Entre os dias 20 e 23 de março de 2018 ocorreu em Belém do Pará, no campus da Universidade Federal do Pará, o III Seminário de Arquitetura Moderna na Amazônia, III SAMA. Esta edição sucedeu os eventos realizados em Palmas (II SAMA, 2017) e em Manaus (I SAMA, 2016). Com o tema “Arquiteturas e cidades amazônicas: o moderno e os desafios contemporâneos”, o seminário contou com um número significativo de participantes, dentre alunos de graduação, pós-graduação, docentes, pesquisadores e arquitetos, e estruturou-se em conferências, mesas de debates, palestras, sessões de comunicações e exposições (1). A realização esteve sob a coordenação do Laboratório de Historiografia da Arquitetura e Cultura Arquitetônica (LAHCA/FAU/UFPA), e contou com a participação fundamental na organização dos alunos desse laboratório, e a colaboração de outros alunos voluntários.
A abertura do seminário foi marcada pela homenagem aos engenheiros e arquitetos responsáveis pela fundação do Curso de Arquitetura em 1964, e aos professores pioneiros que deixaram seus legados nas primeiras expressões da arquitetura moderna em Belém, entre eles Camilo Porto de Oliveira, Milton Monte, Antônio Paul Albuquerque e Roberto de La Roque Soares, e os arquitetos oriundos da UFRGS Jorge Derenji e Helio Veríssimo. A conferência de abertura foi proferida pelo arquiteto e engenheiro Alcyr Meira, Professor Emérito da UFPA, e autor do projeto do Campus desta universidade, bem como de outras obras destacadas em Belém e outros estados brasileiros. Além deste arquiteto, foram conferencistas no III SAMA a professora Ana Lucia Vieira dos Santos da UFF, o professor Fernando Luiz Lara da UFMG/UT, e o professor Hugo Segawa, da USP.
Ao longo dos três dias, apresentaram-se ao público participante, temas instigantes relacionados ao debate sobre o moderno na Amazônia brasileira em distintas aspectos: no arquitetônico, urbanístico, paisagístico, e suas ressonâncias no contexto contemporâneo em vários estados da região. Deste modo, buscou-se ressaltar a necessidade de se consolidar as pesquisas na área, contribuindo para a difusão do conhecimento produzido, e a necessidade da construção de abordagens sobre o moderno na Amazônia hoje, e seus instrumentos conceituais, teóricos e de legislação adequados para pensar e intervir na realidade local.
A congregação de pesquisadores, professores e alunos de vários estados da Amazônia neste III SAMA, contribuiu para a consolidação deste espaço como um fórum de debates necessário na região. Temas como história, sustentabilidade, preservação, paisagem moderna, interfaces do moderno entre arte e arquitetura, e a relação do espaço amazônico no contexto latino americano, foram tratados nas diversas falas dos conferencistas, palestrantes e nos trabalhos apresentados.
No último dia do seminário, ocorreram lançamentos de livros de pesquisadores do grupo SAMA. A professora Patrícia Orfila da UFT, lançou o livro “Modernidades tardias no Cerrado”, e na noite de encerramento, foi apresentado o segundo número da Revista Amazônia Moderna e livro a ser lançado em breve, com os artigos dos demais pesquisadores que compuseram as mesas de debates dos estados, constando de trabalhos do Pará, Amazonas, Roraima, Acre, Amapá, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão e Rondônia.
Ainda constando da programação do seminário, foi realizada no sábado, dia 24/03, visita às Avenidas Presidente Vargas e Nazaré, localizadas na área central da cidade, espaços emblemáticos de processos de modernização da capital paraense na primeira metade e início da segunda metade do século 20. Os participantes puderam conhecer obras de referencia da arquitetura moderna em Belém, como o edifício Manoel Pinto da Silva e a residência do arquiteto Alcyr Meira, que recebeu os participantes, e durante mais de uma hora ministrou uma aula histórica sobre este projeto e do edifício sede do Paysandu Sport Clube, também de sua autoria.
Foi possível constatar na visita à avenida Presidente Vargas, o estado de abandono em que se encontram vários edifícios construídos entre o final da década de 40 e os anos 60, como a sede do antigo IAPI do arquiteto Edmar Penna de Carvalho. Diante dessa e de outras obras da arquitetura moderna, que exigem atenção imediata de parte das instâncias competentes, o fórum de encerramento do III SAMA divulgou a Carta de Belém, na qual solicita a proteção a esses imóveis e, especialmente à Casa Bittencourt, projeto do engenheiro e arquiteto Camilo Porto de Oliveira dos anos 50, que se encontra ameaçada, já que o terreno onde se localiza foi fracionado e vendido a construtoras, e a casa posta à venda. A carta está sendo encaminhada aos órgãos competentes para os devidas providências, pois já existe um pedido de tombamento desse exemplar na Fundação Cultural do Município de Belém – FUMBEL, departamento de Patrimônio Histórico do Município.
Encerrando o seminário, foi lida pela professora Graciete Guerra da Costa da Universidade Federal de Roraima, a carta de solicitação para a realização do IV SAMA na UFRR, com a concordância unânime dos participantes presentes, mantendo, assim, o firme propósito de desenvolver o conhecimento, a pesquisa e avançar com os programas de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo na Amazônia brasileira.
nota
1
Compuseram a exposição “Arquitetura Moderna” os trabalhos aprovados pela comissão científica do III Seminário de Arquitetura Moderna na Amazônia; pôsteres da disciplina Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo, referente às casas e edifícios modernos em Belém, organizados pelo Laboratório de Historiografia da Arquitetura e Cultura Arquitetônica – LAHCA (coordenação de Celma Chaves); pôsteres do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural – LAMEMO, referente a grandes nomes da arquitetura local de repertório moderno (coordenação de Cybelle Miranda); exposição fotográfica artístico-documental sobre a arquitetura moderna em Belém, de autoria dos alunos da disciplina Fotografia (coordenação Jorge Eiró); exposição “Casas Exumadas”, com redesenhos de notáveis exemplares da arquitetura moderna, já demolidos (desenhos do arquiteto Jeová Barros).
sobre a autora
Celma Chaves é doutora pela Universidade Politécnica da Cataluña (2005). Professora Associada IV da Universidade Federal do Pará na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Coordena o Laboratório de Historiografia da Arquitetura e Cultura Arquitetônica (LAHCA-FAU/UFPA).