O livro La materialité de l’architecture, recém-publicado pela editora Parenthèses na França, parte da tese de que o papel da Arquitetura é conferir expressividade à matéria. A partir desse pressuposto, Picon faz uma revisão da história da Arquitetura sob essa ótica para chegar, no capítulo final, à materialidade na era digital. Segundo ele, a era da informação não teria se iniciado com o surgimento ou com a popularização dos computadores, mas muito antes disso, desde o final do século 19, com a necessidade de se tratar as informações visando o “bom funcionamento das empresas e dos setores de administração”.
O desenvolvimento dos computadores seria, portanto, a consequência, e não a causa da sociedade de informação. No entanto, as finalidades do computador teriam mudado significativamente ao longo do século 20, de máquina de calcular (computer), passando por máquina de ordenamento lógico (ordinateur) e chegando, finalmente, a uma hibridização pervasiva com outros equipamentos, chegando a mediar nosso relacionamento com a realidade física, e assim influenciando nossa concepção de materialidade.
Contudo, o autor afirma que, ao mesmo tempo em que a arquitetura contemporânea estaria rompendo com alguns pressupostos da modernidade, ela continuaria fiel ao movimento moderno no que diz respeito à questão do simbólico, o que se manifesta claramente apesar do retorno do ornamento, tema já tratado pelo autor em outras publicações.
O livro termina com algumas questões bastante interessantes quanto ao futuro da Arquitetura. Por exemplo, diante da constatação de que o projeto de Arquitetura se desloca progressivamente da concepção de espaços para a concepção de eventos possibilitados pelas capacidades dos edifícios de se comunicarem e de atuarem, Picon se pergunta se, ao transformar-se em atriz principal, a Arquitetura não estaria perdendo seu importante papel de cenário, capaz de conferir sentido à existência humana.