Na exposição Arch/Scapes, a contribuição da Suíça à 7ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, o foco é a negociação entre o público e o privado em um aspecto da produção arquitetônica vital para a Suíça de hoje.
Arch/Scapes é uma interpretação do “público” como a essência da paisagem cultural da Suíça – as áreas urbanas, periurbanas, as tipologias dos vilarejos das regiões alpinas e a urbanização crescente. O “privado” é o objeto construído e se concentra na nova arquitetura suíça realizada nos últimos cinco anos ou a ser terminada em breve.
As paisagens suíças – em particular as tipologias rurais e alpinas – são consideradas terreno público e um bem precioso. A nova arquitetura a ser desenvolvida nessa paisagem é o resultado de processos democráticos complexos, nos quais não apenas os Cantões – as unidades da Confederação Suíça – mas também numerosos órgãos públicos que protegem as tradições suíças, têm uma opinião decisiva. As iniciativas orquestradas para preservar os tipos de construções tradicionais – do chalé ao curral para o gado, às cabanas de esqui – significam que, com poucas exceções, a arquitetura que pretenda uma relação radical com um dado contexto, não sobreviverá a um referendo público.
Como pode o arquiteto modernizar, adaptar e aprimorar o design da arquitetura suíça além das restrições legais definidas pela sociedade em geral?
A ampla diversidade dos edifícios apresentados foi escolhida com base na técnica, por meio da qual formas inovadoras foram concebidas e novas posições negociadas. A maneira sutil com que os obstáculos legais foram reinterpretados para favorecer as formas não-familiares e novos materiais é um processo de definição que mantém o equilíbrio entre as necessidades e desejos do cliente e a opinião pública. Nós nos concentramos particularmente nos processos por meio dos quais os edifícios criaram um novo destaque dentro de um contexto, em diálogo com a paisagem, estabelecendo assim um senso incomum de escala ou reinterpretando tipologias tradicionais.
Entrevistas com os arquitetos envolvidos e diversos clientes descrevem a cultura específica da produção e design, que está altamente harmonizada com as realidades contemporâneas da paisagem suíça em transformação. Pelas declarações, um subtexto fundamental da produção arquitetônica dentro deste contexto se torna tangível: a negociação entre a preservação e a inovação, entre agradar as sensibilidades tradicionais e impor uma ruptura necessária nas tipologias convencionais, que resulta de adaptações engenhosas das regulamentações de planejamento.
Os depoimentos individuais são tão heterogêneos quanto o próprio terreno público suíço. Novas formas foram geradas por meios tradicionais e sustentáveis para se harmonizarem com o contexto dos arredores. A arquitetura industrial pode ser projetada para se fundir de forma invisível com a paisagem. O clássico chalé da montanha é parodiado com um submundo altamente modernizado, até mesmo irônico. Pelo uso de construções modulares e leves, o redesenho de um abrigo de esqui promove uma transformação da forma tradicional para uma auto-suficiência de vanguarda. Métodos de construção notadamente tradicionais são adaptados para se ajustarem às necessidades contemporâneas, mantendo, ao mesmo tempo, sua especificidade cultural. A paisagem pode integrar-se de tal forma à arquitetura que o mundo interior e o exterior se fundem e se inter-relacionam através da interação da transparência com a abstração. Muitas vezes a resposta a um contexto restritivo é levar a natureza para um mundo interior em forma de introspecção arquitetônica.
Por toda a exposição, os projetos apresentados são complementados com as fotografias de Joël Tettamanti, que contrastam as excepcionais paisagens alpinas com a urbanização dispersa, desafiando assim, o clichê da Suíça como um idílico cenário rural cercado de lagos. O objetivo de apresentar a arquitetura com essas imagens de topografias fragmentadas em grande escala é enfatizar a realidade suíça contemporânea. Dentro dessa realidade, as cautelosas negociações entre o privado e o público, basicamente para manter as normas e tradições, estão cada vez mais comprometidas. A erosão gradual da paisagem suíça, causada pela urbanização, indica que a nova arquitetura precisará no futuro vislumbrar novas tipologias que considerem formas não características do terreno público.
notas
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A participação da Suíça na 7ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, representada pelo Ofício Federal da Cultura, com curadoria de Francesca Ferguson, é uma iniciativa do S AM – Museu de Arquitetura da Suíça (Swiss Architecture Museum).
sobre o autor
Francesca Ferguson, curadora da ARCH/SCAPES, é diretora do S AM – Museu de Arquitetura da Suíça.
Francesca Ferguson, Basel Suíça