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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Este artigo demonstra como a viagem foi tratada de maneira literária em um mundo em constante transformação: a disseminação da Indústria, a Primeira Guerra Mundial, as epidemias e os deslocamentos humanos que as transformaram em pragas mundiais.

english
This paper demonstrate how the travel was dealt in a literary way in a world in constant transformation: the spread of Industry, the First World War, the epidemics and the human displacements that have turned them into global plagues.

español
Este artículo demostra cómo se abordó literariamente los viajes en un mundo en constante transformación: la expansión de la Industria, la Primera Guerra Mundial, las epidemias y los desplazamientos humanos que los han convertido en plagas globales.


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LIMA, Adson Cristiano Bozzi Ramatis. A viagem e a representação do espaço. O viajante de Apollinaire. Arquitextos, São Paulo, ano 22, n. 262.00, Vitruvius, mar. 2022 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/22.262/8401>.

Veremos que nem sempre o viajante foi visto como um errante feliz — pertencendo à alta burguesia ou aristocracia — e que completava a sua formação em destinos ditos ou compreendidos como exóticos: Itália, Grécia e Espanha, entre outros, e este fato foi historicamente válido apenas durante os séculos 18 e 19 (1). Seriam viagens de iniciação para a classe mais abastada da Europa, em um tempo em que o chamado hodiernamente “turismo de massa” ou, simplesmente, “indústria do turismo”, não podia ainda nem sequer ser concebido. Isto nos coloca frente a uma importante questão: viajar de outra maneira, isto é, em um espaço — seja natural ou urbano — consoante esteja dividindo o seu metro quadrado com outras pessoas — que são necessariamente e radicalmente “outras”, porque não haverá tempo nem espaço pra conhecê-las; ou consoante a natureza deserta que deixa imerso o viajante na Estética do Sublime Kantiana ou na beleza das cidades limpas e “ordeiras”. Contudo, o eu lírico do poeta francês Guillaume Apollinaire (1888-1918) parece não ter nada de muito positivo para se referir a estes deslocamentos realizados no seu século (20): o viajante, aquele que parte deixando pra trás as lembranças de uma vida que poderia ter sido, mas que, irremediavelmente, não foi:

“A vida é incerta como correntes marítimas
Você contemplava nuvens que desciam
Com o catamarã órfão para febres futuras
E de todos os remorsos e arrependimentos
Você se lembra” (2).

O “você” escrito no início da estrofe não é outro senão o próprio eu lírico, que tenta tomar uma espécie de distanciamento em relação a um trajeto pretérito. Por outro lado, a menção a estas incertas correntes marítimas nos remete à errância, este vagar sem projeto nem rumo, à viagem antiburguesa por excelência, (para o burguês mesmo os menores dos prazeres são calculados). Neste caso, o meio de deslocamento — o catamarã — é o presente que, por assim dizer, representa a ausência na estrofe citada: a água, a água em movimento, a água fonte de vida e de morte. A água que em alguns sistemas filosóficos — assim como certas tradições literárias — era uma metáfora do tempo: na vida é impossível voltar atrás (a não ser pelo concurso da memória, que na estrofe citada, como vimos, não é muito feliz). Mas voltemos ao verso com o qual abrimos este artigo: “A vida é variável como correntes marítimas”. Ora, no original lê-se: “La vie est variable aussi bien que l’Euripe”. Euripe é uma corrente marítima do Mar Mediterrâneo que muda de sentido várias vezes ao dia, inscrevendo, ao menos neste poema, a possibilidade de um retorno (mesmo que não seja desejável: há algum controle sobre a memória? Do que nos lembramos e, ao contrário, do que nos esquecemos?). Mas deixemos o tempo um pouco de lado e pensemos no principal objetivo deste artigo, a saber, como a questão da viagem — e da errância — foi tratada de maneira literária em um mundo que já estava em constante e não controlada transformação: a disseminação da Indústria, a Primeira Guerra Mundial, a dissolução de Impérios, o nascimento de novos países, as epidemias e os deslocamentos humanos que as transformaram em pragas mundiais (3). E escolhemos para tal fim, além de um poeta específico, um poema que tem o tema (entre outros) que intentamos analisar, a saber, O Viajante, composto no ano de 1915. E Tudo isto em um muito obscuro catamarã (órfão, isto é, solitário) que cruza um rio aparentemente calmo em um mundo em constantes e bruscas transformações (4).

Sobre viagens e portas fechadas

Em outro verso de O Viajante o eu lírico parece buscar um “porto seguro”, aqueles nos quais as embarcações se abrigavam dos perigos e rigores do Inverno: “Abra-me esta porta diante da qual eu pranteio” (5). Este verso lança duas possibilidades: a desistência da viagem — pois o eu lírico estima que há uma reconciliação possível com o que foi deixado para trás; ou simplesmente o retorno do viajante, após ter compreendido na dor e na tristeza que o ailleurs não é muito diferente daquela porta fechada que tem diante de si. Finalmente, o mundo não seria senão uma sucessão quase ininterrupta de decepções (lugares e pessoas)? De qualquer sorte, o eu lírico de Apollinaire não teria sido o primeiro a se decepcionar com os deslocamentos, como podemos ler nestes versos de Baudelaire:

“É preciso partir? Ficar? Se for preciso ficar, fique;
Parta, se for necessário. Um corre o outro se encolhe
Para enganar o inimigo vigilante e funesto,
O tempo! Ele é, infelizmente, um corredor sem descanso” (6).

Mais do que indiferença diante das viagens, estamos diante de uma resignação; faça o que se fizer, vá para o destino lhe convier, o fim pode ser sempre o mesmo: uma porta fechada. E o eu lírico de Baudelaire alude ao tempo, que neste caso aparece com a sua forma mais temida: l’ennui ou o tédio, sentimento que até os mais poderosos monarcas da Europa combatiam. Mas no eu lírico Apollairiano o tempo vem assombrar sob a forma das lembranças, talvez na esperança que estas, finalmente, se esmaecerão até que se apaguem em definitivo: “Eu me lembro, eu me lembro ainda” (7). A notar que o eu lírico admite, não sem pesar, que ele ainda se lembra. Por um lado, é a confissão de que tudo, absolutamente tudo, é passível de ser esquecido: as cidades destruídas pela guerra, a dor do exílio, a brevidade do amor, a separação e a dor do luto. Assim, tudo, absolutamente tudo, seria esquecível: “E você, você me esqueceu” (8).

O viajante atravessa cidades nas quais não se detém, das quais provavelmente não conhecia senão o que todo viajante em trânsito conhece: uma metonímia, as estações ferroviárias que representam a cidade na sua totalidade: “Lembra-se do longo orfanato das estações/ Nós atravessávamos cidades que todos os dias mudavam/ E vomitavam de noite o seu sol do dia”. Assim como o catamarã era órfão, isto é, solitário, assim eram igualmente as estações ferroviárias que mal tocavam o solo das cidades. Eram órfãs em um tumulto de civis e de soldados que partiam, assim como o eu lírico, para um destino do qual se conhecia apenas uma toponímia. Curiosamente, não eram as cidades que propriamente mudavam, elas eram simplesmente “outras cidades” que o viajante não lograva associar à anterior. Ora, se nos séculos 17, 18 e 19 nós tínhamos o porto como o local de passagem por excelência, no início do século passado eram as estações ferroviárias que cumpriam esta função no imaginário dos viajantes.

Contudo, é necessário lembrar que em nenhum século a viagem — marítima ou terrestre — foi um empreendimento solitário: o viajante pode até possuir este sentimento, mas ele estará cercado pela tripulação e, certamente, por outros viajantes. E assim estabelece o eu lírico os seus companheiros: “Marinheiros mulheres sombrias e você meus companheiros/ Nunca se esqueçam disto” (9). Os marinheiros são personagens que assombram uma outra época: aqueles que faziam longas e arriscadas viagens, em mares ainda desconhecidos e em embarcações ainda frágeis. De qualquer sorte, o seu destino é a viagem, a sua rotina é o trânsito, e de uma maneira romântica poder-se-ia dizer que a sua morada quando não era a embarcação era o porto. Em seguida, veem as “mulheres sombrias”, esposas abandonadas, viúvas em desgraça e prostitutas itinerantes, cuja viagem se dava de acordo com os caprichos do seu proxeneta (10).

Sabemos que de um acidente do mar (uma ilha, um promontório, um recife) a outro não há muitas vezes nada que dê ao viajante uma certa estabilidade visual e certo conforto. Mas o que haveria entre as cidades percorridas pelos trens? Nesta estrofe o eu lírico parece aludir ao campo, este mar de plantações cujo topo das culturas parece tremular ao vento como se fossem ondas: “Campainhas elétricas das estações canto de ceifadeiras/ Trenó de um açougueiro regimento infinito de ruas/ Cavalaria de pontes noites lívidas de álcool” (11). Observa-se que neste momento o eu lírico realiza um deslocamento de sentido: passamos dos alarmes elétricos das estações ao canto das ceifadeiras, isto é, somos transferidos dos sons e das imagens urbanas aos sons e imagens do campo.

E lembrando que na Europa, campo e cidade quase sempre foram elementos assemelhados, posto que foram ambos o fruto do trabalho humano; o antagonismo absoluto seria a “floresta”, local no qual muitas pessoas colocam-se — ou por escolha ou por degredo — fora da proteção dos muros da cidade. Por outro lado, e pensando que não estaríamos longe da verdade se afirmássemos que nestes versos há uma espécie de lamento melancólico, uma vez que naquele momento o campo já é dominado pelas máquinas. A experiência do eu lírico de O viajante é bem diferente daquela dos burgueses e aristocratas dos séculos 18 e 19 e mesmo dos dandies dos séculos 19 e 20 (lembremo-nos, a este respeito, de Lord Byron).

Há nos versos seguintes outras metáforas interessantes no que concerne a nossa análise: as cidades e as suas “inumeráveis ruas”, com veículos a motor ao lado daqueles de tração animal ou humana. As pontes que se seguem, se substituem e formam um “regimento” perfilado sobre rios e canais, nestas cidades, nestas cidades empalidecidas pelo álcool. A alusão à boemia das grandes cidades europeias não poderia ser mais clara em um poema compilado em uma coletânea cujo título é, justamente, Alcools. De qualquer sorte, se refletimos esta poesia como uma espécie de narrativa viática, ou seja, um texto em que um escritor viajante narra a seu público leitor regiões, países etc., que ele não poderia conhecer de outra maneira; é mister observar que já estamos distantes das narrativas realizadas nos séculos anteriores: a cidade e os meios de locomoção já são descritos de outra maneira: em algum momento, já havíamos atingido a chamada Modernidade (12).

É certo mundo que é deixado para trás, um mundo despreocupado, vivido na insouciance e na busca do prazer fácil e rápido (que se transformou rapidamente no horror da Primeira Guerra Mundial), o que talvez justifique o seu reiterado apelo ao rememorar: “As cidades que eu vi viviam em frenesi” (13). A salientar que nesse verso o termo “cidades” é metonímia de todo um mundo mais ou menos marginal à sociedade burguesa: poetas — às vezes malditos — músicos, dançarinas, intelectuais e rufiões. Todos dividindo o seu destino em um balcão de bar, em torno de um copo de Pastis ou Absinto (embora no poema La chanson du mal aimé, da mesma coletânea, o autor faça igualmente, menção ao Gin, o que é reconheçamo-lo, um pouco exótico para um bar parisiense).

Acima havíamos rapidamente aludido ao caráter de se rememorar algum lugar, ou alguma pessoa: “Eu me lembro, eu me lembro ainda”. Neste poema a lembrança vem como uma espécie de lamento. A mulher que não o ama mais, os lugares que, de tão modificados, já não existem mais. “Lembra-se das periferias e do rebanho melancólico das paisagens”. O eu lírico evoca, como de hábito, a perda, o irreparável, e quando vai se referir às paisagens, evoca o mais “melancólico” entre estes, os subúrbios. Mas por que este território seria melancólico, ou melhor, percebido como tal? Vimos que o eu lírico escreveu sobre as cidades, que deslizavam penosamente em direção aos campos, e depois a espaços que eram residuais e nos quais a desordem do sistema capitalista exibia sem pudor a sua face: ruas sem pavimentação, fábricas ao lado de residências operárias, sem nenhum tipo de ordenamento territorial. Mas, ainda assim, por conta de uma nostalgia que não havia ainda desaparecido complemente, o eu lírico logra fazer o seguinte lamento: “Lembra-se das periferias”. Contudo, mesmo face a esta realidade, retorna-se ao idílio do campo no qual as paisagens não são senão rebanhos avistados ao longe (14).

“Então quem você reconhece nestas amareladas fotografias” (15). Como já havia procedido anteriormente neste mesmo poema, o eu lírico metamorfoseia-se em “você” (ou tu em francês). Neste verso, a questão lírica vai das paisagens, do campo e das cidades para as pessoas. Ora, se os espaços vividos e significados como lugares serão transformados e esquecidos (na fronteira da Bélgica com a França devido à ferocidade da guerra) e no processo do próprio esquecimento sublimados e substituídos — as pessoas, igualmente, serão esquecidas, após um necessário período de luto. Aquele que parte tem a plena consciência que deixa atrás de si vagos espectros de lugares e de pessoas: “Então sem ruído sem que se pudesse ver nada vivo/ Contra o monte projetaram-se sombras perenes/ De perfil ou repetidamente revelando as suas faces vazias” (16). No final, o eu lírico não encontrou senão sombras imortais (lembremo-nos, a este propósito, do Hades) de faces vazias.

Últimas considerações

Em um movimento cíclico o poema termina como se iniciou: “Abra-me esta porta diante da qual eu pranteio/ A vida é incerta como uma corrente marítima”. O que poderia nos indicar que, desde esta ótica, a viagem é uma decepção e a fuga para o ailleurs uma fantasia. Ora, o que teria restado da aventura de Gauguin nos Trópicos? Ou mesmo da de Rimbaud? Uma pintura e uma literatura revolucionárias, responderiam... Sim, certamente, mas alguns fizeram o mesmo sem ter precisado se afastar muito de Paris. Assim, como a vida é “variável”, isto é, incerta e cambiante, é bastante possível que o eu lírico tenha encontrado nestes novos lugares tênues prazeres e dores semelhantes àquelas que já provava cotidianamente, como um pão amargo que está à mesa todos os dias.

Voltemos, então, ao objetivo posto no capítulo introdutório deste artigo: as narrativas das viagens são ainda possíveis no século 20, só o que havia se tornado rigorosamente impossível foi ignorar a miséria humana, os homens transformados em bestas e as aprazíveis e bucólicas paisagens redesenhadas pelos obuses. Ou como enunciou o eu lírico de outro poema da mesma coletânea, Les colchiques: “O prado é venenoso, mas belo no Outono/ As vacas ali pastando/ lentamente se envenenam” (17). Não se poderia dizer, então, que o que esconde o veneno e a morte — sempre presentes no mundo e na vida — não seria justamente a beleza que é alcançada apenas na superfície dos lugares e das pessoas?

notas

1
Um livro que já pode ser considerado um clássico sobre o tema é: CORBAIN, Alain. O território do vazio: a praia e o imaginário ocidental. São Paulo, Companhia das letras, 1989. Outros dois livros que recomendamos são: ENGBERG-PEDERSONE, Anders (org.). Literature and cartography: theories, Histories, gendres. Londres, The MIT Press, 2017 e MOUSSA, Sarga; VENYRE, Sylnayre (org.) Le Voyage et la mémoire au XIX. Siècle. Paris, Creaphis, 2011.

2
No original lê-se: “La vie est variable aussi bien que l’Euripe/ Tu regardais un banc de nuages descendre/ Avec le paquebot orphelin vers les fièvres futures/ Et de tous ces regrets de tous ces repentirs/ Te souviens-tu”. APOLLINAIRE, Guillaume. Le voyageur. In Alcools. Paris, Fernand Nathan, 1993, p. 62. Tradução do autor.

3
A guerra despertou sentimentos ambíguos em Apollinaire, sobretudo porque ele não era francês de nascimento. “A guerra fez o poeta vibrar em harmonia com a melodia secreta da terra e do murmúrio das florestas. Isso despertou o seu senso de comunhão com a poeira e o sol, as estações e as tempestades, a forma e a cor das coisas. Isso causou florescer novamente em sua memória os lírios e jasmins da sua infância. Quão preciosas poderiam ser as horas de ócio, convidando, então, ao devaneio e a sonhar com um amor que nunca existiu. A canoa tornou-se um palácio encantado afundado no solo, uma trovoada escondida sob a terra”. No original lê-se: “The war made the poet thrill in harmony with the secret melody of the earth and the murmur of the forests. It reawakened his sense of communion with the dust and the sun, the seasons and the cloudbursts, the shape and the color of things. It caused to blossom again in his memory the lilies and jasmines of his tender years. How precious could the hours of leisure be then, inviting to revery and to dreaming of love that was never to be. The dugout became an enchanted palace sunk in the ground”. RHODES, S. A., Guillaume. Apollinaire. The French Review, v. 11, n. 3, fev. 1938, p. 202. Tradução do autor.

4
“Apollinaire reinterpreta os temas do lirismo tradicional (a vida, a angústia as mortes, o tempo que passa, a beleza da natureza que se renova no ritmo das estações, a fragilidade do amor, a tristeza sofrida quando se deixa uma pessoa, um lugar), ele superpõe imagens pertencendo a contextos culturais diferentes, sob uma forma poética renovada. O poeta explora imagens românticas, simbolistas, em proveito de uma nova poética que prefigura o surrealismo. O poeta libera a sua poesia das amarras dos cânones da poesia clássica; a mimeses e a catarse da poesia antiga são substituídas por finalidades criativas. O artista cria uma nova realidade poética a partir das realidades míticas pessoais, subjetivas, ele transmite uma mensagem própria, criando um universo subjetivo, próprio ao poeta, fruto da imaginação e dos devaneios do autor”. No original lê-se: “Apollinaire réinterprète les thèmes du lyrisme traditionnel (la vie, l’angoisse de la mort, le temps qui passe, la beauté de la nature qui se renouvelle au rythme des saisons, la fragilité de l’amour, la tristesse éprouvée lorsqu’on quitte une personne, un lieu), il superpose des images appartenant aux contextes culturels différents, sous une forme poétique renouvelée. Le poète exploite des images romantiques, symboliques, au profit d’une nouvelle poésie qui préfigure le surréalisme. Le poète libère sa poésie des contraintes et des canons de la poésie classique ; la mimèsis et la catharsis de la poétique antique sont remplacées par des finalités créatrices. L’artiste crée une nouvelle réalité poétique, différente de la réalité immédiate, il invente une réalité poétique à partir des réalités mythiques personnelles, subjectives, il transmet un message propre, créant un univers subjectif, propre au poète, fruit de l’imagination et de la rêverie de l’auteur”. NEMEŞ, Alina Lucia. L’élémentaire dans la poétique d’Apollinaire. Tese de doutorado. Cluj Napoca, Facultatea de Litere Cluj Napoca de Universitatea Babeş Bolyai, 2003. Tradução do autor.

5
No original lê-se: “Ouvrez-moi cette porte où je frappe en pleurant”. APOLLINAIRE, Guillaume. Le voyageur (op. cit.), p. 62. Tradução do autor.

6
No original lê-se: Faut-il partir? rester? Si tu peux rester, reste;/ Pars, s'il le faut. L'un court, et l'autre se tapit/ Pour tromper l'ennemi vigilant et funeste/ Le Temps! Il est, hélas! des coureurs sans répit”. BAUDELAIRE, Charles. Le Voyage. In Les fleurs du mal. Paris, Librairie Générale Française, 1972, p. 176. Tradução do autor.

7
No original lê-se: “Je m’en souviens je m’en souviens encore”. APOLLINAIRE, Guillaume. Le voyageur (op. cit.), p. 63. Tradução do autor.

8
No original lê-se: “Et toi tu m’avais oublié”. Idem, ibidem, p. 63. Tradução do autor.

9
No original lê-se: “Ô matelots ô femmes sombres et vous mes compagnons/ Souvenez-vous-en”. Idem, ibidem, p. 62. Tradução do autor.

10
Apollinaire, na mesma coletânea, tem um poema de título Marizibill sobre a condição destas mulheres. Cito, aqui, alguns excertos: “Elle se mettait sur la paille/ Pour un maquereau roux et rose/ C'était un juif il sentait l'ail/ Et l'avait venant de Formose /Tirée d'un bordel de Changaï”. No original lê-se: “Ela se prostituía por um cafetão ruivo e rosa/ Era um judeu que cheirava à alho/Ele a teve vindo de Formosa Tirada de um bordel de Shangai”. Idem, ibidem, p. 60. Tradução do autor.

11
No original lê-se: “Sonneries électriques des gares chant des moissonneuses/ Traîneau d’un boucher régiment des rues sans nombre/ Cavalerie des ponts nuits livides de l’alcool/ Les villes que j’ai vues vivaient comme des folles”. Idem, ibidem, p. 63. Tradução do autor.

12
Entre as múltiplas e numerosas definições de Moderno e de Modernismo escolhemos esta, justamente pelo seu caráter de “pioneirismo”: “A característica específica das épocas chamadas modernas é a sua libertação intelectual. Diz-se que uma nação está impregnada do espírito moderno quando a busca por tal libertação é empreendida com máximo zelo e encerrada com a maior perfeição. Essa perfeição é, marcadamente, queiramos ou não, o requisito do presente que vivemos. Nossa época avalia suas investigações intelectuais de acordo com o potencial que elas têm de satisfazer esse requisito; ela questiona, sobretudo, até que ponto todas as áreas do conhecimento podem contribuir para essa libertação”. Este texto foi publicado pela primeira vez em1869. ARNOLD, Matthew. Sobre o moderno na literatura. In Chiampi, Irlemar (org.). Fundadores da Modernidade. Rio de Janeiro, Ática, 1991, p. 83-84.

13
No original lê-se: “Les villes que j’ai vues vivaient comme des folles”. APOLLINAIRE, Guillaume. Le voyageur (op. cit.), p. 63. Tradução do autor.

14
“Paradoxalmente, muitos dos grandes poetas modernistas criaram a sua poesia a partir de uma situação marginal, em que suas sensibilidades, alimentadas pelas formas e símbolos ainda críveis de uma ordem em desaparecimento, haviam entrado em um impetuoso conflito com as instituições hostis da cidade industrial em surgimento. Vê-se esse conflito em The wast land, no qual a sensibilidade com um perfil de Nova Inglaterra de Eliot expressa o seu afastamento da cidade moderna de massas, mas ali procura lugares que, por ainda manterem contato com as instituições mais autênticas do passado permitem envolver a cidade a ser rompida. Esse conflito está na poesia urbana de Baudelaire, na qual um temperamento romântico tenta construir refúgios contra os horrores da Paris Moderna”. SHEPPARD, Richard. Crise da linguagem. In BRADBURY, M; McFarlanne, J. (org.). Modernismo: guia geral. São Paulo, Companhia das letras, 1999, p. 269.

15
No original lê-se: Qui donc reconnais-tu sur ces vieilles photographies”. APOLLINAIRE, Guillaume. Le voyageur (op. cit.), p. 63. Tradução do autor.

16
No original lê-se: “Alors sans bruit sans qu’on pût voir rien de vivant/Contre le mont passèrent des ombres vivaces/ De profil ou soudain tournant leurs vagues faces”. BRADBURY, M; McFarlanne, J. (org.). Modernismo: guia geral. São Paulo, Companhia das letras, 1999; APOLLINAIRE, Guillaume. Le voyageur (op. cit.), p. 63. Tradução do autor.

17
No original lê-se: “Le pré est vénéneux mais joli em automne/ Les vaches y paissant/ Lentement s’empoisonnent”. APOLLINAIRE, Guillaume. Le voyageur (op. cit.), p. 57. Tradução do autor.

sobre o autor

Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima é arquiteto e urbanista, mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Espírito Santo e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Autor do livro Arquitessitura; três ensaios transitando entre a filosofia, a literatura e arquitetura. Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Maringá.

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