“Esse sistema não é definido apenas pelo que inclui, mas também pelo que exclui; a tônica da inclusão e exclusão são partes da mesma construção. Aquilo que é excluído, deixado de fora, não é realmente excluído, mas sim reprimido” (1).
A trajetória das mulheres no campo da arquitetura e urbanismo no Brasil ao longo do século 20 foi marcada primeiramente pela luta em busca de acesso ao ensino da profissão, em seguida, pela dificuldade de inserção no mercado de trabalho e, por fim, a última barreira que apenas deu indícios de que seria transpassada já na virada do século: a batalha contra o esquecimento e a marginalização de sua produção.
Na historiografia da arquitetura internacional, é evidente a carência de registros dos feitos e contribuições das arquitetas ao longo da história, uma vez que o padrão masculino, de classe média, branco e europeu ou norte-americano está representado nas grandes figuras do star system arquitetônico (2). Esse panorama não é novo, e autoras como Gwendolyn Wright (3) evidenciaram a dominação masculina nas áreas mais socialmente privilegiadas da arquitetura: o projeto arquitetônico e a construção. Historicamente as mulheres, em todo o mundo, tiveram que atuar em campos deixados de lado ou tratados de forma periférica pelos arquitetos homens.
Nos Estados Unidos e na Europa ao longo do século 20, as arquitetas debruçaram-se sobre a história, crítica e teoria da arquitetura, bem como sobre assuntos relacionados à casa e ao lar, pois eram o ambiente no qual tradicionalmente passavam mais tempo, além da escrita ser uma atividade aceitável para mulheres, já que era feita dentro do ambiente doméstico, privado (4).
Para driblar essa limitação de campo, diversas arquitetas atuaram de forma colaborativa com arquitetos homens, sejam eles seus cônjuges ou parceiros profissionais, e tiveram seus feitos apagados, atribuídos apenas aos seus parceiros, uma vez que, segundo Beatriz Colomina (5), diferentemente do que acontece nos créditos dos filmes, não existe na arquitetura uma discriminação detalhada de quem fez o quê. Esse foi o caso de Denise Scott Brown, deixada de lado do Prêmio Pritzker, atribuído apenas ao seu marido Robert Venturi por produções realizadas conjuntamente entre os dois (6).
Na América Latina, Ana Gabriela Godinho Lima (7)afirma que, nos séculos 19 e 20 as mulheres que tinham acesso à educação e a um curso superior — predominantemente brancas e de classe média-alta — contavam com empregados domésticos que cuidavam do lar, de forma que essas mulheres não vivenciavam o mesmo tipo de sobrecarga com afazeres domésticos que as mulheres americanas e europeias, grupo que tratou mais precocemente sobre as consequências da jornada extra de trabalho. A mesma autora, entretanto, salienta que, nesse período, as mulheres latino-americanas se preocupavam com as questões sociais e culturais.
Dessa forma, a ausência ou invisibilidade das mulheres permaneceu na historiografia da arquitetura nacional. Essa discussão começou a ganhar força nas últimas décadas com os trabalhos de autoras como Silvana Rubino (8), Ana Gabriela Godinho Lima (9)e Flávia Brito do Nascimento (10), além de iniciativas como a revista Arquitetas Invisíveis (11). Mais especificamente no caso do Nordeste brasileiro, sua cultura popular e vernacular, bem como sua realidade socioeconômica, foram determinantes na atuação profissional de diversas arquitetas, permeando tanto pesquisas acadêmicas, projetos, restauração, conservação, paisagismo, artes plásticas e também por meio de iniciativas públicas.
Em Pernambuco, as formadas na escola de arquitetura local — objeto de estudo desta pesquisa — tiveram, ao longo da década de 1960, a sua atuação majoritariamente ligada ao trabalho como pesquisadoras e acadêmicas em instituições públicas, dentre as quais destaca-se a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste — Sudene (12) ou submetidas às parcerias estabelecidas com seus cônjuges (13). Nesse contexto, o resgate à cultura popular, bem como as migrações intra-regionais, constituíram-se então estratégias de consolidação profissional, de forma que, ao explorar essas questões, as mulheres encontraram nichos sobre os quais os arquitetos, em sua maioria, não se interessavam, pois é precisamente a diversidade, a capacidade de ser central e marginal ao mesmo tempo, o que permite às mulheres expandirem o território na arquitetura (14).
Histórias semelhantes a de Robert Venturi e Denise Scott Brown no contexto local são evidenciadas por Andrea Gáti (15), a exemplo da trajetória de Myriam Cordeiro Pessôa de Melo, arquiteta e esposa de Vital Pessôa de Melo, que trabalhou em conjunto com ele desde a fundação do escritório, mas só teve a letra inicial de seu nome incorporada ao nome da sociedade após a morte do marido. Em resposta a essa situação, a partir da década de 1970 começaram a despontar no Recife grupos e escritórios de arquitetura formados unicamente por mulheres. A maioria dessas trajetórias ainda não são reconhecidas, mas essa conformação aponta para um desejo comum e atual de construir uma prática profissional mais igualitária.
Diante disso, propõe-se reescrever as linhas da arquitetura local olhando através das lentes das mulheres que a protagonizaram, contornando os efeitos da exclusão que sofreram por tantos anos através do resgate e reconhecimento do seu trabalho.
A formação das arquitetas no Recife
A Faculdade de Arquitetura da Universidade do Recife surge após movimentos separatistas na Escola de Belas Artes de Pernambuco, fundada em 1932. Incluía o curso de arquitetura, que teve reconhecimento federal apenas em 1945 (16). Na década de 1960, a instituição ainda funcionava em um prédio à parte no centro do Recife, mudando-se para o campus da Universidade Federal de Pernambuco no Centro de Artes e Comunicação — CAC apenas em 1973 (17).
Como exposto por Sonia Marques (18), por muito tempo, o curso recifense de arquitetura era um dos únicos do Norte e Nordeste do país, e o corpo discente, principalmente entre as décadas de 1930 e 1950, era formado por estudantes com origem nas camadas intermediárias da população, filhos de profissionais liberais, de funcionários públicos ou de professores do próprio curso. A autora também destaca que nas décadas de 1960 e 1970, após uma valorização da profissão, o curso de arquitetura tornou-se a quarta opção entre os mais concorridos cursos universitários, atrás apenas de medicina, direito e engenharia. Essa configuração demonstra a forte concorrência global no acesso ao ensino da profissão.
Ainda, durante os anos 1960, houve uma reforma universitária a nível nacional, atendendo às demandas das camadas médias em ascensão por mais vagas nas universidades (19), corroborando ainda mais para a inflação na quantidade de alunos no curso de arquitetura.
Não há dados que indiquem que as mulheres não eram aceitas na instituição, mas a realidade de um curso concorrido torna importante e necessário o apoio familiar para os alunos egressos, situação que não era a realidade de muitas das mulheres que, quando incentivadas a seguir uma formação acadêmica, geralmente eram estimuladas a seguir carreiras ligadas ao magistério e docência (20).
Apesar disso, na década de 1960, o curso de Arquitetura da Universidade do Recife foi responsável pela formação de arquitetas que atuaram em todo o Nordeste brasileiro, que começam a ocupar os bancos das salas de aula e findam por participar mais ativamente da vida profissional, tendo contribuído para a disseminação dos conhecimentos sobre a profissão e direcionamento profissional de suas alunas. Muitas mulheres migraram de outras cidades e estados do Nordeste como Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, em busca de formação superior, provocando uma migração intra-regional.
A despeito do sensível aumento do alunado feminino nos anos 1970, elas ainda não eram tratadas em condições de igualdade. Eram comuns episódios de discriminação de gênero no âmbito dos bancos escolares, por parte dos professores de projeto, em relação às discentes do sexo feminino.
Essas questões foram confirmadas em depoimentos de arquitetas que cursaram arquitetura no Recife em épocas distintas: Edileusa da Rocha (21), que atuou como arquiteta na Sudene, formada em 1957 (22), Norma Lacerda (23), aluna entre 1969–1973 e professora do curso de Arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco e Sônia Marques (24), aluna entre 1968–1972 e ex-professora do curso de Arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco, evidenciam a discriminação e diferença de tratamento entre alunos e alunas no curso de arquitetura. Em recente entrevista, Sônia Marques (25) ressaltou que, apesar de durante a sua formação as mulheres já ocuparem grande parte da turma, ainda não eram bem recebidas pelos professores — em sua grande maioria do sexo masculino — que, em alguns casos, até mesmo discordavam da possibilidade das mulheres exercerem a profissão. Ela relata que “o espaço escolar era um espaço que tinha muita mulher, mas na época tinha um professor modernista que apesar de muito progressista era muito misógino, achava que mulher não tinha que fazer nada lá” (26).
Além disso, quando uma aluna demonstrava aptidão e desenvoltura acima da média com seus trabalhos e atividades, suas habilidades por vezes eram atribuídas a um suposto componente masculino em sua prática, como afirmou Norma Lacerda em entrevista:
“Já vi e escutei, de professores [...], que usavam palavras absurdamente grosseiras, diziam, inclusive, ‘pode procurar que se for uma boa arquiteta, boa aluna, com bom desempenho, ela tem bigode’. [...] Mas não posso generalizar em absoluto. Tinha professores que não eram assim” (27).
Como supracitado, esse comportamento não pode ser generalizado para todo o corpo docente, mas, através dos depoimentos, pôde-se perceber que essa era uma atitude recorrente e que não era censurada. Um agravante é que não havia representatividade e presença feminina suficiente entre os docentes para coibir essas práticas discriminatórias uma vez que:
“Eram raríssimas docentes femininas no curso, a primeira professora na faculdade de arquitetura foi Gilda Pina na disciplina de paisagismo e, paradoxalmente, na disciplina de cálculo estrutural e concreto, matérias ligadas à engenharia, as professoras Clarice Mesel e Neli, respectivamente. Apenas na década de 1970 a cadeira de projeto foi ministrada pela primeira vez por uma professora” (28).
A atuação das arquitetas no Recife
Por conta da discriminação sofrida tanto no ambiente acadêmico como profissional, as mulheres arquitetas viram-se obrigadas a permear outras áreas de atuação, distantes do projeto arquitetônico e da construção, que era dominada por seus colegas homens, numa tentativa de se reafirmarem profissionalmente e conquistarem independência e estabilidade financeira. Assim, acabaram por enveredar, ou até mesmo criar, caminhos alternativos dentro da profissão.
Em depoimento, Sônia Marques afirmou que “[na época] ninguém entrava na faculdade de arquitetura para ser urbanista. Entrava para fazer projeto arquitetônico, mas quando não se tinha os meios sociais para ter recursos, ter clientes, se virava urbanista” (29), evidenciando a necessidade de se seguirem caminhos alternativos a fim de se conquistar reconhecimento profissional.
A partir de pesquisas realizadas em acervos (30), jornais locais (31), entrevistas com arquitetas e depoimentos de ex-estudantes da Escola de Belas Artes de Pernambuco/Faculdade de Arquitetura da Universidade do Recife (32), foi possível identificar situações distintas em dois períodos cronológicos: 1950–1970 e 1970–1990, ano do final do levantamento em questão:
“As arquitetas formadas entre os anos 1950–1970 traçaram suas trajetórias através de especializações e aprimoramento profissional acadêmico, ocupando cargos públicos, como na Sudene e Detran; migração parcial ou total para as artes plásticas, além de parcerias com seus maridos;
A geração de mulheres formadas a partir dos anos 1970 encontrou um ambiente mais favorável para atuar no campo de projeto e construção. Para viabilizar sua prática, utilizaram como estratégia profissional a formação de grupos e escritórios liderados por mulheres”.
As trajetórias profissionais
O campo institucional: as urbanistas, pesquisadoras e acadêmicas
Na América Latina, diversas arquitetas dedicaram-se aos estudos acadêmicos, destacando-se como urbanistas. Na região Nordeste do Brasil, deixada de lado por décadas, tanto da historiografia como do desenvolvimento econômico brasileiro, estudos sobre as cidades e suas dinâmicas e habitação social também foram um campo estrategicamente apropriado pelas arquitetas.
Muitas dessas pesquisas foram financiadas por iniciativas públicas, que tiveram como objetivo desenvolver economicamente a região Nordeste, como a Sudene, onde muitas arquitetas pesquisaram e analisaram a região, principalmente o interior, a fim de promover seu desenvolvimento através de habitações de qualidade e que atendessem às especificidades do Nordeste, como seu clima e falta de recursos.
Essas arquitetas trabalharam em diversos tipos de cargos públicos comuns no Nordeste, por conta de investimentos nos anos 1960 sobre a região a fim de promover seu desenvolvimento social e econômico, que tem como marco a criação da Sudene, fundada em 1959, com sede no Recife, visto que presenciaram um momento favorável, política e economicamente, que visava desenvolver a região. Elas atuaram principalmente com desenvolvimento urbano, tratando de problemas habitacionais, logísticos e urbanos, contribuindo para o desenvolvimento regional, à exemplo de Edileusa da Rocha, Liana Mesquita e Neide Mota, arquitetas pioneiras em Pernambuco. Em cargos públicos estaduais, principalmente, as mulheres puderam liderar equipes e ocupar postos de destaque (33).
Um notório exemplo disso é o da arquiteta Alete Ramos de Oliveira, formada em 1963, que se destaca por sua atuação no interior do Maranhão, onde teve a oportunidade de coordenar o projeto da nova cidade de Nova Iorque:
“No início dos anos 1970, na companhia de Vale do Sobradinho na Chesf, teve oportunidade de projetar a cidade Nova Iorque no Maranhão, juntamente com Cristina Jucá, Fred Holanda e Armando Holanda, entre outros grupos de sociólogos e assistentes sociais, pois a antiga cidade de Nova Iorque teve que ser destruída para a construção da Companhia Hidroelétrica da Boa Esperança — Cohebe em 1968” (34).
Além disso, existiu a tentativa por parte da equipe de utilizar a mesma estética formal da antiga cidade, respeitando sua memória e seu caráter essencialmente vernacular e nordestino, utilizando como partido uma praça central de onde irradiam quatro avenidas principais (35).
A migração intrarregional tem aqui, novamente, papel importante na consolidação profissional. Mais uma vez, a temática do Nordeste, sua cultura vernacular e técnica construtiva local são materiais para a definição da cidade, além da migração intra regional como fator determinante para a realização desse projeto urbano.
No Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco — Detran PE, arquitetas formadas pela Universidade do Recife puderam exercer cargos de liderança/diretoria e receber destaques positivos no jornal Diário de Pernambuco.
É o caso das arquitetas Idalina Maria Rosa Cisneiros, que atuou no órgão por uma década, ocupando cargos como chefe do setor de tráfego e também no departamento técnico; Zenice Carvalho Evangelista, que trabalhou durante os anos 1970 como diretora técnica e também diretora de engenharia de tráfego, além de ser citada como “mulher forte do Detran”.
Aqui, vemos mulheres ocupando cargos de liderança, chefiando equipes e diretorias. Contudo, esse tipo de liderança pouco acontece em cargos relacionados a projeto arquitetônico e construção, como será apresentado posteriormente. Ao falar sobre divisão sexual dos espaços residenciais e urbanos, Debora Fernanda Salgado Silva e Clarice Fernandes Rodrigues afirmam que:
“À mulher são dadas funções específicas que não abalem a ordem estrutural das relações sociais. O recorte do termo ‘determinismo biológico’ dá-se pela divisão sexual do trabalho estar inserida na divisão sexual da sociedade com uma evidente articulação entre trabalho de produção e reprodução” (36).
De forma semelhante, as arquitetas aparentemente ocuparam cargos de liderança onde lhes era permitido. Essas mulheres lideram, mas não numa situação onde podem conceber e criar um projeto arquitetônico.
Entre as arquitetas que construíram suas carreiras através da pesquisa acadêmica, duas pautas são recorrentes: o paisagismo e o urbanismo. As arquitetas Liana Mesquita e Norma Lacerda, são exemplos de tais profissionais. A segunda chegou ao mercado de trabalho em outro contexto e também tem vários anos como arquiteta projetista, além da trajetória como pesquisadora.
A arquiteta, urbanista e pesquisadora Liana Mesquita formou-se em 1960 e foi coautora da pesquisa pioneira Métodos construtivos tradicionais do Nordeste elaborada em 1978, e publicada no livro Cidades do Nordeste: do pote à rua — métodos construtivos tradicionais (37), dois anos após o falecimento da principal autora Neide Mota. O pioneirismo de Mesquita não se restringiu ao campo das preocupações com a habitação popular do nordeste, inaugurou a área dos estudos sobre ecologia urbana, culminando com a produção de um registro perpétuo da vegetação recifense.
Sob este tema e em colaboração com a URB Recife, Mesquita coordenou a partir do ano de 1982 um projeto tido na época como “pioneiro no Brasil” (38), que tinha como finalidade a produção de um inventário botânico da cidade do Recife.
Norma Lacerda (39), formada em 1973, dedica-se à pesquisa acadêmica no campo do urbanismo, atualmente é professora na graduação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco, e coordenadora do Grupo de Estudos sobre o funcionamento do Mercado Fundiário e Imobiliário — Gemfi (40). Norma Lacerda, em entrevista (41), conta que iniciou sua vida profissional como projetista, atuando em um escritório junto com o arquiteto Mário Aloísio, por dois anos.
Em 1978, se juntou ao escritório ArqGrupo (42), onde atuou por quase dez anos como arquiteta projetista. Contudo, passou a se questionar sobre seu papel como arquiteta e urbanista no processo de produção da cidade, pensamento que motivou seu interesse por realizar um mestrado, iniciando sua carreira acadêmica. Em 1982, foi convidada para integrar uma equipe interdisciplinar na Sudene, a fim de acompanhar os projetos dos programas metropolitanos que estavam sendo, naquela época, financiados pelo banco mundial. Simultaneamente, realizava um mestrado em Desenvolvimento Urbano pela Universidade Federal de Pernambuco, e por isso não pôde conciliar essas atividades com o trabalho no escritório, optando, assim, por deixar o ArqGrupo:
“Não deu para conciliar o escritório, com o mestrado e com essa oportunidade que, no meu ponto de vista, eu não poderia perder. [...] Lamentavelmente porque eu sempre gostei de fazer arquitetura também. Não dava, eu tinha que escolher, mas não me arrependo” (43).
É possível perceber que as arquitetas formadas em meados dos anos 1970 encontraram um caminho favorável para a pesquisa relacionada ao urbanismo e desenvolvimento econômico e social, um reflexo dos investimentos realizados na região Nordeste iniciados desde a década anterior, tendo como marco principal a fundação da Sudene. Desta feita, inauguraram temas ainda pouco explorados e corroboraram para discussões até hoje presentes no âmbito acadêmico.
O campo ampliado do exercício profissional das arquitetas: cinema e artes plásticas
Pode-se dizer que o ofício de arquitetura requer um componente artístico dos profissionais e, de fato, muitos aliam essas habilidades ao componente mais técnico no fazer arquitetônico ou buscam áreas mais vinculadas às artes como comunicação visual e cenografia, que podem ser desempenhadas pelo arquiteto. Sendo assim, algumas mulheres formadas em arquitetura pela Escola de Belas Artes de Pernambuco/Universidade do Recife, não exerceram unicamente a profissão de arquiteta, explorando outros campos ou até mesmo migrando completamente para outras atividades no meio artístico e se tornaram pintoras, escultoras, artistas plásticas, cineastas, entre outras ocupações.
A cineasta Kátia Mesel, formada em 1971 no curso de Arquitetura, e também em Artes Gráficas pela Universidade Federal de Pernambuco, ainda na graduação em arquitetura dedicou-se ao Super-8, tendo uma filmografia com mais de vinte títulos. Nos anos 1980, fundou a Arrecife Produções Cinematográficas (44). O Nordeste/Pernambuco/Recife é o tema de inspiração nas obras de Mesel, a exemplo de Recife de dentro pra fora, inspirado no poema de João Cabral de Melo Neto.
A arquiteta Maria de Jesus Costa, formada em 1956, destacou-se nas artes plásticas. Em 1960 foi vice-presidente da diretoria da Sociedade de Arte Moderna, com os artistas Corbiniano Lins, Abelardo da Hora, Ladjane Bandeira, Marcos Domingos e Marcos Rodrigues. Durante os anos 1970, participou de diversas exposições de arte, expondo suas pinturas e esculturas. Em 1977, suas obras foram expostas na Pinacoteca Vicente do Rego Monteiro, com obras do mesmo e de artistas consagrados: Abelardo da Hora, Lula Cardoso Ayres, Gilberto Freyre, Ladjane Bandeira, entre outros. Maria de Jesus fez também a reforma do Teatro do Parque, em 1969.
Irineusa Medeiros, formada em 1973, conciliou a pós graduação em Urbanismo, no Rio de Janeiro, com a pintura. Nos anos 1970, no Diário de Pernambuco, centenas de reportagens sobre sua carreira como pintora.
Dessa forma, Kátia Mesel, Maria de Jesus e Irineusa Medeiros, embora tenham iniciado suas carreiras com arquitetura, dedicaram-se profissionalmente a outros ramos artísticos.
Campo do projeto arquitetônico: da parceria com os maridos aos escritórios femininos
Na década de 1960, as parcerias entre arquitetas e seus cônjuges eram bastante comuns, pois representavam uma maneira de continuar exercendo o ofício que tiveram formação num período em que as possibilidades no mercado de trabalho para as mulheres eram restritas devido ao preconceito que sofriam.
“Eram bem vindas as mulheres que eram ‘mulher de’, elas eram a ‘mulher de um arquiteto’, a ‘mulher de um grande construtor’, elas eram ‘a mulher de’. Então, essas boas moças, essas senhoras criativas passavam muito bem [...] tendo ao seu lado um engenheiro, um corretor, alguém ligado ao setor imobiliário, alguma coisa desse tipo. Essas eram bem sucedidas” (45).
Andrea Gáti (46) evidencia o papel das arquitetas: Janete Costa, Myriam Pessoa de Melo e Clementina Duarte, formadas na década de 1960, que associaram-se aos seus maridos em escritórios de arquitetura como estratégia profissional; as esposas atuaram em campos complementares, algumas delas, em decorrência dessas parcerias permanecem invisibilizadas.
Na década de 1970, o cenário começa a se modificar após a reforma universitária fomentada na década anterior, que ampliou as vagas no ensino superior. Um novo desafio surge para as mulheres: encontrar espaço no mercado de trabalho. Esse processo foi impulsionado pelas mudanças sociais decorrentes dos movimentos feministas do início da década, estimulou as arquitetas a buscarem melhores oportunidades no campo do projeto arquitetônico, favorecendo sua atuação em escritórios próprios.
Multiplicaram-se os grupos ou duplas de arquitetas em sociedades próprias. Escritórios formados exclusivamente por mulheres despontaram nessa década e se popularizaram na posterior, muitos anos antes dos estudos identificarem essa peculiaridade as arquitetas perceberam que a ideia de um gênio com produção arquitetônica individual, favorece os homens e não as mulheres (47).
A formação de grupos foi uma estratégia de afirmação dentro da profissão, uma maneira das arquitetas se inserirem no mercado de trabalho predominantemente masculino, pois permitiu a vivência em um ambiente de trabalho mais saudável e justo, uma vez que um bom trabalho em equipe somente pode ser construído quando todas as partes envolvidas se colocam em uma condição de igualdade, em que é possível estabelecer uma relação de confiança que permita a troca de ideias e o diálogo num mesmo tom, sem uma hierarquia que oprima a discussão e a partilha de responsabilidades e decisões.
Identificamos três equipes cujas trajetórias (48) são exemplos da atuação das arquitetas na década de 1970: o escritório de Miriam Melo Machado, Maria Alice Cerqueira e Zilma Farias Neves, formado em 1972; o escritório Arquitetura 4, com as integrantes Vera Pires, Carmen Mayrinck, Liza Stacishin e Clara Calábria, organizado em 1973 e o ArqGrupo, formado pelas arquitetas Ana Barros, Amélia Reynaldo, Kátia Costa, Suely Maciel e Norma Lacerda, criado em 1978. Para além da atuação em grupo, destacamos o trabalho paralelo ao escritório, de Amélia Reynaldo e Ana Barros na Divisão de Planejamento Físico Territorial do Departamento de Urbanística da Diretoria de Planejamento Urbano da URB, e em seguida, chefe do Departamento de Preservação de Sítios Históricos — DPSH da mesma instituição. As arquitetas Norma Lacerda e Clara Calábria, em 1982, partiram para se dedicar aos trabalhos desenvolvidos pela Sudene em parceria com a Fundaj, e Miriam Melo Machado, assumiu a direção do escritório de planejamento técnico da Fundaj em 1984.
Apesar do pequeno universo da amostra — dezoito arquitetas em cinco escritórios recifenses —, é evidente que os escritórios não eram a única fonte de renda das arquitetas. Ao dedicarem-se ao projeto arquitetônico, ainda enfrentavam entraves na captação de clientes e na rotina de trabalho que às impeliram a buscar uma condição de maior segurança na área institucional, acumulando um segundo expediente, além da terceira jornada de trabalho, no ambiente doméstico que as mulheres cumpriam e cumprem até os dias atuais.
As integrantes do Arquitetura 4, consideradas “figuras firmadas no mercado da arquitetura” (49), ainda enfrentavam obstáculos. Para Liza Stacishin, integrante do grupo:
“As pessoas querem dar sexo à capacidade profissional. Se o cliente tem um edifício para projetar, muitas vezes ele dá a um homem; porém, a parte de ambientação cabe sempre à mulher. Isso tudo, sem falar na remuneração que, para a mulher, tende a ser bastante baixa” (50).
Embora as arquitetas fossem consideradas bem sucedidas nos moldes da época, passavam por discriminação não só no próprio meio, mas entre os próprios clientes, repercutindo na diferença salarial, que até hoje persiste (51). Tal situação, há cinquenta anos atrás, colocava as profissionais numa situação financeira ainda mais delicada, além do acúmulo de atividades nos escritórios e instituições em prol da estabilidade almejada.
Esse quadro começa a modificar-se a partir de meados dos anos 1980, quando o número de escritórios em que as arquitetas dedicam-se integralmente à atividade projetual aumenta. Nesse momento, foram identificadas vinte arquitetas trabalhando em seis grupos distintos. E, embora as arquitetas estivessem ganhando mais espaço, novas estratégias de afirmação profissional surgem. É o caso do escritório Hera Sagitário (52), que além de serviços de arquitetura, atuava como centro cultural, com exposições e shows. Outros escritórios como o Parq. Paisagismo e Arquitetura (53) buscaram oferecer serviços especializadas em paisagismo, áreas que as arquitetas eram tradicionalmente direcionadas (54). O escritório Acrópole (55) dedicou-se ao desenvolvimento de pesquisas, estudos e projetos técnicos na área de planejamento urbano.
Nessa pesquisa foram identificadas ainda treze arquitetas distribuídas em seis equipes de duplas ou trios envolvidas com projeto arquitetônico, tais como, a parceria entre Fátima Morais e Lorena Morais, arquitetas que projetaram edifícios na Zona Sul do Recife e hotéis em vários estados além de Pernambuco, como Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas. Nessa mesma categoria de pequenos grupos, também foram identificadas equipes que atuavam principalmente na área de arquitetura de interiores e ambientação, mencionadas nos jornais sob o título de “griffes”.
As discussões aqui expostas sobre trabalho colaborativo e autoria em Arquitetura e Urbanismo são questões atuais e importantes, não somente no universo feminino. Beatriz Colomina (56) apontou que a colaboração tem chamado o interesse dos críticos e teóricos, uma vez que a educação em arquitetura, a estruturação da profissão e a organização da mídia arquitetônica ainda privilegiam os arquitetos homens, brancos e de classe média (57) e a sua imagem de único gênio criador.
Sendo assim, a formação de equipes compostas unicamente por arquitetas é uma forma de garantir espaço profissional e contestar cânones consolidados. Nas palavras de Denise Scott Brown (58): “saudemos a noção de trabalho colaborativo”, pois podemos construir uma prática profissional mais rica e com um maior diversidade.
Considerações finais
Por muito tempo as arquitetas foram direcionadas para campos da profissão pouco valorizados pelos colegas arquitetos homens, ou ainda às atividades tidas erroneamente como femininas. Em decorrência às injustas estruturas sociais que atribuem um gênero específico a determinadas profissões, muitas mulheres, a fim de conquistarem sua independência e estabilidade financeira, migraram de forma literal como subjetiva. As migrações literais se materializaram nos deslocamentos para dentro ou fora da região Nordeste, com o objetivo de encontrar nichos de atuação profissional nos quais as arquitetas puderam se aprofundar e se desenvolver.
As migrações subjetivas, por sua vez, tinham como destino campos alternativos dentro do ofício para onde eram direcionadas, devido à dificuldade de permanência das mulheres em áreas tradicionalmente valorizadas dentro da profissão, como a de projeto arquitetônico, tanto durante o início de suas trajetórias profissionais como também dentro da própria universidade, assim moldando o cenário do mercado de trabalho que permaneceu desigual durante gerações, inclusive atualmente.
A partir dos anos 1970, o panorama geral é mais propício para a participação das arquitetas na área de projeto, os grupos femininos são impulsionados a conquistar o mercado de trabalho para a criação de um ambiente de produção mais igualitário e justo dentro de seus próprios escritórios. No entanto, a conjuntura social favoreceu a migração feminina de forma subjetiva e literal: buscando novas temáticas, desbravando novos campos de atuação, rompendo as imposições sociais, as arquitetas aqui elencadas ainda continuam excluídas e eclipsadas da historiografia da arquitetura nacional: são “ilustres desconhecidas” (59).
Urge ampliar o discurso acerca da produção feminina na arquitetura pernambucana com intuito de investigar as dinâmicas de gênero no ambiente acadêmico e institucional, identificar os fatores limitantes responsáveis pelo afastamento das mulheres da área de projeto e construção e ainda analisar individualmente as trajetórias dos escritórios identificados neste trabalho, que refletem uma busca por um ambiente profissional mais igualitário.
Por fim, a revisão historiográfica aqui apresentada tem o intuito de não só reconhecer o trabalho das figuras citadas, mas, principalmente, contribuir para a reestruturação bibliográfica dos currículos das escolas de arquitetura para inserção de trajetórias de mulheres arquitetas e suas contribuições na profissão de maneira que as estudantes — hoje maioria nos cursos de graduação — e docentes encontrem a devida representatividade no campo arquitetônico desde a formação.
notas
1
Do original: “this system is not only defined by what it includes, but also by what it excludes; […] that which is excluded, left out, is not really excluded, but rather repressed. AGREST, Diane [1993]. Architecture from Without: Body, Logic and Sex. In Gender, Space and Architecture: An Interdisciplinary Introduction. London, Routledge, 2000, p. 358. Tradução das autoras.
2
HEYNEN, Hilde. Genius, Gender and Architecture: The Star System as Exemplified in the Pritzker. KU Leuven University Library, February, 2013.
3
WRIGHT, Gwendolyn. On the fringe of the profession. Women in American architecture. In KOSTOF, Spiro (org.). The Architect. Chapters in the history of the profession. New York, Oxford University Press, 1977.
4
LIMA, Ana Gabriela Godinho. Arquitetas e arquiteturas na américa latina do século 20. São Paulo, Altamira, 2014.
5
COLOMINA, Beatriz. Apud LANGE, Alexandra. Porque a arquitetura tem que ouvir suas mulheres esquecidas. Archdaily, São Paulo, 2013 <https://bit.ly/3YCO0ah>.
6
BROWN, Denise Scott. Sexism and the star system in architecture. In ARNOLD, Dana. Reading Architectural History. London/New York, Routledge, 2002, p. 205–210.
7
Idem, ibidem.
8
RUBINO, Silvana. Corpos, cadeiras, colares: Charlotte Perriand e Lina Bo Bardi. Caderno Pagu [online], n. 34, 2010, p. 331–362 <https://bit.ly/3PGnHM6>; RUBINO, Silvana; GRINOVER, Marina. Lina por escrito. Textos escolhidos de Lina Bo Bardi. São Paulo, Cosac Naify, 2009.
9
LIMA, Ana Gabriela Godinho. Op. cit.
10
NASCIMENTO, Flávia Brito do. Carmen Portinho e o habitar moderno: teoria e trajetória de uma urbanista. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais [online], v. 9, n. 1, 2007, p.69–82 <https://bit.ly/3WPz1Z1>.
11
Arquitetas Invisíveis, n. 1 [Pioneiras], Brasília, jul. 2016 <https://bit.ly/3v6zk5S>; Arquitetas Invisíveis, n. 2 [Nas Sombras], Brasília, mar. 2018 <https://bit.ly/3v6zk5S>.
12
NASLAVSKY, Guilah; VALENÇA, Maria Luiza Rocha Mariz. As "outras" do "outro": pioneiras arquitetas no Nordeste Brasileiro: migrações, gênero e regionalismo. Anais do 13º Seminário Docomomo Brasil: Arquitetura moderna brasileira. 25 anos do Docomomo Brasil. Todos os mundos, um só mundo, Salvador, IAB BA, 2019, p. 1–14.
13
GÁTI, Andrea. Esposas: atuações em arquitetura, interiores e design. Anais do 4º Enanparq, Porto Alegre, 2016.
14
BROWN, Denise Scott [1993]. In HUGHES, Francesca (org.). The Architect — Reconstructing Her Practice. Cambridge/London, The MIT Press, 1996.
15
GÁTI, Andrea. Esposas: a consorte nas parcerias profissionais entre arquitetos. Arquitetas Invisíveis, v. 2, Brasília, 2018.
16
MARQUES, Sonia. Maestro sem orquestra: um estudo da ideologia do arquiteto no Brasil 1820–1950. Dissertação de mestrado. Recife, Pimis/Universidade Federal de Pernambuco, 1983.
17
UFPE. Curso forma arquitetos há 45 anos. UFPE, 2004 <https://bit.ly/3FFxIVv>.
18
MARQUES, Sonia. Op. cit.
19
SAVIANI, Dermeval. A expansão do ensino superior no Brasil: mudanças e continuidades. Conferência proferida no campus de Catalão da Universidade Federal de Goiás, Catalão, 2010.
20
PIRES, Vera. Depoimento. Diário de Pernambuco, Recife, 1980.
21
Edileusa Dantas de Oliveira é seu nome anterior ao casamento. Torna-se Edileusa Oliveira da Rocha em 1967, quando se casou.
22
Os relatos de discriminação de gênero em relação as estudantes mulheres, confundidas com “esperando marido” nos cursos de arquitetura, ainda predominantemente masculinos, eram constantes em diversas épocas distintas, os professores em sua grande maioria do sexo masculino, sobretudo nas cadeiras de projeto nos primeiros anos do curso. Rocha, Edileusa. Depoimento à Guilah Naslavsky, 2016.
23
LACERDA, Norma. Entrevista a Guilah Naslavsky e Letícia Toscano, 2021.
24
MARQUES, Sônia. Entrevista a Guilah Naslavsky, 2016.
25
MARQUES, Sônia. Entrevista concedida ao IAB RJ. Diálogos Centenários — Pioneiras: a história das mulheres na arquitetura e no IAB. IAB RJ. YouTube, San Bruno, 14 de set. de 2020 <https://bit.ly/3V9V9fb>.
26
Idem, ibidem.
27
Entrevista concedida à Rafaela Lins e Letícia Toscano, 2021. Grifo das autoras.
28
GÁTI, Andrea. Esposas: atuações em arquitetura, interiores e design (op. cit.). Grifo das autoras.
29
MARQUES, Sônia. Entrevista a Guilah Naslavsky, 2016.
30
Pesquisas realizadas no acervo do Memorial Denis Bernardes (Biblioteca Central da Universidade Federal do Pernambuco — UFPE) por Ana Clara Bione, Raissa Maranhão e Maria Luiza Rocha Mariz Valença, nos anos de 2017 e 2018, sob a orientação da professora Guilah Naslavsky.
31
Pesquisas realizadas no jornal Diário de Pernambuco, através do acervo digital disponível em: <memoria.bn.br>, por Maria Luiza Rocha Mariz Valença e Rafaela Silva Lins no ano de 2020, sob orientação da professora Guilah Naslavsky.
32
Entrevistas concedidas à Maria Luiza Rocha Mariz Valença, Rafaela Silva Lins e Letícia Toscano.
33
NASLAVSKY, Guilah; VALENÇA, Maria Luiza Rocha Mariz (op. cit.).
34
Idem, ibidem.
35
HOLANDA, Frederico de (org.). Arquitetura & urbanidade. São Paulo, ProEditores, 2003.
36
SALGADO; Deborah Fernanda; RODRIGUES, Clarice Fernandes. A mulher nas experiências práticas e pedagógicas da arquitetura e da cidade. Arquitetas Invisíveis, n. 1 [Pioneiras], São Paulo, 2013.
37
MESQUITA Liana; MOTA, Neide. Cidades do Nordeste: do pote à rua: métodos construtivos tradicionais. Cities of the Northeast: from the pot to the street: traditional construction methods. CARNEIRO, Ana Rita Sá (org.). Recife, Cepe, 2017.
38
BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Assessoria da URB dá retoques finais a inventário botânico. Diário de Pernambuco, Seção A-8 Recife, 21 jan. 1983 <https://bit.ly/3PWRa4V>.
39
Tem experiência na área de Planejamento Urbano e Regional, com ênfase em Teoria do Planejamento Urbano, atuando principalmente nos seguintes temas: mercado imobiliário, planejamento urbano, conservação urbana, patrimônio histórico e dinâmica territorial. Informação retirada da plataforma Lattes <https://bit.ly/3GaezMV>.
40
Grupo de Estudos sobre o funcionamento do Mercado Fundiário e Imobiliário da Universidade Federal do Pernambuco.
41
LACERDA, Norma. Op. cit.
42
Formado pelas arquitetas Ana Lúcia Barros, Suely Leal, Amélia Reynaldo e Kátia Costa Pinto.
43
LACERDA, Norma. Op. cit.
44
Informação retirada do site Cinemateca Pernambucana <https://bit.ly/3BSnQqd>.
45
MARQUES, Sônia. Entrevista concedida ao IAB RJ (op. cit.).
46
GÁTI, Andrea. Esposas: a consorte nas parcerias profissionais entre arquitetos (op. cit.).
47
HEYNEN, Hilde. Op. cit.
48
Dados coletados em Pesquisa de Iniciação Científica 2020 — 2021 (Pibic/Propesq) sob a orientação de Guilah Naslavsky.
49
BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Arquitetura: Uma profissão ainda discriminada para mulheres. Diário de Pernambuco, Seção C, Recife, 11 dez. 1979 <https://bit.ly/3HRKLWA>.
50
Idem, ibidem.
51
De acordo com o Diagnóstico de Equidade de Gênero do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil — CAU BR de 2020, o rendimento médio das mulheres arquitetas é aproximadamente 27% menor do que o dos homens arquitetos. A situação se torna ainda mais díspar quando o recorte racial é avaliado, pois arquitetos homens e brancos têm um salário, em média, treze vezes maior do que mulheres arquitetas negras. CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO DO BRASIL. 1º diagnóstico de gênero na arquitetura e urbanismo: comissão temporária para a equidade de gênero. Brasília, CAU BR, 2020 <https://bit.ly/3Yx7sVX>.
52
Grupo constituído pelas arquitetas Dolly Macedo, Fátima Aguiar, Fátima Gundes, Maria Elena Dalla Nora e Glória Dalla Nora, posteriormente agregando Maria Elizabeth de Arruda.
53
Grupo formado por Lourdinha Costa, Cremilda Martins de Albuquerque e Maria Ludovica Amblard em 1980.
54
Ana Gabriela Godinho Lima destaca a busca das arquitetas por campos, na época, pouco explorados ou pouco valorizados pela maioria dos homens como o paisagismo, habitação social, design de interiores, museografia, cenografia, entre outros. LIMA, Ana Gabriela Godinho. Op. cit.
55
Grupo formado por Cláudia Barreto Dornelas Câmara, Maria Amélia Bezerra Leite e Lúcia Leitão.
56
COLOMINA, Beatriz. Apud HEYNEN, Hilde. Op. cit.
57
HEYNEN, Hilde; WRIGHT, Gwendolyn. Introduction: Shifting Paradigms and Concerns. In CRYSLER, C. Greig; CAIRNS, Stephen; HEYNEN, Hilde (org.) The Sage Handbook of Architectural Theory. Londres, Sage, 2012.
58
COLOMINA, Beatriz. Apud LANGE, Alexandra. Op. cit.
59
A expressão “Ilustres desconhecidas” foi cunhada pela redatora do jornal Diário de Pernambuco, Fernanda d'Oliveira para descrever a relação entre o escritório Arquitetura 4 e o público no início da carreira das arquitetas. Em 1979, anos após a criação da equipe, ela diz que as integrantes já eram figuras firmadas na cena arquitetônica local. Contudo, para o público em geral, para a historiografia regional e até mesmo entre os alunos do curso de arquitetura local, ainda, nos dias atuais, elas — e tantas outras mencionadas nesse trabalho — continuam sendo ilustres desconhecidas.
sobre as autoras
Maria Luiza Rocha Mariz Valença, graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (2017-) e integrante do grupo de pesquisa “Arquitetas no Nordeste Brasileiro”, do Laboratório de Imagem de Arquitetura e Urbanismo (Liau). Realizou duas pesquisas de iniciação científica Pibic/Propesqi/UFPE (2018-2019, 2019-2020) ambas relacionadas à arquitetura e gênero.
Guilah Naslavsky é arquiteta UFPE (1992), mestre e doutora FAU USP (1998, 2004), professora de Graduação em Arquitetura e Urbanismo desde 1992 (Esuda, Faupe, Unicap, UFPB, UFPE) e do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano/MDU da UFPE (desde 2011). Foi professora visitante com bolsa Capes (2015-2016) na Universidade do Texas em Austin. É líder do grupo de pesquisa no CNPq: "Arquiteturas no Nordeste brasileiro", é coordenadora da pesquisa Arquitetas no Nordeste brasileiro: migrações, regionalismo e gênero, e do Laboratório da Imagem de Arquitetura e Urbanismo (desde 2013). Publicou: Arquitetura moderna em Recife, 1949-1972 (PMR, 2012).
Rafaela Silva Lins, graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (2018-) e pesquisadora bolsista Pibic/Propesqi/UFPE (2020-2021) integrante do grupo de estudos "Arquitetas no Nordeste brasileiro" do Laboratório de Imagem de Arquitetura e Urbanismo — Liau coordenado pela professora orientadora Guilah Naslavsky.