendência de concentração das residências e vilas operárias em determinadas áreas das cidades, antes de regulamentá-las como zonas residencial-proletárias. 48% das habitações proletárias de Salvador, entre os anos de 1870-1930, concentravam-se na Península de Itapagipe, que se configurou como primeira área tipicamente proletária de Salvador(11).
Os empreendimentos fabris foram os principais agentes produtores de moradia proletária na cidade no final do século XIX e início do XX. Todas as indústrias têxteis investiram, direta ou indiretamente, na construção de habitações para seus empregados. Posto que houvesse a necessidade das habitações operárias serem próximas às fontes de trabalho pode-se entender por que a maior parte destas residências estava em Itapagipe.
È notório o incentivo por parte da Prefeitura Municipal para que aí fossem construídas tais residências, o que evidencia a enorme carência habitacional da área que se transformava, se adensava. Muitos terrenos baldios foram liberados para a construção de casas particulares e de casas para alugar a operários, planejadas por especuladores imobiliários com vistas no desenvolvimento industrial da área referida e no aumento da demanda habitacional. O poder público concordava com a isenção dos impostos por longos períodos às fábricas que construíssem vilas operárias e investissem em benfeitorias.
3.5. A Companhia Empório Industrial do Norte
A Empório Industrial do Norte foi uma das 29 empresas baianas criadas em 1891, dentre as quais três eram têxteis. A sua implantação obedeceu a critérios e estudos de matéria-prima, produção e mercado(12).
Pelo grau de seu envolvimento com a realidade econômica e industrial da Bahia da época e pelo seu espírito empreendedor, seu fundador, o industrial Luiz Tarquínio, foi referenciado efusivamente como o “Mauá Baiano”. Estando à frente de sua época revelou-se motivado por idéias que permeavam o mundo europeu desde o início do século XIX.
Junto à fábrica inaugurou um conjunto de edifícios que constitui a Vila Operária da Boa Viagem. A vila contava com conforto e uma boa infra-estrutura, capaz de alicerçar a vida dos moradores de forma a ser desnecessário o seu deslocamento para longe do núcleo. Contava com escola, biblioteca, armazéns, consultório médico, creche, além da praça que se fechava à rua e possuía dois coretos no seu interior. Tal estrutura proporcionava trabalho, morada, educação e lazer aos empregados sendo também útil ao monitoramento do seu tempo livre.
3.6. O EPUCS – Um plano moderno para salvador
O Escritório de Planejamento Urbano da Cidade de Salvador – o EPUCS – começa a funcionar efetivamente em abril de 1943, como iniciativa de introduzir o urbanismo na práxis urbana. Adotava uma concepção interdisciplinar na elaboração do plano que deveria atender às necessidades espaciais da “Grande Salvador”.
Sob a responsabilidade do Engo Mário Leal Ferreira e com o apoio do Arqto Diógenes Rebouças, o Escritório elaborou uma proposta urbana para a Salvador dos anos quarenta, levando em consideração as peculiaridades do meio natural, do sítio e das condições topográficas na elaboração do traçado viário, dos projetos sanitários e de abastecimento.
O plano buscava resolver os problemas de “localização e distribuição dos vários estratos de sua população (zoning); os de saúde e higiene; os de economia e trabalho; os de habitação e alimentação; os de educação e instrução; os de interação social e bem-estar (welfare)” (13). Pretendia partir da cidade existente para propor uma cidade mais integrada, orgânica e funcional.
No Plano Urbanístico do EPUCS verifica-se a demarcação da Península de Itapagipe como Zona de uso Misto, entre Residencial Satélite e Industrial, tendo em vista a grande concentração de indústrias e residências que ocorria na área, fruto da segregação espacial que sucedera no decorrer do século XIX.
Desta forma a Península é reconhecida e mantida pelo EPUCS como a área da cidade mais propícia à localização das indústrias. Reafirmou-se no plano o que se consolidou através da dinâmica natural da cidade.
4. A obsolescência
Com a implantação da Refinaria Landulfo Alves, em 1950, em Mataripe, a economia baiana ganhou impulso tornando-se o principal produtor de petróleo em todo o país. Nos trinta anos seguintes, a PETROBRÁS, explorando o petróleo do Recôncavo baiano, chega a produzir um quarto das necessidades nacionais e a cidade de Salvador passa a ter outros vetores de expansão(14). O modelo proposto pelo EPUCS não mais se aplica a esta nova realidade.
Com a convergência de interesses econômicos para a região metropolitana, no Centro Industrial de Aratú, o antigo centro industrial de Itapagipe se arrefece deixando como registros do seu passado as cicatrizes e os resíduos da sua materialidade – seja nas chaminés, elementos-vestígios que surgem na paisagem peninsular verticalizando o olhar, ou nas ruínas dos edifícios fabris que evidenciam a necessidade de registro desta “antiga e moderna indústria baiana”.
Sendo um ponto de interseção de toda a movimentação para os bairros suburbanos além da Península, o bairro da Calçada tornou-se um ponto de estrangulamento que, dificultando o acesso por veículos automotores, assumiu um papel de extrema importância para a preservação de características físicas da área, do seu tecido urbano. Com a crescente valorização de outras áreas, a Península ganha um ar de abandono, toda a cidade é armada por uma nova trama de vetores. O impulso da descoberta do petróleo e da nova vetorização da indústria gerou um espaço descontínuo, criou lacunas.
Com a instalação da PETROBRÁS no Recôncavo baiano, faz-se presente uma matriz econômica totalmente estranha à matriz técnica e social da economia local(15). Por isso vale dizer que, com a estagnação das indústrias da Península, morreu a indústria verdadeiramente baiana, ou seja, não subsistiu a indústria fundada com capitais locais para atender ao mercado local.
5. Algumas considerações
Configurando-se como área residual pelo arrefecimento da indústria que a movimentava e a sua vetorização para além do perímetro urbano de Salvador, a Península é um “palimpsesto”, um território rico em camadas de tempo que emergem misturando torres de igrejas, chaminés, ruínas e residências.
As transformações territoriais sofridas por este lugar a partir da inserção dos conjuntos fabris, das vilas operárias, das largas avenidas e dos bondes sobre trilhos, deixaram seus resíduos e marcas.
A Península é um território esgarçado, porém, repleto de história. É um espaço urbano fundamental que faz parte da cidade de Salvador configurando-se como seu “Sítio Industrial Moderno”.
notas
1
Este trabalho foi apresentado com título AS FÁBRICAS E A CIDADE - A Península de Itapagipe como sítio industrial da Salvador Moderna na seção Patrimônio Industrial do “III Seminário Cidade e Indústria: Ações contemporâneas” da Faculdade De Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu. São Paulo, agosto de 2009.
2
Para maiores detalhes sobre as transformações espaciais ocorridas na Península de Itapagipe desde o fim do século XIX e meados do século XX consultar CARDOSO, C. R. C. Arquitetura e Indústria: A Península de Itapagipe como sítio industrial da Salvador Moderna. 1897-1947. Dissertação (Mestrado em Teoria e História da Arquitetura) – Departamento de Arquitetura da Escola de Engenharia de São Carlos. São Carlos: Universidade de São Paulo, 2004.
3
BUCHANAN, R Angus. Industrial Archaeology in Britain; Great Britain, Hazell Watson & Viney, 1992, p.31.
4
OCEPLAN-PLANDURB-PMS. EPUCS - Uma experiência de planejamento urbano. Salvador: Série Estudos Informativos, No. 1, 1976.
5
NASCIMENTO, Anna Amélia Vieira. Dez Freguesias da Cidade do Salvador. Salvador, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1986, Pg. 33.
6
ZORZO, F. A. Ferrovia e rede urbana na Bahia: Doze Cidades Conectadas pela Ferrovia no Sul do Recôncavo e Sudoeste Baiano. Feira de Santana: Universidade de Feira de Santana, 2001, Pg.48.
7
MATTOSO, K. M. de Q. Bahia: A Cidade do Salvador e seu Mercado no Século XIX. São Paulo: Hucitec, 1978, Pg. 179.
8
FERNANDES A.; GOMES, M. A. Idealizações urbanas e a construção da Salvador Moderna: 1850-1920. In: GOMES; FERNANDES (Org.). Cidade e História. Salvador: UFBA, 1992.
9
CARVALHO, C. A. Tradições e Milagres do Bomfim – Obra seguida de Interessante resenha histórica da Peninsula da Iitapagipe. Salvador: Typografia Bahiana, 1915. Pg. 149.
10
CARDOSO, (2004), op. cit, anexo1.
11
CARDOSO, L. A. F. Entre vilas e avenidas: habitação proletária em Salvador, na Primeira República”. Dissertação (Mestrado em Desenho Urbano) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1991, p84.
12
SAMPAIO, J. L. P. Evolução de uma Empresa no Contexto da Industrialização Brasileira: a Companhia Empório Industrial do Norte, 1891-1973. Salvador: Dissertação de Mestrado, Faculdade de Ciências Humanas, UFBa, 1979.
13
SIMAS, Américo. Evolução Física de Salvador; CEAB-FAUFBa, Vol.4 (inédito).
14
BRANDÃO, M. de A.(org.). Recôncavo da Bahia: sociedade e economia em transição. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, Academia de Letras da Bahia, Universidade Federal da Bahia, 1997.
15
OLIVEIRA, F. Elegia para una re(li)gión: SUDENE, NORDESTE. Planificación y conflictos de classes. México: Fondo de Cultura Económica, 1982.
sobre a autora
Ceila Rosana Carneiro Cardoso é Mestre em Teoria e Historia da Arquitetura e do Urbanismo pela Escola de Engenharia de São Carlos – EESC-USP. Atualmente é doutoranda em Conservação e Restauro pelo Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU-UFBA e docente substituta aprovada por concurso público lecionando a disciplina Introdução à Arquitetura e ao Urbanismo na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia – FAU-UFBA.