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research

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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Apresenta-se metodologia de um projeto de extensão desenvolvido pelo PET — FAU PUC Campinas, em colaboração com a Demacamp e o Instituto Elos para apoio ao Residencial Minha Casa Minha Vida, Sírius, Campinas, como articulação academia-comunidade.

english
The methodology of an extension project developed by PET — FAU PUC Campinas is presented, in collaboration with Demacamp and the Elos Institute to support Residential Minha Casa Minha Vida, Sirius, Campinas, as an academy-community articulation.

español
Se presenta la metodología de un proyecto de extensión desarrollado por PET — FAU PUC Campinas, en colaboración con Demacamp y el Instituto Elos para apoyar a Residencial Minha Casa Minha Vida, Sírius, Campinas, como articulación academia-comunidad.


how to quote

MAIA COSTA, Luiz Augusto; LIMA RIBEIRO, Cláudia Maria; LUZ, Vera Santana. Metodologia de aproximação em extensão universitária como proposta de articulação acadêmico-comunitária. O caso do Residencial Sírius, Campinas. Arquitextos, São Paulo, ano 22, n. 264.02, Vitruvius, maio 2022 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/22.264/8476>.

Aproximação como método

O presente artigo apresenta a metodologia de extensão desenvolvida pelo Programa de Educação Tutorial — PET, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade de Campinas — FAU PUC Campinas, sob tutoria do professor doutor Luiz Augusto Maia Costa, consultoria da professora mestre Cláudia Maria Lima Ribeiro e da professora doutora Vera Santana Luz, em colaboração com a Demacamp e o Instituto Elos, a partir de convênio estabelecido para apoio ao Residencial Minha Casa Minha Vida Sírius (1), situado em um tecido periférico no município de Campinas. O bairro implantado em programa institucional não recebeu planejamento para zona comercial que, por consequência, derivou para a ocupação de um vazio urbano sobre o leito futuro de ampliação da principal avenida de acesso, por demanda da população local. O objetivo da extensão acadêmica é a realização de estudos de adequação para reimplantação desse contingente mediante acordo pré-firmado com a municipalidade. Este artigo apresenta a metodologia de investigação e levantamentos, para compreensão da situação existente como etapa necessária para futuros ensaios a serem realizados mediante participação comunitária. Para tal, foram estabelecidos parâmetros para o entendimento das condicionantes, compreendendo a legislação pertinente (2), leitura territorial e estudo de campo a partir de levantamento planialtimétrico disponibilizado, entendendo que a situação real, mesmo que precária, tenha potencialmente indicações importantes sobre as necessidades, hábitos e embriões espaciais de validade como condicionantes para proposições, incluindo as carências detectadas. Busca-se apresentar os processos atinentes desta etapa considerando sua validade para situações análogas, pressupondo que o conhecimento técnico e especializado possa ser articulado aos saberes locais na busca de ações de articulação academia-comunidade, como formação dos alunos, mediante as responsabilidades socioespaciais intrínsecas da arquitetura e do urbanismo.

O Programa de Educação Tutorial — PET do Ministério da Educação contempla a realização de atividades extracurriculares, que complementem a formação acadêmica, buscando atender às necessidades do próprio curso de graduação, ampliando e aprofundando objetivos e conteúdos programáticos a alunos sob orientação de um professor tutor. As atividades têm como objetivo garantir aos alunos oportunidades de vivenciar experiências não presentes em estruturas curriculares convencionais, visando sua formação global, em atividades a partir da tríade Ensino, Pesquisa e Extensão. Criado em 1992, o PET Arquitetura e Urbanismo da PUC Campinas, constituído por alunos de todos os anos da graduação, bolsistas ou voluntários, busca desenvolver projetos como experiências enriquecedoras, tanto aos integrantes do grupo quanto para a comunidade acadêmica e/ou externa, no sentido da abordagem crítica e reflexiva das temáticas relativas aos territórios com a possibilidade de estreitamento das relações com as comunidades.

No estudo de caso ora apresentado, a parceria se deu com a Demacamp, que atua em políticas públicas desde 1999, desenvolvendo trabalhos nas áreas de habitação e urbanismo e meio ambiente, com foco étnico-cultural, cuja equipe multidisciplinar e colaboradores se compõe por arquitetos, antropólogos, economistas, geógrafos e historiadores, em colaboração com o Instituto Elos, a partir de sua experiência em formação e mobilização comunitária.

O real como escola

O Residencial Sírius é um grande conjunto habitacional de interesse social localizado no distrito do Campo Grande, região sudoeste do município de Campinas, São Paulo, compreendido na Macrozona de Estruturação Urbana (3), em região integralmente situada dentro do perímetro urbano, com áreas consolidadas e outras em consolidação, porém com características típicas de periferização espraiada. Neste macrozoneamento é previsto: a valorização e ampliação das áreas públicas, promover a ocupação das áreas vagas e a qualificação das áreas vulneráveis sob os aspectos socioeconômico, urbanístico ou ambiental, buscando incentivar o uso misto, fomentar centralidades atreladas às estruturas de transporte coletivo, com possibilidade de uso e ocupação do solo mais intensos. As propostas visam intervenções na estrutura viária e de transporte para correção dos problemas de descontinuidade entre bairros, o que corrobora com o fato de que a implantação de um empreendimento habitacional afastado de outros bairros e fora da malha de estruturação urbana pode acarretar uma série de problemas para as pessoas que ali moram (4). O entorno imediato do Residencial Sírius é caracterizado por usos predominantemente residenciais de baixa a média densidade populacional, apresenta equipamentos públicos insuficientes para o atendimento da população. A fábrica da Pirelli está instalada com certa proximidade, o que influencia a dinâmica da região sudoeste, dado que esta é uma zona de interesse estratégico para desenvolvimento de atividades econômicas industriais. A avenida John Boyd Dunlop em seu trecho final, se constitui como um eixo comercial e de serviços de caráter regional, como um elemento estruturador fundamental a de ligação do Residencial Sirius com o centro da cidade de Campinas e com outros bairros próximos.

A proximidade do Residencial com a linha férrea Fepasa Paulínia-Mairinque — trecho do principal corredor ferroviário ativo de exportação do agronegócio no Estado paulista, que conecta as regiões de Campinas a Santos — e com o Rio Capivari, causa impactos para a acessibilidade e deslocamento dos moradores constituindo-se, em certa medida, como barreiras urbanas que impedem a conexão com os bairros vizinhos. A linha férrea separa o conjunto e um bairro lindeiro, o Residencial Cosmos, do bairro Jardim Florence; o Rio Capivari, por sua vez, divide toda região do Campo Grande da região do Ouro Verde.

O Sírius foi implantado numa área que possui características ambientais importantes. Sua localização dá próxima ao Corredor Ecológico Capivari-Jatobás, que tem 8 km de extensão, iniciando na região do Campo Grande, no parque natural dos Jatobás — uma unidade de conservação remanescente de Cerrado, às margens do Rio Capivari —, e segue ao longo do Rio Capivari até a divisa com o município de Monte Mor. A implantação do Sirius se dá próxima a nascentes e áreas de preservação permanente, que hoje se encontram em estado de degradação ambiental parcial ou completa, embora se encontrem reminiscências da vegetação natural do cerrado e fragmentos de campos de várzea do Rio Capivari e da floresta mista córrego Capivari. Há propostas de parques lineares (5) com prioridades de implantação e preservação, sendo eles o parque linear Córrego Satélite Íris, prioridade alta; o parque linear do Rio Capivari/ Trecho 1, prioridade alta; o parque linear do Rio Capivari/ Trecho 3, prioridade muito alta e o parque linear do Córrego do Piçarrão/ Trecho 8, com prioridade média, cujos objetivos residem em amenizar impactos ambientais decorrentes do processo de urbanização não planejada que vem ocorrendo na região há décadas.

No Residencial Sírius existe um total de 131 torres, com 2.620 unidades habitacionais, cuja tipologia compreende térreo mais quatro pavimentos. A localização dos terrenos de caráter público foi concentrada nos limites do bairro, sendo que as áreas de lazer preconizadas até hoje não foram implantadas, e as áreas institucionais foram localizadas nas faixas não edificáveis da linha de alta tensão que cruza o conjunto e da linha férrea. Não há lotes destinados ao comércio; os estabelecimentos comerciais de pequeno porte existentes atendem à demanda local dos moradores e das proximidades, instalados como tecido informal nas calçadas da avenida José Pacheco, de acesso principal, sendo alvo de presente trabalho. O bairro apresenta, nesse sentido, fragilidades consideráveis do ponto de vista de conexão urbana bem como de suprimento de equipamentos e espaços públicos de qualidade.

A extensão tem como objeto, portanto, estudos de adequação do setor comercial cujo público-alvo são os próprios comerciantes e usuários, a maior parte dos quais habita o Residencial Sirius. Descrevemos a seguir a etapa de aproximação ao tema em pesquisas de campo.

Inserção regional e entorno urbano do Residencial Sírius
Elaboração PET Arquitetura e Urbanismo sobre base do Google Maps

Passos trilhados a partir da situação real

Como metodologia previu-se o levantamento de campo dos aspectos físicos e humanos do conjunto de estabelecimentos comerciais existentes no local, construídos de modo informal. Como perspectiva, esta etapa de trabalho possibilitou a aproximação dos alunos e professores com a comunidade, pelo contato direto com quem utiliza o espaço.

Em área frontal ao Residencial Sírius havia um grande vazio urbano, a partir do que os próprios integrantes da comunidade ocuparam uma porção de terreno para desenvolvimento de atividades para geração de renda e atendimento próprio, como comércio local, constituindo uma faixa edificada que atualmente possui cinquenta estabelecimentos, com prioridade de três usos principais: alimentação, vestuário e serviços gerais, instalados onde está prevista a ampliação de uma avenida. Como pressuposto para sua realocação previu-se como necessário o levantamento caso a caso extraindo dados quantitativos e qualitativos, como suporte a futuras proposições em ensaios projetuais, a princípio em terreno cedido pela municipalidade, em área paralela à atual.

Implantação do conjunto comercial existente junto ao Residencial Sirius
Elaboração PET Arquitetura e Urbanismo a partir de base planialtimétrica em arquivo DWG so

Situação atual da face posterior à avenida de uma porção do conjunto comercial existente com torres do Residencial Sírius ao fundo
Acervo PET Arquitetura e Urbanismo

Situação atual da face posterior à avenida de uma porção do conjunto comercial existente com torres do Residencial Sírius ao fundo
Acervo PET Arquitetura e Urbanismo

Através de estudos iniciais e de pesquisas de campo, empreendeu-se a um levantamento dos aspectos físicos e humanos relativos aos estabelecimentos comerciais hoje existentes no local, mas que se encontram instalados de forma irregular. Estes estudos subsidiarão propostas para unidades comerciais regulares e com qualidade construtiva e espacial para os moradores, a ser construída de forma participativa, em uma segunda etapa de trabalho. O público-alvo e os próprios comerciantes são moradores do residencial Sírius. As construções comerciais existentes encontram-se localizadas onde oficialmente é preconizada a ampliação do leito carroçável da avenida José Pacheco. O estudo conta com o levantamento das unidades comerciais existentes para que as informações possam constituir apoio para a realocação dos mesmos na faixa de solo regularizada para este fim.

Mediante reuniões envolvendo o PET Arquitetura e Urbanismo, seu tutor, as coorientadoras e as demais parcerias foram cotejadas informações preliminares referentes ao estudo e debatidos ações e procedimentos para o atendimento da demanda. Os estudos iniciais e levantamentos tiveram como ponto de partida o material disponibilizado pela Demacamp e Instituto Elos com respeito a levantamento planialtimétrico, análises urbanas e de caráter socioeconômico. Diversas reuniões foram realizadas envolvendo os participantes e a comunidade, variando sua localização na própria sala do PET, na Universidade, bem como no residencial Sírius, estabelecidas como processo contínuo a ser realizado em todas as fases subsequentes. Para o desenvolvimento da extensão ficou estabelecido que a metodologia, tanto para levantamentos como para ensaios projetuais, deveria seguir a estabelecida pela Disciplina de Desenho de Objeto B (6), que visa o desenvolvimento de projetos de sistema de equipamentos de mobiliário urbano para qualificação de espaços públicos, pela sua concepção sintetizando os aspectos formais, funcionais, construtivos e contextuais, do estudo preliminar ao detalhamento.

Para os levantamentos e identificação as etapas do trabalho deveriam, portanto, abranger: a. levantamento de aspectos geomorfológicos — topografia e sistema hídrico; b. vegetação; c. sistemas de transporte: rodoviário, ferroviário, viário, aeroviário, cicloviário; d. tecido urbano; e. interfaces rurais e ambientais; f. uso e ocupação do solo, parâmetros urbanísticos; g. histórico; h. população: características demográficas, de gênero, faixa etária, origem, escolaridade, profissões, habilidades, hábitos, memórias, vulnerabilidades, potencialidades, formas de organização, lideranças; i. legislação urbana, ambiental e normas técnicas pertinentes; j. entorno imediato; área de influência direta; área de influência indireta; inserção regional; unidades de paisagem; k. demandas; l. diagnóstico/ prognóstico/ diretrizes; m. temas de intervenção; n. perímetro de intervenção. Para o desenvolvimento de propostas e ensaios projetuais previu-se etapas análogas à disciplina mencionada, em sucessão articulada de subtemas metodológicos parciais sucessivos e entrecruzados, no decorrer da concepção, considerando a definição de forma como a síntese fundamental dos diversos aspectos relacionando, portanto: a. forma — contexto; b. forma — função/ ergonomia; c. forma — constructo/ estrutura; d. forma — produção; e. forma — ambiente; f. forma — contexto — função/ergonomia — constructo/estrutura — produção –ambiente; g. forma — componentes; h. forma — articulação mestra; i. forma — articulações secundárias. Prevê-se, ao final da atividade de extensão a elaboração de um memorial circunstanciado, explicitando os processos realizados, seus objetivos, conteúdos, métodos e resultados alcançados visando sua divulgação acadêmica como modelo de trabalho e sua disponibilização com respeito às associações conveniadas — Instituto Elos–Brasil e Demacamp, disponibilização para a comunidade envolvida e demais órgãos estatais e privados, conforme conveniência estabelecida em comum acordo entre os participantes e o PET Arquitetura e Urbanismo da FAU PUC Campinas. Como pressuposto, todas as ações deverão ser compartilhadas com a comunidade envolvida. O texto aqui apresentado é uma introdução ao processo que segue em curso. Como postura ética preconizou-se que trabalhos que impliquem em Responsabilidade Técnica serão devidamente objeto de RRT junto no Conselho de Arquitetura e Urbanismo — CAU, mediante à(s) autoria(s) dos arquitetos urbanistas responsáveis conforme estabelecido na Lei Federal 12.378/2010 e que será observado o Código de Ética Profissional do CAU BR.

A metodologia de levantamentos se estabeleceu pela realização de visitas de campo orientadas, para que os responsáveis pela frente de trabalho tomassem contato com a área de estudo e estabelecessem laços com a comunidade, para a devida compreensão para a elaboração dos conteúdos. O método pressupôs as seguintes etapas: a. registro comentado da situação existente conforme características morfológicas, tipologias funcionais e os recursos disponibilizados; b. realizar levantamento físico e humano relativo aos estabelecimentos comerciais existentes, considerando os materiais empregados na construção, o uso destinado a cada unidade, sua logística e funcionamento; c. localizar com precisão a área e o perímetro de implantação atual e futuro, segundo a topografia, os fluxos de carga e pessoas, a orientação solar e o entorno; d. realizar levantamentos complementares, especialmente relativos à legislação urbana e edilícia e identificação local e regional; e. investigar projetos nacionais e internacionais que possam se constituir como referências, por suas características de analogia. Como desdobramento estes levantamentos preveem a subsequente definição do programa e dimensionamento para o estudo de viabilidade a ser proposto para a área, em comunhão com a comunidade, a partir da apresentação do levantamento finalizado; e a realização de ensaios projetuais com respeito a tipologias, organização programática, construtiva e estrutural, morfológica e espacial, em colaboração com metodologia ativa junto à comunidade envolvida.

Primeiro observar, apreender e aprender

Foram efetuadas oito visitas para a realização de levantamento físico e humano dos estabelecimentos comerciais existentes junto ao Residencial Sirius. A primeira teve o objetivo de reconhecimento geral do local; a seguinte, o acompanhamento de um evento comunitário comemorativo da inauguração da quadra esportiva e dos equipamentos de lazer, e as demais para levantamento dos estabelecimentos comerciais. Descrevemos a sequência das visitas, como segue:

Visita 1 (15 abr. 2019): realizada pelos alunos e tutor do PET Arquitetura e Urbanismo, Luiz Augusto Maia Costa e as professoras colaboradoras Cláudia Ribeiro, Vera Santana Luz, bem como integrantes da Demacamp — arquiteta Eleusina Lavor Holanda de Freitas, arquiteto Marco Aurélio de Arruda Barros e arquiteto Rodrigo de Azevedo para contato de reconhecimento, mediante participação ativa do Sr. Reginaldo Santos Nunes — representante da Associação dos Comerciantes do Sírius, no sentido de uma maior aproximação com a realidade local, envolvendo os moradores e as unidades comerciais. Nesta visita fez-se o primeiro contato com o bairro, observando as relações espaciais urbanas existentes e uma reunião na sede da Associação, para estabelecer diretrizes e limites físicos compreendidos na etapa de levantamento.

Visita 2 (4 mai. 2019): alunos do grupo PET foram se confraternizar com a comunidade do Residencial Sírius, comparecendo ao evento de inauguração do campo de futebol e equipamentos de lazer instalados no bairro. O evento durou o dia todo, com diversas atividades organizadas pelos próprios moradores, como brincadeiras para as crianças, uma banda musical e uma feira onde eram vendidos seus produtos. O evento foi uma ótima oportunidade para o grupo estabelecer um maior contato com os moradores e se aproximar um pouco da vida dessas pessoas e suas dinâmicas.

Visitas 3, 4, 5, 6 e 7 (24 mai. 2019, 18 jun. 2019 — manhã e tarde — e 26 jun. 2019): alunos do grupo PET realizaram levantamentos das unidades comerciais, mediante medições, entrevistas e coleta de imagens fotográficas. Os integrantes se dividiram em duplas e, a partir das fichas pré-montadas, foi realizado levantamento físico e humano dos estabelecimentos comerciais e seus responsáveis. Todas as visitas foram acompanhadas pelo representante da associação, Sr. Reginaldo Santos Nunes, como intermediário no contato do grupo PET com os responsáveis por cada unidade.

Visita 8 (26 set. 2019): nessa última visita, os alunos do grupo PET realizaram levantamento de alguns estabelecimentos comerciais que estavam fechados em outras visitas e coletaram informações mais detalhadas sobre a área e as unidades já levantadas. Uma planilha idealizada antes da visita foi entregue ao representante Sr. Reginaldo Santos Nunes, para informar quais unidades comerciais ainda não haviam sido levantadas e a razão associada a cada caso. Mesmo com essa visita, alguns comércios permaneciam fechados, dificultando a coleta de dados. Notou-se que alguns estabelecimentos haviam alterado suas dinâmicas, passando por reformas físicas e de usos, sendo necessária uma nova medição e análise para esses casos.

Visita 9 (04 nov. 2019) e visita 10 (06 nov. 2019): Após o estudo dos dados levantados, o grupo notou que em algumas fichas havia informações faltantes. Duas últimas visitas in loco se realizaram para a finalização dos levantamentos. Entretanto, alguns estabelecimentos se mantiveram fechados em todas as visitas, motivo pelo qual seu levantamento não foi realizado. No mesmo período, algumas bancas locais estavam em obras, impedindo seu completo levantamento.

Todos os conteúdos e levantamentos realizados em visita foram organizados em fichas detalhadas contendo as informações necessárias para compreensão e análise dos estabelecimentos comerciais, tais como: descrição física, dados de infraestrutura, construção e quantitativos; descrição das rotinas dos comércios a partir de entrevistas; e observações finais gerais. A partir deste compilado de informações, foi possível gerar uma análise percentual de diferentes dinâmicas de uso presentes.

Fichas de levantamento: primeiro produto como um retrato falado

Buscou-se organizar as fichas de levantamento para a fácil compreensão por leigos, como primeiro produto a ser apresentado à comunidade do Residencial Sírius envolvida com o conjunto comercial. Considerou-se importante a identificação dos interessados com estes primeiros resultados, para o que a folha de rosto foi paginada contendo a implantação da banca na rua, a planta com medidas básicas e um corte esquemático apresentando os principais elementos construtivos. Segue com uma descrição a partir da entrevista com os responsáveis e uma planilha descritiva do mobiliário existente e uma planta com sua disposição, observações finais, o nome do proprietário, o número cadastrado, a data do levantamento e o seu realizador.

Exemplo de Ficha de Levantamento: Mercadinho do Matheus
Elaboração PET Arquitetura e Urbanismo

Exemplo de Ficha de Levantamento: Mercadinho do Matheus
Elaboração PET Arquitetura e Urbanismo

Exemplo de Ficha de Levantamento: Papelaria
Elaboração PET Arquitetura e Urbanismo

Exemplo de Ficha de Levantamento: Papelaria
Elaboração PET Arquitetura e Urbanismo

Como resultado, percebeu-se que os comércios locais existentes no Residencial Sírius se dividem em: serviços gerais (representando 13% do total); vestuário (representando 11% do total); estética pessoal (representando 20% do total); alimentação (representando 56% do total). Como serviços gerais foram classificados os relativos fins como conserto de panelas e utensílios, assistência técnica para celulares e eletrônicos entre outros. Em vestuários estão contemplados os estabelecimentos que trabalham com vestimentas e moda; estética pessoal, abrangem os estabelecimentos que trabalham com cuidado de cabelos, barba e equivalentes, como salões de beleza e barbearias. A categoria alimentação, que contempla mais da metade das unidades existentes, foi subdividida para classificar os diferentes segmentos vinculados a alimentação, da seguinte maneira: mercearia (representando 20% do total da alimentação); padaria (representando 12% do total da alimentação); bar (representando 20% do total da alimentação); e lanchonete (representando 48% do total da alimentação). Com respeito aos turnos de funcionamento, majoritariamente são referentes ao período matutino, buscando atender o maior fluxo de pessoas durante o dia, em geral correspondentes ao próprio residencial Sirius e seu entorno, podendo abranger unidades habitacionais vizinhas. Alguns estabelecimentos funcionam apenas à noite, como bares e outros em todos os períodos — manhã, tarde e noite —, relacionados principalmente à venda de alimentos, buscando atender à demanda de cada período. Quanto ao arranjo espacial, cada estabelecimento possui dimensões diferentes, mesmo que haja uma certa racionalidade espacial em comum. Há uma certa organização modular embrionária, onde alguns se valem da ocupação de dois módulos, conectados, seja para maior amplitude para disposição dos equipamentos necessários para realizar a atividade, seja para recepção dos clientes. Quase 70% dos equipamentos se dispõem em um módulo espacial, 18% dos comércios ficam em módulos compartilhados para dois comércios e 13% ocupam dois módulos. A maioria das unidades comerciais são de caráter simples, único, majoritariamente pequenas para o uso que exercem. Quanto ao acesso a infraestruturas como água, energia e gás. Todos são servidos de energia e a maioria conta com suprimento de água — 70%, com ao menos pias de cozinha ou banheiro e nenhum possuem acesso a gás encanado, 44% utilizando botijões.

Gráficos de usos, turnos de funcionamento, acesso a infraestrutura e dimensões do comercial Sírius
Elaboração PET Arquitetura e Urbanismo

Primeiras conclusões

O Caderno de Levantamentos apresentado como o resultado de um processo de estudo acadêmico integrado, contou com diversos agentes e participantes para sua composição final. Em seu desenvolvimento foram realizados estudos gerais sobre a área e equipamentos edificados, suas respectivas tipologias e características morfológicas, levando em consideração topografia, fluxos, entorno e aspectos físicos e humanos relativo aos estabelecimentos. O PET Arquitetura e Urbanismo da PUC Campinas, seu tutor, professor Luiz Augusto Maia Costa, juntamente com a Demacamp, o Instituto Elos, as docentes convidadas, Cláudia Maria Lima Ribeiro e Vera Santana Luz, estiveram trabalhando em colaboração com a Associação dos Comerciantes do Residencial Sírius para que o levantamento pudesse ser realizado como primeiro produto de aproximação. Para uma melhor compreensão e análise do território, as visitas de campo foram realizadas com o acompanhamento dos líderes locais da Associação de Comerciantes, resultando em um compilado de informações técnicas e pessoais das unidades comerciais hoje existentes. No total, foram realizadas dez visitas em campo, sendo uma delas de reconhecimento do local a ser estudado, uma de aproximação com a comunidade, por ocasião da inauguração de espaços de lazer no bairro, e outras oito visitas de trabalho em campo, referentes aos levantamentos de cada estabelecimento comercial, sendo que as duas últimas visitas foram realizadas com o propósito de completar levantamentos anteriores. A compilação de dados deste primeiro produto deverá servir como primeiro arcabouço para a continuidade do trabalho de extensão, cujo objetivo subsequente é a realização, em processo participativo, de ensaios projetuais onde acredita-se possível a convergência de saberes empíricos eruditos, para o encaminhamento de soluções racionalizadas e convenientes às necessidades, hábitos, desembolsos financeiros e formação de pactos interinstitucionais para a realização de tipologias para apropriação e uso relacionado a comércio local no Residencial Sírius. As lógicas já percebidas, as improvisações e alterações de alguns estabelecimentos bem como os aspectos gerais da situação existente são indicadores poderosos de que, para uma possível contribuição acadêmica, deve se ter em pauta a conjugação destes saberes e dinâmicas aos envolvidos na prática profissional, para o que o PET Arquitetura e Urbanismo tem como preceito a formação engajada de seus membros.

O trabalho em curso tem possibilitado a aproximação dos alunos com a comunidade, uma vez que, para a elaboração dos primeiros estudos, houve direto com quem oferece e utiliza o espaço que está sendo diagnosticado. Entende-se que o exercício subsequente, vinculado à futura prática projetual no campo da Arquitetura e Urbanismo e do desenho urbano, com base no Projeto Pedagógico do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Campinas, deva se pautar por condução semelhante e intensificada. Foi possível ampliar a compreensão, por parte dos envolvidos na atividade, das múltiplas dimensões da presente Extensão no âmbito urbano, projetual, social, econômico, ambiental, dentre outros, potencializando a reflexão crítica sobre os problemas do município referentes ao planejamento e desenho urbano sustentáveis, além de estabelecer e desenvolver métodos de pesquisa, como suporte para ensaios projetuais e atuação no território.

O conteúdo do Caderno visou apresentar à Associação dos Comerciantes do Residencial Sírius e aos moradores, um compilado técnico — programático, construtivo, espacial, morfológico — e humano, como leitura das unidades para comércios ali existentes, onde é possível encontrar características físico-construtivas, a atual condição, formas de uso e características espaciais, contendo observações que visam apresentar aspectos passíveis de aprimoramento, além de relatos pessoais dos agentes diretos. O contato com diferentes agentes e instituições envolvidas na atividade foi capaz de enriquecer o repertório dos alunos participantes, além de aproximar a academia da comunidade. Considera-se que a presente atividade de extensão tem contribuído para a formação acadêmica e humana dos alunos participantes que externam seu agradecimento aos envolvidos.

O Caderno gerado como material de estudo, tem como um de seus objetivos servir de base para a etapa subsequente em subsidiar os futuros ensaios projetuais, servindo como um importante parâmetro a ser utilizado para dar sequência ao projeto de Extensão em curso. Este artigo tem o compromisso de apresentar esse primeiro passo e pretende-se dar continuidade à divulgação do processo em canais de divulgação e debate.

notas

NA — Este artigo tem como origem o trabalho acadêmico de colaboração em extensão universitária realizado em convênio com a Demacamp, representada por Eleusina Lavor Holanda de Freitas, com colaboração de Bruno Brizotti, Marco Aurélio de Arruda Barros, Rodrigo de Azevedo, Stephanie Rubia, Taís Economides e com o Instituto Elos, representado por Thaís Polydoro. Tem como colaboradores os alunos integrantes do PET Arquitetura e Urbanismo da FAU PUC Campinas: Beatriz Machado de Sousa Engholm Cardoso; Caio Rodrigues Ramos; Carolina Xavier Pinto de Souza; Erik José da Silva; Isabelle Gonçalves de Oliveira; Isadora Andrade Queiroz; João Pedro Floriano Tofano; José Víctor Ribeiro Belarmino; Maria Antônia de Campos Lima Mondelli; Nadia Isadora Lopes e Vitória Quitério Cappello, sob tutoria e coautoria do professor doutor Luiz Augusto Maia Costa e coautoria da professora mestre Cláudia Maria Lima Ribeiro e da professora doutora Vera Santana Luz.

1
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Lei n.11.977, de 7 de julho de 2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida — PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas. Brasília, Governo Federal, 7 jul. 2009 <https://bit.ly/38F1yNb>.

2
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Lei complementar n. 208, de 20 de dezembro de 308. Dispõe sobre parcelamento, ocupação e uso do solo no município de Campinas. Campinas, Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo, 2018 <https://bit.ly/3sI6PdY>; PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Zoneamento on line. Diário Oficial, n. 11.987, ano 47, Campinas, 26 dez. 2018 <https://bit.ly/3LqqvcA>; PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Lei Complementar n. 9, de 23 de dezembro de 2003. Dispõe sobre o Código de Projetos e Execuções de Obras e Edificações do Município de Campinas. Campinas, 27 dez. 2003 <https://bit.ly/3yOT94v>.

3
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Plano Diretor Estratégico do município de Campinas. Campinas, Diário Oficial n. 11.754, ano 47, 9 jan. 2018 <https://bit.ly/3Nq65Sj>.

4
Idem, ibidem. Artigos 8º e 9º.

5
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Plano Municipal do Verde. Documento Orientador. Campinas, Secretaria Municipal do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, 2008 <https://bit.ly/3G13yMe>.

6
LUZ, Vera Santana; RIBEIRO, Claudia Maria Lima; NETO, Wilson Barbosa. Pequeno discurso sobre um método. Revista Tulha, Campinas, ed. 6, 23 out. 2019, p. 32-39 <https://bit.ly/3NoASyY>.

sobre os autores

Luiz Augusto Maia Costa é filosofo (Ucsal), arquiteto e urbanista (FAU UFBA), mestre, doutor e pós-doutor em Arquitetura e Urbanismo (FAU USP). Professor e pesquisador da FAU e do PPGAU da Puc Campinas e coordenador do Mestrado em Arquitetura e Urbanismo Interinstitucional da Univag/PUC Campinas.

Cláudia Maria Lima Ribeiro é arquiteta e urbanista (1990), especialista e mestre em Arquitetura e Urbanismo (2006) pela FAU PUC Campinas, com pesquisa sobre habitação, regularização fundiária e direito à cidade. Docente na mesma instituição, onde ministra disciplinas nas áreas de projeto e planejamento.

Vera Santana Luz é arquiteta e urbanista (FAU Mackenzie) e doutora (FAU USP). Professora da FAU e do PPGAU da PUC Campinas desde 1986, onde também é pesquisadora. Membro do Grupo de Estudos Espaço Urbano e Saúde do IEA USP.

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264.02 metodologia participativa
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264

264.00 movimento moderno

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264.01 patrimônio arquitetônico

Conservação e possibilidades de ressignificação no Centro de Vitória ES

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264.03 arquitetura escolar

Arquitetura como ferramenta educacional

A relação do ambiente com o desenvolvimento pedagógico infanto-juvenil

Eduarda Gonçalves Chaga, Julia Dallagnol D. S. Ferreira and Maria Clara e Silva Sousa

264.04 processo criativo e pedagogia

Processo criativo como prática pedagógica

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264.05 patrimônio arquitetônico

A zona urbana do município de Rio Brilhante MS e sua produção arquitetônica entre 1900 a 1960

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Transferência do Direito de Construir e patrimônio cultural edificado

Análise sobre a elegibilidade de imóveis

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