Gabriela Celani e David Sperling: Todas as principais universidades estão enfatizando a inovação hoje em dia. Stanford, MIT, Harvard. No GSD vocês têm o programa de mestrado em Design Engineering, de cujo corpo docente você faz parte. Algumas pessoas dizem que essa ênfase é, na verdade, uma forma de preparar a geração dos millennials para ser empreendedora por causa das mudanças no século 21 nos padrões de emprego. Você pode me falar um pouco sobre a motivação da GSD em criar esse programa e descrever seus objetivos e resultados?
Antoine Picon: É um programa interessante porque diz algo sobre todas as formas de ser um projetista. Projetar no limiar da arquitetura e da engenharia, mas também no limiar de projetar coisas e projetar sistemas. Nos próximos anos teremos que redefinir profundamente a educação em projeto. Isso inclui o papel da história e da teoria, que sempre se concentraram nos objetos. Objetos são importantes, mas precisamos encontrar novas maneiras de ampliar o escopo dos alunos para os novos problemas contemporâneos.
GC/DS: Muitos escritórios de arquitetura também enfatizam o empreendedorismo e a inovação. Talvez o melhor exemplo seja a empresa AMO, de Rem Koolhaas, que é uma firma de consultoria geral, mas há muitos outros exemplos, como o The WHY Factory, da MVRDV e da Universidade Tecnológica de Delft, o Open Source Architecture (http: //www.osa.com/studio/LA, Tel-Aviv/Montreal) e o Laboratory for Visionary Architecture – LAVA (Stuttgart, Berlin, Sidney), que se apresentam como escritórios baseados em pesquisa. Você acha que a profissão do/a arquiteto/a como a conhecemos no século 20 está mudando? Como ela será no século 21?
AP: Eu sou um pouco crítico sobre a pesquisa feita por arquitetos porque muitas vezes é [apenas] uma justificativa, na maioria das vezes apresentada pelos arquitetos famosos, e quando você olha para o resultado, eu não acho que é fabuloso, para ser honesto. Para ser um arquiteto de sucesso, você precisa de um discurso, precisa abordar as coisas de uma maneira mais sistemática, e há uma tendência hoje em dizer que isso é pesquisa. Eu não acho que é sempre pesquisa. Certamente, é bom que as pessoas da AMO ou do MVRDV recebam a tarefa de pensar mais a longo prazo, mas sou um pouco cético quanto a isso ser o que transformará a profissão de arquiteto. Mas talvez eu esteja sendo preconceituoso porque sou acadêmico. Mas acho que você não tem tempo, em um grande escritório; você está sempre correndo atrás da questão. O que acontece, com muita frequência, é que não temos tempo para pensar profundamente sobre muitos assuntos. Porque você está correndo o tempo todo. E você está correndo ainda mais se você estiver em um escritório [de arquitetura].
GC/DS: Então, não há conexão entre o programa de Design Engineering da GSD e esses escritórios de arquitetura orientados para a inovação?
AP: Em empresas muito grandes, como a Microsoft, por exemplo, você tem pesquisa. E você tem problemas ligados ao espaço construído e problemas de projeto. Portanto, o projeto é um campo em expansão e precisamos preparar as pessoas para projetar as coisas em uma escala mais ampla do que apenas um edifício.
GC/DS: A arquiteta Amanda Levete recentemente deu uma palestra aqui na GSD e mencionou a necessidade de os arquitetos serem empreendedores.
AP: Eu acho que arquitetura sempre foi ligada ao empreendedorismo. Se você é um/a arquiteto/a de sucesso, acaba contratando funcionários. E você tem que alimentá-los todo mês. Se você tem cem funcionários, isso significa que você precisa ganhar milhões ao ano apenas para pagar seus salários. E há mais e mais grandes empresas de arquitetura. Sem entrar em um discurso sofisticado sobre pesquisa, eu acho que os arquitetos são empreendedores. Uma das diferenças fundamentais entre os empreendedores e a academia é que os empreendedores precisam ser otimistas. Um aluno meu que era um empreendedor e veio fazer seu mestrado me disse isso. Você não pode ser um empreendedor se pensa que o futuro será pior do que o presente. Os acadêmicos tendem a ser pessimistas. Se você é um/a arquiteto/a, mesmo sendo cínico/a como o Koolhaas, você tem que ser um pouco otimista, pelo menos, sobre as possibilidades de você crescer, se desenvolver etc.
GC/DS: Vocês estão preparando os alunos para serem empresários aqui no GSD?
AP: Estou tentando fazer isso promovendo a flexibilidade intelectual, o que requer cultura. Cultura não é uma coleção de receitas estáticas, é aprender a evoluir. História é mudança. Não é algo fixo. O lugar da história numa escola de projeto não se restringe a apresentar exemplos; é fazer pensar em mudanças.