Adalberto Retto: Como nos diz Manfredo Tafuri, “objeto da história é a análise do ‘embate’ entre ‘as muitas linguagens’ (e os muitos dialetos) que compõem o real”. O senhor nos recorda que aquilo que regula o processo histórico é a luta constante entre a análise e os seus objetos, e que isto, não deve deixar escapar o horizonte geral de referências sobre as quais a noção de crise era colocada naqueles anos: Projeto e destino de Argan, Husserl da Crise das ciências européias e outros. O senhor pode iluminar este percurso?
Marco Biraghi: Diria que o pensamento da crise faz um todo com o pensamento ocidental dos últimos séculos. Por esta razão um dos autores a que se refere constantemente Tafuri é Nietzsche.
Para avaliar na totalidade a influência que o pensamento de Nietzsche – mas também de Benjamin, de Heidegger e de Husserl da Krisis – tem sobre Tafuri, precisa inseri-lo no contexto italiano dos anos sessenta; de um lado os pais históricos da filosofia italiana do período – sobretudo Enzo Paci, de outro o ambiente veneziano com que Tafuri entra em contato a partir de 1968, e que tem em Massimo Cacciari o seu maior expoente. Eu creio que muitíssimo do que Tafuri escreveu deva ser relido à luz destas figuras, próximas e distantes. Em particular a questão da crise (mas atenção: da produtividade da crise, da sua “positividade” por mais paradoxal que possa parecer) não pode ser lida nesta chave, profundamente nietzschiana.
Mesmo que para a formação do projeto histórico tafuriano concorrem outros componentes, como por exemplo, o discurso psicanalítico de Freud, ou as diversas críticas da linguagem de Wittgenstein e de Karl Kraus. Todos os componentes de qualquer maneira que têm como alvo comum a Europa dos primeiros trinta-quarenta anos do Novecentos, ou mesmo um lugar e um período assinalados por uma crise insolúvel, da Viena do finis Austriae à Alemanha alle prese con il nazismo.