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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
"Que esta crença no possível nos torne pessoas melhores, nos faça profissionais sérios, comprometidos e engajados, e que através disso possamos continuar a sonhar e não temer pelo futuro..."

english
"That this belief in the possibilities make us better people, makes us serious professionals, committed and engaged, and that through it we can continue to dream and not fear the future ..."

español
"Que esta creencia en lo posible nos convierta en personas mejores, nos haga profesionales serios, comprometidos y que a través de eso podamos continuar soñando y no temamos por el futuro..."

how to quote

CESTARO, Lucas. Discurso de formatura. A crença no possível. Drops, São Paulo, ano 04, n. 008.01, Vitruvius, mar. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/04.008/1620>.



Ao assumir o compromisso de ser o orador da turma, alguns colegas me cobraram para que eu evitasse falar sobre política, no entanto aprendi durante minha vivência na Universidade, ao lado de amigos e mestres, que somos movidos pela paixão e que temos maior facilidade em trabalhar, escrever ou interagir quando ela está ao nosso alcance. Por isso busquei forças e inspiração para escrever, nos ensinamentos da História, da Arquitetura, e também na Utopia e no Idealismo em prol da construção da cidadania enquanto patrimônio coletivo, não me esquecendo da necessidade de se relatar um pouco do que foram estes cinco anos para nós.

Estamos todos comemorando o encerramento de um ciclo que sem dúvida até agora deve ter sido um dos mais importantes períodos de nossas vidas. Entre amigos, colegas de profissão, mestres, pais e familiares, queremos fazer desta noite, também um evento marcante. Durante estes cinco anos, aprendemos a conviver com a diferença, sem necessariamente se tornar um diferente; a conviver com a dificuldade e sempre buscar as alternativas para superá-la, sem fazermos dela obstáculo; a aceitar as vitórias sem nos contagiar pelo sentimento de ganância e soberba. Mas neste período, em todos os momentos em que estivemos nas ruas, em contato com as pessoas, nos foi muito comum os questionamentos sobre qual é o papel e o que faz o arquiteto urbanista para a Sociedade.

Vivemos num tempo em que a classificação, a mercantilização e o rótulo estão presentes e vigentes na vida cotidiana desta sociedade. A Universidade por sua vez, sendo um de seus organismos, tomou para si a reprodução de algumas práticas comuns a esta Sociedade, como a classificação e a rotulação. Por isso a Academia classifica cursos em diferentes áreas do saber. Portanto a classificação e locação da Arquitetura, enquanto ciência e um destes instrumentos de aplicação do saber, faz-se obrigatória na Universidade num contexto político-institucional. Os Arquitetos Urbanistas são pessoas dotadas de habilidades múltiplas, que transitam entre as ciências exatas, ciências humanas e sociais aplicadas, não desconsiderando também a necessidade em se conhecer, conviver e enfrentar questões pertinentes à área da saúde.

Dizia o Arquiteto Marco Vitrúvio, um dos primeiros homens a ousar escrever sobre arquitetura ainda na Idade Média, que “a ciência do arquiteto é ornada por muitos conhecimentos e saberes variados, pelos critérios da qual são julgadas todas as obras das demais artes. Ela nasce da prática e da teoria” Para ele prática “é o exercício constante e freqüente da experimentação, realizada com as mãos. Teoria, por outro lado, é o que permite explicar e demonstrar por meio da relação entre as partes e as coisas realizadas pelo engenho”  1Para Lúcio Costa, arquitetura é uma manifestação tolhida das artes, “é antes de mais nada, construção”, com o papel primordial de “organizar e ordenar o espaço para uma finalidade e determinada intenção.” 2 Ele insiste dizendo que tudo não passa de cenografia quando ela se perde em intenções meramente decorativas. Mas a intenção plástica é o que distingue arquitetura de uma simples construção.

Na história da humanidade, a arquitetura esteve sempre presente de uma maneira ou de outra, seja como uma forma de manifestação cultural; seja como manifestação artística; um sistema ou uma técnica de construção; ou mais recentemente quando ganhou características na produção, construção e formulação de nossas cidades. São estas cidades que estão determinando o nível de desenvolvimento dos países no mundo. “Em nosso país com 81% dos 170 milhões de brasileiros vivendo em áreas urbanas, me arrisco a dizer que o futuro do Brasil está baseado no futuro de suas cidades” 4 Em outras palavras, sendo a produção das cidades uma de nossas atribuições profissionais, diria que o futuro do Brasil dependerá dos seus Arquitetos Urbanistas.

O Mercado não é tudo, e nunca será. Prova disso é que sabemos que há muito mais pessoas que precisam de um arquiteto, do que as vagas oferecidas pelo Mercado de trabalho. Portanto não podemos nos entregar aos ventos, aos sabores, e aos caprichos desse deus-mercado. Mas sim podemos e devemos nos colocar a disposição de toda a nossa Sociedade, mostrando que estamos prontos a responder e nos responsabilizar por um movimento que pode indicar a saída desta crise social e urbana da qual fazemos parte, enquanto cidadãos e cidadãs deste país.

Eu sei que enquanto estivemos dentro da Universidade, estávamos protegidos e blindados, de uma maneira que nos garantia a possibilidade de sonhar e pensar numa possível mudança de postura social, política e humana. No entanto agora que deixamos este espaço do saber, da experimentação e da crença, ficamos em dúvida sobre como implementar boas idéias e como manter nossa dignidade enquanto profissionais. Uma boa resposta para isso, é a reunião que ocorre nesta noite aqui neste ambiente. Há 5 anos atrás, quantos de nós não tínhamos dúvidas sobre o que seríamos, mas algo nos motivou, e acreditar que seria possível, fez a diferença.

Que esta crença no possível nos torne pessoas melhores, nos faça profissionais sérios, comprometidos e engajados, e que através disso possamos continuar a sonhar e não temer pelo futuro, num coro de que “nossa esperança vença o nosso medo” (5),a mesma esperança que tínhamos quando éramos crianças, acreditando que éramos capazes de realizar qualquer uma de nossas mais secretas aventuras.

notas

1
POLIÃO, Marco Vitrúvio. Da arquitetura. Editora Hucitec, 2002, p. 49.

2
COSTA, Lúcio. Arquitetura. Rio de Janeiro, Editora José Olympio, 2002, p. 21

3
COSTA, Lúcio. Arquitetura. Rio de Janeiro, Editora José Olympio, 2002, p. 19.

4
Discurso do Ministro da Cultura Gilberto Gil, em 30/10/2003, aos Secretários Municipais de Cultura das Capitais

5
Discurso de formatura de turma da Unimep.

[publicação: março 2004]

Lucas Cestaro, Piracicaba SP Brasil

 

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