Adalberto Retto: Depois de um período de relativo eclipse o confronto com Tafuri está sendo re-proposto como algo iniludível para a cultura contemporânea: The Critical Legacies of Manfredo Tafuri (2006) na Columbia University, Seminário Internacional de Estudo 2004-2005 Rileggere Tafuri, junto ao Doutorado de Excelência da Fondazione Scuola Studi Avanzati in Venezia, etc. Exceto o volume duplo de Casabella, nº 619-620, 1995, dirigida por Gregotti, o seu livro é o primeiro dedicado integralmente a Manfredo Tafuri. A sua interpretação do trabalho histórico-crítico de Tafuri se concentra na idéia de “Projeto de Crise” como diz o próprio título do livro. O senhor pode discorrer sobre o tema do livro?
Marco Biraghi: Isso que você chama de eclipse do pensamento tafuriano – a que efetivamente corresponde de algum tempo uma re-emergência de interesse – é, mesmo que seja implicitamente, um tema, ou para melhor dizer a “causa”, do meu livro. Por isso, se também o seu objetivo fosse somente aquele de contribuir para fazer voltar a re-discutir Tafuri, estarei já plenamente satisfeito. Isto dito, o fio condutor do livro é a tentativa de re-percorrer aquilo que Tafuri chamava de “projeto histórico”, que posteriormente é um “projeto de crise”, como ele mesmo sublinhava, e procurar compreender como tal projeto fosse de qualquer modo necessariamente destinado a concluir-se com um “xeque mate”.
Neste sentido o projeto tafuriano é um projeto radicalmente moderno. Isso pertence a uma visão profundamente trágica da realidade, dentro da qual a aceitação e também a análise profunda das contradições não permite, todavia de superar-lhes, e assim de se liberar delas. Eu tentei seguir, passo a passo, o projeto histórico de Tafuri relativo à arquitetura contemporânea, tentando recolocá-lo juntamente com os fios esparsos aqui e ali, nos seus livros, não seguindo a ordem cronológica, mas procurando trazer à tona o seu juízo sobre alguns autores.
Por exemplo, vieram a tona interessantes oscilações relacionadas a Louis Kahn, que antes foi visto como um “salvador”, e depois, como uma espécie de “início do fim” da arquitetura moderna, nos ombros do qual recaiu a as culpas de qualquer falência... Em geral, a sua abordagem sempre foi muito crítica em relação a toda arquitetura que teve a ilusão de poder evitar prestar as contas com a realidade. Uma abordagem histórica-crítica baseada na crítica da ideologia (e da utopia, como seu necessário correlato) não podia menos que por de frente a um aut aut (21) de uma inteira cultura arquitetônica – e de conseqüência por um aut aut a si mesmo. O projeto de Tafuri foi, no meu ponto de vista, um dos grandes produtos da modernidade (e também um dos últimos, provavelmente). O problema para nós hoje é compreendermos em que medida este projeto seja verdadeiramente “histórico”, e por isso pertença à sua época, ou mesmo possa ser útil também para nós.
nota
21
Expressão latina que significa “ou sim ou não”, “de um modo ou de outro”.