Ao longo do último semestre, desenvolvemos em paralelo duas propostas de intervenção em favelas de palafitas : uma para Brasília Teimosa, no Recife PE e outra para a Favela do Dique, em Santos SP. Guardadas as devidas distâncias e especificidades, as duas ocupações são paradigmas de uma situação habitacional contundente e generalizada no Brasil, na qual se sobrepõe e se relacionam questões sociais e ambientais, a pobreza e a água, à margem das grandes cidades. Frente a um déficit habitacional de grandes proporções, a construção industrializada aparece como resposta adequada à escala do problema, que demanda urgentemente propostas integradas.
No caso da habitação próxima aos cursos d’água, mangues, praias e mananciais, o concreto armado pré moldado a proteção do aço que a densa camada de concreto representa, além da padronização das peças e acoplamentos, simplificação do canteiro e rapidez de montagem.
O que se procurou, no entanto, foi sintetizar as possibilidades construtivas e arquitetônicas com as condições e cultura locais, reconhecendo as dinâmicas de sociabilidade de uma favela, procurando espacialidades que respondem aos múltiplos arranjos familiares dentro de uma unidade e contando com a contribuição e apropriação dos moradores a favor do projeto. Assim, usa-se fundações, estrutura, lajes e painéis de fechamento pré moldadas em concreto pré fabricado protendido de mercado, complementadas por peças pré moldadas leves (argamassa armada), tais como escadas, marquises, contra-marcos, cobogós e bancadas, produzidas em cooperativas e montadas em mutirão na obra, como na proposta de canteiros escola de Rodrigo Lefèvre.
Além de envolver a comunidade, este processo acaba por qualificar mão de obra especializada para outras intervenções, ampliando para a escala da cidade o projeto, transformando-o em programa, como as fábricas municipais de pré moldados propostas pelo arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé).
O foco do projeto é a habitação, compreendida de forma ampla, incluindo equipamentos e espaços públicos para além das casas, que integram e situam o assentamento na cidade, desenvolvidos em processo participativo de implantação, gestão e participação direta da população na construção dos espaços da comunidade.
ficha técnica
Projeto
Intervenção em Favelas de Palafitas – uma para Brasília Teimosa, no Recife – PE e outra para a Favela do Dique, em Santos – SPAlunos
Diego Beja Inglez de Souza e Pablo IglesiasOrientadores
Anála Amorim e Álvaro PuntoniInstituição de Ensino
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São PauloCidade
São Paulo – SP