Gabriela Celani e David Sperling: Já que você acaba de me presentear com seu último livro, La materialité de l'architecture (Parenthèses, 2018), por que você não fala um pouco sobre ele?
Antoine Picon: O livro é uma mistura de história e teoria. Começa com a ideia de o que a arquitetura faz, na verdade, é ordenar a matéria e formar uma estrutura. E a partir disso eu faço uma reflexão sobre o tipo de relação que temos com a matéria, tentando mostrar que, de algum modo, o que a arquitetura tenta fazer é animar a matéria. Fazer com que os materiais criem esse quadro dentro do qual a ação humana tenha um significado. Então chego à ideia um pouco mais complexa de que o que os arquitetos trabalham é a materialidade, mas defino a materialidade de uma maneira muito específica. A materialidade, para mim, não é a matéria; é o tipo de relação que temos com a matéria. A arquitetura trabalha no tipo de relação que temos com a matéria e com o mundo físico de maneira mais geral. O capítulo final é sobre o digital, como um novo regime de materialidade. O digital está redefinindo a materialidade. É algo que chamo de regime de materialidade, que venho desenvolvendo de livro para livro. No livro Digital culture in architecture, que publiquei há 8 anos, já havia a ideia de que o núcleo de uma revolução digital na arquitetura é, na verdade, uma mudança na definição de materialidade. Eu quero mostrar que não há uma desmaterialização com o computador; é uma materialidade diferente.
GC/DS: Provavelmente no final do século 20 houve uma desmaterialização.
AP: Acho que desde o começo, porque se tratava de reeducar o olho, os sentidos ... começou com um distanciamento dramático da construção. Eu acho que o digital redefiniu quem você é, e a maneira como nos relacionamos com as coisas, com os materiais etc. O capítulo final é completamente sobre isso.
GC/DS: Agradecemos, Professor Picon, por compartilhar suas reflexões.