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PORTAL VITRUVIUS. 2º Prêmio Nacional de Pré-Fabricados de Concreto para Estudantes de Arquitetura. Projetos, São Paulo, ano 04, n. 041.01, Vitruvius, maio 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/04.041/2312>.


Centro de Ensino das Artes do Vale do Reginaldo

Introdução

A cidade de Maceió, capital de Alagoas, é carente em vários aspectos, sendo um deles o acesso à cultura. Famoso por seu potencial turístico, o município ainda precisa desenvolver-se culturalmente, acentuando as formas de arte locais e trazendo, trabalhando e se relacionando com novas culturas.

A idéia de se trabalhar o ensino da arte na cidade surgiu tanto da vontade de se difundir a cultura, quanto da possibilidade de mudar a realidade local.

O bairro do Jacintinho foi escolhido por ser um dos mais carentes e populosos de Maceió. O local selecionado para o projeto foi o vale do Reginaldo, uma das áreas críticas do bairro, com habitações precárias e falta de infra-estrutura urbana adequada.

A implantação de uma grande obra de arquitetura mostrou-se como elemento viabilizador da transformação da dinâmica local. Além da interação social trazida pela arte, a construção de um Centro de Ensino das Artes necessitaria de uma infra-estrutura básica, o que beneficiaria seu entorno. As atividades artísticas na área incluiriam o Jacintinho no eixo cultural da cidade e do estado, tornando-o mais exposto aos olhares da sociedade, instigando um maior zelo pelo local.

Projeto

O projeto foi concebido para contemplar diferentes formas de arte,  sendo elas música, pintura, escultura, dança e teatro. A obra é constituída de três blocos: Administração, Salas de aula e Anfiteatro, sendo este último multifuncional, servindo também para aulas de dança e teatro.

O zoneamento foi elaborado para a adaptação do projeto ao clima local – tropical quente-úmido. As áreas de maior permanência, como salas de aula e sala dos professores, foram orientadas a Leste, garantindo ventilação permanente desses ambientes pelos ventos Nordeste e Sudeste. As áreas de serviço foram dispostas a Oeste, protegendo as demais salas da insolação excessiva durante à tarde e captando a radiação necessária às áreas molhadas.

Estrutura

Devido à sua produção em série e à rapidez que atribui a uma obra, o concreto pré-fabricado diminui custos e substitui peças feitas “in loco”. As peças mais usuais e encontradas no mercado são pilares e vigas de seções retangulares, além de lajes e placas para vedação. A geometria das peças influencia projetos de medidas modulares e ângulos retos, que aproveitam o máximo desses elementos.

A tentativa de um uso não-convencional do concreto pré-fabricado, sem perder a praticidade inerente desse tipo de material, foi a idéia inicial do trabalho.

Em um primeiro momento a manilha, usada normalmente em obras de infra-estrutura urbana, foi pensada como uma peça que traria possibilidades de uma proposta inovadora. Buscando diferentes formas de disposição desse elemento, uma luminária feita de copos descartáveis serviu como fonte inspiradora. A estrutura de copos mostrou a possibilidade da criação de cúpulas com a repetição de uma peça única. A formação da cúpula, diferente das usuais formas modulares, foi pensada utilizando as manilhas, que logo foram substituídas por uma nova peça. A criação dessa peça fez-se necessária devido à busca de um elemento que se adaptasse à forma desejada.

Peça

Com a escolha da forma da estrutura, observou-se que era necessária uma inclinação na peça, para que no momento de junção estas criassem modelos esféricos. Este ângulo necessário para elaboração da forma proposta não existe nas manilhas, o que tornou necessário o desenvolvimento de um novo pré-fabricado.

Um tronco de cone, forma ainda muito ligada à idéia inicial da manilha, com uma inclinação tal que permitisse a formação da cúpula, foi a primeira peça criada.  Porém, entre as peças restariam muitos espaços vazios, que teriam de ser preenchidos, deixando o projeto ainda com muita dificuldade de execução.

Decompondo a esfera, percebeu-se que a base hexagonal era uma boa opção para a composição da peça. Para melhorar o comportamento estrutural e assegurar o resultado final, foi necessário utilizar nos vértices do icosaedro, que originou a cúpula, prismas de base pentagonal, o que exigiu a elaboração dessa peça adicional.  Ajustada a inclinação das peças para os raios desejados passou-se então para a etapa de definição das dimensões desses elementos. Optou-se pela altura de 0,5 m, a fim de se manter a textura da malha estrutural. A sua espessura foi definida de maneira que destacasse a geometria das peças e evidenciasse o vazio que existe nelas. A peça em suas dimensões finais pode ter seu peso reduzido através de enxertos de materiais mais leves no concreto, facilitando seu manuseio e transporte.

Peças vazadas garantirão a circulação do ar no interior das cúpulas. Outro fator que também contribuirá para um bom desempenho térmico é a altura dos pés-direitos. Além das peças vazadas, a cúpula contará também com peças de fechamento translúcido para a iluminação natural dos ambientes. A disposição dessas peças, com a alternância de cheios e vazios, funciona como elemento de composição de fachada.

Jardins internos nas bordas das cúpulas, providos de equipamentos de drenagem, captarão a água da chuva. Nas salas, o jardim será parte integrante do ambiente, comunicando o interior com o exterior, visto que o jardim também acompanha a extremidade da cúpula na parte externa.

A união das peças dá forma e sustentação à estrutura, além de garantir a flexibilidade necessária de cheios e vazios para uma boa adequação ao clima local. A estrutura também possibilita um interessante efeito plástico, utilizando a textura de sua malha como mais um elemento de composição da poesia do espaço.

ficha técnica

Projeto
Centro de Ensino das Artes do Vale do Reginaldo
Alunos
Várany Kelthome de Oliveira Nunes e Andréia Lopes Muniz Corrêa
Orientador
Flavio Antonio Miranda de Souza
Instituição de Ensino
Universidade Federal de Alagoas
Cidade
Maceió – AL

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Autor
Maceió AL Brasil

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