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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
O francês Antoine Picon, professor da Harvard Graduate School of Design e teórico preocupado com as múltiplas relações entre a arquitetura e a tecnologia digital, é entrevistado pela dupla de professores brasileiros Gabriela Celani e David Sperling.

english
Antoine Picon, a professor at the Harvard Graduate School of Design and a theorist who is concerned with the multiple relationships between architecture and digital technology, is interviewed by the Brazilian duo Gabriela Celani and David Sperling.

how to quote

CELANI, Gabriela; SPERLING, David. A arquitetura dá significado à vida. Entrevista com Antoine Picon. Entrevista, São Paulo, ano 19, n. 074.02, Vitruvius, jun. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/19.074/7014>.


Gund Hall, Harvard Graduate School of Architecture and Design, Cambridge, Massachusetts, 1968-1972, arquiteto John Andrews
Foto Gunnar Klack [Wikimedia Commons]

Gabriela Celani e David Sperling: Seu prefácio à Arquitetura algorítmica de Terzidis (2006) começa com a seguinte questão: “qual deve ser o escopo exato do envolvimento do computador com o projeto arquitetônico?” Você também diz: “e se o radical 'outro' encontrado dentro do computador estivesse na verdade dentro de nós?” Depois, você termina dizendo que o livro não é sobre computadores e arquitetura, é sobre arquitetura. Em outras palavras, a computação já está incorporada na profissão. Qual o envolvimento dos computadores na arquitetura nos dias de hoje, 12 anos depois desse livro?

Antoine Picon: O que eu disse nesse livro era parte de um argumento que não tinha necessariamente a ver com computadores. Significa dizer que, para ser criativo, você não pode ser apenas você mesmo, você tem que, por assim dizer, se dividir e deixar um outro “eu” emergir de dentro de você. Um pouco como a Cabala, eu acho. Em alguns momentos, há a ideia de que Deus se afasta, deixando algum espaço para que a criação possa ocorrer. Em outras palavras, eu estava dizendo: e se o uso do computador fosse algo que facilitasse essa aparição, o surgimento da alteridade dentro dos criadores? Ou seja, não tinha muito a ver com o mundo do projeto auxiliado por computador, o que eu acho extremamente importante, mas foi um argumento filosófico mais geral.

GC/DS: Você acha que isso mudou desde então?

AP: Eu acho que o computador teve um tremendo efeito na arquitetura, pois do contrário eu não teria escrito três livros sobre cultura digital, arquitetura, ornamentos, cidades inteligentes etc. etc. Então, sim, eu acho que isso está mudando muitas coisas. Está mudando os procedimentos de projeto, está mudando também o status do projeto. Uma das coisas que tentei desenvolver para um livro ou artigo é que costumávamos pensar na arquitetura como uma nova maneira de ser, como se o projeto fosse uma expressão de um tipo de ideia, uma ideia estável. Eu acho que o projeto de arquitetura está se tornando uma estratégia, mais relacionado a tarefas ou ações, então, de certa forma, o status ontológico do projeto também mudou.

GC/DS: Aqui em Harvard e no MIT podemos ver que os alunos estão usando ferramentas digitais. Mas eu acredito que eles ainda estão usando mais com o propósito de representação do que como uma ferramenta para pensar. Aqueles que fazem alguma programação só a usam para pequenos aspectos do projeto, como gerar um padrão aleatório, parametrizar uma estrutura, otimizar algo, mas não exatamente no sentido que Terzidis estava propondo em seu livro, para aumentar a percepção do arquiteto sobre as possibilidades do projeto, criando algoritmos mais complexos. Também não se vê muita integração entre o projeto algorítmico e o BIM. Qual você acha que é a razão para essa falta de integração entre idéias abstratas e concretas no mundo digital?

AP: Costumávamos, no pensamento tradicional, opor o concreto e o abstrato, mas no mundo computacional, muitas vezes, o mais concreto é justamente o computacional. Isto é, em alguns aspectos, abstrato. Portanto, há uma espécie de indefinição dessa distinção. E eu acho que cada vez mais projetar é experimentar os materiais etc. e ao mesmo tempo ser computacional. Kenneth Frampton, por exemplo, acusou o digital de desmaterializar a arquitetura. Eu acho que ela não foi desmaterializada; ela na verdade se materializou de uma maneira diferente. Há uma longa passagem no final do meu novo livro justamente sobre materialidade e arquitetura [La matérialité de l'architecture].

GC/DS: Esta questão também tem a ver com os dois caminhos que a computação vem tomando, um para o projeto paramétrico e algorítmico e o outro mais concreto, em termos de modelagem da informação da construção (BIM), simulações e representação. Eu vejo uma espécie de divisão entre essas duas tendências...

AP: Sim, acho que a divisão ainda não acabou. Mas acho que a divisão mais profunda na verdade não tem nada a ver com isso. Eu acho que a divisão mais profunda é entre aqueles que estão interessados em sustentabilidade e aqueles interessados no retorno de um uso dos computadores e de uma materialidade mais tradicionais. Acho que vamos entrar nesta contradição por algum tempo. Eu não me identifico tanto com o projeto paramétrico. Eu acho que o paramétrico é uma ferramenta. Eu não acredito, como Schumacher, que essa seja uma grande coisa. Eu acho que o BIM vai definitivamente se desenvolver, acho que é ideal para a arquitetura, na verdade. Pode ser uma chance, mas também uma grande ameaça, porque significa que, se o designer não controlar o BIM, ele será privado de poder ou de autoridade. É realmente uma questão importante. O concreto e o abstrato fazem parte da mesma evolução. Por um lado, pensando no procedimento profundo do projeto, como ele vai evoluir. Daqui a 20 anos, talvez, nós não vejamos mais nenhuma forma de projeto, mas algoritmos ou procedimentos de projeto que definem categorias de formas, que é muito o que os paramétricos querem, mas isso é uma exploração e o BIM é mais “concreto”.

GC/DS: Em alguns cursos de arquitetura, como o da Unicamp, os ateliês de projeto são direcionados à sustentabilidade e ao desempenho, usando o computador basicamente para fazer simulações e otimização, mas naqueles que tradicionalmente se concentravam mais em questões abstratas, como aqui em Harvard, eu esperaria outro uso da computação. Uma professora do MIT me disse que vê esse foco na representação como uma espécie de ressurgimento do pós-modernismo. Você vê algo assim em Harvard?

AP: Meu livro sobre ornamento tratou de alguns problemas relacionados a isso. Houve uma profunda evolução dos alunos nos últimos 5 a 10 anos. Há novamente uma busca pelo sentido da arquitetura no mundo. Arquitetura como forma de ação. Então a questão, por exemplo, da política, da justiça social, todas essas questões estão em ascensão. Não se trata apenas de ser um arquiteto de sucesso. Há também a questão da comunicação. Como falamos com um público mais ampliado? Como comunicamos mensagens significativas? E de certa forma vem a tentação pós-moderna. Porque o pós-modernismo é obcecado pela questão da comunicação na arquitetura, na mídia etc. Então, acho que provavelmente esse retorno ao pós-modernismo tem a ver com a questão não respondida de significado, que é uma questão que o digital também não respondeu completamente. Esta é uma das razões pelas quais escrevi o livro sobre ornamentos: para dizer que são questões importantes. Você não pode simplesmente ignorá-las. Se você não responder a essas perguntas, coisas como o pós-modernismo podem voltar, o que eu não estou defendendo, claramente.

Laboratório de prototipagem, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Unicamp
Foto divulgação [Website FEC]

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