O XI congresso da Sociedade Ibero Americana de Gráfica Digital foi realizado este ano na Universidade La Salle, na cidade do México, de 23 a 25 de outubro, sob a coordenação do professor Octavio Vazquez.
Ao contrário do ano passado, em que as palestras convidadas e algumas apresentações de trabalhos pareciam indicar uma nova tendência relacionada ao desenho generativo e ao uso da programação de CAD, talvez devido à presença de muitos participantes dos Estados Unidos, Europa e Ásia, este ano o SIGRADI voltou aos temas mais “tradicionais” (tendo em vista a evolução do SIGRADI). Uma grande parte dos trabalhos apresentados no México inseriam-se nas áreas de realidade virtual e Internet, incluindo temas como criação de comunidades on line, reconstrução histórica, e divulgação de conteúdos e cursos pela rede. Ainda assim, foram apresentados alguns trabalhos sobre sistemas generativos, uso de programação e fabricação digital, como os trabalhos de Pablo Herrera, da Universidad Peruana de Ciências Aplicadas (Fig. 1) , Pedro Soza, da Universidad de Chile, Kevin Klinger (Fig. 2), da Ball State University (Fig. 2) , e em especial a brilhante palestra convidada de Branko Kolarevic, na abertura do Congresso (Fig. 3).
A apresentação de Kolarevic, intitulada Generative + Performative (Fig. 4), foi particularmente interessante porque ele propôs a integração entre sistemas de geração de formas e programas de avaliação de desempenho e comportamento estrutural, térmico, acústico e lumínico, com o objetivo de obter resultados não apenas formalmente complexos e interessantes, mas também eficientes. Branko apresentou dezenas de casos concretos em que a possibilidade de visualização das características de desempenho físico dos edifícios orientou o projeto desde suas fases iniciais. Mas para que isso aconteça, disse ele, é fundamental que arquitetos e engenheiros trabalhem juntos desde essas fases iniciais do projeto, utilizando programas de modelagem que incluem conceitos da física, e não apenas da geometria, que incorporam a tecnologia dos elementos finitos e a codificação por cores para indicação de áreas críticas que precisam ser corrigidas. Branco terminou sua inspiradora palestra com uma frase de Paul Klee, que dizia mais ou menos assim: “não adianta simplesmente representar o que pode ser visto (render the visible), é preciso tornar visível (render visible) aquilo (e.g. os conceitos físicos) que, do contrário, seriam invisíveis aos nossos olhos.
Infelizmente, nenhum dos trabalhos apresentados nas sessões plenárias do SIGRADI deste ano mostrava a combinação desses dois métodos na geração de formas, ao contrário do que pode ser visto no congresso ECAADE (Education in Computer-aided Architectural Design in Europe) este ano em Frankfurt (1).
Dentre os cerca de 90 artigos publicados nos anais do SIGRADI há textos de grande interesse, como o de Kostas Terzidis, de Harvard (que infelizmente não pode comparecer ao congresso), que discute o momento de transição em que nos encontramos, entre uma geração de pensamento antropocêntrico, que não admite que o computador possa ser mais eficiente que o ser - humano, e uma nova geração que reconhece que a tecnologia digital permite superar os limites da mente. Outro pesquisador grego também radicado nos Estados Unidos e que tampouco compareceu ao SIGRADI, mas contribuiu com um excelente artigo, foi Sotirios Kotsopoulos, doutor pelo MIT, que esclareceu, por meio de uma gramática da forma, o conceito de porosidade presente no projeto de Steven Holl para o edifício Simmons Hall, no campus do MIT.
O congresso teve ainda diversas sessões promovidas pela Autodesk (que também promoveu workshops no dia anterior à abertura do SIGRADI), e pela Microsoft, patrocinadores do evento, além de outras palestras convidadas, com temas não necessariamente ligados à arquitetura, como animação e comunicação digital.
Em 2008 o SIGRADI será realizado em Cuba. Será interessante conferir a repercussão da palestra deste ano de Kolarevic no meio acadêmico. É possível imaginar que serão apresentadas pesquisas envolvendo a análise visual de conceitos físicos e sua utilização na geração de formas arquitetônicas. Acredito que esse método só pode contribuir para a qualidade de nossos edifícios.
notas
1
Ver CELANI, Gabriela. “Ecaade'23. A busca de novos paradigmas para a geração da forma arquitetônica assistida pelo computador”. Drops, n. 13.06. São Paulo, Portal Vitruvius, jan. 2006 <http://www.vitruvius.com.br/drops/drops13_06.asp>.
sobre o autor
Gabriela Celani é professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP.
Gabriela Celani, Campinas SP Brasil