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interview ISSN 2175-6708

abstracts

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Nessa entrevista, Nelson Kon registra suas histórias e impressões, em um processo que o permite reconhecer a origem de seu trabalho, assim contribuindo para a melhor compreensão do papel da fotografia na estruturação da arquitetura

how to quote

COSTA, Eduardo Augusto; GOUVEIA, Sonia Maria Milani. Entrevista Nelson Kon. Uma Fotografia de Arquitetura Brasileira . Entrevista, São Paulo, ano 11, n. 043.02, Vitruvius, ago. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/11.043/3482>.


Teatro de Araras, arquiteto Oscar Niemeyer, 1995
Foto Nelson Kon

Eduardo Costa: Como foi a relação com a revista Projeto e, principalmente, com o Hugo Segawa, por ele ser professor de história da arquitetura e ter uma leitura da fotografia de arquitetura?

Nelson Kon: Quem me apresentou à revista Projeto foi um amigo do meu pai, o arquiteto Sérgio Teperman. O Vicente Wissenbach me chamou para conversar. Fizemos um acordo e eu fotografaria por permuta. A Projeto tem permutas com anunciantes de móveis, persianas, pisos. A proposta foi passar para mim estas permutas e fazer anúncios meus. Seriam seis anúncios, durante o semestre, um por mês. O anúncio foi feito com uma foto do Teatro de Araras (12). Uma foto mais abstrata. Esse trabalho foi um marco em minha relação com a Projeto e em minha carreira profissional, porque foi uma coisa a que eu me dediquei muito. Tinha consciência de que aquilo seria visto por muita gente. Fiquei três dias em Araras. Eu não tinha câmera de correção de perspectiva, era uma câmera rígida. Nesse começo, aprende-se muito, cada trabalho que você faz é um grande aprendizado e eu realizava com muita dedicação. Na época, o (Oscar) Niemeyer escreveu para a revista elogiando as fotos. Fiquei muito orgulhoso! Minha parceria com a revista foi simples assim: eles não tinham custo algum com as fotografias e eu divulgava meu trabalho. Funcionava para mim como um portfólio. Eu não era um bom fotógrafo, mas o simples fato de existir alguém focado no assunto, preocupado com as questões específicas da fotografia de arquitetura, já fazia uma diferença enorme em relação ao material que se encontrava no resto da revista. Com isso, meu trabalho começou a receber alguma atenção! Passei a ser chamado por alguns arquitetos e o valor cobrado era muito baixo. Boa parte dos arquitetos não pensava assim – era um custo novo: “Vou precisar gastar R$ 500 com fotografia? Sempre foi o nosso estagiário que fotografou.” De meu ponto de vista, vindo da publicidade, eram valores irrisórios: levava um, dois dias de trabalho para fotografar o edifício, entregava 30/40 fotos e cobrava menos do que antes para fotografar um maço de cigarro, no estúdio. Assim, rapidamente ocupei um espaço que estava querendo ser ocupado.

Algumas empresas, fornecedoras da área, também começaram a interessar-se por meu trabalho – nestes casos, a remuneração era melhor. A Forma Móveis foi minha cliente durante muitos anos. Ela comprou algumas fotos que fiz da loja projetada pelo Paulo Mendes para a Revista Projeto e, a partir daí, começaram a contratar-me para fotografar seus produtos e suas obras.

Neste início, o Hugo Segawa era o editor da Projeto. Não sei ao certo se era formalmente o editor, mas com certeza o era de fato. Ele sempre foi muito sensível e consciente do papel da fotografia na edição da revista. Além disso, ele fotografa muito bem e sempre era solicitado a publicar suas imagens. Ele relutava muito em ceder suas imagens porque defendia a idéia de que as fotografias deveriam ser encomendadas a um profissional da área – ele sempre respeitou muito o trabalho dos fotógrafos. Não sei se o Hugo foi o primeiro a abordar a questão da fotografia de arquitetura ou a Ana Luiza Nobre, na Revista AU. As duas revistas organizaram matérias sobre o assunto e apresentaram alguns fotógrafos: Cristiano Mascaro, Dulce Ribeiro, Celso Brando e eu.

Depois de alguns anos na área, comecei a receber solicitações de revistas internacionais. No começo era uma brincadeira, mas foi evoluindo e, hoje, forneço imagens da arquitetura brasileira para dezenas de publicações no mundo todo. Vendas para fora do Brasil, hoje, são importantes em minha receita e estou bem organizado para atender essa demanda.

EC: Sobre esse hiato que existiu, nas décadas de 1960 e 1970, você acredita ser por conta do quê? Ditadura militar?

NK: Não sei exato. A ditadura militar teve, sim, uma influência negativa na produção de arquitetura. Internacionalmente, está claro que houve um desinteresse pela arquitetura brasileira. Houve, antes disso, um grande interesse a partir da publicação do Brazil Builds. Há números especiais das revistas todas, alguns livros... uma enorme difusão da produção dos arquitetos brasileiros. Aqui no Brasil, depois das revistas Acrópole, Módulo e Habitat, houve uma lacuna na mídia arquitetônica e isso pode ter ajudado na pequena repercussão da arquitetura brasileira em revistas estrangeiras. A volta do interesse pela arquitetura brasileira lá fora é um pouco posterior ao ressurgimento das revistas aqui. Primeiro, o Jornal do Arquiteto (13) do Vicente (Wissenbach), e depois a revista Projeto, também lançada por ele.

Sonia Gouveia: E, hoje, quais fotógrafos você acompanha e admira?

NK: Acompanho algumas revistas, não sistematicamente os fotógrafos. Interesso-me por alguns fotógrafos com trabalhos autorais ligados à arquitetura... Gabriele Basilico, italiano, eu gosto muito. Cristiano Mascaro, fantástico. Há os fotógrafos comerciais – o Fernando Guerra, português; Helene Binet, uma francesa que fez um trabalho incrível nas termas do Peter Zumthor; o holandês Jan Versnel, o (Yukio) Futagawa, os americanos da ESTO.

EC: Nelson, tem mais alguma coisa que você não falou e sobra a qual gostaria de falar?

NK: É bacana refletir sobre esses assuntos, colocar-me na história. Quando comecei a fotografar, para mim não existia uma história, não sabia o que era a fotografia de arquitetura. Foi difícil situar-me! Quando comecei, era só eu por aqui e hoje não é mais. Há outros fotógrafos. É interessante pensar minha inserção na profissão sob uma perspectiva histórica.

notas

12
Projeto de Oscar Niemeyer.

13
O Jornal do Arquiteto foi uma publicação conjunta do IAB/SP e do Sindicato de Arquitetos do Estado de São Paulo, editado por Vicente Wissenbach de 1972 a 1977. Publicava essencialmente notícias referentes à política profissional. Fonte: http://www.arcoweb.com.br/especiais/especiais27.asp. Acesso em: 06 mai 2008, às 10:30.

Hotel Tijuco, Diamantina, arquiteto Oscar Niemeyer
Foto Nelson Kon


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