“Não basta mais denunciar. Doravante precisamos enunciar. Não basta apenas relembrar a urgência é preciso começar”.
Edgar Morin, 2015 (1)
Foi com satisfação que recebemos a confirmação da eleição da Chapa 1 – CAU mais Plural, composta por 156 mulheres que elegeu com 40% dos votos 49 conselheiras estaduais para o CAU/SP conseguindo assim a vaga de São Paulo no CAU/BR, na segunda-feira passada.
No mundo contemporâneo, A profissão arquiteta(o) e urbanista não admite mais padrões congelados e imutáveis na sua regulação: é necessário entender que a dinâmica social, econômica, de comportamentos, consumo, trabalho, circulação – principalmente a partir desse momento de crise – afeta diretamente os conteúdos de atuação do arquiteto.
Estamos vivendo tempos de dilaceramentos, onde o confronto de ideias está posto de forma esgarçada, em um maniqueísmo improdutivo, violento e surdo.
Para isso precisamos configurar novos modos de agir politicamente, construindo pontes que unem lados opostos, que reconhece e dá valor aos dois lados das margens do rio.
Para atingir tais objetivos precisamos necessariamente mudar os modos de gestão do CAU. A trajetória do Conselho, apesar de curta – dez anos de existência –, carrega heranças de um passado que não nos pertence; não está vinculada à realidade da maioria das(os) arquitetas(os) e urbanistas, está defasada, atende a poucos, e não inclui – ao contrário, repele – os diversos profissionais que formam o universo da arquitetura.
A proposta da Chapa 1 recém-eleita para o triênio 2021-2023 é a de construção de uma nova via, instaurando no Conselho uma forma de se fazer gestão completamente diferente, com novos contornos, que se firme por uma ação horizontal, plural, democrática e colaborativa, de comunicação ampla e direta, ampliando assim os horizontes de ação do CAU no Estado de São Paulo, imprimindo uma ação redistributiva no território brasileiro.
A falta de representatividade de mulheres em entidades e cargos de comando não é um problema apenas da arquitetura e urbanismo ou do CAU, é uma questão da sociedade como um todo. Porém, em uma classe de profissionais cujo o número de mulheres é bastante superior ao dos homens (63,5% de mulheres arquitetas), o assunto requer maior atenção.
Constituímos, portanto, um grupo feminino, composto de mulheres com diversas práticas profissionais, origens, faixas etárias e raças. Este novo contorno alternativo, possibilita a identificação e pertencimento de um espectro mais extenso de profissionais – pertencentes ou não ao Conselho – ampliando as pautas, os temas de discussão, gerando assim um maior interesse e envolvimento de todos com a instituição.
Nos unimos porque acreditamos na força e voz de uma frente de mulheres atuantes nos diversos campos de nossa profissão, que pensam de forma progressista e que buscam ampliar a conexão do CAU com a sociedade, para além da sua missão "primeira" de “orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de arquitetura e urbanismo”.
O contexto atual demanda a revisão continuada de procedimentos, normas, regimentos e códigos do CAU, sem perder a integridade do Conselho, mas ampliando seu espectro de atuação ancorado na realidade do cotidiano da profissão.
Dar voz às arquitetas e aos arquitetos em plataformas participativas, conectar São Paulo, que concentra um terço dos arquitetos brasileiros, é uma das nossas perspectivas. Contribuir para ampliar a atuação daqueles que atuam na esfera pública, nas universidades e nos escritórios privados, e sensibilizar a sociedade da importância de seu trabalho; conferir prestígio social do nosso ofício, buscar uma ação mais social para o CAU através do diálogo e da coesão com as demais entidades de Arquitetura e Urbanismo é a proposta de ação que obteve 11.568 votos na última eleição do Conselho. Agradecemos a confiança em nós depositada e esperamos um trabalho produtivo nós próximos três anos.
nota
1
MORIN, Edgar. A via para o futuro da humanidade. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2013, p. 45.
sobre as autoras
Catherine Otondo, arquiteta e urbanista, conselheira estadual eleita para o CAU/SP pela Chapa 1 – CAU mais Plural, triênio 2021-2023.
Nadia Somekh, arquiteta e urbanista, conselheira federal eleita para o CAU/BR pela Chapa 1 – CAU mais Plural, triênio 2021-2023.