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interview ISSN 2175-6708

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Professora titular de "Storia della Città e del Territorio" do Dipartimento di Storia dell'Architettura, do Istituto Universitario di Architettura di Venezia, Donatella Calabi é hoje uma das mais importantes historiadoras da Itália

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Full professor of "Storia della Città e del Territorio" of the Dipartimento di Storia dell'architettura of the Istituto Universitario di Architettura di Venezia, Donatella Calabi is today one of the most important historians of Italy

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Profesora titular de "Storia della Città e del Territorio" del Dipartimento di Storia dell'Architettura, del Istituto Universitario di Architettura di Venezia, Donatella Calabi es hoy una de las más importantes historiadoras de Italia

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RETTO JR., Adalberto; BOIFAVA, Barbara . Donatella Calabi. Entrevista, São Paulo, ano 04, n. 015.01, Vitruvius, jul. 2003 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/04.015/3335>.


Storia dell'urbanistica europea. Questione, strumenti, casi esemplari. Donatella Calabi. Torino, Paravia, 2000

Estratégias urbanas e resistência da estrutura edilícia

Adalberto Retto e Barbara Boifava: Qual a relação entre estratégias urbanas e resistência da estrutura edilícia na pesquisa do fenômeno urbano?

Donatella Calabi: Dada a complexidade e a estratificação dos poderes, as obras de reformulação física nas cidade do Ancièn Régime e, em parte, também naquelas contemporâneas, não acontecem segundo o esquema de um grande plano unitário, nem de uma transformação em grande escala, mesmo se interferem com a organização urbana no seu conjunto. Existem casos em que as razões do sítio são condicionantes, ou nos quais o elemento de viscosidade é representado pelo peso de uma história muito antiga.

Quando se fala de cidade, é preciso não esquecer que a duração temporal, de um lado, e a força espacial, do outro, têm uma capacidade tão ampla a ponto de absorver as condições tecnológicas, transformações sociais inicialmente não previsíveis. Um exemplo significativo é a resistência da Paris de Haussmann, à distância de um século e meio das intervenções.

A narrativa dos acontecimentos que nos interessam se relaciona então à história longa das cidades: as fases das mudanças são, às vezes, até mesmo pluriseculares. As hesitações entre o desejo de captar a herança medieval e as inovações da idade moderna se arrastam por décadas e abrandam, ou até mesmo obstaculizam, qualquer decisão (28).

Um dos critérios canônicos para definir as escansões cronológicas urbanas, utilizado contemporaneamente com freqüência, com o das atividades mercantis predominantes, é a observação do aumento da população pelo efeito do crescimento demográfico ou migratório nos momentos de maior complexidade econômica e nos períodos de transformação dos modos de habitar. Deste ponto de vista, os dados numéricos geralmente recolhidos para fins fiscais, estratégicos, ou políticos, são às vezes pouco confiáveis e nem sempre passíveis de confrontações.

Todavia, a grande articulação do movimento de pessoas nas áreas urbanas (transitórios ou de um período mais longo) é tal, a ponto de delinear uma mobilidade elevada, uma notável instabilidade social de pelo menos uma parte da população e rápidas mudanças; talvez se possa dizer que, somente para o quadro demográfico, além daquele político, a fase de 1450 –1650 é, em toda Europa uma das mais vivazes (29). Analogamente, pouco confrontáveis são os dados de ordem topográfica: é conhecido que até as notícias a propósito da superfície intra muros variam enormemente de um teórico para outro, e que, em geral, não dispõe-se, para a cidade do Ancièn Régime, de planimetrias da área urbanizada tão precisas a ponto de serem confrontadas entre elas, ou a ponto de fornecer indicações traduzíveis em quantidade, ou de revelar uma tendência (30). Fica ainda mais claro que são pouco comparáveis os dados relativos e a densidade da edificação, ou a quantidade de habitantes por imóvel, ou o crescimento por bairro ou por paróquia, ou ainda, o andamento da despesa pública para a construção, a organização de ofícios, ou estimativas dos víveres necessários á sobrevivência dos cidadãos. Estas considerações todas demonstram freqüentemente de enorme utilidade para o conhecimento de um caso de estudo, mas, que no conjunto, fogem de qualquer possibilidade de confronto (31). É aliás sabido que, no processo geral de urbanização da Europa depois do período tardo medieval, esta fase registrou variações importantes de região à região e entre tipos diferentes de cidade. E, além das vicissitudes particulares, da alteração de alguns itinerários e de grupos étnicos inteiros, das desventuras do dia a dia em um lugar ou noutro (peste, carestia, falências, guerras), os grandes centros citadinos gozam em geral de boa saúde. Também quando o corpo destes grandes centros citadinos não aumenta de peso e de volume, quando no Quinhentos algumas cidades não atravessam mais a fase do esplendor máximo (Lubecca, Barcelona), as inércias do construído são tais, que a contrução e a estrutura viária registram por um longo período o seu passado áulico. Não é somente na época medieval que uma cidade em declínio pode continuar capital por muito tempo; também na idade moderna, a geografia das instituições urbanas evolui menos, e sobretudo menos rapidamente do que a realidade urbana (32). Em cada caso existem deslizamentos temporais fortes; nos diagramas dos movimentos demográficos ou da taxa de urbanização, as curvas não se podem sobrepor. Às vezes a recuperação de uma cidade requer muito tempo ou passa por catástrofes recorrentes: Florença, cuja população diminuiu drasticamente depois da morte negra na metade do ano 300, recomeça a crescer sensivelmente somente depois de 1460; Genova, depois de duas pestes próximas e um ano de escassez, em 1531 tem 51.150 hab., com uma taxa de incremento demográfico elevada devido sobretudo à emigração (33). Antuérpia registra 5.000 hab em 1374; 20.000 em 1440; em 1496, somente poucos anos depois de Maximiliano transferir para ela os privilégios comerciais de Bruges, 6.000 casas e 68.000 hab; em 1516 passaram a ser 8.785 casas e 87.000 hab., com um aumento de 28% em uma década; em 1567, momento de máximo esplendor e insipiente declínio, a sua população teria atingido o teto de 100.000 unidades, dos quais 26.200 estrangeiros, se confiarmos nos números sugeridos por Ludovico Guicciardini (34), que provavelmente fornece indicações superdimensionadas mesmo quando trata de outros casos. Isto é confirmado pelo fato que, na mesma data, Augusta "grande e nobre", mas com poucos forasteiros residentes, não supera os 70.000 hab, enquanto Nuremberg seria bem mais populosa; Paris, para a qual alguns falam de 700.000 /800.000 hab, na realidade chegaria a 310.00/320.000; Sevilha, cidade entre as maiores da Espanha, teria 150.000 hab; Florença abrigaria até mesmo 120.000 hab; Veneza, "cognominata la ricca, e meritatamente", abrigaria 195.863 almas esparsas em 60 ilhotas marinhas... (35) Amsterdã, em períodos normais, tem uma população de 300.000 pessoas e são todos mercantes, afirma em 1618 o embaixador veneziano Antonio Donà, talvez exagerando tal dado; nos momentos de tráfego extraordinário o número de forasteiros aumenta consideravelmente; é verdade, por outro lado, que, naquela data, a cidade que tinha começado seu verdadeiro crescimento há não mais de 35 anos, conseguiu o seu período de máxima florescência (36).

Em suma, estes confrontos resultam somente indicativos; apesar dos esforços feitos, suscitam algumas perplexidades. Na falta de uma série de dados contínua e detalhada, existem, porém, tentativas de reagrupar as maiores cidades dentro de classes de população bastante amplas (37). Há disponível, além do mais, uma vasta literatura acerca das análises categórico-dimensionais das cidades no período tardo medieval, assim como numerosas propostas de corretivos à aplicação da teoria dos lugares centrais aos sistemas urbanos do antigo regime (38). Foi justamente observado que alguns modelos, mesmo sendo insatisfatórios no seu conjunto, iluminam certos episódios urbanos melhor do que outros. Mas as diversas abordagens parecem de fato convergir no elenco de uma espécie de "internazionale delle città" interessada mais no mundo, na sua totalidade, do que no próprio quintal (39). Se, sob o perfil político, o Quinhentos pode ser definido como o século das grandes transformações, a ponto de considerá-lo como um divisor de águas decisivo para a organização do construído, a escansão é menos clara e nos casos singulares, se verificam maiores ou menores ritmos de transformações à jusante e à montante (40). Afinal, se é verdade que na época de Carlos V, da Alemanha à Itália, o poder se consolida nas mãos dos cidadãos maiores e mais ricos, mas que somente em alguns casos identifica uma sólida classe de governo patrício capaz de avantajar o predomínio do interesse público sobre aquele particular, e ainda, se é verdade, que assim emergem algumas cidades a preço do declínio de outras, os processos da sua reconfiguração parecem às vezes escorregadios, algumas vezes sujeitos à aceleração de improviso e nem sempre reconduzíveis àqueles poderes (41).

A disciplina institucional e os acontecimentos da absorção de muitas cidades dentro de complexos estatais mais vastos, com uma redução das prerrogativas de autonomia, ou com o manifestar-se de uma situação de crise, amadurecem nos diversos países em tempos distintos e nem sempre rápidos, mas sobretudo não têm como único efeito uma decadência complexiva.

Instrumentos novos e diversos são às vezes adotados para fazer valer o próprio peso, através das instituições representativas (a sede de algumas magistraturas, certos ofícios, ou o lugar de organizações citadinas que administram ou produzem riqueza), ou tentam inventar e aperfeiçoar novas possibilidades de desenvolvimento (42). Assim, a forma particular de organização do assentamento urbano para fins produtivos e comerciais, herdada do período medieval, nem sempre se revela funcional no novo sistema, já governado pelas grandes potências mundiais (43).

É um fato que, para ler a estrutura edificada, parece mais do que nunca necessário dotar-se de algum instrumento que permita observá-la através da "abstração da longa duração", sem negligenciar as operações que se medem no tempo breve (44).

AR e BB: A senhora poderia discorrer sobre o estudo da cidade como variável de transformação?

DC: Foi observado no passado que responder à pergunta "que coisa é uma cidade?" para o período entre os séculos XI e o XIV, é aparentemente muito fácil: a maior parte dos escritos e das pinturas mostra a cidade como cinturão murado, densamente construída no seu interior, com um perfil dominado pelas construções religiosas; o coração da vida ativa é o mercado, onde se efetua a troca entre os vários setores de produção; no momento em que se consolida esta centralidade, acrescentam-se funções culturais e político-administrativas (45). Mas, ao longo dos séculos, a maior parte das cidades, mesmo permanecendo em boa medida fiel à própria imagem, não a preserva: em geral suscita não um discurso, mas outros discursos simultâneos que se entrecruzam. Os séculos XVI e XVII não fogem certamente a esta regra. Ao contrário, na Europa é justamente esta a fase em que uma série de iniciativas de definições setoriais preparam o nascimento da cidade contemporânea (46): iniciativas que são em parte velhas, porque são repetitivas de outras já empreendidas no passado, e em parte totalmente novas. Existem fatores externos que condicionam o desenvolvimento e as transformações das cidades, nesta ótica é possível estudar a cidade como variável dependente; ou ainda, como variável independente da mudança, ou até mesmo capaz de influenciar toda a economia e o conjunto da sociedade. Isto foi feito não só no estudo da época Medieval, mas também para a cidade industrial. O advento da ferrovia é um fator de grande significado potencial para a transformação urbana, que dificultou o estudo da história local, e contribuiu para separar cidade e campo.

notas

28
J.ean Pierre Bardet, Une nouvelle histoire des villes, in: "Annales" ESC, 1977, 32 (6), pp. 1237-46; Alberto Tenenti, La civiltà europea nella storia mondiale. La formazione del mondo moderno, sec. XIV-XVII, Bologna 1980, p. 122: não só obstáculos econômicos, mas também dificuldades sociológicas e de gosto coletivo; os mercantes abastados das cidades alemães e holandesas, de forte tradição municipal ou republicana, identificaram os seus ideais civis com os modelos da própria construção tradicional, que permaneceram fiéis também no período da florescência Quinhentista. Cfr. anche: Henry-Russell Hitchcock, German Renaissance architecture, Princeton 1981.

29
Paul M. Hohemberg, LLynn Hollen Lees, La città europea dal Medio Evo a oggi, Bari 1987, pp. 9-15; R. Mols, Introduction à la Demographie Historique des villes d'Europe du XIV au XVIII siècle, Louvain 1954.

30
Léopold Genicot, Les grandes villes de l'Occident en 1300, in: Economies et sociétés au moyen Age, Melanges offerts à E. Perroy, Paris 1973, pp. 199-219.

31
Léopold Genicot, Les grandes villes de l'Occident en 1300, in: Economies et sociétés au moyen Age, Melanges offerts à E. Perroy, Paris 1973, pp. 199-219.

32
É sintomática a renúncia declarada pela maior parte dos medievalistas a um confronto demográfico [IX Congrès International des Sciences Historiques, Paris 1950 pp. 55-80] ; a afirmação não parece hoje superada, nem mesmo propõe um panorama totalmente diferente para o período sucessivo.

33
Giuseppe Felloni, Popolazione e case nel 1531-35, in "Atti della Società Ligure di Storia Patria", Genova LXXVIII (1964)

34
Ludovico Guicciardini, Descrittione di tutti i Paesi Bassi, altrimenti detti Germania Inferiore, Antwerp 1567, p. 132.

35
L. Guicciardini, cit. p. 145.

36
Petrus Johannes Blok, Relazioni, cit., p. 110.

37
Roger Mols S. J., La popolazione europea nei secoli XVI e XVII, in: Storia economia d'Europa, secoli XVI-XVII, Torino 1979, II, pp. 20-21.

38
Cfr. la prefazione di: Bernard Lepetit, Les villes dans la France moderne, Paris 1988.

39
Hans van Werveke, The rise of Towns, in: Cambridge Economic History of Europe, vol. 3, Cambridge 1963, pp. 3-41; J. C. Russel, Population in Europe, 500-1500, in: The Fontana Economic History of Europe, vol. I, The Middle Ages, a cura di Carlo Cipolla, London 1972, pp. 25-70.

40
Guido D'Agostino, Città e monarchie nazionali nell'Europa moderna, in: Pietro Rossi (a cura di), Modelli di città, Torino 1987, p. 399.

41
Marino Berengo, cit., pp. 669-670.

42
Giorgio Chittolini, La città europea tra Medioevo e Rinascimento, in P. Rossi (a cura di), cit., pp. 370-393.

43
F. Braudel, Civiltà....cit., pp. 398-9.

44
Ludovico Guicciardini, Descrittione di tutti i Paesi Bassi, altrimenti detti Germania Inferiore, Antwerp 1567, p. 132.

45
Edith Ennen, Storia della città medievale, Bari 1983 (I ed., Goettingen 1972)

46
Roger Chartier e Henri Nevreux, La ville dominante et soumise, in: Histoire de la France Urbaine, vol. 3, pp. 121-127.

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