"Enquanto satisfaz apenas às exigências técnicas e funcionais – não é ainda arquitetura; quando se perde em intenções meramente decorativas – tudo não passa de cenografia; mas quando - popular ou erudita – aquele que a ideou, pára e hesita, ante a simples escolha de um espaçamento de pilar ou da relação entre a altura e largura de um vão, e se detém na procura obstinada da justa medida entre cheios e vazios, na fixação dos volumes e subordinação deles a uma lei, e se demora atento ao jogo dos materiais e seu valor expressivo – quando tudo isso se vai pouco a pouco somando, obedecendo aos mais severos preceitos técnicos e funcionais, mas também, àquela intenção superior que seleciona, coordena e orienta em determinado sentido toda essa massa confusa e contraditória de detalhes, transmitindo assim ao conjunto, ritmo, expressão, unidade e clareza – o que confere à obra o seu caráter de permanência [...]"
Lucio Costa
O Edifício da Confederação Nacional dos Municípios deve ser visto como um elemento simbólico, catalizador e difusor de nossa identidade cultural, um verdadeiro abrigo que acolhe e representa cada município do nosso país. O partido arquitetônico deste projeto segue este roteiro.
A idéia de abrigo está materializada por uma laje, peça estrutural que penetra no terreno ao nível da rua e organiza toda a distribuição do edifício, orientando o programa no sentido vertical, para cima ou para baixo da laje, permitindo que este funcione em duas frentes distintas e autônomas.
A partir de duas aberturas nesta peça, criamos um pátio descoberto que conecta a “caixa-mãe” superior (escritórios) aos níveis inferiores (auditório e convenções), servidos por escadas e elevadores. Ao término desta laje, depois da abertura do jardim, encontramos o port-cochere, invertido, nos fundos, cujo objetivo é manter a praça cívica imaculada.
A praça cívica, portanto, é a porta de entrada da Confederação Nacional dos Municípios, ladeada pelo espelho d’água que reflete o mural das bandeiras, encontramos generoso espaço aberto, ora coberto, ora descoberto, abriga exposições temporárias, faz a interface reforçando a continuidade da rua e da superquadra com o edifício, transição sutil, fluída e progressiva aos moldes de nossa tradição arquitetônica. Junto ao mural das bandeiras, na inflexão da cortina de vidro, está posicionado um painel de LED com 60m² que confere movimento e faz a comunicação entre as atividades da CNM e a cidade, como o “hasteamento” de bandeiras, programações, homenagem a um determinado município, etc.
Orientado no sentido leste oeste, o terreno sugere que o edifício deve abrir para a frente, para o meio e para o fundo do terreno, deixando as laterais cegas, este partido exigiu cuidados com as aberturas dos escritórios devido à grande insolação. A conseqüência foi a implantação de brises mecanizados junto às cortinas de vidro das faces leste do edifício. Na frente oeste, junto ao por do sol, foi pensado um grande mural de bandeiras serigrafado na cortina de vidro, onde cada “pixel” representa uma bandeira de um município, este conjunto revela as cores do Brasil e sua diversidade, funciona como uma grande proteção e substitui a idéia das bandeiras suportadas por mastros individuais. Aqui é a “caixa-mãe”, é o edifício da Confederação Nacional dos Municípios que apóia nossa pátria, a “caixa-mãe” é uma metáfora da própria cidade de Brasília.
O volume superior está dividido em dois blocos conectados por meio de escadas e elevadores e por meio de rampas que vencem meios níveis. Na porção posterior encontramos as áreas administrativas e a presidência, que estão posicionadas estrategicamente, de modo vigilante, com boa visualização da praça cívica e do pátio descoberto, aos fundos é possível ver o port-cochere e a copa das árvores. A biblioteca, as salas de reuniões, as salas de capacitação, as representações estaduais, a governança eletrônica e áreas técnicas estão localizadas no bloco frontal.
Na cobertura também interligada pelas rampas, foram posicionadas as áreas recreativas com refeitório, sala de descanso e terraço jardim junto ao teto verde, sendo que o nível mais alto do edifício foi destinado a um grande painel fotovoltaico de captação de energia solar com cerca de 400m².
Abaixo da grande laje e ajustado ao desnível do terreno encontramos o port-cochere, a recepção, as áreas de exposição, o foyer do auditório, e um vazio que relaciona este nível com a área de convenções abaixo. O auditório dispõe de um sistema de praticáveis, onde palco e platéia são móveis e viabilizam a sua divisão em duas partes, configurando um teatro grande, ou dois auditórios menores, inclusive um deles com característica de arena.
Os subsolos são destinados as áreas técnicas, depósitos, almoxarifados, arquivo morto, máquinas, cisternas e estacionamentos, são ventilados diretamente pelo vazio do jardim e pelos recuos da estrutura dos limites do terreno, o acesso é feito através de rampas que assim como as rampas superiores, vencem meios níveis. Este setor está concebido de maneira que permita que funcione de forma autônoma junto com as convenções, em relação ao restante do conjunto, conferindo maior flexibilidade de uso ao complexo.
ficha técnica
Autores do projeto
José Maria de Macedo Filho
Christiane Costa Ferreira
Apoena Amaral
Edgar Gonçalves Dente
(Costa e Macedo Arquitetos e 2A+V Arquitetos Associados)
Colaboradores
Denis Ferri
Dhiego Torrano
Thais Brandt