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architexts ISSN 1809-6298

abstracts

português
O artigo traz uma abordagem dos projetos das lojas Cafés du Brésil, realizadas pelo arquiteto francês Robert Mallet-Stevens, em Paris. As lojas, subvencionadas pelo governo brasileiro, funcionavam como bares de degustação de café, nosso principal produto.

english
This article approaches the projects of the stores Cafés du Brésil, designed by the French architect Robert Mallet-Stevens, in Paris. The stores, subsidized by the Brazilian government, functioned as tasting bars of our main commercial product.


how to quote

ZAKIA, Silvia Palazzi. Mallet-Stevens e as lojas Cafés du Brésil. Arquitextos, São Paulo, ano 17, n. 194.00, Vitruvius, jul. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.194/6116>.

As lojas Cafés du Brésil são bares de degustação de café localizados em Paris, que funcionaram durante a década de 1930, cumprindo papel de divulgação do nosso principal produto de exportação. Pertenciam à Companhia franco-brasileira de cafés, uma sociedade anônima fundada, em 1921, pela família Pollet, da região industrial têxtil de Roubaix. Existiram três lojas que funcionaram em pontos estratégicos da capital francesa. Locais de grande visibilidade e fácil acesso. A primeira delas, situada no bulevar Haussmann (cruzamento Richelieu-Drouot), foi inaugurada em julho de 1928, informação que consta do relatório oficial do Instituto do Café do Estado de São Paulo enviado ao Ministério das Relações Exteriores (1):

“França – Cie Franco-brésilienne de cafés – foi lavrado com essa companhia um contrato, em virtude do qual foi aberto no Boulevard Haussmann, esquina com o dos Italiens, um bar de degustação de café brasileiro e de venda do mesmo em pacotes puro e da melhor qualidade. O bar foi inaugurado em julho de 1928 com grande êxito. A sua clientela tem aumentado progressivamente, e da propaganda que faz se têm beneficiado todos os comerciantes que, em Paris, vendem café brasileiro.”

Os outros dois pontos de venda estavam localizados nos seguintes endereços: avenida Wagram, 32 e rua Mesnil, 12.

Anúncio das lojas Cafés du Brésil veiculada na Revista do Departamento Nacional de Café (DNC) [Revista DNC, n. 45-46, mar./abr. 1937]

Além desses três pontos, a empresa Cafés du Brésil também manteve um estande na Praça de Alimentação da Exposição Internacional de Paris 1937 – Arte e Técnica na vida moderna. Vale ressaltar, que o próprio Pavilhão institucional do Brasil, na exposição, era também um grande estande de vendas e apresentação do café.

Essas lojas fizeram parte do programa governamental de publicidade do maior produto de exportação brasileiro – o café. Os bares-degustação de café espalharam-se por vários países, nos quais interessava ampliar o consumo. As lojas de Paris eram, nesse sentido, um sucesso. A atuação do governo brasileiro junto empresas particulares, do exterior, que tinham interesse na comercialização da bebida, aconteceu pela intermediação de diferentes órgãos (2) da administração pública. A princípio, a política de publicidade ficou a cargo do Instituto do Café do Estado de São Paulo (fundado em 1926), e posteriormente, pelo Departamento Nacional do Café (1933-1946). A estratégia de publicidade do café brasileiro sempre foi defendida pelo governo, independentemente da reorganização da administração pública, ora decorrente da Revolução de 1930, ora do Golpe de 1937.

Documentos oficiais dos arquivos do governo enfatizam a importância da estratégia publicitária como fator essencial à ampliação das exportações. Os valores aplicados à publicidade, na França, eram expressivos. É interessante observar que os contratos de subvenção concedidos pelo Instituto de Café, para os anos de 1927 e 1928, tinham validade anual, mas excepcionalmente para a Companhia franco-brésilienne o contrato se estendia por três anos (3).

A França era o segundo maior importador do café brasileiro, atrás somente dos Estados Unidos da América. A publicidade efetuada na capital mundial da cultura, Paris, era primordial para o sucesso comercial da empreitada. Os contratos estabeleciam os valores de subvenção mediante o cumprimento de uma série de exigências que o contratado assumia, a primeira delas, diz respeito à montagem e manutenção de bares de degustação do café (4). O fundo de propaganda era constituído de percentual sobre cada saca de café exportado pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Espírito Santo (5).

O Instituto do Café e o Departamento Nacional do Café – DNC tutelavam a atividade das empresas contratadas subvencionando o produto comercializado em suas lojas. O DNC atuava junto aos produtores num esforço coletivo para aprimorar a qualidade do café e, consequentemente, aumentar sua competitividade no mercado externo. Como vimos, a promoção publicitária era parte da política do DNC, que financiava a veiculação intensa nas mídias da época, com distribuição de folders, cartazes, publicação de anúncios e de matérias pseudocientíficas atribuindo ao consumo da bebida benefícios à saúde.

Os cafés não poderiam ser lojas comuns, pois eram responsáveis pela promoção do mais importante produto comercial do país. A imagem do país estava, de certa forma, vinculada a estas lojas. Como tal, sua arquitetura deveria corresponder à grandiosa empreita – estande do café. A escolha de um dos arquitetos mais renomados de Paris não aconteceu de maneira fortuita, afinal, Robert Mallet-Stevens era, à época, um dos arquitetos mais prestigiados da capital francesa e, também, um dos mais atuantes defensores da causa moderna.

Entretanto, Mallet-Stevens é pouco conhecido no Brasil. Na realidade, foi, somente a partir de final dos anos 1980, que a historiografia resgatou seu nome, como sendo um importante representante da arquitetura moderna internacional (6).

Um pouco de Mallet-Stevens, a redescoberta historiográfica de um grande arquiteto moderno

Robert Mallet-Stevens teve um papel significativo no contexto cultural da década de 1930, em França. Atuou, em diversas frentes, tendo como propósito a defesa da causa moderna, manifestação peculiar à geração. Escreveu inúmeros artigos, foi co-fundador da União dos Artistas Modernos, lecionou em duas escolas de arquitetura (École Spéciale d’Architecture de Paris e École des Beaux-Arts de Lille), fez conferências, fez parte do comitê editorial de fundação da revista L’Architecture d’Aujourd’hui, realizou uma gama variada de projetos – residências para a alta burguesia, lojas, escritórios, hotel-casino, garagens, pavilhões de feiras, cenografia para filmes de cinema (7), decoração de interiores e mobiliário (8) – sempre experimentando soluções tecnológicas inovadoras. Algumas das suas obras, que subsistiram ao tempo, estão inscritas no patrimônio francês como monumentos históricos – o conjunto de casas da rua Mallet-Stevens, em Paris, Villa Noailles, em Hyères e a recém restaurada Villa Cavrois, em Croix.

Cadeira Tubor, 1926, modelo foi bastante difundido [BARRE-DESPOND, Arlette. UAM Union des Artistes Modernes. Paris, Éditions du Regard, 1986]

Mallet-Stevens foi responsável pela realização de muitas obras de relevo, pode ser considerado um rival profissional de Le Corbusier, no período entre-guerras. Rivalidade que se manifestou em diversas circunstâncias, na disputa por clientes, nos casos, por exemplo, de Paul Poiret e do casal Noailles e pelo protagonismo em defesa da causa moderna. Enquanto Le Corbusier, em 1928, envolvia-se na organização do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), Mallet-Stevens fundava a sociedade União dos Artistas Modernos, em 1929. A relação entre ambos oscilou entre admiração e polêmicas. Alguns episódios ilustram essa relação que, por vezes, mostrou-se conflituosa. Em 1923, Mallet-Stevens foi nomeado para lecionar na instituição a qual havia se graduado, em 1906, École spéciale d’architecture de Paris. Essa experiência acadêmica resultou em fato histórico significativo. Mallet-Stevens foi responsável pela organização da exposição L’architecture et les arts qui s’y rattachent, a qual apresentava trabalhos de alunos e de expoentes artistas e arquitetos modernos: Le Corbusier, Auguste et Gustave Perret, Gabriel Guévrékian, Henri Sauvage, Tony Garnier (arquitetura); Georges Djo-Bougeois, Pierre Chareau, Francis Jourdain (interiores e mobiliário); Fernand Léger, Jacques Lipchitz, Jan et Joel Martel, Piet Mondrian (pintura e escultura). A intenção de Mallet-Stevens era trazer para escola o debate sobre arte moderna. Seu intento não foi bem aceito pela direção da escola, e disto resultou sua demissão. Já, no meio cultural de vanguarda, a exposição recebeu boa acolhida, tendo sido objeto de artigo de Le Corbusier, na revista L’Esprit Nouveau, nº 23. No artigo, Le Corbusier louvava a iniciativa do colega, Mallet-Stevens, contudo, aproveitou as entrelinhas para tecer críticas veladas ao excesso de formalismo que, segundo Le Corbusier, Mallet-Stevens empregava em sua obra. De qualquer forma, o artigo enaltecia a proposição do colega por introduzir na academia o debate contemporâneo.

“C’est en ce moment l’Exposition annuelle des travaux d’élèves de l’École Spéciale d’Architecture de Paris complétée par le concours de quelques vedettes (Mallet-Stevens, le groupe Styl, ds peintres cubistes, des meubles de Jourdain, de Chareau, etc)

Cet établissement obscur et inaperçu en ces dernières années, s’est attaché depuis peu M. Robert Mallet-Stevens qui y répand auprès de jeunes gens pleins de vitalité, la foi qu’il a en un art moderne et les enseigments qu’il comprend et qu’il ame. Donc dans cet établissement jusqu’ici obscur, l’exposition fait un éclat” (9).

Em 1925, será a vez de Mallet-Stevens retribuir a Le Corbusier o apoio prestado à iniciativa da exposição. Por ocasião dos preparativos para a Exposição Internacional de Artes Decorativas, Mallet-Stevens intervém junto à direção do evento, especificamente, a Paul Léon, seu primo e comissário geral da exposição, para que o pavilhão L’Esprit Nouveau, cuja obra encontrava-se atrasada, pudesse ser inaugurado após a abertura oficial da Exposição (10).

Outra querela, entre os arquitetos, envolveu Giedion, aliado incondicional de Le Corbusier. Giedion sempre criticou o caráter excessivamente decorativo da obra de Mallet-Stevens e não hesitou em excluí-lo da criação do CIAM (11).

Dos muitos papéis desempenhados, por Mallet-Stevens, em defesa de uma expressão moderna de arquitetura, cumpre ressaltar as duas experiências no meio acadêmico: a primeira, entre 1923 e 1924, quando lecionou na Escola Especial de Arquitetura, e que resultou na exposição já comentada e, a segunda, em meados da década de 1930, quando assumiu a direção da Escola de Belas Artes de Lille, implantando um novo projeto pedagógico que preconizava o vínculo entre arquitetura e arte aplicadas. Tinha como propósito adaptar as artes aplicadas à produção industrial, consolidando, na França, um modelo de produção moderno. Sua primeira experiência, antagônica à posição da diretoria da escola, resultou em demissão. A segunda experiência, em Lille, foi interrompida pela eclosão da guerra.

Sua defesa em pró da arquitetura moderna não se limitou à docência. Mallet-Stevens participou da fundação da União dos Artistas Modernos (UAM), em 1929, tendo-a presidido por vários anos. A UAM era uma associação representativa dos profissionais modernos (12) que atuavam na decoração de interiores e no desenvolvimento de mobiliário. Nasceu como dissidência da Sociedade dos Artistas Decoradores (SAD). Em 1928, Charlotte Perriand, René Herbst e Djo-Bourgeois apresentaram, no Salão organizado pelo SAD, um apartamento modelo, cujo mobiliário fora projetado para ser produzido industrialmente. A proposta de Perriand gerou grande mal-estar à direção da conservadora SAD. Em resposta à SAD, um grupo de profissionais da vanguarda, liderados por Mallet-Stevens, fundam a União dos Artistas Modernos (UAM), que tinha por doutrina militar pelo moderno e pela produção em massa.

Mallet-Stevens, além de produzir uma série de artigos sobre arquitetura moderna, também participou da comissão editorial da revista L’Architecture d’Aujourd’hui (13).

A par dessas atividades, Mallet-Stevens seguia trabalhando, em seu escritório, no desenvolvimento de projetos arquitetônicos e na criação de cenários cinematográficos de inúmeros filmes, entre eles, o icônico L’Inhumaine (14), que reunia, na produção, uma seleção de artistas e profissionais modernos.

Os projetos mais representativos

Do repertório de obras edificadas, selecionamos as realizações mais significativas – Pavilhão de Turismo, 1925; Villa Noailles, 1923-28; casas da rua Mallet-Stevens, 1926-27; Villa Cavrois, 1929.

Pavilhão do Turismo, Exposição de Artes Decorativas – Paris, 1925

Sobre o Pavilhão de Turismo, podemos asserverar que trouxe grande notoriedade para o arquiteto. Situado ao lado do eclético Grand Palais, a arquitetura moderna do pavilhão se destacava. A edificação de concreto armado era composta por volumes ortogonais e paralelos. A grande torre do relógio, de 36 metros de altura, expressão emblemática de modernidade, tornou-se modelo inspirador (15).

O Pavilhão de Turismo, o Pavilhão L’esprit nouveau, de Le Corbusier, e o Pavilhão soviético, de Konstantin Mel’nikov, figuraram como as raras obras modernas da exposição. Vale ressaltar também, o projeto do jardim que Mallet-Stevens desenvolveu para a exposição. Trata-se de uma inusitada composição paisagística de inspiração cubista. Um jardim formado pela implantação de quatro árvores de concreto (16) – árvores de cinco metros de altura, compostas por placas de concreto armado fabricadas em série). Com essas duas intervenções, o pavilhão e o jardim, Mallet-Stevens deixou uma marca moderna indelével na Exposição (17) de 1925.

Maquete do Pavilhão de Turismo apresentada na exposição Quand l’art déco seduit le monde, 2014-Paris [Foto Silvia Zakia]

Árvore de concreto (desenvolvida pelos escultores irmãos Martel) que compõe o jardim projetado por Mallet-Stevens para Exposição internacional Art Déco, 1925, Paris
Foto Silvia Zakia [imagem apresentada na exposição Quand l’art déco seduit le monde, Paris, 2014]

Casas da rua Mallet-Stevens (1926-1927)

Essa série de casas individuais elaboradas para clientes distintos e construídas na rua que levou o nome do próprio autor (18), foi inaugurada, em 20 de julho de 1927, com uma grande cerimônia pública, da qual participaram o prefeito de Paris e outras autoridades governamentais. Uma multidão acorreu para a inauguração, Le Corbusier e Auguste Perret imiscuiam-se entre os anônimos, prestigiando o colega que se notabilizava. A rua sem-saída, de sete metros de largura, era formada pelas casas dos clientes – Reifenberg, Allatini e Dreyfus -, pela casa e atelier do próprio arquiteto, pela casa e atelier dos escultores Jan e Jöel Martel e pela pequena moradia do zelador, que ocupava os fundos do beco. No geral, as elevações de todas as edificações eram compostas por jogos de volumes geométricos, despojados de ornamentação. Uma mesma lógica construtiva foi adotada para todo o conjunto das casas: estrutura de concreto armado e alvenaria de tijolos. As paredes foram revestidas por argamassa lisa e homogênea, com exceção do embasamento, que apresentava linhas horizontais em relevo. As superfícies brancas das vedações eram interrompidas por caixilhos metálicos e por elementos coloridos pontuais, nas cores amarelo e azul. A cobertura era formada por lajes-terraços. Internamente, os espaços se integravam em níveis diversos, com diferentes alturas de pé-direto. As residências eram servidas por toda sorte de inovações tecnológicas que garantiam o conforto moderno: interfones, luz elétrica, aquecimento, campainhas etc.

A architectura do futuro. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 14 jan.1928 [Hemeroteca digital da Biblioteca Nacional]

“Nestes dias, acaba de ser inaugurada em Paris, a rua Mallet-Stevens, com grande clamor por parte do governo e dos diários. O francez Mallet-Stevens é um dos architectos futuristas contemporaneos de maior potencia creadora. Autor do Pavilhão de Turismo na Exposição de Arte Decorativa Mundial de Paris, em 1925, exaltou muito mais a sua audacia, construindo as distinctas casas que formam agora a rua que recebeu o seu nome.

Elle realizou a architectura do calculo, da audacia temeraria e da simplicidade, e fez desaparecer a decoração como algo de superfluo da architectura. Somente do uso da disposição original dos materiais rebocados ou desnudos, ou violentamente coloridos, depende o valor decorativo da architectura”. A architectura do futuro. Como se manifesta Benedetta Marinetti esposa do famoso creador da original escola. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 14 jan.1928.

Villa Noailles, 1923-1928

Casa de veraneio que o arquiteto realizou para o Visconde de Noailles e esposa, casal de mecenas das artes modernas. A princípio, de dimensões reduzidas, a edificação foi ampliada para acolher um programa esportivo que atenderia aos deleites dos hóspedes elitizados. A obra acumulou intervenções de uma plêiade de artistas e decoradores modernos (19). A vila é de tal sorte representativa das artes modernas que, logo após sua conclusão, se prestou como locação para experiências cinematográficas (20). A Villa Noailles está inscrita no rol de monumentos históricos da França.

Villa Cavrois, 1929-1932

Residência construída para a família do industrial Cavrois, em extenso terreno do vilarejo Croix, nas proximidades de Lille. Villa Cavrois pode ser considerada a obra-prima de Mallet-Stevens, por meio da qual, o arquiteto pôde sintetizar sua concepção arquitetural moderna. Em 1934, Mallet-Stevens fez publicar um livreto, Un Demeure 1934, dedicado exclusivamente à apresentação da Villa Cavrois, O livreto continha um pequeno texto introdutório e muitas fotos internas e externas da obra. Segundo Mallet-Stevens, tratava-se de uma residência adequada ao cotidiano moderno de uma família que vivia nos anos 1930 – ar luz, trabalho, esportes, higiene, conforto, economia. No entanto, como salienta Klein (21), Villa Cavrois não é a representação construída de uma teoria, como era a coetânea Villa Savoye de Le Corbusier, não possui um caráter de reprodutibilidade, ao contrário, é obra única e personalizada. Sintetiza uma expressão plástica e técnica de modernidade, mas não é um modelo. A grandiosa residência da família Cavrois está inscrita na lista de Monumentos Históricos da França e sua restauração foi recentemente concluída, abril de 2015. É, sem dúvida, a mais importante obra de Mallet-Stevens.

Para a Exposição Internacional 1937, Paris – arte é técnica na vida moderna, Mallet-Stevens realizou seis intervenções: três pavilhões temáticos - Pavilhão da Eletricidade e Iluminação; Pavilhão da Higiene, Pavilhão da Solidariedade Nacional; e três obras particulares – Pavilhão de Tabaco, estande Cafés de Brésil e o totem para Cimentos Franceses.

Esquecimento historiográfico

Mallet-Stevens faleceu logo após o final da II Guerra Mundial. Sua obra ficou restrita ao período do entre-guerras, tempo de crises, de recessão econômica, de poucas obras. Não participou, como tantos outros arquitetos modernos, dos anos gloriosos de reconstrução.

 O nome de Mallet-Stevens não parece ter sido omitido da historiografia da arquitetura moderna por conta de sua morte prematura. A negligência não foi fortuita, fez parte de um discurso histórico de caráter operativo. A influência de Le Corbusier e de Giedion foi, nesse sentido, bastante eficaz. Giedion nunca escondeu seu desapreço pela obra de Mallet-Stevens. Considerava-o como um arquiteto dandi, que servia à elite, unicamente preocupado com aspectos formalistas, subestimando inclusive a importância de Mallet-Stevens, na criação da UMA.

Na década de 1980, assistimos ao resgate de seu nome pela historiografia revisionista, destituída de caráter operativo. Em 2005, uma grande exposição individual, dedicada a Mallet-Stevens, no Centro Pompidou, consolidou seu nome na história da arquitetura moderna.

Distante historicamente desse contexto de legitimação de vertentes modernas, a análise da obra de Mallet-Stevens e suas profícuas reverberações, no Brasil, merecem justa acolhida.

No escrutínio de sua obra, nos interessa particularmente a realização dos projetos das lojas Cafés du Brésil.

Cafés du Brésil

As lojas de café fizeram parte de um bem elaborado programa de marketing patrocinado pelo governo brasileiro. Um conjunto de ações estrategicamente formuladas para divulgar o café brasileiro, como produto de qualidade superior ao da concorrência internacional e, portanto, merecedor da chancela governamental.

Por outro lado, é notório o caráter simbólico que a arquitetura empresta às edificações. Era preciso atingir o consumo de massa – beber café deveria estar vinculado aos hábitos de uma vida moderna. Nada mais apropriado que contratar um profissional renomado para desenvolver projetos de bares-degustação na capital cultural do mundo, cidade que irradiava novos hábitos, gostos, costumes – a Paris das vanguardas artísticas. Tinha-se, então, um produto de qualidade, embalado com apelo moderno, simbolizando, o Brasil da era Vargas, um Estado que se pretendia moderno e progressista.

A França era o segundo mercado importador do café brasileiro. Um bom investimento na marca Cafés du Brésil, com o estabelecimento de pontos de degustação da bebida, em Paris, era garantia de sucesso publicitário.

Em 1921, foi fundada, em Paris, pela família Pollet (22), a sociedade anônima (23), Companhia franco-brasileira Cafés du Brésil (Cie Cafés du Brésil).

No Brasil, toda publicidade ao redor do café era promovida pelo Instituto do Café, de forma que, em 1928, foi firmado um contrato de publicidade com a companhia Cafés du Brésil. O Instituto, por meio de contrato, subvencionava a criação de bares de degustação, na capital parisiense. Em julho de 1928, foi inaugurada a primeira loja Cafés du Brésil. O governo ofereceu uma subvenção no valor de 600.000 francos para despesas com publicidade, luminosos, cartazes etc. A loja estava situada no bulevar Haussmann (carrefour Richelieu-Drouot), ponto comercial estratégico.

A inauguração foi oficialmente relatada, pelo presidente do Instituto do Café do Estado de São Paulo, Mário Rollim Telles, ao diretor dos Serviços Econômicos Comerciais do Ministério das Relações Exteriores, em março de 1929.

“Cie franco-Brésilienne de Cafés – Foi lavrado com essa Companhia um contrato, em virtude do qual foi aberto no Boulevard Haussmann, esquina com o dos Italiens, um bar de degustação do café brasileiro e de venda do mesmo em pacotes, puro e da melhor qualidade. O bar foi inaugurado em julho de 1928, cm grande êxito. A sua clientela tem aumentado progressivamente, e da propaganda que faz se têm beneficiado todos os comerciantes que, em Paris, vendem café brasileiro” (24).

Vale ressaltar, que o Instituto mantinha contratos com firmas estrangeiras, em vários países. No geral, os contratos eram válidos por um ano, no caso da companhia Cafés du Brésil, era válido por três anos.

Em outro despacho oficial (25) do Instituto ao Ministro das Relações Exteriores encontramos informações que explicitam a importância que os bares de degustação adquiriam na campanha publicitária do café brasileiro. Nesse momento, já estavam em funcionamento dois bares-degustação, o do Carrefour Richelieu-Drouot e outro na avenida Wagram, próximo ao Arco do Triunfo.

“a França continua a ser o segundo maior importador do nosso produto, embora demonstrando apreciável diminuição, que continuo a esperar seja transitória.

Nossa propaganda precisa atender, entre outros, dois pontos de verdadeiro interesse para o aumento do consumo. Um deles é a melhor qualidade do café consumido na França. Para a solução desse problema muito poderá concorrer a campanha do café bebida, da degustação popular já vitoriosa na pequena experiência dos dois bares da Compagnie Franco-Brésilienne de Cafés. Essa campanha do café na xícara precisa desenvolver-se em todos os grandes bairros da capital e ser disseminada por todas as cidades principais da França, em cafés e bares populares, mas também em grandes cafés de luxo frequentados tanto pela burguesia francesa como pela centena de milhares de viajantes estrangeiros que visitam a França anualmente” (26).

Os cafés de Paris eram um exemplo a ser replicado. Para corresponder ao perfil de consumidores estabelecido pelos responsáveis pela campanha publicitária governamental, o arquiteto Mallet-Stevens adequava-se perfeitamente. Os Cafés du Brésil, forçosamente, precisavam se destacar do comércio ordinário. Para tão especial empreita era necessário escolher um nome que assegurasse o devido sucesso à estratégia de promoção mercadológica da bebida brasileira. Mallet-Stevens, que já era reconhecido como um arquiteto moderno de prestígio, contando com um rol de obras relevantes - Pavilhão de Turismo, de 1925, conjunto de casas da rua Mallet-Stevens (1928), lojas comerciais Bally, Peugeot e Alpha-Romeo (1928 e 1929) – credenciava-se perfeitamente à demanda da empresa Cafés du Brésil.

Em suma, o nome de Mallet-Stevens estava associado inexoravelmente ao moderno (27), quer fosse por sua participação proeminente no grupo das vanguardas modernas, quer fosse pelo caráter de suas obras.

Figura 6

Sob a foto a legenda explicava: “Preto, branco e amarelo em impressionantes padrões fazem o exterior dessa moderna loja uma significante contribuição para as novas fachadas de Paris. .... Produtos de Cafés du Brésil exibidos nas janelas de superfície amarela claro dispostas nas paredes de gesso brancas... letreiro e enquadramentos em ferro forjado”.

A imagem acima apresentada faz parte do arquivo da fotógrafa norte-americana Bonney, sobre a qual cabe uma digressão. Assim como a escolha de Mallet-Stevens para desenvolver o projeto das lojas de café era de capital importância, o trabalho da jornalista Bonney, amiga e admiradora da obra de Mallet-Stevens, vai também contribuir no intento de promover o café brasileiro. Bonney, contemporânea de Mallet-Stevens, foi reconhecidamente uma das jornalistas que mais divulgaram os feitos modernos da capital francesa. Ela fundou, em Paris, em 1923, ao lado da irmã, uma agência fotográfica norte-americana especializada em design e arquitetura. Suas fotos circularam por mais de vinte países e difundiam a arte decorativa e a arquitetura moderna da França (28). A agência Bonney (29) funcionou até o final da década de 1930, período dos mais frutíferos no plano social, cultural e artístico parisiense.

A jornalista não só divulgou o design e arquitetura do momento como fez grandes e profícuas amizades com os personagens mais significativos da vanguarda moderna: artistas, escritores, decoradores, arquitetos etc. Bonney escreveu bastante sobre Mallet-Stevens, profissional que muito admirava. Na monografia (30) dedicada à obra dele, publicada em 1930, ela declarou “En tant que’homme et artiste, il exprime le meilleur de son temps.” Essa declaração proferida por Bonney evidencia a repercussão positiva da obra de Mallet-Stevens, no período entre-guerras, e a consequente consolidação de seu escritório de arquitetura, como sendo um dos mais representativos da expressão de modernidade.

Além do trabalho desenvolvido para inúmeros periódicos, Bonney foi responsável pela publicação, em 1929, de um guia de compras, que se tornou muito popular nos Estados Unidos – A shopping guide to Paris, 1929.

Nos projetos das lojas de degustação de café, o arquiteto explorou os efeitos de iluminação (31) como um novo recurso comercial para exposição de produtos. Ora explorava a iluminação indireta, embutida em forro de gesso, ora de forma direta, com uso de refletores e do neon, que também era empregado em letreiros. Mallet-Stevens era um especialista na organização de espaços de uso comercial, dedicou ao tema uma série de artigos e conferências (32). As lojas Cafés du Brésil, assim como as que realizou para outras marcas, Bally (sapatos); Peugeot (automóveis); Alfa Romeo (automóveis); Delza (jóias); La semaine à Paris (agência do semanário parisiense); Lovenbach et Zung (agênca bancária); Danon et Cie (agência bancária), espelhavam na prática o emprego de suas teorias sobre arquitetura comercial.

A primeira loja Café du Brésil – carrefour Richelieu-Drouot

A loja está localizada no térreo de uma edificação construída, em 1927. A fachada semi-circular foi realçada pela distribuição de cinco aberturas, que deixavam visível o espaço interior. A composição simétrica das duas portas envidraçadas ladeando a grande vitrine central, sobre a qual estava afixado o letreiro luminoso de tubos de neon, deixava em evidência o balcão interno, localizado no eixo da grande vitrine expositiva. Sobre balcão metálico, estavam distribuídos, simetricamente, quatro cafeteiras profissionais. À frente do mesmo, estavam dispostas três pequenas mesas metálicas, que serviam de apoio para consumo de pé. Luzes embutidas sob o tampo envidraçado dessas pequenas mesas circulares completavam a decoração interna.

Compondo a organização, um forro abobadado, que tinha como arremate uma estalactite central que parecia flutuar no interior da loja. A sanca, que rodeava a abóboda, encobria os pontos de luz, fornecendo uma iluminação indireta e difusa. Um foco de luz, sob o arremate da estalactite, irradiava luz para o forro abobadado. Assim como, a iluminação era um elemento preponderante na composição espacial interna, na fachada, também. Na superfície inferior da cornija externa, tubos de néonque garantiam uma intensa luminosidade à fachada. Ainda sobre os materiais empregados, vale constar, o uso do mármore escuro, como revestimento do embasamento da parede externa e, o de mármore claro, na parte superior. O metal tubular foi utilizado no mobiliário, no balcão e nos puxadores das portas de entrada. A cartela de tons adotada incluiu o preto, o branco e detalhes em verde e amarelo. As cores emblema do país deveriam estar presentes na decoração da loja, como estabelecia o contrato de subvenção. A loja, de fato, destacava-se do entorno, quer fosse pela sua implantação, aproveitando a esquina, quer fosse pelos efeitos da iluminação feérica.

Cartaz publicitário do bar-degustação Cafés du Brésil, situado no bulevar Haussmann, anos 1930 [fr.hprints.com]

Cartaz publicitário do bar-degustação Cafés du Brésil, situado no bulevar Haussmann, anos 1930 [fr.hprints.com]

Cafés du Brésil – Avenida Wagram

O segundo bar-degustação, localizado na avenida Wagram, nas proximidades do Arco do Triunfo, obedece à mesma lógica adotada no primeira projeto. A loja, situada no térreo de uma edificação haussmaniana, de 1886, apresenta a mesma composição simétrica – duas entradas recuadas e ao centro uma ampla vitrine expositiva. Pelas aberturas é possível também visualizar o espaço interno da loja. Internamente, dois pilares de seção circular têm no seu topo holofotes embutidos. A luz voltada para o teto remete ao efeito produzido pela estalactite da loja do bulevar Haussmann. Os materiais de revestimento interno são os mesmos: chapas de metal, tubos metálico e vidro.

O letreiro desta loja, diferentemente da primeira, não é de neon, mas formado por letras metálicas pintadas de verde. Bastante original, o letreiro remete às fontes tipográficas “stencil”. A iluminação externa fixada sob a cornija do térreo destaca o letreiro.

Estande Cafés du Brésil – Palácio de Alimentação, Exposição Internacional de 1937

Em 1937, por ocasião da Exposição Internacional, o Departamento Nacional do Café patrocinou o estande Cafés du Brésil, que ocupava uma das alas da grande Praça de Alimentação. Mallet-Stevens foi, mais uma vez, responsável pela concepção do espaço. Esse foi o menor pavilhão que o arquiteto projetou para o evento. Ao todo, ele foi responsável por dois espaços comerciais - pavilhão Cafés du Brésil e de Tabaco, e por os três pavilhões temáticos – Eletricidade e Iluminação, Solidariedade Nacional e Higiene (33).

Sobre o estande Cafés du Brésil, transcrevemos trechos do Relatório Oficial:

“2 º – estande de técnicas de alimentação – como dependência do Pavilhão do Brasil se encontra no Palácio de Alimentação, o estande do Departamento Nacional do Café que ocupa uma espaçosa rotonda na ala direita da Praça de Alimentação. Este estande concebido pelo arquiteto Mallet-Stevens se apresenta sob a forma de uma sala semi-circular de dezesseis metros de diâmetro, inteiramente aberta sobre galeria central do Palácio de Alimentação” (34).

Novamente, Mallet-Stevens retoma a concepção e o repertório de materiais das lojas. Simetria na composição da fachada e na disposição em planta de balcões e mobiliário. Balcões curvos, colunas de seção circular, uso de iluminação embutida no forro, letreiros de neon, elementos de metal tubular em corrimãos e no mobiliário. A exigência contratual do emprego das cores verde e amarelo simbolizando o país também se repete na decoração do estande. A novidade restringe-se à composição gráfica de Jean Carlu e ao baixo-relevo executado pelos irmãos Martel. Essa composição está afixada acima do letreiro da face externa do estande.

Ainda do Relatório, transcrevemos:

“Le Hall du bar de dégustation était meublé de sèges en acier chromé recouverts de cuir jaune et vert et de cnfrtables fauteuils club, de tables artistiques en bois du Brésil verni,a vec des supprots en acier. [...] Du côté extérieur, non seulement sur le front de la galeri, mais aussi sur la façade du Palais de l’Alimentation, on voyait deux grandes enseignes formées par deux tubes luminescents au gaz nén. Une grande partie de la lumière du hall était fournie par éclairage indirect venant du plafond” (35).

Mallet-Stevens empregou no projeto dos três bares-degustação – carrefour Richelieu-Drouot, avenida Wagram e estande da Exposição 1937 – a mesma linguagem, os mesmos materiais de acabamento, os mesmos efeitos de iluminação. Soube, por meio da arquitetura, vincular ao Brasil e ao produto nacional – café – uma imagem de modernidade.

Estande Cafés du Brésil, Exposição Internacional, 1937/Paris [L’Architecture d’Aujourd’hui, n. 9, set. 1937]

Estande Cafés du Brésil, Exposição Internacional, 1937/Paris [Revista do Departamento Nacional do Café, n. 51, set. 1937]

Estande Cafés du Brésil, Exposição Internacional, 1937/Paris [Revista do Departamento Nacional do Café, n. 51, set. 1937]

Nos anúncios publicitários da Companhia franco-brasileira Cafés du Brésil, veiculados durante a década de 1930, encontramos referência a três endereços – Carrefour Richelieu-Drouot, avenida Wagram e rua Mesnil. Sobre este último endereço, até o momento, nada foi encontrado. Sobre os integrantes da sociedade, possuímos as seguintes informações: a empresa foi fundada em 1921, pela família Pollet, da cidade de Roubaix. Em 1937, Joseph Dreyfus era presidente; Joseph Rosen, Administrador Delegado; Etienne Bloch e S. de Mattos, Diretores (36).

Em síntese, podemos asseverar que as lojas, Cafés du Brésil, foram, na mesma medida, significativas para o Brasil e para Mallet-Stevens. Para o Brasil, cumpriram um papel de divulgação do nosso mais importante produto de exportação – o café. Para Mallet-Stevens, as lojas representaram a materialização do que teorizava em artigos relativos à arquitetura comercial. As duas lojas e o estande são realizações arquitetônicas que permaneceram silenciadas pela historiografia da arquitetura, no Brasil. Elegeu-se documentar o que convinha registrar, a sempre consagrada vertente corbuseana.

Na França, desde os anos 1980, o nome e a obra de Mallet-Stevens lograram reconquistar seu devido lugar histórico. No Brasil, a influência de Mallet-Stevens é mais relevante do que a historiografia documentou.

notas

1
Carta oficial contendo relatório anexo sobre Propaganda no exterior. Missiva enviada ao Diretor dos Serviços Econômicos e Comerciais do Ministério das Relações Exteriores pelo presidente do Instituto do Café do Estado de São Paulo, Mário Rollim, em 02 de março de 1929. Fonte: Arquivo Histórico do Itamaraty, ERERIO, Rio de Janeiro.

2
Instituto de Defesa Permanente do Café (IDPC), criado em 1922, extinto em 1924. O IDPC foi substituído pelo Instituto Paulista de Defesa Permanente do Café (IPDPC), criado em 1924, e transformado, em 1926, em Instituto do Café do Estado de São Paulo. Em 1931 é criado o Conselho Nacional do Café, extinto em 1933 e, finalmente, substituído pelo Departamento Nacional do Café – DPN, extinto, definitivamente, em 1946.

3
Dados contidos in: Relatório, op. cit., nota 1. Contrato de propaganda e subvenção firmado em 15/02/1928 no valor de 594:000 contos de réis anuais. Dos 17 contratos firmados, entre 1927 e 1928, pelo ICSP com empresas internacionais, o montante atribuído à Companhia franco-brésilienne correspondia a 12% do total investido, 4876:000:000.

4
“Os contratos são feitos a prazo de um ano e sua prorrogação dependerá dos resultados positivos apresentados pelos contratantes. Por seus agentes, o Instituto do Café exercerá fiscalização junto de cada contratante, de modo a verificar o exato cumprimento das obrigações por eles assumidas, afim de que possa ser paga a subvenção, em prestações a serem combinadas. Entre as condições de cada contrato figuram: A) montagem e manutenção, em lugares determinados e que maior conveniência ofereçam, de estabelecimentos “bars” denominados “café expresso” dotados do aparelhamento necessário à torrefação, moagem e degustação do café, que será exclusivamente do Brasil”. In: Relatório (op. cit.), nota 1.

5
“O fundo de propaganda constitui-se do produto da taxa de $200, papel, sobre cada saca de café de sua produção exportada, que os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Paraná e Espírito Santo recolhem aos cofres do Instituto do Café, ao qual ficou, pelo convênio de 1º de setembro de 1927 a direção da propaganda.” In: relatório encaminhado pelo Presidente do Instituto do Café do Estado de São Paulo ao Ministro das Relações Exteriores, em 07/11/1929. Fonte: Arquivo do Itamaraty, ERERIO, Rio de Janeiro.

6
Uma importante retrospectiva de sua obra ocorreu no Centre Pompidou, o “Beaubourg” de Paris, em 2005. Ver o catálogo: CINQUALBRE, Olivier (Org.). Robert Mallet-Stevens, l’oeuvre complète. Paris, Centre Pompidou, 2005.

7
Participou na realização de cenários de vários filmes, destacando-se a cenografia da produção cinematográfica de L’Inhumaine de Marcel L’Herbier, 1923. (Le secret de Rosette Lambert -1920, Jettatura – 1921, La singulière aventure de Neil Hogan – 1921, La maison vide – 1921, Le trois mousquetaires – 1921, Triplepatte – 1922, Vingt ans aprés – 1922, Le mauvais garçon – 1922, Le costaud des Épinettes – 1923, Le miracle des loups – 1924, La ronde de nuit – 1925, Princesse Masha – 1927, Le vertige – 1927 e Le Tournoi dans la cité – 1928. Importante comentar que Villa Noailles (1923-1928), projeto encomendado pelo casal de mecenas das artes modernas – Charles e Marie-Laure de Noailles, serviu de locação para dois filmes – um filme do surrealista Jacques Manuel, Bíceps et bijoux, de 1928, e Les Mystères de château du dé, dirigido por Man Ray, 1929.

8
Sobre sua atuação no desenvolvimento de mobiliário destacamos o projeto da cadeira metálica tubular Tubor, 1926. Segundo Richard Klein, “la chaise Tubor [...] est certainement sa création qui correspond le mieux aux objectives de l’UAM: elle est métalique, reproductible, sa multiplication génère une plastique contemporaine, elle est empilable et imaginé pour le plus grand nombre”. KLEIN, Richard. Robert Mallet-Stevens, agir pour l’architecture moderne. Paris, Éditions du Patrimoine, 2014, p. 120.

9
Em trecho do artigo supracitado, Le Corbusier usa de ironia para criticar o que considerava excessos de formalismos na obra de Mallet-Stevens: “Les aînés chagrins l’accuseront d’être um faiseur de formes. On peut certes, affirmer qu’il a l’amour des formes, et si l’on voulait quelque peu chicaner, on dirait même qu’il les aimes tant qu’il en met trop”. LE CORBUSIER. L’Exposition de l’École Spéciale d’Architecture. L’Esprit Nouveau. Paris, Éditions de L’Esprit Nouveau, n. 23, maio 1924.

10
Sobre o assunto, vide: Lyonnet, Jean Pierre. Rob et Corbu (et monsieur Perret). In Lyonnet, Jean Pierre (Org.). Robert Mallet-Stevens, architect. Paris, Éditions 15 square de Vergennes, 2005.

11
Sobre o tema vide: ROULLEAU-SIMONNOT, Nathalie. La réception de Robert Mallet-Stevens: la redécouverte d’un architecte au succès controversé. In CHEVALLIER, Fabienne; ANDRIEUX, Jean-Yves. La réception de l’architecture du Mouvement moderne: image, usage, héritage. Septième conférence internationale de Docomomo. Paris, Palais de l’Unesco, 16-19 sep. 2002. Também vide: LYONNET, Jean Pierre. Op. cit., nota 8.

12
Membros da UAM: Francis Jourdain, René Herbst, Raymond Templier, Pierre Chareau, Eillen Gray, Charlotte Perriand, Le Corbusier, Pierre Jeanneret, Djo-Bourgeois, Jean Burkhalter, Sonia Delaunay, Jean Fouquet, Gustave Miklos, Jean-Charles Moreux, Jean Prouvé, Jean Puiforcat, Gérard Sandoz, André Salomon, Louis Barillet etc.

13
Revista, fundada em 1930, também vinculada às vanguardas da arquitetura.

14
Vale citar que, trabalharam, nessa obra do cineasta Marcel L’Herbier, o arquiteto Mallet-Stevens, o artista Fernand Léger e o brasileiro Alberto Cavalcanti, na realização dos cenários; o costureiro Paul Poiret, na criação do vestuário; Pierre Chareau, no desenvolvimento do mobiliário; Raymon Templier, no design das jóias e adereços e Darius Milhaud, na composição musical – uma verdadeira síntese das artes. O filme congregava uma constelação de vanguarda.

15
Pode-se dizer que o relógio da Central do Brasil, projeto de Robert Prentice e Roberto Magno de Carvalho, 1937, no Rio de Janeiro, deriva do icônico pavilhão de Mallet-Stevens.

16
As árvores foram realizadas pelos escultores Jan e Jöel Martel, constantes colaboradores do arquiteto.

17
A exposição era o evento que poderia alavancar a carreira dos profissionais mais aclamados, aqueles que mais se destacavam na mostra. Como salientou Monnier em relação à importância do evento para os arquitetos, em geral: “l’exposition est le lieu où des contacts fructueux se nouent entre certains protagonistes européens de l’architecture moderne”. MONNIER, Gerárd. L’architecture moderne en France. Direção de Claude Loupiac e Christine Mengin. Tome 1. Paris, Picard, 1997, p. 230.

18
A pequena ruela sem saída, situada no 16º Arrondissement de Paris, recebeu o nome do próprio arquiteto responsável pelas obras que a conformam. Essa honraria, prestada em vida, só havia acontecido, anteriormente, em Paris, para o escritor Victor Hugo.

19
La décoration fait appel à une impressionnante liste de personnalités: Louis Barillet pour les vitraux, Pierre Chareau, Eileen Gray, Djo-Bourgeois et Francis Jourdain pour le mobilier, Gabriel Guévrékian pour le jardin cubiste, Piet Mondrian, Henri Laurens, Jacques Lipchitz, Constantin Brancusi ou Alberto Giacometti pour les œuvres d’art. DJAAI, Gregory. La Villa Noailles Hyeres <www.ac-nice.fr/arts//sitehida/objet-etude/villa%20noailles.pdf>.

20
Em 1924, foi rodado, na Villa Noailles, Biceps et bijoux, produzido pela Cinegraphic de Marcel l’Herbier, dirigido por Jacques Manuel e que contava com a atuação do próprio casal Noailles e, em 1928, o filme surrealista, dirigido por Man Ray, intitulado Les Mystères du chatêau du dé. (Os mistérios do castelo de dados, 30 minutos de duração).

21
Sobre o tema, vide: KLEIN, Richard. Robert Mallet-Stevens, la villa Cavrois. Paris, Picard, 2005, p. 89-105. KLEIN, Richard. Regards… La villa Cavrois. Paris: Éditions du Patrimoine, 2015, p.131-154. Une demeure 1934, architecte Rob Mallet-Stevens. Paris, Jean-Michel Place Éditions, 2005.

22
Família originária de Roubaix, polo industrial da tecelagem francesa.

23
O endereço de registro oficial é rua Boissonade, 19-21, Paris.

24
Relatório oficial, 02/03/1928, Arquivo do Itamaraty – ERERIO.

25
Documento de 28/05/1929. Arquivo do Itamaraty, RJ – ERERIO.

26
Relatório oficial, 28-05/1929. Arquivo do Itamaraty – ERERIO

27
Segundo argumentação de Sevcenko, o vocábulo moderno adquirira uma força expressiva ímpar nesse contexto histórico. SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole. São Paulo, Companhia das Letras, 1992, p. 227-228.

28
“Bonney centre son agence sur les État-Unis, où, pense-t-elle, ‘nos bureaux, automobiles, nos vêtements reflètent la vie contemporaine’ mais ‘notre ameublement et nos intérieurs appartiennent au passé’. En photographiant le mouvement moderne à Paris et en commercialisant se photographies, Bonney vend la modernité”. KOLOSEK, Lisa Schlander. L’invention du chic. Paris, Éditions Norma, 2002, p. 10.

29
Sua crônica era essencialmente visual: “En faisaint connaître l’architecture et les arts décoratifs modernes, elle décrit aussi la villes au quotidien et son adoption d’une esthétique moderne, de l’avant-garde jusqu’à des interprétations plus timides et des expressions hybrides“. KOLOSEK, Lisa Schlander. Op. cit., p. 28.

30
RAYNAL, Maurice; SARTORIS, Alberto; DUDOK, Willem Marinus; MANGOLD, E.J.; MELNIKOF, Konstantin; BOURGEOIS, V.; BONNEY, Therese. Mallet-Stevens, dix-années de réalizations en architecture et décoration. Paris, Charles Massin, 1930.

31
Empregava recursos luminotécnicos inovadores em colaboração com profissionais específicos da área: Jean Dourgnon, Jacques Le Chevallier e André Salomon (engenheiro de iluminação). Todos, membros da União de Artistas Modernos.

32
Citamos os seguintes artigos: Le Magasin e le décor de la rue; L’art de la rue et les magasins modernes. Conditions d’établissement du plan et de la façade d’um magasin; Le Décor de la rue, les magasins, les étalages, les stands d’exposition, les éclairages de présentation; Éclairage et architecture; Éclairage moderne; L’enseigne lumineuse.

33
Os pavilhões temáticos eram construções de grande proporção e situadas em locais destacados da exposição. O que confirma seu prestígio junto à organização do próprio evento.

34
Tradução de trecho do relatório publicado em Catalogue Exposition Internationale des Arts et Techniques – 1937. Rapport Général, Tome 9, p. 14.

35
Idem, ibidem, nota 20.

36
Vide: Revista do Departamento Nacional do Café. Rio de Janeiro, DNC, v. 50, ago. 1937.

sobre a autora

Silvia Palazzi Zakia, pós-doutorado FAU-USP, bolsista PNPD-CAPES. Supervisor: Prof. Dr. Livre Docente Mário Henrique Simão D’Agostino.

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