“O Museu deverá ser um espaço vivo, uma obra aberta onde pensamentos e idéias são debatidos continuamente. (...) o Museu agregará ainda exposições temporárias, fruto do intercâmbio com outros congêneres para desenvolver de modo contínuo a cultura para a paz”.
A proposta brota do conceito singular que deve expressar um equipamento de tal natureza, um Museu da Tolerância, e seu belo sítio formado pela Av. Prof. Lineu Prestes à noroeste, Praça Prof. Jorge Americano ao norte, Instituto Butantã ao sudeste e espaço público com trecho canalizado do curso d’água à sudoeste. Um edifício cercado por espaços livres deve recebê-los visualmente desde o seu interior. O partido alcança este objetivo ao propor uma inflexão no piso externo, liga verticalmente a calçada de acesso ao térreo da edificação e forma uma base marcante para o painel suspenso à 2,20m que envolve termicamente a edificação, dando-lhe unidade. Este jogo espacial dá impressão de que o elemento horizontal pousa neste território e aqueles que almejam acessar o Museu da tolerância devem passar debaixo da palavra “Paz” cravada em diversos idiomas.
No pavimento de acesso em pilotis acontecem as exposições temporárias. Entendemos ser o espaço ideal para dialogar imediatamente com o espaço público comparando a dinâmica e rotatividade de suas atividades de debate e exposições com as manifestações de novas idéias e pensamentos historicamente marcantes nas praças tradicionais. Com pés-direitos variados: duplos, quádruplos e quíntuplos próprios para receber um espaço de diálogo para troca de experiências. Em seu interior acessa física e visualmente tanto o nível subsolo, onde acontecem os espaços de auditório e cinema, quanto os níveis superiores articulados em meios-níveis entre si, no sentido sudoeste-nordeste, todos vencidos através de rampas que fortalecem o acesso universal dos diversos setores do conjunto.
O Museu propõe dois tipos distintos de espaços para a guarda e exposição de seu acervo: - os espaços abertos e flexíveis destinados às belezas das diversidades culturais e a valorização do ser humano - e os fechados, enclausurados, introspectivos, com iluminação rigidamente controlada, próprios à exporem os temas das práticas de intolerância. Estes espaços fechados localizados na ala nordeste da edificação recebem toda sua iluminação natural indiretamente vertical em duas fendas em seu zênite, uma à sudeste e outra exposta ao vazio central.
O vazio central recebe iluminação e ventilação zenital que faz a edificação “respirar”. Ele contém os elementos verticais que acessam as alas nordeste e sudoeste do edifício. À sudeste localiza-se uma régua de apoio com sanitários, vestiários, elevadores, escadas e salas técnicas. E no coroamento da edificação na ala sudoeste a biblioteca com vista de 360 graus do entorno envolvente e em espaço aberto o restaurante na ala nordeste.
A inércia térmica do edifício é garantida pelo vazio entre as esquadrias e o painel envolvente, onde a circulação contínua da ventilação externa dispersa o calor excedente. O painel proposto funciona tecnicamente semelhante a um brise e confere uma imagem contemporânea e comunicação simbólica ao Museu da Tolerância.
ficha técnica
Autor
Arquiteto Cláudio de Sá Ferreira