Heloisa Mendes Pereira: Entendo sim, é verdade, o importante sempre é o conteúdo. Você tem algum ponto específico por onde inicia os seus projetos?
Decio Tozzi: Olha essa é difícil, viu! Porque comigo acontece muito isso, quando eu tomo conhecimento do programa ele já vem pronto. Mas aí depois, não que eu vou buscar a ideia, ele vai se configurando, tomando forma e chega mais ou menos naquilo que tinha se pensando inicialmente. Então esse lado intuitivo é importante para qualquer artista, arquiteto, pintor. Pode ser as vezes alguma referência ao acaso que te chama, mas geralmente é a ideia da coisa, a essência, é o momento. Não tem um princípio, acaba sendo um ato natural de quem cria, por mais que você relacione as coisas concretas, é a forma singular como elas são relacionadas aí começa a existir uma outra coisa e que vai passar a ter um outro nome, outro sentido.
HMP: Sim, e às vezes em alguns projetos a gente inicia, mas não tem esse fio condutor logo de início, e ele vai se tecendo...
DT: Eu acredito que as pessoas trazem em si uma universalidade, no tempo e no espaço, eu acho que está assim quase que um arquétipo. Um arquétipo? Não antes do arquétipo, está lá geradora da unidade. A ideia ela existe, a arquitetura é um arquétipo gerador de ideias novas e que o arquiteto pela primeira vez relacionou aquelas componentes. Se você pega um copo e uma garrafa e você os relaciona de uma nova forma, você gerou algo novo. Mas é um novo que surge que coisas velhas, não é então a novidade e sim a originalidade. A originalidade é quando você percebe relações novas entre as coisas. Agora o novo, novidade, é quando você inventou algo em função do seu desejo a partir do nada.
HMP: É, mas o novo é algo muito difícil porque a gente carrega uma bagagem e quando você olha para trás percebe que o seu novo não é inédito, ele veio de algum lugar!
DT: Sim, o novo muitas vezes está contido, está na história, mas ele é novo quando não é só reflexo da história, mas também prospecção.
HMP: Hum... Então podemos pensar que inovar é prospectar...
DT: Exatamente, e isso que é difícil.
HMP: Ainda mais quando a gente trabalha com uma grande variedade de fatores e mesmo de envolvidos. Você acompanhava a execução dos projetos?
DT: Sim! Eu acompanhava todas as obras, isso era clausula de contrato, que a minha fiscalização da obra era obrigatória. Com isso eu zelava pela execução do meu projeto, aconteceu um outro problema, mas em geral sempre foi bem tranquilo...
HMP: E era bom também porque em caso de serem necessárias mudanças você estava por perto para ser consultado.
DT: É o projeto nunca se esgota na prancheta, ele termina quando acaba a obra, e na verdade mesmo assim ele ainda continua...
HMP: Sim, por vezes só a construção física vivenciada vai mostrar determinados aspectos abstratos que na prancheta não puderam ser previstos. Mas você em seus projetos já procura abraçar aspectos abstratos ao adotar uma estética baseada no trio conceitual formado pela luz, espaço e matéria, que são conceitos dotados de uma certa abstração que é revelada ou, no caso da matéria, enaltecida com concretização da arquitetura.
DT: Exatamente.
HMP: Como você define os conceitos de luz, espaço e matéria?
DT: Sobre essa questão da luz eu consegui montar uma definição que eu digo assim: a luz é a natureza que penetra a arquitetura, não só como fonte de iluminação, ela vira instrumento de desenho, do desejo, da composição. Acho bonito isso, e isso deve ser evidenciado sobre o meu trabalho.
Já o espaço ele é representativo de uma situação humana, ele abriga, a arquitetura abriga. Então ela deve providenciar o contato social e o convívio do homem. A própria paisagem é um espaço, e a interferência na paisagem, as intervenções não devem violenta-la e sim respeitar ela.
E qual é o outro mesmo? A matéria, não é? A matéria é a técnica propriamente dita, o edifício construído, que na minha arquitetura se traduz na sua estrutura e na verdade, a essência, dos materiais construtivos. Essa franqueza construtiva que conta uma história e abriga a vida.