No ritmo atual chegaremos à trágica marca de 200 mil mortos pela gripezinha ainda ao longo desta semana.
E apesar de apenas metade da população considerar que o capitão tem responsabilidade direta nesse genocídio, setores significativos do mundo político e social começam a reagir ao projeto de destruição do país.
A semana que passou mostra que, mal assentada a poeira das eleições, a parcela democrática e progressista da sociedade brasileira está desacorçoada, mas não está morta.
A pressão de governadores e da esmagadora maioria dos epidemiologistas, além da evidência de que até heróis do bolsonaro/trumpismo como o vice Mike Pence e o sátrapa da Rússia, Putin, vão se vacinar sem medo de virar jacaré ou falar fino, estão começando a movimentar placas tectônicas no regime militar.
A votação do Supremo por 10 a 1 (coincidentemente, o indicado pelo capitão) para assentar que a vacina não é compulsória, mas seu atestado pode ser exigido para realizar atividades da vida cotidiana, como viajar ou frequentar clubes, assim como já ocorre com outras vacinas, foi outra vitória para aqueles que não acham que a mortandade massiva de idosos e pobres é benéfica para a economia.
Também na sensível e estratégica área de educação, esta semana nos trouxe um alívio, provisório como todos, mas muito importante.
O leitor talvez se lembre que, poucos meses atrás, era a própria continuidade do Fundeb, cuja regulamentação venceria neste final de ano, que estava em sério risco, mercê da posição claramente anti educacional do desgoverno que nos assola.
Fundeb é a sigla do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, que apoia financeiramente a melhoria das atividades educacionais, inclusive da educação básica e de jovens e adultos.
A intensa pressão dos educadores do país – e de muitos prefeitos – sensibilizou o Congresso a aprovar a nova regulamentação em caráter de urgência de forma a não privar os municípios, especialmente os mais pobres, desses recursos fundamentais.
Como ocorre com frequência, alguns deputados incluíram no projeto os famosos “jabutis”, entre eles a possibilidade de que os recursos apoiassem também estabelecimentos privados e religiosos.
O senado reestabeleceu a norma constitucional, limpando a proposta dos jabutis ou, para usar a linguagem do momento, os vírus privatizantes.
Não basta insistir que que o nível da educação brasileira, notadamente no ensino básico, fundamental e médio, deixa muito a desejar. É preciso oferecer condições para que estados e municípios consigam promover avanços concretos e progressivos.
Parafraseando a “live” de final de ano de Caetano Veloso: We are Alive! Estamos vivos! E dispostos a resistir.
sobre o autor
Carlos Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos.