Introdução
O presente artigo, decorrente de pesquisa doutoral realizada, desenvolve investigação sobre o desenho do objeto e a inclusão de equipamentos nos projetos de arquitetura moderna, ora incorporados ao próprio corpo da edificação, ora através de detalhes e especificações personalizadas, que na obra de Cláudio Araújo coincidem com a vanguarda do design moderno no sul do país e com os processos de industrialização da construção civil e do mobiliário. Desenvolvendo modos de projeto paralelos ao de arquitetos do neoplasticismo holandês como Gerrit Rietveld ou do italiano Gio Ponti, Araújo ao desenhar ou especificar objetos incorporados a concepção do projeto arquitetônico, deu sequencia a uma tradição cara ao Movimento Moderno, do desenho total e de certa forma pavimentou os caminhos do design moderno no sul do país.
Araújo, conjuntamente com outros próximos a sua geração, como Nelson Ivan Petzold e Günter Weimer, e professores, como José Carlos Bornancini, nos anos 1960, influenciado pela atenção ao objeto e ao desenho industrial – disseminado pela Bauhaus de Dessau e Walter Gropius, a Hoschule für Gestaltung de Ulm e Max Bill (1), pela Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI (2) de São Paulo e, posteriormente, por Décio Pignatari e a FAU/USP, dedicou-se ou ao desenho gráfico ou do objeto propriamente dito. Neste ambiente, cresceu seu interesse pela qualidade tectônica e formal de artefatos produzidos industrialmente para solucionar engenhosamente problemas típicos do espaço recorrente, através de equipamentos e produtos de design eficientes e sofisticados, assim como o desenho de mobiliário e componentes, ora incorporados à construção, ora projetados para solucionar problemas específicos de arquitetura, além de especificações criteriosas de móveis e materiais consagrados no design internacional, justapostos aos objetos cotidianos valorizados com sua sensibilidade.
Gott steckt im detail (3)
Dentro do panorama da arquitetura moderna brasileira no sul, Araújo consolidou uma produção consistente de arquitetura de interiores que o acompanhou ao largo de toda carreira, mesmo quando seu escritório já se dedicava a projetos de maior escala e grande envergadura. Esta constante deve-se muito mais à maneira de abordar o projeto do que a oportunidades de trabalho ou nichos de mercado. Efetivamente, o trato do design e da sofisticação formal incorporada a todas as escalas do projeto fez com que sua produção fosse pautada por partidos arquitetônicos e soluções espaciais relativamente simples, muitas vezes marcados por uma matriz elementar quase engenheril, desenvolvida com significativo controle tectônico e desenho das partes apurado. Evidentemente, seu interesse no design, na comunicação visual e na semiótica advém desta abordagem, a partir da qual o desenho de mobiliário e componentes associados ao projeto de arquitetura ganhou especial importância em sua carreira.
Nos projetos de arquitetura de interiores, esta ação foi uma constante importante. Em sua participação no projeto de interiores do Refeitório da REFAP, para o qual desenhou as cadeiras do restaurante, consolidou relações com Heinz Agte (4), representante de um dos fornecedores, que posteriormente desenvolveu sua própria fábrica de móveis: a Móveis Contemporâneos. Araújo e Heinz se tornaram amigos, e o interesse comum pelo projeto de mobiliário os levou a diversas parcerias. Realizaram trabalhos de arquitetura de interiores para o Grupo Ipiranga, como hotéis, paradouros, stands e para a Assembleia Legislativa, cuja licitação foi vencida pela Móveis Contemporâneos. Ainda no final dos anos 1960, Araújo realizou o projeto de interiores do Cotillon Club, mobiliado por Heinz Agte, cujo presidente era Ricardo Eichler, proprietário do edifício onde Araújo morava logo que casou, no final dos anos 1950. Mas o clímax destas ações conjuntas foi o mobiliário produzido para o apartamento de Araújo no Edifício FAM, desenhado com a colaboração de Comas, em troca do projeto para a casa de Heinz (5).
A sutileza e sofisticação do projeto, com as partes normalmente associadas às estratégias espaciais de Araújo, que neste caso prosseguem com os negativos entre os muros e os planos horizontais, a inserção de equipamentos incorporados à estrutura da casa e os jogos com volumes do forro, mas em especial a arquitetura de interiores, de certa frugalidade requintada, misturando moveis modernos desenhados por Araújo e fabricados por Agte a elementos consagrados do design internacional com peças antigas, fazem deste projeto uma conjunção especial de arquiteto e promotor concorrente da arquitetura moderna.
Assim, Araújo foi bem sucedido na contínua atenção a todos os níveis de caracterização e complementação da obra, sendo que sua parceria com a Móveis Contemporâneos, de seu amigo Heinz, oportunizou a produção industrial e a comercialização em série dos protótipos pensados em diferentes trabalhos. A partir desta relação, chegou a desenhar todos os móveis que Heinz fabricava. Projetava as peças e os desenhos eram produzidos por um ex-desenhista da Petrobras, na própria fábrica (6).
A industrialização do mobiliário no Rio Grande do Sul com atenção ao design de certa forma faz paralelo ao processo de industrialização da construção, que coincidiu ou decorreu, mas não precedeu, a arquitetura moderna no país. Ou seja, o desenho e o projeto precederam as condições de produção. A industrialização de mobiliário de escritórios foi pioneira, já que a vanguarda da arquitetura moderna brasileira, em especial a carioca, tinha nos edifícios públicos sua principal demanda. No entanto, o desenvolvimento de uma tradição no design nacional só foi se consolidar justamente nos anos 1960. Curtis afirma que:
Foi a década de 1960 que assinalou um dos períodos mais expressivos da história do móvel brasileiro, ao refletir um pouco do ritmo intenso do processo cultural. O meio artístico e cultural brasileiro nos anos 1960 foi efervescente, fruto da confluência de crises em vários setores da sociedade. Toda essa conjuntura acabou por constituir um novo projeto estético, na luta por uma arte nacional e de contestação (7).
No sul, era relativamente recente este processo, sendo comum, até o final dos anos 1950, o mobiliário moderno proposto pelos arquitetos ser produzido artesanalmente por marceneiros, que se tornavam célebres parceiros (8). Segundo FONTOURA, a produção de mobiliário em escala industrial, no Rio Grande do Sul, começou em 1955 com a Barzenski S. A. em Bento Gonçalves, a Florence e Toigo em Flores da Cunha e a Thonart em Canoas, logo a seguir (9). Neste contexto, segundo GOBBI, foi fundamental o papel desbravador dos designers Bornancini e Petzold, amigos e colegas de Araújo, e sua ação sobre indústrias como a Todeschini (10) e, segundo CURTIS, o papel do próprio Manlio Gobbi como um dos principais promotores do design no Estado. "Especificamente no Rio Grande do Sul, Gobbi assinala empresas como a Heinz Agte, com móveis desenhados pelo arquiteto Cláudio Araújo, Brixner S. A., Artema, FMI e Heuser, com uma linha própria de escrivaninhas" (11).
Araújo desenvolveu um sistema de articulação estrutural com peças metálicas que adotou em diversas peças de mobiliário, como escrivaninhas, poltronas e mesas de centro. Na verdade, a lógica consistia, mais uma vez, em independizar a estrutura do móvel de seus planos de fechamento, criando uma espécie de exoesqueleto, no qual barras metálicas duplas abraçam as horizontais simples, que, por sua vez, se balanceiam para o exterior, expressando sua autonomia como peça resistente e individualidade como peça formal, dentro de critérios de projetos familiares ao De Stjil . De certa maneira, todo o universo de mais de sessenta peças de mobiliário, nem todas consagradas, desenhadas por Gerrit Rietveld, seguem princípios semelhantes.
A cadeira para a REFAP, posteriormente utilizada na sede do IAB-RS, muda o sistema construtivo, adotando encaixes de madeira. Peças verticais e horizontais, igualmente definida com autonomia visual, são articuladas por pitões de madeira. O assento, apoiado sobre transversais, flutua sobre a estrutura, dado o balanço e negativo que cria com estes, em um recurso visual semelhante ao utilizado nos projetos de arquitetura.
As poltronas desenvolvidas para a Assembleia Legislativa, em função do caráter do uso, adotam uma linha mais solene e sóbria, de caráter executivo, com peças revestidas em couro, com bordas arredondadas e o pé metálico central apoiado em uma "pata de galinha". Deste tipo, filiado, segundo Araújo, aos desenhos de Charles Eames, como a poltrona Charles Eames (a qual Araújo adotou para si no edifício FAM), foram fabricados diversos "derivados" adaptados para poltronas de auditório e de estar.
Ainda um conjunto de sofás e poltronas – estruturados por um plano contínuo que dobrado faz os apoios verticais, o antebraço e o assento das peças – cria um terceiro sistema formal elaborado por Araújo e produzido pela Móveis Contemporâneos. Assento e o encosto autoestruturado dão a impressão de almofadas flutuando, assim como os pequenos apoios niveladores, junto ao solo, descolam todo o conjunto do plano horizontal. Outros produtos, alguns mais simples, foram desenvolvidos a partir destes ou da combinação entre eles, como a mesa redonda, a poltrona de madeira, e as mesas de escritório, que, por sua vez, fazem paralelo aos móveis desenhados por Román Andrés Fresnedo Siri para o Edificio de la Comisión Honorária para la Lucha Antiberculosa, em Montevidéu, elementos entre várias dezenas de peças que Araújo desenhou para a produção artesanal ou industrial, sempre visando completar a arquitetura.
Arquitetura de Interiores no Interior da academia
Com a atividade profissional em marcha, em especial a atuação em projetos de pequena escala, e certa repercussão no meio acadêmico do projeto para a Loja Senador, Araújo foi convidado a candidatar-se, como docente na FA-UFRGS, para a disciplina Composição Decorativa, junto ao seu ex-professor Frederico Michel Müller. Araújo classifica que a loja foi um momento de inflexão na arquitetura que vinha desenvolvendo e, tanto pela repercussão quanto pelo convite, foi também uma espécie de marco em sua carreira (12). Prestou exame para o ingresso, em 1958, que consistia na realização de um projeto relacionado ao tema, a ser examinado por banca de avaliação, conjuntamente com Moojen, que ingressava na sequência de Urbanismo. Aprovado, foi Instrutor de Ensino desta disciplina de 1959 a 1965, quando assumiu sua regência até 1968, ano em que decidiu afastar-se da docência, descontente com a condição política da universidade, assim como com o ambiente acadêmico desfavorável ao ensino de arquitetura (13).
Dentro da disciplina, começou a desenvolver com os estudantes exercícios de projetos de elementos aplicados à arquitetura, como vasos sanitários, lavatórios, maçanetas, mobiliários e utensílios (14). Araújo conduziu, portanto, o foco da disciplina Composição Decorativa para o desenho industrial contextualizado na arquitetura, em parte baseado na experiência da FAU-USP (15), ambiente com o qual passou gradativamente a ter contato. Conjuntamente com Petzold e com o apoio de Bornancini, chegaram a propor e planejar montagem de sequência de Desenho Industrial na Faculdade de Arquitetura, aos moldes da FAU-USP, iniciativa interrompida com sua prematura saída da Universidade. Neste período, através do relacionamento e afinidades do meio acadêmico gaúcho com São Paulo, Vilanova Artigas e a FAU-USP, estabeleceu relações com Lúcio Grinover, professor da área na FAU-USP e primeiro presidente da Associação Brasileira de Design – ABDI (16), Luiz Gastão de Castro Lima e Michel Arnoult.
Os anos 1960 foram de expansão e consolidação da atuação de arquitetos e designers no desenho industrial brasileiro, e a ABDI surgia com o objetivo, entre outros, de contribuir para o desenvolvimento de cultura sensível ao design no meio social e produtivo, através da promoção de eventos e publicações, assim como divulgação e ampliação do mercado, estabelecendo parcerias com indústrias e agentes do setor. Através destes contatos e filiação à ABDI, Araújo manteve intenso e efervescente intercâmbio com profissionais, professores e indústrias do meio, que se traduziam em experiências para os estudantes, tais como o conjunto de móveis desmontáveis da Mobília Contemporânea, que Michael Arnoult cedeu à Disciplina de Composição Decorativa para os estudantes realizarem exercícios. Ainda neste período de ligação com o desenho industrial e o meio acadêmico, chegou a trabalhar um ano para a Admiral, indústria de Eletrodomésticos, para a qual desenhou peças para geladeiras e circuladores de ar de cozinhas (utilizados nas cozinhas do FAM, adaptados às caixas de concreto das cozinhas).
Na última etapa de atividade docente, Araújo de certa maneira se dedicou a teoria, em particular com a emergente análise semiótica e a teoria da informação no meio da arquitetura. Esse interesse e contatos consequentes, através de relações ocasionadas pela atividade acadêmica, se estenderam também ao IAB-RS, cuja presidência Araújo exercia entre 1966 e 1967 e onde importantes eventos relacionados a este meio foram realizados, em conexão com a universidade.
Em 1966, Araújo foi enviado a São Paulo, pela Faculdade de Arquitetura, para assistir ao curso "Problemas de Comunicações de Massa", organizado pela ABDI, patrocinado pela Divisão de Cooperação Intelectual do Ministério de Relações Exteriores e a Olivetti Industrial S. A., ministrado pelo teórico Umberto Eco (17). Hospedou-se com Flávio de Carvalho, que havia realizado a exposição de abertura da galeria de arte do IAB-RS, na gestão de Araújo (18). Além do curso de Eco, Araújo acompanhou parte de outro curso: "Teoria da Informação e Comunicação Visual", promovido pela Associação Paulista de Propaganda, ministrado por Décio Pignatari, com quem iniciou longa amizade, estendida à vinda de Pignatari a Porto Alegre para a realização de curso análogo, no IAB-RS, a partir do qual Pignatari organizou seu livro referencial. Por conta desse episódio, a publicação "Informação, Linguagem e Comunicação" abordando a semiótica, motivado pela mesma análise peirciana de Umberto Eco, abre com agradecimentos a Araújo. Cláudio aproveitou a mesma viagem para outras articulações e contatos que julga igualmente importantes: estreitou relações com o professor Luiz Gastão de Castro Lima, responsável, na época, pela sequência de Desenho Industrial da FAUSP, quando trocaram experiências sobre as disciplinas e atividades acadêmicas, assim como acompanhou atividades de ateliê de projeto e desenho industrial. Luiz Gastão e um auxiliar ministraram na FA-UFRGS, à convite de Araújo, curso sobre a utilização da fibra de vidro na produção de mobiliário. Também realizou diversas visitas a escritórios e empresas ligadas ao design, como o Form-inform, escritório dedicado à comunicação visual e desenho industrial, acompanhado por Rubens de Freitas Martins (19), e a empresa FORMA, indústria associada à Knoll International, dedicada à fabricação de mobiliário com design assinado por arquitetos de renome internacional, na qual foi acompanhado pelo diretor arquiteto Carlos Pallis (20); à loja da Mobília Contemporânea, acompanhado pelo arquiteto Michel Arnoult (21); e, finalmente, visitas às lojas das indústrias OCA e L´Atelier. Araújo relata ainda ter tido oportunidade de conviver com o meio cultural em São Paulo, o qual Umberto Eco compartilhou em sua estadia, acompanhando as atividades sociais programadas, com personagens, entre outros, como Nathalie Sarraute (22), Michel Simon (23) e Giuseppe Ungaretti (24).
Conclusão
Design e arquitetura, assim como arquitetura e urbanismo, constituiram-se em atividades gemeas nos primordios da arquitetura moderna, frutos de processos de concepção e sistemas formais idênticos, em que pese diferenças de escala e materialidade. Esta indistinção projetual, assim como em diversos representantes significativos do Movimento Moderno, teve em Araújo um fiel protagonista assim como consubstanciou na sua prática profissional e academica, certo pioneirismo na produção e promoçao desta integralidade com consistencia. Relação que postergou-se à sua atuação como presidente do IAB/RS, período de significativa valorização do projeto e das especificidades da arquitetura, A participação nos cursos em São Paulo, visitas e contatos tiveram certo impacto em sua atuação e interesse no universo da comunicação visual e do design, mas igualmente potencializaram relações pessoais e culturais que ocasionaram desdobramentos no meio gaúcho e no IAB-RS, como a vinda de Umberto Eco, convidado por Araújo, para conferência no IAB-RS e FA-UFRGS, patrocinado pela Olivetti, as relações com Michael Arnoult e a Indústria Mobília Contemporânea, a realização do curso de Décio Pignatari e a exposição de Flávio de Carvalho em Porto Alegre, cuja hospitalidade em São Paulo foi memorável, assim como os episódios de convivência. A presença de Araújo na Universidade, conectado ao meio do desenho industrial e ao grupo ligado à ABDI, criou, uma rede de contatos e colaborações que, como sempre, misturava FA-UFRGS, IAB-RS e a construção da profissão, que em conjunto significavam arquitetura moderna.
notas
NE – Baseado em texto aprovado para publicação e apresentação no XI Docomomo Brasil. MARQUES, S.M. Cláudio Araújo e os primórdios do design no sul. In 11° Seminário Nacional do Docomomo Brasil. Anais. Recife, Docomomo, 2016
1
A Hochschule für Gestaltung Ulm (Escola Superior da Forma de Ulm), fundada na Alemanha por Inge Aicher Scholl (escritora alemã, 1917-1998), Otl Aicher (importante designer gráfico alemão, casado com Inge, desenhou o logotipo da Lufthansa e os pictogramas para os jogos de Munique, 1922-1991) e Max Bill (designer gráfico e do produto, arquiteto, pintor e escultor suíço, cursou a Arts and Crafts Academy de Zurique e artes na Bauhaus, foi diretor da escola de Ulm, tendo influenciado o perfil assumido pela escola de desenho industrial de São Paulo. Adepto dos conceitos universalistas da arte concreta de Theo Vandesbourg, suas ideias foram influentes na escola artística conhecida como concretismo paulista, 1908-1994), era estruturada por um curso comum a todas as áreas, o GrundKurs, e depois se desenvolvia em dois ramos: Produto e Comunicação, com disciplinas de ergonomia e história da cultura. A escola, dirigida por Max Bill e posteriormente por Tomás Maldonado (Argentina), passou a colaborar com indústrias, como a alemã Braun, e a valorizar a tecnologia, desenvolvendo um espírito eminentemente funcionalista. Ver: KRAMPER, Martin; HÖRMANN, Günter. The Ulm school of design: beginnings of a project of unyelding modernity. Germany: Verlag Eugen G. Leuze, 2003.
2
A Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) foi fundada em 1962, em São Paulo, como unidade autônoma da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com planejamento de Alexandre Wollner (1928, designer brasileiro, que estudou em Ulm e integrou o pioneiro escritório de design FormInform) e Karl Heinz Bergmiller, influenciados pela escola de Ulm e pelo projeto da Escola Técnica de Criação, elaborado por Tomas Maldonado para o MAM no final dos anos 1950. Ver: SOUZA, Pedro. ESDI – Biografia de uma ideia. Rio de Janeiro: UERJ, 1996.
3
Traduzido do alemão: “Deus vive nos detalhes”, aforismo atribuído a Mies Van de Rohe, na verdade interpretação sua de afirmação original de Frank Lloyd Wright
4
Heinz Agte foi indicado para o serviço da REFAP, por Moojen, através dos trabalhos realizados para o SESC. Agte nasceu na Alemanha, e tendo passado dificuldades durante a guerra, fugiu com parte da família, pelo lado oriental, e veio ao Brasil. Aqui trabalhou primeiramente como mecânico de automóveis e depois, através de um tio, ligado ao grupo da rede de Hotéis Plaza, ingressou no ramo de venda de mobiliário e elementos para arquitetura de interiores, trabalhando primeiramente como gerente de uma loja de móveis sofisticados também de seu tio, onde desenvolveu certo senso estético e criou a Móveis Contemporâneos, prestigiada fábrica de móveis modernos de Porto Alegre dos anos 1960-1970. ARAÚJO, Cláudio. Depoimento ao autor, 02 dez. 2011.
5
1ª premiação IAB-RS, projeto premiado, Porto Alegre (1971).
6
ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 12 out. 2011.
7
CURTIS, Maria. Manlio Gobbi, um pioneiro do mobiliário no Rio Grande do Sul. Desenhando o Futuro. Anais do 1° Congresso Nacional do Design, 2011.
8
Em Porto Alegre, os catalães Paco e Colé, que trabalharam na restauração do Teatro São Pedro, eram fiéis executores dos projetos de marcenaria da vanguarda local. Fayet, Araújo e Moojen recorreram a eles inúmeras vezes.
9
FONTOURA, Ivens. Uma visão do design moveleiro latino-americano. Bento Gonçalves, Salão Design Movelsul, 2006.
10
GOBBI, Manlio. Designare, um sonhar acordado. In BOZZETTI, Norberto; BASTOS, Roberto (Orgs.) Pensando Design 2. Porto Alegre: UniRitter, 2008. p. 14-49.
11
Manlio Maria Gobbi, Economista, Diretor da empresa familiar Manlio Gobbi Ltda. de comercialização de móveis para escritórios, de fabricação própria ou importados da Itália, com desenho de Zanuzo, Belgioioso e Morello, em sua loja "Domus", localizada no térreo do edfício sede do IAB-RS, realizava, duas vezes por ano, recepções aos formandos de arquitetura, na forma de um Fórum de discussão sobre design, com a presença de alunos, arquitetos professores, empresários e clientes. Ver: CURTIS, Maria do Carmo. Manlio Gobbi, um pioneiro do mobiliário no Rio Grande do Sul. Desenhando o Futuro. Anais do 1° Congresso Nacional do Design, 2011.
12
ARAÚJO, Cláudio. Depoimento ao autor. 21 jun. 2010.
13
Araújo, Moojen e Cirillo Crestani, no final dos anos 1960, desgostosos com a conjuntura, que de um modo geral desvalorizava o aprendizado das especificidades da profissão e o exercício do ofício, afastaram-se da Universidade, solicitando o desligamento junto à Reitoria, no mesmo dia. ARAÚJO, Cláudi; MARQUES, Moacyr. Depoimento ao autor, 21 jan. 2009.
14
Neste período, por exemplo, Comas (que realizou um jogo de copos de vidro) foi aluno de Araújo, em um semestre em que a disciplina organizou exposição na qual alguns protótipos foram executados por empresas da área. ARAÚJO, Cláudio. Depoimento ao autor, 21 jun. 2010.
15
A sequência de desenho industrial da FAU-USP foi implantada em 1962, face à expansão da atividade no campo profissional, decorrente da industrialização e do desenvolvimento urbano do país nos anos 1950. Ver: BRAGA, Marcos. ABDI: história concisa. Agitrop, Revista Brasileira de Design, Ensaios. Ano III, n. 26. Disponível em <http://www.agitprop.com.br/index.cfm?pag=ensaios_det&id=67&titulo=ensaios>.
16
Criada em 1963, a ABDI foi a primeira associação profissional de design no Brasil e a única até 1978. Com a expansão da industrialização no país, o desenvolvimento urbano ocorrido desde os anos 1950 e o otimismo ainda remanescente do período JK, os profissionais da área de arquitetura e design, "que até então tinha sua grande base no campo do mobiliário e interiores, fruto da atuação predominante de arquitetos partidários do estilo moderno desde os anos de 1920", conjuntamente com intelectuais acadêmicos da área da arquitetura e desenho industrial, implantaram o ensino regular de design na FAU-USP, em 1962, e na Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI, no Rio de Janeiro, criada no mesmo ano. Alguns destes, conjuntamente com profissionais da área, do eixo Rio-São Paulo, entenderam que era o "momento propício, de assumirem um papel mais coletivo do que pura e simplesmente um papel de professor ou simplesmente de profissional” e fundaram a ABDI, entre eles Lúcio Grinover, João Carlos Cauduro, Abraão Sanovicz, Rodolfo Stroeter, Alexandre Wollner, Carl H. Bergmiller, Décio Pignatari, Willys de Castro, Fernando Lemos e empresários da área como Leib Seincman, da indústria de móveis Ambiente, mais tarde indústria Probjeto. Na década de 1960, havia tanto sócios gaúchos na ABDI quanto do Rio de Janeiro: Arquiteto Armênio Wendausen, Engenheiro Mecânico Celso Raimundo de Couto, Arquiteto Cláudio Araújo, Arquiteto Nelson Petzold, Eng. José Carlos Mário Bornancini, Heinz Agte, entre outros. Ver: BRAGA. Marcos. ABDI: História Concisa. Agitrop, Revista Brasileira de Design, Ensaios. Ano III, n. 26. Disponível em <http://www.agitprop.com.br/index.cfm?pag=ensaios_det&id=67&titulo=ensaios>.
17
As aulas do curso de Eco foram ministradas no Salão Pandiá Calógeras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em um total de dezoito horas-aula, entre os dias 10 e 29 de agosto daquele ano. Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo.
18
Araújo se hospedou no apartamento de Flávio de Carvalho, na Avenida Paulista, onde o anfitrião realizou recepção com artistas paulistas para comemorar a exposição realizada em Porto Alegre, já que vinha de certo ostracismo em São Paulo, dadas suas atitudes excêntricas. Na mesma estadia, foram todos, acompanhando Umberto Eco em um final de semana, na casa sede da Fazenda Capuava (1938-1939), de Flávio, em Valinhos-SP), construída na propriedade de seu pai, plantador de café, para uma festa com convidados do meio cultural. Nesta casa com forma de mastaba, camas de concreto e uma coleção de obras de arte admirável, Flávio de Carvalho seguidamente fazia festas célebres. Ainda em outro final de semana, o grupo constituído por Grinover, Décio Pignatari, Umberto Eco, Lívio Levi, Rubem Martins e Araújo se deslocou para a casa de Michael Arnoult, em Ilhabela. Tocou para Araújo dividir um pequeno quarto e beliche com Umberto Eco: uma noite em claro com o parceiro que roncava extraordinariamente. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes; MARQUES, Moacyr Moojen. Depoimento ao autor, 21 jan. 2009.
19
Um dos primeiros escritórios de design criados no Brasil (1958), pelos artistas Geraldo de Barros, Rubem Martins e Walter Macedo e, posteriormente, Alexandre Wollner e o alemão Karl Heinz Bergmiller, ex-alunos da Hochschule für Gestaltung – HfG (Escola Superior da Forma), de Ulm, a mesma onde estudou Ghünther Weimer. Form-inform introduziu no Brasil a ideia "gestáltica" de signos visuais ao invés do nome de produtos. Fez trabalhos, entre outros, para a indústria de pescados Coqueiros, Elevadores Atlas, Embalagens Ibesa e Tecelagem Argos. Ver: WOLLNER, Alexandre. Design visual 50 anos. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. Na visita guiada por Martins, Araújo viu os projetos de comunicação visual e desenho industrial para os Laboratórios Procieux, Casa Almeida & Irmãos, Balas Bela Vista e Prima Eletrodomésticos. Ver: ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Relatório de viagem a São Paulo encaminhado ao diretor Werner Grundig. Cópia datilografada. Porto Alegre, 05 mar, 1967.
20
A visita foi realizada na antiga fábrica do grupo, no bairro Itaim, onde funcionava a estofaria, serralheria e mecânica, e na nova fábrica, na BR-116, em Taboada, onde lhe chamou a atenção o processo no qual eram usinadas as toras de jacarandá. Araújo cita peças fabricadas pela FORMA, desenhadas por Eero Saarinen, Charles Pollock, Richard Schultz, Mies van der Rohe, Harry Bertoia, Isamu Noguchi, Pierre Jeanerret, Franco Albini e Florence Knoll. Ver: ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Relatório de viagem a São Paulo encaminhado ao diretor Werner Grundig. Cópia datilografada. Porto Alegre, 05 mar. 1967.
21
Nascido na França, formou-se em arquitetura no Rio de Janeiro e trabalhou com Oscar Niemeyer. Conjuntamente com o arquiteto escocês Norman Westwater, formaram a indústria dedicada à ideia de levar o design ao grande público, adotando conceitos do início da industrialização, como eficiência da produção em série, modulação e redução no número de peças. Iniciou a produção em Curitiba e depois em São Paulo e Rio de Janeiro, até 1973, quando encerrou as atividades. Ver: DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000. Araújo, em relação à produção e ao desenho dos dois arquitetos, afirma que "parece ser a tentativa mais séria de industrialização do móvel de custo médio em nosso país [...] sendo o resultado de dez anos de pesquisa nas séries de móveis modulados de madeira, cujo projeto leva em conta a automatização de diversas operações industriais". Ver: ARAÚJO, Cláudio. Relatório de viagem a São Paulo encaminhado ao diretor Werner Grundig. Cópia datilografada. Porto Alegre, 05 mar. 1967, p. 5.
22
Escritora e advogada francesa de origem russa, cujo nome verdadeiro era Natacha Tcherniak, filiada ao movimento nouveau roman, espécie de renovação romanesca publicada na França no pós-guerra. Ver: FILHO, Artur. O novo romance. Lisboa, Editorial Presença, 1962.
23
Artista suíço, protagonista de mais de duas dezenas de filmes, como Panic (1946), por Julien Duvivier; Les Amants du pont Saint-Jean (1947); La Beauté du diable (1950), por René Clair; Poison (1951), por Sacha Guitry; The Impossible Mr. Pipelet (1955), por André Hunebelle.
24
Poeta, nascido em Alexandria, filho de italianos, estudou na Sorbonne e lutou na Primeira Guerra Mundial. Morou no Brasil de 1936 a 1942, dando aulas de italiano e literatura italiana na USP e, durante a Segunda Guerra, voltou à Itália, sendo professor da Universidade de Roma. Araújo cita que, na época, Ungaretti presidia a Comunidade Europeia de Escritores e o Comitê de atividades Culturais da Comissão Italiana da UNESCO, assim como era apontado como um provável detentor do Prêmio Nobel. Acompanhando Ungaretti, teve a oportunidade de assistir ao concerto do Quarteto Viotti de Turim, no auditório da rádio Eldorado. Ver: ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Relatório de viagem a São Paulo encaminhado ao diretor Werner Grundig. Cópia datilografada. Porto Alegre, 05 mar. 1967, p. 6.
sobre o autor
Sergio Moacir Marques é arquiteto pela FAU/UniRitter, (1984), mestre e doutor pela UFRGS, ETSAB/ UPC, Prêmio CAPES de tese, 2013. Professor titular da graduação, pós graduação, corpo permanente do PPGAU strictu sensu UniRitter/Mackenzie, pesquisador e coordenador do Núcleo de Projetos da FAU/UniRitter; professor adjunto da FA/UFRGS; Secretário Executivo Docomomo Sul para 2015/2019.