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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
O texto trata sobre o projeto de teatro desenvolvido por Mies van der Rohe para exposição no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA NY) em 1947. Relacionando-o com projetos influentes posteriores e anteriores

english
The article brings the Theatre Project made by Mies van der Rohe to an exhibition at the Museum of Modern Art in New York (MoMA NY) in 1947.


how to quote

COLOMBO, Luciana Fornari. O projeto de teatro de Ludwig Mies van der Rohe. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 185.03, Vitruvius, out. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.185/5782>.

Introdução

Existem muitas publicações sobre a obra do renomado arquiteto Ludwig Mies van der Rohe (Aachen, 1886 — Chicago, 1969). Entretanto, pouca atenção tem sido dada ao teatro que ele projetou e expôs em 1947. De fato, publicações têm descrito este projeto através de poucas frases ou até mesmo o omitido totalmente(1). O presente artigo busca suprir esta lacuna ao explorar o contexto e o tema deste projeto, bem como a sua relevância, documentação remanescente, relação com o ensino, e a sua influência.

Elevação interna esquemática, Projeto de Teatro, 1947, L. Mies van der Rohe; 1: hall de entrada, 2: instalações técnicas e foyer, 3: bastidores; 4-5: palco; 6: plateia, 7: concha acústica, 8: pele de vidro [Colombo, L. F., 2015. Orig.: MoMA NY]

Contexto e tema de projeto: experimentos em arquitetura teatral e em estrutura de grande vão único

Até 1947, ano no qual Mies lançou o projeto de Teatro em sua exposição solo no Museu de Arte Moderna de Nova York – MoMA NY (2), ele ainda não havia sido encarregado de projetar um teatro. Desta maneira, o interesse de Mies pelo tema do teatro surgiu de maneira essencialmente especulativa. Este interesse havia sido despertado muitos anos antes (3), e havia sido compartilhado com colegas arquitetos que Mies conhecia, como Walter Gropius (4). De fato, na década de 1920, este e outros membros da Bauhaus desenvolveram projetos para explorar maneiras de modernizar a arquitetura do teatro. Dentre estes projetos estavam o Teatro-U (1924) de Farkas Molnár, o Teatro Esférico (1926) de Andor Weininger, e o Teatro Total (1926-1927) de Walter Gropius (5).

Teatro Total, 1926, Walter Gropius; 1: hall e foyer; 2: instalações técnicas; 3: bastidores; 4: palco; 5: palco ou plateia com sistema giratório e elevador; 6: plateia; 7: concha; 8: pele de vidro; 9: cabine de projeção; 10: tela de proteção [Colombo, L. F., 2015. Orig.: Harvard Art Museum]

Assim como os projetos mencionados, o Teatro de Mies também introduziu técnicas modernas de construção na antiga tipologia do teatro para abrir novas possibilidades para as artes dramáticas. Entretanto, o projeto de Mies se diferenciou ao explorar mais especificamente as possibilidades arquitetônicas do grande hall de aço e vidro completamente livre de colunas internas. Este edifício moderno com um grande vão único interessava Mies porque ele reduzia o número de elementos construtivos e maximizava a flexibilidade de arranjo interno, surgindo como a maneira mais prática e econômica de construir em uma sociedade moderna altamente dinâmica (6). Além destas vantagens pragmáticas, este tipo de edifício também interessava Mies por suas qualidades simbólicas e expressivas. Mies considerava que edifícios com grandes vãos representavam o século vinte da mesma maneira que as catedrais góticas haviam representado a Idade Média. Este ponto de vista foi especialmente reforçado pelos edifícios industriais que o arquiteto Albert Kahn vinha projetando na primeira metade do século vinte devido ao caráter impessoal, preciso, e eficiente destes edifícios, bem como aos seus vãos de largura impressionante. Por exemplo, o edifício de montagem de bombardeiros da companhia Glenn Martin (Middle River, Maryland, EUA, 1937) projetado por Kahn continha um vão livre de 90 metros que foi considerado o maior construído até então sob cobertura plana (7).

Sobre a fotografia deste interior ultramoderno, Mies fez um experimento com técnica de colagem, no qual ele introduziu um palco, uma área de plateia escavada, e painéis acústicos suspensos. Assim, Mies substituiu o uso original do edifício, o qual era relacionado com a indústria bélica, por uma sala de espetáculos, de maneira a dar ao edifício um caráter mais cultural, artístico, e público. Este experimento culminou no projeto de Sala de Concertos (1940-1941), o qual foi seguido por outros projetos arquitetônicos desenvolvidos como uma pesquisa independente. Estes projetos buscavam expandir o uso da estrutura de grande vão único além de fábricas, pavilhões de exposições, e estações de trem, ou seja, além dos propósitos utilitários aos quais tal estrutura havia sido restringida por convenção. Além da Sala de Concertos (1940-1941) e do Teatro (1947), dentre estes projetos especulativos estavam o Museu para uma Pequena Cidade (1940-1943), o Centro de Convenções (1953-1954), e a Casa Núcleo (1951-1952) (8).

Perspectiva interna esquemática, Sala de Concertos, 1941-2, L. Mies van der Rohe; 1: hall e foyer, 2: plateia, 3: palco; 4-6: painéis acústicos e concha acústica, 7: pele de vidro [Colombo, L. F., 2015. Orig.: MoMA NY]

Plantas baixas esquemáticas. Projetos de L. Mies van der Rohe; a: Museu para uma Pequena Cidade, 1940-1943 (1: Auditório); b: Casa Núcleo, 1951-1952; c: Centro de Convenções, 1953-1954 [Colombo, L. F., 2015. Orig.: MoMA NY]

Embora estes projetos diferissem em escala e programa, a maioria deles incluía um auditório. De fato, tal espaço destinado a assembleias e espetáculos especialmente demandava uma estrutura de grande vão único para garantir amplas vistas desimpedidas. Por exemplo, no Museu para uma Pequena Cidade (1940-1943), tal estrutura foi restringida ao auditório, o qual ocupava apenas uma fração da área total do edifício. No Teatro (1947), por outro lado, o auditório ocupava a maior parte da área total, e a estrutura de grande vão único foi expandida para conter todo o edifício. Esta última possibilidade foi derradeiramente explorada em escala monumental no Centro de Convenções (1953-1954), cujo vão livre de 220 metros gerou uma forte expressão de modernidade.

Diferente destes grandes edifícios culturais, a residência unifamiliar, além de não possuir um auditório, também tendia a conter espaços pequenos e privados que tornavam a estrutura de um grande vão único dispensável. Ainda assim, Mies testou o uso desta estrutura em escala doméstica através da Casa Núcleo (1951-1952). Neste projeto, a estrutura de grande vão permitiu que Mies extraísse ainda mais profundamente a essência da habitação até chegar a um projeto altamente flexível e elementar. Mies esperava que tal casa fosse facilitar a construção pré-fabricada e a adaptação aos diversos estilos de vida e às necessidades variáveis das famílias modernas. Entretanto, Mies estava ciente de que uma família padrão da época não iria aderir imediatamente a esta proposta de casa, pois ela confrontava padrões convencionais de privacidade (9).

De fato, da pequena casa ao monumental Centro de Convenções, Mies havia sido capaz de adaptar a estrutura de grande vão único a diversos programas ao conceber cada edifício como uma casca de aço e vidro neutra e adaptável contendo um único grande espaço visualmente integrado com o seu entorno (10). Esta notável integração espacial foi possível, porque o espaço interno era apenas sutilmente subdividido de acordo com demandas funcionais através de móveis, divisórias leves e baixas, cortinas, e outros elementos arquitetônicos alternativos às tradicionais paredes do piso ao teto. Esta fluidez interior retomava a ideia de 'planta livre' (11) que Mies vinha desenvolvendo desde o projeto da Casa de Campo de Tijolos de 1924. Pode-se argumentar que foi precisamente da introdução deste tipo novo de planta na moderna estrutura de grande vão que surgiu a versão miesiana do edifício de um grande vão único.

Plantas baixas esquemáticas. Projetos de L. Mies van der Rohe; a: Casa de Campo de Tijolos, 1924. b: Casa Núcleo, 1951-1952 [Colombo, L. F., 2015. Orig.: MoMA NY]

Relevância: expansão do conceito miesiano de edifício de grande vão único, e uma nova visão de teatro moderno

Apesar de sua clareza, este conceito miesiano de edifício de grande vão único ainda era desafiador e nada convencional mesmo para projetos que continham grandes auditórios. Por exemplo, além de um auditório, um edifício de teatro também deveria conter inúmeras e diversificadas instalações técnicas, cujo arranjo rígido e pré-estabelecido tinha tradicionalmente favorecido um interior fragmentado e poucas aberturas para o exterior. O Teatro que Mies projetou em 1947 rompeu com esta tradição ao reduzir o número de elementos construtivos, divisórias internas, e paredes opacas ao mínimo necessário. Por exemplo, ao invés de paredes, Mies usou degraus e desníveis para definir as áreas de foyer e auditório. Desta maneira, este projeto expandiu ainda mais a aplicabilidade do conceito miesiano de edifício de um grande vão único, demonstrando que este conceito também poderia atender o programa do teatro.

Este projeto também foi relevante porque ele proporcionou uma nova visão de teatro moderno. Enquanto mantinha a tradicional plateia unidirecional, este projeto abriu o auditório para outros espaços internos e o integrou visualmente com o exterior através de amplas fachadas de vidro. Desta maneira, este projeto elevou a continuidade espacial e a abertura visual a um nível superior em comparação com outros teatros em recintos fechados. Por exemplo, no Teatro Total de Walter Gropius, telas de projeção e paredes opacas separavam a área da plateia da pele de vidro externa. O Teatro de Mies, por outro lado, foi capaz de resgatar de maneira mais intensa a atmosfera dos antigos teatros ao ar livre - incluindo a sua forte integração com a dinâmica paisagem circundante e com a vida da comunidade - enquanto garantia conveniente proteção contra intempéries.

Documentação remanescente: croquis e colagem de apresentação

Sendo especulativo e independente de clientes, o projeto de Teatro de Mies envolveu poucos desenhos. A documentação remanescente inclui alguns croquis (12), uma grande colagem de apresentação que Mies preparou especialmente para a sua exposição solo no MoMA NY em 1947 (13); e uma versão reduzida desta colagem para estudo (14). Nos seus croquis, Mies testou diferentes maneiras de elevar a plateia, incluindo a solução em balanço eventualmente adotada. Esta configuração era nova na obra de Mies, pois ele havia adotado uma área de plateia escavada nos projetos anteriores de Sala de Concertos e Museu.

Cortes esquemáticos, estudos da estrutura de sustentação da plateia, Projeto de Teatro, 1947, L. Mies van der Rohe [Colombo, L. F., 2015. Orig.: MoMA NY]

Em contraste com estes pequenos croquis, a grande colagem mede aproximadamente 120 por 245 centímetros. Ela mostra uma elevação interna do Teatro de Mies, e evoca as ideias essenciais deste projeto de maneira sintética e marcante. A omissão deliberada de lajes, vigas, e colunas indica a ideia de uma casca neutra contendo um grande espaço livre, no qual as divisórias podem ser distribuídas à vontade independentemente da estrutura. Este senso de intensa flexibilidade é reforçado pela aparência flutuante e pela distribuição dinâmica das divisórias. Variações de formato indicam diferentes elementos, os quais seguem a sequência espacial tradicional: foyer, plateia, palco, e bastidores, com as áreas técnicas abaixo do auditório elevado. Todos os elementos que configuram estes espaços, incluindo a concha acústica, aderem à modulação do plano de fundo. A cor amarela deste fundo indica a iluminação emanada da ampla pele de vidro que idealmente faceia um parque.

Relação com ensino: aprimorando ideias através de um exercício didático

Ainda existem outros documentos que, sendo fortemente relacionados com o Teatro de Mies de 1947, podem enriquecer o conhecimento sobre as ideias que este projeto buscava promover. Estes documentos incluem o projeto de diplomação intitulado ‘O teatro: desenvolvimento histórico e possibilidades presentes' [The theatre: historical development and present possibilities] que o estudante irlandês Reginald Francis Malcolmson (1912-1992) desenvolveu no Illinois Institute of Technology – IIT entre 1947 e 1949 sob a orientação de Mies (15). As notáveis similaridades entre os projetos de teatro de Mies e de Malcolmson refletem a abordagem pedagógica de Mies, a qual se baseava no modelo mestre-aprendiz (16). Os exercícios que Mies propunha aos estudantes não eram apenas instrumentos pedagógicos, mas também instrumentos de pesquisa, ou seja, uma oportunidade para testar e refinar ideias arquitetônicas relevantes que ele estava desenvolvendo naquele período. Mies já vinha propondo exercícios que exploravam sutis variações dos seus próprios projetos, como por exemplo as suas casas pátio, desde que iniciara suas atividades docentes na Bauhaus em 1930 (17). Mais tarde, no IIT, não apenas o Teatro, mas também os projetos de Sala de Concertos (1940-1941), Museu para uma Pequena Cidade (1940-1943), e Centro de Convenções (1953-1954) foram associados a trabalhos de diplomação orientados por Mies que exploravam temas similares. Na turma de 1940-1941, o estudante Paul Campagna desenvolveu o seu projeto de diplomação sobre o tema da sala de concertos (18); entre 1940 e 1943, o estudante e assistente de Mies, George Danforth, desenvolveu um projeto sobre o tema do museu (19); e na turma de 1953-1954, Yujiro Miwa, Henry Kanazawa e Pao-Chi Chang desenvolveram o projeto intitulado 'Um centro de convenções, um projeto cooperativo' [A conventional hall, a co-operative project] (20).

Elevação interna esquemática. Projeto de Teatro, 1947-9, Reginald F. Malcolmson; 1a-b: hall e foyer, 2: instalações técnicas, 3: bastidores; 4-5: palco, 6: plateia, 7: concha acústica, 8: pele de vidro [Colombo, L. F., 2015. Orig.: University of Michigan Library]

Malcolmson era um arquiteto de carreira bem estabelecida na Irlanda, quando decidiu se mudar para Chicago para se tornar aluno de Mies e atualizar os seus conhecimentos. Malcolmson chegou ao IIT em outubro de 1947 (21). Naquele momento, Mies já havia concluído a colagem do Teatro para a sua exposição solo no MoMA NY, a qual iniciara em setembro daquele mesmo ano (22). Em tal contexto, o projeto de diplomação de Malcolmson daria a Mies a oportunidade de continuar aprimorando as suas ideias sobre o teatro moderno. O testemunho de Malcolmson confirma que o seu trabalho foi fortemente influenciado por Mies. Malcolmson explicou que por algumas semanas ele não conseguia decidir qual tema iria desenvolver, até que Mies sugeriu o tema do teatro. Mies ainda estimulou o interesse do estudante na estrutura de grande vão único e em projetar apenas com elementos absolutamente indispensáveis - o palco e a plateia - aos quais todos os demais elementos eram subordinados. Esta colaboração estreita entre professor e estudante era facilitada devido ao fato de que Mies orientava um grupo pequeno de estudantes, e de que Malcolmson demonstrava entusiasmo pelas ideias de seu professor (23). Além disso, assim como outros estudantes, Malcolmson logo começou a trabalhar como assistente no escritório de arquitetura de Mies (24), adquirindo um duplo papel que fortalecia ainda mais a fusão entre ensino, pesquisa, e prática.

Assim como Mies, Malcolmson também utilizou a técnica da colagem para elaborar uma elevação interna do seu projeto de Teatro (25). As colagens de Mies e de Malcolmson diferem em tamanho, textura, cor, e proporção, bem como em número e posição de seus elementos colados. Por exemplo, a colagem de Mies tem tamanho maior, concha acústica mais longa, uma entrada protuberante, e texturas de mármore, ouro, e prata. Em contraste, a colagem de Malcolmson tem tamanho menor – aproximadamente 75 por 100 centímetros – e cores vibrantes como vermelho e amarelo (26). Apesar destas diferenças, em última instância, estas colagens demonstram uma ideia similar: um grande espaço livre de colunas, onde auditório e outras instalações estão dinamicamente distribuídas.

O projeto de Teatro elaborado por Malcolmson contém documentos adicionais, como fotografias da maquete, plantas baixas, e uma declaração por escrito, que complementam a colagem e demonstram em mais detalhes a influência de Mies. Por exemplo, enquanto a colagem de Malcolmson também omite a estrutura, a sua maquete inclui duas treliças externas cobrindo o vão no seu sentido longitudinal da mesma maneira que Mies havia proposto anteriormente em seu projeto para o restaurante Cantor Drive-in (1945-50) (27). Além disso, a declaração por escrito de Malcolmson expõe objetivos que Mies claramente apoiava, como o uso de técnicas construtivas modernas para atingir maior flexibilidade espacial e estimular novas possibilidades nas artes dramáticas. Esta declaração ainda explica elementos arquitetônicos que Mies havia previamente incluído em seu projeto de Teatro. Por exemplo, os painéis acústicos suspensos tinham o propósito de liberar as paredes de funções acústicas e assim permitir maior flexibilidade espacial. Enquanto isso, a pele de vidro tinha o propósito de prolongar visualmente o espaço interno até a paisagem circundante. Finalmente, a simplicidade das formas tinha como objetivo concentrar a atenção na essência do teatro: o espetáculo (28).

Plantas baixas esquemáticas, Projeto de Teatro, 1947-9, Reginald F. Malcolmson [Colombo, L. F., 2015. Orig.: Malcolmson, R.F., 1949]

Perspectiva externa esquemática, Projeto de Teatro, 1947-9, Reginald F. Malcolmson [Colombo, L. F., 2015. Orig.: Malcolmson, R.F., 1949]

A história oral de Malcolmson oferece informações adicionais que também ajudam a elucidar as ideias de Mies acerca do teatro moderno. Por exemplo, Malcolmson explicou que a elevação da plateia e do palco tinha o objetivo de estabelecer um movimento ascendente de visitantes através de escadas como um ato solene e cerimonial (29). De fato, Mies já conhecia este conteúdo simbólico atribuído a escadas desde muitos anos antes. O seu caderno de 1927-8 contém várias passagens do livro Von heiligen Zeichen (Sinais Sagrados, 1922) (30), no qual Romano Guardini afirmou, 'Não são apenas os pés que sobem as escadas, mas todo o nosso ser. Também em espírito subimos. Toda ascensão, toda subida, se realizada com atenção, é movimento na direção daquele lugar mais alto onde tudo é grande e perfeito' (31).

Influência: O projeto de Mies van der Rohe para o concurso do Teatro Nacional de Mannheim (1952-1953)

Além do projeto de diplomação de Malcolmson, o projeto de Teatro de Mies de 1947 também exerceu influência marcante sobre o Teatro Nacional que Mies projetou para a cidade de Mannheim. Em 1952, Mies foi convidado a participar do concurso que selecionaria o projeto do novo Teatro Nacional, o qual era uma das obras mais importantes de reconstrução pós-guerra na Alemanha. Ao iniciar este novo projeto, Mies se beneficiou amplamente das ideias especulativas que ele havia preparado em 1947. Estas ideias se tornaram ainda mais prestativas, visto que Mies dispunha de um prazo curto para a apresentação de sua proposta (32), e que ele estava envolvido com outros projetos importantes, como a Crown Hall e o Centro de Eventos. Dentre as ideias que Mies retomou de seu projeto anterior estavam a casca de aço e vidro contendo um grande vão único, o espaço interno integrado e flexível, o auditório elevado, a plateia em balanço, o acesso protuberante, e a combinação de materiais polidos e nobres. Mies também incorporou à sua nova proposta as grandes treliças metálicas apoiadas em colunas externas que ele havia previamente adotado em seu projeto de Restaurante Cantor Drive-in.

Plantas baixas e corte esquemático, Teatro Nacional, Mannheim, 1952-1953, L. Mies van der Rohe [Colombo, L. F., 2015. Orig.: MoMA NY]

Perspectiva externa esquemática, Teatro Nacional, Mannheim, 1952-1953, L. Mies van der Rohe [Colombo, L. F., 2015. Orig.: Chicago History Museum]

Antes de apresentar a sua proposta ao júri, Mies tinha que detalhar mais as suas ideias para demonstrar a sua viabilidade técnica e construtiva. Ele também tinha que incluir as instalações adicionais especificadas no edital do concurso, como, por exemplo, o segundo auditório menor. O projeto de Teatro Nacional de Mies emergiu deste processo de detalhamento como uma demonstração ainda mais convincente de que o seu conceito de edifício de grande vão único poderia acomodar diversos usos de maneira flexível (33).

Além de um conjunto completo de desenhos técnicos, o projeto de Mies também incluía uma grande maquete e uma declaração por escrito, a qual sintetizava a visão do arquiteto sobre como o teatro moderno poderia ser. Ele explicou que o seu projeto foi organizado em dois pavimentos para separar a produção técnica da produção artística, e para acomodar palcos e plateias de maneira mais conveniente. Mies localizou a produção técnica - a qual incluía palcos, oficinas e depósitos - no piso superior. Enquanto isso, o piso inferior abrigava a produção artística, a qual incluía administração, camarins, guarda-roupas, sala de ensaios, lounge, recepção, cafeteria, cozinha, área de carga e descarga, garagem, e elevador. Este complicado organismo espacial foi coberto com uma grande casca de aço e vidro; e definido com divisórias internas leves à prova de fogo. Mies dispensou tais divisórias no auditório, nas galerias laterais, e no foyer para integrar estes ambientes e transformá-los em um grande espaço único e contínuo, concebido como 'um hall imponente e festivo' (34).

Possuindo aproximadamente 81 metros de largura, 162 metros de comprimento, e 12 metros de altura (35). o Teatro Nacional de Mies era realmente imponente. Este grande hall, que ocupava uma quadra inteira, impressionou o júri (36), e Mies foi convidado a participar da segunda fase do concurso. Porém, apesar de seu grande interesse neste projeto, Mies recusou o convite (37). De fato, ele já havia apresentado a sua proposta claramente, e uma reapresentação envolveria apenas pequenas mudanças (38). Para Mies, revisões mais profundas poderiam ser feitas apenas em estreita colaboração com especialistas em teatro (39).

Por fim, outro projeto de Teatro Nacional foi selecionado e construído: o projeto de Gerhard Weber, arquiteto alemão que havia sido aluno de Mies na Bauhaus (40) e que ingressou no concurso em sua segunda fase (41). Em seu projeto, Weber incluiu elementos arquitetônicos que Mies já havia proposto durante a primeira fase do concurso, como as colunas externalizadas. Ainda assim, o projeto de Weber se diferenciou consideravelmente do projeto de Mies, por exemplo, na disposição de paredes opacas e transparentes. O projeto de Mies tinha um térreo predominantemente opaco e uma pele de vidro transparente nos pavimentos superiores; ao passo que o projeto de Weber tinha um térreo mais transparente e pavimentos superiores predominantemente opacos. Desta maneira, o projeto de Weber era mais convencionalmente fechado e compartimentado.

Teatro Nacional, Mannheim, 1955-7, Gerhard Weber
Foto/Photo Rudolf Stricker, 2012 [Wikimedia Commons]

Teatro Nacional de Mannheim, Gerhard Weber, 1955-7
Foto/Photo Rudolf Stricker, 2012 [Wikimedia Commons]

Após se retirar voluntariamente do concurso para o Teatro Nacional de Mannheim, Mies não receberia outro convite para projetar um teatro. Desta maneira, a ideia de teatro moderno que ele havia inaugurado em 1947 permaneceu um projeto suspenso. Ainda assim, esta ideia tem mantido a sua relevância e capacidade de inspirar, como demonstram, por exemplo, edifícios recentes que também notavelmente buscam integrar o auditório com o seu entorno através de grandes aberturas. Dentre estes edifícios estão o Rolex Learning Center (Lausanne, 2010, SANAA - Kazuyo Sejima + Ryue Nishizawa), o Institute of Contemporary Art (Boston, 2006, Diller Scofidio + Renfro), o Auditório do Ibirapuera (São Paulo, 2005, Oscar Niemeyer), e a Casa da Música (Porto, 2005, OMA – Office for Metropolitan Architecture).

Casa da Música, Porto, 2005, OMA - Office for Metropolitan Architecture
Foto/Photo Janek Pfeifer, 2005 [Wikimedia Commons]

Conclusão

Este artigo demonstrou que o Teatro projetado por Mies em 1947 explorava maneiras de modernizar a antiga arte de construir teatros, e assim lidava com um tema de pesquisa que vinha ocupando vários arquitetos da época. Em seus experimentos sobre este tema, Mies introduziu a moderna estrutura de grande vão único no edifício do teatro para otimizar a visibilidade e a flexibilidade interna; para reduzir o número de elementos construtivos, e para produzir uma forte expressão de modernidade.

Em projetos anteriores, Mies já havia ampliado a aplicabilidade da estrutura de grande vão único para além de edifícios utilitários através da introdução da planta livre nesta estrutura pré-existente. O Projeto de Teatro de 1947 superou estes projetos anteriores ao demonstrar que tal estrutura também era válida para edifícios que continham um conjunto diversificado e rígido de instalações técnicas. O Projeto de Teatro também foi significativo porque ele introduziu a plateia elevada na obra de Mies, e inesperadamente conciliou tecnologias modernas com o senso de abertura e integração espacial que havia caracterizado os teatros da antiguidade.

Sendo desenvolvido como uma pesquisa independente, o Teatro de Mies tem poucos desenhos remanescentes. Entretanto, ainda existem outros documentos fortemente relacionados com este projeto que podem ampliar significativamente a sua compreensão: o trabalho de diplomação sobre o tema do teatro que Mies orientou em 1947-1949; e a proposta que Mies apresentou no concurso para o Teatro Nacional de Mannheim em 1952-1953. De fato, estas ocasiões posteriores deram a Mies uma oportunidade para detalhar a ideia de teatro moderno que ele havia inaugurado em seu projeto de 1947. Por fim, apesar de não ter sido plenamente realizada por Mies em um edifício construído, esta ideia continua mantendo a sua relevância, ainda destacando-se como uma visão audaciosa e inspiradora.

notas

NA – Este artigo derivou da tese de doutorado “Theoretical Projects, Nature & Significance through the Case Study of Mies van der Rohe’s Work” (2012) que a autora concluiu na Universidade de Melbourne, Austrália, com bolsa de pesquisa concedida por esta Universidade e pelo Norman Mcgeorge Bequest.

1
Ver, por exemplo: JOHNSON, Philip. Mies van der Rohe, 3 edn, New York, Museum of Modern Art, 1978 [1953, 1947]; LAMBERT, Phyllis. Mies Immersion. In LAMBERT, Phyllis (ed.).  Mies in America. Nova York, H.N. Abrams, 2001, p. 192-589, 436; MERTINS, Detlef. Mies. London, Phaidon Press, 2014, p. 301; SCHULZE, Franz. Theater, 1947. In DREXLER, Arthur (ed.). The Mies van der Rohe Archive. v. 14, 20 volumes. Nova York, Garland, 1986, p. 2.

2
O Projeto de Teatro de Mies foi exposto no MoMA NY em 1947 entre o projeto da Casa na Montanha e o projeto da Sala de Concertos, conforme demonstram os registros fotográficos da exposição.

3
Myron Goldsmith, então aluno e assistente de Mies, registrou em seu caderno de 1951-5 que Mies afirmou que havia pensado abstratamente sobre a arquitetura do teatro por doze anos. GOLDSMITH, Myron. Notebook, sketches and notes on Mies, Nervi, 1951-5; 32-011T-116, Myron Goldsmith Archive, Canadian Centre for Architecture Archive,Montreal.

4
A relação profissional entre Mies e Walter Gropius é descrita em: SCHULZE, Franz. Mies van der Rohe: a critical biography. Chicago,University ofChicago Press, 1985, p. 41, 118, 175.

5
SCHLEMMER, Oskar, et al. Die Bühne im Bauhaus. München, Albert Langen Verlag, 1925; ARONSON, Arnold. Theatres of the Future. In Theatre Journal, Vol. 33, n. 4, Dec., 1981, p. 489-503 <http://www.jstor.org/stable/3206773>; MALCOLMSON, Reginald Francis. The theatre, historical development and present possibilities, Master of Science in Architecture, Chicago IL, Illinois Institute of Technology, June 1949, p. 53, 56; LUPFER, Gilbert; SIGEL, Paul. Gropius. Köln, Taschen, 2004, p. 59-60.

6
MIES VAN DER ROHE, Ludwig. Architect of “the clear and reasonable, Mies van der Rohe considered and interviewed by Graeme Shankland. The Listener, vol. 1.XII, no. 1594, October, 1959, p. 621; MIES VAN DER ROHE, Ludwig; NORBERG-SCHULZ, Christian. 'A talk with Mies van der Rohe 1958'. In F NEUMEYER (ed.). The Artless Word, Mies van der Rohe on the Building Art. Cambridge, Mass., MIT, 1991, p. 339.

7
FUJIKAWA, Joseph & BLUM, Betty J, Interview with Joseph Fujikawa Interviewed by Betty J. Blum, 1983, Chicago Architects Oral History Project. The Art Institute of Chicago, 2003, p. 19 <http://digital-libraries.saic.edu/u?/caohp,3528>; NELSON, George. Industrial architecture of Albert Kahn, New York, Architectural Book Pub., 1939, p.14, 35. A biblioteca pessoal de Mies incluía o livro Industrial architecture of Albert Kahn. UIC, Online catalogue. Richard J. Daley Library; University of Illinois at Chicago; Rare Books Section. Ludwig Mies Van der Rohe Collection, Chicago, 2008 <http://library.uic.edu/home/collections/manuscripts-and-rare-books/rare-books-at-the-richard-j.-daley-library>.

8
Para maiores informações sobre a natureza especulativa destes projetos e a relação entre eles, ver: COLOMBO, Luciana Fornari. Theoretical Projects, Nature & Significance through the Case Study of Mies van der Rohe's Work. Ph.D. Thesis. Architecture, Building, and Planning; Melbourne, The University of Melbourne, 2012, chapter 6: Clear Span Pavilions.

9
HAID, David. Letter to Mr Gary Adamson, on the behalf of Mies van der Rohe, 19 July 1954; late correspondence 1930-69, container 4, Papers of Ludwig Mies van der Rohe, Manuscript Division, Library of Congress, Washington DC. GOLDSMITH, Myron & BLUM, Betty J. Oral History of Myron Goldsmith interviewed by Betty J. Blum, 1986, Chicago Architects Oral History Project, The Art Institute of Chicago, 2001, p.75, 77, 83 <http://digital-libraries.saic.edu/u?/caohp,3934>; MIES VAN DER ROHE, Ludwig. 'Architect of “the clear and reasonable”, Mies van der Rohe considered and interviewed by Graeme Shankland', The Listener, vol. 1, n. XII, 1594, October, 1959, p. 621. Para maiores informações sobre o projeto da Casa Núcleo, ver: COLOMBO, Luciana Fornari. Mies van der Rohe’s Core House, a Theoretical Project on the Essential Dwelling. Arquitextos, São Paulo, year 11, n. 130.03, Vitruvius, mar. 2011 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.130/3782/en>.

10
LAMBERT, Phyllis, Mies Immersion, in LAMBERT, Phyllis (ed.). Mies in America. Nova York, H.N. Abrams, 2001, p. 192-589, 197. Mies explicou, “Eu busco conceber meus edifícios como molduras neutras nas quais as pessoas e as obras de arte podem seguir suas próprias vidas... a natureza também deve viver a sua própria vida”. MIES VAN DER ROHE, Ludwig; NORBERG-SCHULZ, Christian. A talk with Mies van der Rohe 1958, in NEUMEYER, Fritz, The Artless Word, Mies van der Rohe on the Building Art, Cambridge, Mass., MIT, 1991, p. 339.

11
Sobre o conceito de “planta livre” [open plan], Mies afirmou: “As pessoas pensam que se pode fazer qualquer coisa com a planta livre – mas isto não é verdade. A planta livre é apenas uma outra concepção de espaço”. MIES VAN DER ROHE, Ludwig. Six students talk with Mies, Student publication North Carolina University School of Design, 1952. Ele acrescentou que esta “planta baixa variável... demanda tanta disciplina e inteligência do arquiteto quanto uma planta convencional”. MIES VAN DER ROHE, Ludwig; Norberg-Schulz, Christian. A talk with Mies van der Rohe 1958. In NEUMEYER, Fritz, The Artless Word, Mies van der Rohe on the Building Art, Cambridge, Mass., MIT, 1991. p. 338-339. Mies também explicou: “uma casa para uma pessoa é um problema mais simples... em uma casa com cinco quartos... é realmente mais difícil usar a planta livre, mas ainda é possível: você apenas tem que trabalhar muito mais nela”. MIES VAN DER ROHE, Ludwig. Architect of “the clear and reasonable”, Mies van der Rohe considered and interviewed by Graeme Shankland, The Listener, vol. 1, n. XII, 1594, October, 1959, p. 621. Cartas emitidas pelo escritório de Mies e elaboradas pelo seu assistente Myron Goldsmith demonstram que Mies estava interessado em obter avaliações pós-ocupação de casas com planta livre. GOLDSMITH, Myron. Letter to Vincent Scully, 8 April 1952; Documents and Photo Files, Folder 1951-52 50 X 50 House, The Mies van der Rohe Archive,Museum of Modern Art,New York.

12
Os croquis do projeto de Teatro de Mies estão disponíveis na coleção online do MoMA NY: <www.moma.org/collection/object.php?object_id=168587>; <www.moma.org/collection/object.php?object_id=168586>; <www.moma.org/collection/object.php?object_id=168036>; <www.moma.org/collection/object.php?object_id=168585>; <www.moma.org/collection/object.php?object_id=168035>.

13
LOHAN, Dirk. Letter to Mr Arthur Drexler, The Museum of Modern Art NY, on the behalf of L Mies van der Rohe, 24 Feb 1966; General Office File 1923-69, container 40, Papers of Ludwig Mies van der Rohe, Manuscript Division, Library of Congress, Washington DC.

14
Esta colagem em tamanho menor do projeto de Teatro de Mies está disponível na coleção online do MoMA NY: <www.moma.org/collection/object.php?object_id=107299>

15
MALCOLMSON, Reginald F. The theatre, historical development and present possibilities, Master of Science in Architecture, Chicago IL, Illinois Institute of Technology, June 1949. JUNKROSKI, Donna J, IIT Architecture Faculty and Students, 1938-1958 (compilation), in ACHILLES, Rolf; HARRINGTON, Kevin & MYHRUM, Charlotte (eds). Mies van der Rohe, architect as educator,Chicago,University ofChicago Press, 1986, p.160.

16
HARRINGTON, Kevin. Order, Space, Proportion – Mies’s Curriculum at IIT, ACHILLES, Rolf; HARRINGTON, Kevin & MYHRUM, Charlotte (eds). Mies van der Rohe, Architect as Educator. Chicago, University of Chicago Press, 1986, p. 62; SCHULZE, Franz. Mies van der Rohe: a Critical Biography. Chicago,University ofChicago Press, 1985, p. 230.

17
Ver o testemunho de ex-alunos de Mies em: DANFORTH, George & HARRINGTON, Kevin. Transcript George Danforth, p.253, Mies and American Colleagues Oral History Project, Canadian Centre for Architecture Collection, Montreal. DEARSTYNE, Howard. Howard Dearstyne, Mies van der Rohe's teaching at the Bauhaus in Dessau, in Neumann, E. (ed.) Bauhaus and Bauhaus people. New York, Van Nostrand Reinhold, 1993, p. 222-229, 226. Um exemplo extremo desta abordagem pedagógica foi dado por Joseph Fujikawa, o qual fez o exercício do Edifício Alto em Concreto sob a orientação de Mies em 1943: “Eu fui apenas uma ferramenta para colocar o edifício no papel [risos] na forma de desenho. Mas essencialmente foi isso que eu fiz”. FUJIKAWA, Joseph apud LAMBERT, Phyllis (ed.), Mies in America. New York, H.N. Abrams, 2001, p. 510 note 44; FUJIKAWA, Joseph & BLUM, Betty J. Interview with Joseph Fujikawa Interviewed by Betty J. Blum, 1983, Chicago Architects Oral History Project, The Art Institute of Chicago, 2003, p. 18 <http://digital-libraries.saic.edu/u?/caohp,3528>.

18
Seguindo a sugestão de Mies, o estudante Paul Campagna escolheu o tema da sala de concertos para o seu projeto de diplomação a fim de explorar a estrutura de grande vão único. Mies também encorajou Campagna a buscar imagens de grandes espaços industriais em revistas. Após selecionar a fotografia da fábrica de bombardeiros Glenn Martin projetada por Albert Kahn, Mies pediu ao estudante para que usasse esta fotografia como fundo de uma colagem mostrando o auditório. Campagna lembra que a sua colagem acabou se parecendo muito com aquela que Mies publicou e expôs mais tarde, diferenciando-se apenas em pequenos detalhes, como nas cores e no formato de alguns elementos. Considerando estas notáveis similaridades, e a abordagem pedagógica de Mies, a sua colagem para a Sala de Concertos deve ter sido concluída antes da colagem de Campagna, a qual foi desenvolvida na turma de 1940-1. LEVINE, Neil. Modern architecture: representation & reality, New Haven, Yale University, 2009, p. 231, 324 n. 44; LAMBERT, Phyllis. Mies Immersios. In LAMBERT, Phyllis (ed.), Mies in America, New York, H.N. Abrams, 2001, p. 192-589, 425. JUNKROSKI, Donna J, IIT Architecture Faculty and Students, 1938-1958 (compilation), in ACHILLES, Rolf; HARRINGTON, Kevin & MYHRUM, Charlotte (eds). Mies van der Rohe, architect as educator. Chicago, University of Chicago Press, 1986, p.156. COLOMBO, Luciana F. Blurring the Line between Theory and Practice through Theoretical Projects, the Case of Mies van der Rohe’s Concert Hall. In DUYAN, Efe (ed), Theory for the Sake of Theory, ARCHTHEO ‘11 Conference Proceedings, Istambul, Dakam Publishing, vol. 2, 2011, p. 66-74. Em 1947, Mies retomou o projeto de Sala de Concertos para refinar a sua colagem que seria exposta no MoMA NY em setembro. Ele envolveu um grupo de estudantes nesta tarefa ao perdir-lhes para testar diferentes texturas e cores nos elementos colados. SWENSON, Alfred & CHANG, Pao-Chi. Architectural education at IIT, 1938-1978, Chicago, Illinois Institute of Technology, 1980, p.158; GOLDSMITH, Myron & HARRINGTON, Kevin. Transcript Myron Goldsmith interviewed by Kevin Harrington, 1996, p. 43; Mies and American Colleagues Oral History Project, Canadian Centre for Architecture Collection, Montreal; DANFORTH, George & HARRINGTON, Kevin. Transcript George Danforth interviewed by Kevin Harrington, 1996, p.77, 93; Mies and American Colleagues Oral History Project, Canadian Centre for Architecture Collection, Montreal; MALCOLMSON, Reginald & BLUM, Betty J. Oral History of Reginald Malcolmson Interviewed by Betty J. Blum, 1987, Chicago Architects Oral History Project, The Art Institute of Chicago, 2004, p. 55-56 <http://digital-libraries.saic.edu/u?/caohp,7511>.

19
George Danforth iniciou o seu projeto de diplomação sobre o tema do museu em 1940, e continuou a desenvolvê-lo vagarosamente nos anos seguintes, pois ele estava ocupado com atividades docentes no IIT e auxiliando Mies em seu escritório de arquitetura. Em fevereiro de 1943, quando Mies foi convidado para apresentar um projeto para a edição especial “New Buildings for 194X” da revista Architectural Forum, o projeto de diplomação de Danforth ainda estava em um estágio inicial, com um número bastante limitado de desenhos. Naquele momento, Danforth interrompeu o seu projeto de diplomação e começou a auxiliar Mies no desenvolvimento do projeto que ele enviou para os editores da revista em março de 1943: o Museu para uma Pequena Cidade. JUNKROSKI, Donna J, IIT Architecture Faculty and Students, 1938-1958 (compilation), in Achilles, ACHILLES, Rolf; HARRINGTON, Kevin & MYHRUM, Charlotte (eds). Mies van der Rohe, architect as educator, Chicago, University of Chicago Press, 1986, p.156-157; DANFORTH, George & HARRINGTON, Kevin. Transcript George Danforth interviewed by Kevin Harrington, 1996, p.112, 251; Mies and American Colleagues Oral History Project, Canadian Centre for Architecture Collection, Montreal; DANFORTH, George & SALIGA, Pauline. Oral History of George Danforth Interviewed by Pauline Saliga,1986, Chicago Architects Oral History Project, The Art Institute of Chicago, 2003, p. 37-38, 48 <http://digital-libraries.saic.edu/u?/caohp,2544>; MYERS, H. Letter to L Mies van der Rohe, invitation to design a project for the Architectural Forum May 1943 on non-residential post-war buildings, 6 February 1943; General Office file, 1923-1969, container 15, Papers of Ludwig Mies van der Rohe, Manuscript Division, Library of Congress, Washington DC.

20
ACHILLES, Rolf; HARRINGTON, Kevin & MYHRUM, Charlotte (eds). Mies van der Rohe, architect as educator, Chicago, University of Chicago Press, 1986, p.141, 155-164. O projeto de Centro de Convenções surgiu em 1953, quando a legislatura do estado de Ilinóis considerou a possibilidade de financiar a construção de um centro de convenções; e a comissão de planejamento da zona sul de Chicago convidou Mies para propor um projeto para tal edifício. Sem um terreno definido ou garantia de construção, e estando ocupado com muitos trabalhos, Mies decidiu desenvolver este projeto no IIT com um grupo de estudantes – Pao-Chi Chang, Henry Kanazawa, e Yujiro Miwa – da turma de 1953-4 como parte do trabalho final de graduação A Convention Hall, a Cooperative Project. LAMBERT, Phyllis. Mies Immersion, in LAMBERT, Phyllis (ed.), Mies in America, New York, H.N. Abrams, 2001, p.192-589, 463 n. 233; LOHAN, Dirk. Review of the article Unknown Mies: Houses the nobody built, by Paul Gapp, Chicago Daily Tribune 29 August 1986; 15 September 1986; 32-163T-086, Myron Goldsmith Paper, Canadian Centre for Architecture Archive, Montreal; MCCONOUGHEY, C. Letter to Myron Goldsmith from Mies's architectural office, 27 Jan 1954; folder 1941-1955, 32-001T-001, Myron Goldsmith Archive, Canadian Centre for Architecture Archive, Montreal. Este projeto permitiu que Mies explorasse pela primeira vez os efeitos da escala monumental em pavilhões. Mies havia demonstrado interesse neste tema alguns anos antes, quando encorajou o estudante e assistente Myron Goldsmith a explorar tal tema no seu projeto de diplomação e a ler o livro On Growth and Form de D’Arcy Thompson. Goldsmith aceitou a sugestão prontamente, pois ele também tinha um interesse de longa data em grandes construções. Assim, o estudante logo iniciou o seu trabalho “The Tall Building: the Effects of Scale” (1949-3); GOLDSMITH, Myron & BLUM, Betty J. Oral History of Myron Goldsmith Interviewed by Betty J. Blum, 1986, Chicago Architects Oral History Project, The Art Institute of Chicago, 2001, p.33,40, 57 <http://digital-libraries.saic.edu/u?/caohp,3934>; GOLDSMITH, Myron. The Tall Building: the Effects of Scale, Master of science in architecture, Chicago, IL, Illinois Institute of Technology, June 1953; MIES VAN DER ROHE, Ludwig. Mies van der Rohe, interview 1964, in KUH, K. (ed.), The open eye: in pursuit of art,New York, Harper & Row, 1971, p. 35; GOLDSMITH, Myron & HARRINGTON, Kevin. Transcript Myron Goldsmith interviewed by Kevin Harrington, 1996, p.127; Mies and American Colleagues Oral History Project, Canadian Centre for Architecture Collection,Montreal.

21
MALCOLMSON, Reginald F. & BLUM, Betty J. Oral History of Reginald Malcolmson Interviewed by Betty J. Blum, 1987, Chicago Architects Oral History Project, The Art Institute of Chicago, 2004, p. 33 <http://digital-libraries.saic.edu/u?/caohp,7511>.

22
LOHAN, Dirk. Letter to Mr Arthur Drexler, The Museum of Modern Art NY, on the behalf of L Mies van der Rohe, 24 Feb 1966; General Office File 1923-69, container 40, Papers of Ludwig Mies van der Rohe, Manuscript Division, Library of Congress, Washington DC.

23
MALCOLMSON, Reginald F. & BLUM, Betty J. Oral History of Reginald Malcolmson Interviewed by Betty J. Blum, 1987, Chicago Architects Oral History Project, The Art Institute of Chicago, 2004, p. 50-65 <http://digital-libraries.saic.edu/u?/caohp,7511>.

24
THE ART INSTITUTE OF CHICAGO, Reginald Malcolmson (1912-1992) <www.artic.edu/research/reginald-malcolmson-1912-1992>

25
MALCOLMSON, Reginald F. The theatre, historical development and present possibilities, Master of Science in Architecture, Chicago IL, Illinois Institute of Technology, June 1949, fig. 26, p.98.

26
COLLINS, George R. Visionary drawings of architecture and planning: 20th century through the 1960s, Cambridge, Mass., MIT Press, 1979, section 79. Embora a colagem de Malcolmson não contenha textura de mármore, em sua declaração por escrito do projeto, Malcolmson explicou que os camarins teriam paredes revestidas neste material. MALCOLMSON, Reginald F. The theatre, historical development and present possibilities, Master of Science in Architecture, Chicago IL, Illinois Institute of Technology, June 1949, p. 65. Os desenhos originais do projeto de Teatro de Malcolmson estão disponíveis no Centro Canadense de Arquitetura e na Universidade de Michigan. MALCOLMSON, Reginald. Theater, 1949, Collage in color of silk-screen paper, charcoal papers, metal foil & India ink on illustration board; 76 x 101.5 cm. Accession number 08-04609; Imageworks, Art, Architecture and Engineering Library, University of Michigan, Ann Arbor. <http://quod.lib.umich.edu/u/ummu/x-08-04609/08_04609>; MALCOLMSON, Reginald. Theater, 1949, 8 section and perspective drawings and 1 collage drawing. AP150.S2.SS1.D6; AP150.S1.SS1.D10, The Collection of the Canadian Centre for Architecture,Montreal.

27
Ver o desenho do Restaurante Cantor Drive-in datado de março de 1947 em: DREXLER, Arthur (ed.), The Mies van der Rohe Archive, v. 13, 20 vols., New York, Garland, 1986, p. 230.

28
MALCOLMSON, Reginald F. The theatre, historical development and present possibilities, Master of Science in Architecture, Chicago IL, Illinois Institute of Technology, June 1949, p.2-71, 64; MALCOLMSON, Reginald F. Theatre, 1949; Documents and Photo Files, IIT 1944-59, The Mies van der Rohe Archive, Museum of Modern Art, New York.

29
MALCOLMSON, Reginald F. The theatre, historical development and present possibilities, Master of Science in Architecture, Chicago IL, Illinois Institute of Technology, June 1949; MALCOLMSON, Reginald F. & BLUM, Betty J. Chicago Architects Oral History Project, 2004, p. 67-68.

30
Ver o caderno de Mies de 1927-8 em NEUMEYER, Fritz, The Artless Word, Mies van der Rohe on the Building Art, Cambridge, Mass., MIT, 1991, p. 289.

31
GUARDINI, Romano. Sacred Signs. St Louis, Pio Decimo Press, 1956, p. 11 <https://www.ewtn.com/library/LITURGY/SACRSIGN.TXT>.

32
GOLDSMITH, Myron; BLUM, Betty J, Oral History of Myron Goldsmith Interviewed by Betty J. Blum, 1986, Chicago Architects Oral History Project, The Art Institute of Chicago, 2001, p.47-48 <http://digital-libraries.saic.edu/u?/caohp,3934>; GOLDSMITH, Myron & HARRINGTON, Kevin. Transcript Myron Goldsmith interviewed by Kevin Harrington, 1996, p.111; Mies and American Colleagues Oral History Project, Canadian Centre for Architecture Collection,Montreal.

33
SCHULZE, Franz. Mies van der Rohe: a critical biography, Chicago, University of Chicago Press, 1985, p. 266; SCHULZE, Franz. National Theater, 1952-3, in DREXLER, Arthur (ed.). The Mies van der Rohe Archive,New York,Garland, vol. 15, 20 vols., 1986, p. 296-297.

34
MIES VAN DER ROHE, Ludwig. Comments on the design of the building for the national theatre of the city of Mannheim, preliminary copy, undated, 3 pages; Documents and Photo Files, 1953_62, Mannheim Theater Folder #1, The Mies van der Rohe Archive, Museum of Modern Art, New York.

35
CARTER, Peter. Letter to Mr Galperine; April 3 1962; Documents and Photo Files, 1953_62, Mannheim Theater Folder, The Mies van der Rohe Archive, Museum of Modern Art, New York; CARTER, Peter. Mies van der Rohe at Work.London, Phaidon, 1999 [1974] p. 81.

36
BERTIG, Rudolf. Mies van der Rohe Das Theaterprojekt, 2006, Endnote 4 <www.mies-van-der-rohe-haus-aachen.de/index.php?id=82>.

37
MIES VAN DER ROHE, Ludwig. Letter to the mayor of Mannheim, 11 January 1954. In BERTIG, Rudolf. Mies van der Rohe Das Theaterprojekt. 2006 <www.mies-van-der-rohe-haus-aachen.de/index.php?id=93>.

38
GOLDSMITH, Myron; BLUM, Betty J. Oral History of Myron Goldsmith Interviewed by Betty J. Blum, 1986, Chicago Architects Oral History Project, The Art Institute of Chicago, 2001, p. 47-48 <http://digital-libraries.saic.edu/u?/caohp,3934>; GOLDSMITH, Myron & HARRINGTON, Kevin. Transcript Myron Goldsmith interviewed by Kevin Harrington, 1996, p. 111; Mies and American Colleagues Oral History Project, Canadian Centre for Architecture Collection, Montreal; SCHULZE, Franz; WINDHORST, Edward. Mies van der Rohe: a critical biography, New and Revised Edition, Chicago, University ofChicago Press, 2012, p. 313.

39
MIES VAN DER ROHE, Ludwig. Comments on the design of the building for the national theatre of the city of Mannheim, preliminary copy, undated, ca.1953, 3 pages; Documents and Photo Files, 1953_62, Mannheim Theater Folder #1, The Mies van der Rohe Archive, Museum of Modern Art, New York; MIES VAN DER ROHE, Ludwig. Letter to the mayor of Mannheim, 11 January 1954 in BERTIG, Rudolf. Mies van der Rohe Das Theaterprojekt. 2006 <http://www.mies-van-der-rohe-haus-aachen.de/index.php?id=93>.

40
WINGLER, Hans Maria. Il Bauhaus. Weimar, Dessau, Berlino 1919-33. Milano, Giangiacomo Feltrinelli, 1987 [1962], p. 662.

41
BERTIG, Rudolf. Mies van der Rohe Das Theaterprojekt. 2006 <http://www.mies-van-der-rohe-haus-aachen.de/index.php?id=82>.

sobre a autora

Luciana Fornari Colombo, Ph.D. (Universidade de Melbourne, Austrália), é professora do Departamento de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil.

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