A dureza com que São Carlos foi açoitada pelas últimas enchentes, além de nos oferecer, pelos motivos errados, alguns minutos no noticiário nacional, também ameaça provocar uma salutar reação da sociedade são-carlense.
Grupos de trabalho das universidades estão apresentando trabalhos já realizados ou propondo novas formas de colocar seus conhecimentos técnicos a serviço da definição de políticas públicas de prevenção e combate às enchentes.
É natural e necessário que a ciência e a tecnologia sejam mobilizadas para a compreensão e enfrentamento do que é, cada vez mais, um tormento da população em geral e um desastre para os comerciantes e trabalhadores da baixada do mercado e, cada vez mais, de outros setores da cidade, atingindo de maneira particularmente cruel a população mais pobre.
Várias organizações e movimentos da cidade estão tentando juntar esforços no sentido de aprofundar o conhecimento técnico do problema, buscar e desenvolver propostas de minimização e controle dos grandes fluxos hídricos e oferecer propostas e sugestões ao poder público.
Em artigo publicado nesta semana, os ex-prefeitos Newton Lima e Oswaldo Barba, chamam a atenção para a irresponsabilidade da interrupção de obras já aprovadas e financiadas.
Tudo isso certamente é muito positivo. As obras, aprovadas tecnicamente e com financiamento aprovado ou em processo de aprovação devem ser mantidas com independência de quem ou qual partido ocupam a cadeira do prefeito. Porque, afinal, ele está lá para servir a cidade e a população e não se servir delas.
Mas é necessário lembrar que as enchentes não são apenas um problema histórico. Elas são um problema que vem se agravando progressiva e exponencialmente. Para simplificar, por dois fatores concorrentes: o previsível agravamento das condições climáticas e a progressiva e crescente impermeabilização da superfície da cidade.
Por isso, pouco efeito terão as obras já projetadas ou novas medidas propostas para médio e longo prazos se, no curto prazo, a prefeitura continuar cedendo – ou se somando – a pressões do setor imobiliário para a “flexibilização” do Plano Diretor e da Lei de Proteção aos Mananciais.
A busca de soluções para o problema das enchentes em São Carlos será custosa e complexa. E inútil, se não se parar imediatamente de alimentar as causas do problema.
Quando se quer, de verdade e não da boca para fora, superar um erro, a coisa mais urgente a fazer é parar de reincidir no erro.
sobre o autor
Carlos Alberto Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos.