Sempre acreditamos na imortalidade daqueles que admiramos. Alexandre Wollner, para mim, era imortal. Continuava com sua verve crítica, sua capacidade de ironizar peças de design gráfico que julgava duvidosas. Ria muito também. E reclamou, faz uns meses ou mais de um ano, de meu sumiço. “Você nunca mais veio me ver!”
Hoje estive na FAU USP pela manhã e passou por minha cabeça que poderia esticar até a casa de Wollner, ali perto. Logo depois fiquei sabendo de sua morte.
Se existiu alguém que lutou por dignificar a profissão de designer gráfico no Brasil, foi ele. Em seu enfrentamento dos métodos de agências de publicidade; em sua crença numa formação intelectual alargada; na firme convicção das certezas de alguns ídolos, entre eles seu mestre Max Bill.
Em 2014 visitei o Museu de Artes Aplicadas (Angewandte Kunst) de Frankfurt. O Museu realizara recentemente uma grande mostra da produção de Wollner e seu diretor comentou comigo: “Ele não tem a mesa fama de Paul Rand apenas porque é brasileiro, mas as obras se equivalem em importância”.
Wollner se queixava, com frequência que seu trabalho era mais reconhecido na Alemanha do que aqui. Não sei, pois lembro de uma palestra e exposição sua na ESDI (1) em meados da primeira década do século, em que a lotação das salas era impressionante. Nunca fui a um debate ou abertura de mostras de sua lavra que não estivessem repletas. E recordo do fascínio que alunos de graduação manifestavam ao saberem que eu o conhecia pessoalmente.
Minha história com ele é longa. Começou comigo muito tímida e temerosa diante daquela autoridade inquestionada, na época, do design brasileiro. Transformou-se aos poucos e foi com orgulho e admiração que via Wollner sentado nas primeiras fileiras de debates ou palestras dos quais participei. Ele é o primeiro personagem de meu livro Memórias do design brasileiro (2) e tenho uma foto de sua autoria, lindíssima, autografada e emoldurada em parede de minha casa. Uma foto construtiva, tirada em Ulm, da montagem de uma exposição.
Difícil pensar que o jovem André Stolarski, que realizou excelente reflexão sobre o trabalho de Alexandre Wollner em formato de vídeo e de livro, morreu antes dele. Que João Baptista da Costa Aguiar – fui eu que apresentei os dois profissionais de escolhas tão diversas e eles discutiram e discordaram dando risadas – também já se foi, há pouco mais de um ano.
Abri agora o livro/catálogo da exposição de Frankfurt e não pude deixar de sorrir ao ler a dedicatória. Começa com (tudo em caixa baixa, claro) ethel grande amiga.
Wollner, grande amigo. Aproveitei pouco e mal desta amizade. Espero que muitos de nós, eu inclusive, saibam honrar seu legado.
notas
1
Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI.
2
LEON, Ethel. Memórias do design brasileiro. São Paulo, Senac São Paulo, 2009.
sobre a autora
Ethel Leon é jornalista, pesquisadora, professora na área de história do design brasileiro e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – Primeira Escola de Design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.