Adalberto Retto: Qual é o verdadeiro papel de Manfredo Tafuri na crítica contemporânea?
Marco Biraghi: Penso que Tafuri tenha pelo menos um duplo papel. Em primeiro lugar um papel “histórico”, no sentido que foi uma das maiores e mais influentes figuras da crítica arquitetônica da segunda metade do século passado. A sua atual “eclipse”, total ou parcial, não significa que este papel não tenha havido e que não os viria reconhecido. A sua importância é “objetiva”, e creio vá além de cada avaliação de parte.
Alguns de seus livros são fundamentos da cultura arquitetônica, muito além (ou, quase sempre além) da sua atualidade. É justamente por serem profundamente radicados na sua época, em tê-la assinalada, que demonstram a sua importância; mesmo se hoje podem resultar – e por certos artigos tomara que sejem – superados ou parciais.
Depois ele tem um papel que diria “potencial”. Com meu livro procurei olhar este papel, e de indicar lhe o sentido. Tafuri nos convida a uma profunda, radical inquietude: a inquietude do historiador, não aquela do filósofo ou do homem comum. A inquietude do historiador é aquela que não dá por passado o passado, que não lhe permite passar, mantendo-lhe aberto, interrogando-lhe continuamente, e assim fazendo modificando-lhe. Eu creio que o mesmo deveria ser feito com Tafuri e com sua obra. Continuar a interrogá-la significa não somente mantê-la viva, mas também manter aberta aquela produtividade da crise que está no centro do seu projeto histórico. Retenho que a compreensão profunda do significado da crise seja muito importante para nós hoje, e não só para os historiadores. No sentido banal, que hoje a crise é mais atual, no sentido que a crise é sempre atual, e assim enquanto tal escapa aos olhos desatentos, aos olhos que não querem ver. A crise é objeto de uma contínua, perpétua remoção, social e cultural. E eu penso que o fato de fazer nos tomar atenção à crise, à constituição da crise, faça do pensamento de Tafuri um dos fundamentos do Novecentos, de que não precisa ter muita pressa de descartar-se.