Sonia Gouveia: Você acredita que essas três maneiras de fotografar são válidas? Ou existe uma maneira mais correta de se registrar a arquitetura?
Nelson Kon: Não existe, absolutamente. Por isso, acredito, que o trabalho de ninguém se enquadra perfeitamente em qualquer categoria. Isso mudou ao longo da história. No século 19, quando ainda consideravam a fotografia como o Lápis da Natureza – o nome do livro do (William Henry Fox) Talbot – e antes de perceberem a riqueza dos recursos da linguagem fotográfica, realmente as fotografias eram essencialmente documentais. A partir do início do século 20, os fotógrafos começam a perceber novas possibilidades e recursos da linguagem e aí se abre uma gama enorme de abordagens diferentes.
Eduardo Costa: Você considera ser devido ao formato 35 mm, que dá mais liberdade para enquadramentos inusitados, ou não é necessariamente por causa da tecnologia?
NK: A fotografia ilustrativa de arquitetura surgiria, não importa o equipamento, ela usa até um equipamento mais lento e complexo do que o 35 mm; e surgiria de qualquer jeito, porque era uma necessidade da arquitetura moderna. A fotografia ilustrativa surgiu com as revistas de difusão da arquitetura, que surgiram junto com o modernismo. O modernismo precisou delas, precisou mostrar os novos edifícios e a nova forma de projetar. Mais que isso: precisou ensinar as pessoas a enxergar e apreciar o novo espaço arquitetônico. Não existem mais ornamentos, balaustradas, capitéis – o que há para ser visto? Onde está a beleza dessa arquitetura? A fotografia tentou responder a essas questões.